terça-feira, 29 de dezembro de 2009

HQ- NEGRINHA


É verdade que 2009 está terminando, mas isso não é pretexto para se esquecer de “Negrinha”, excelente álbum de Jean-Cristophe Camus e Olivier Tallec que a Desiderata lançou como parte das comemorações do ano da França no Brasil. Delicado, profundo e emocionante são alguns dos adjetivos que se podem enfileirar para falar desta obra de rara sensibilidade em que cada quadrinho é uma pequena pintura em aquarela. Como é próprio da técnica, a atenção se desloca do desenho para as nuances da cor, que criam dois universos visual e antropologicamente distintos, o da casa e o da rua(parafraseando o livro do antropólogo Roberto DaMatta).
A imagem se abre para a imaginação, tão mais que o desenho imita o traço de uma criança, trazendo o leitor definitivamente para o mundo da pequena Maria, “morena quase branca” órfã de pai e filha de mãe negra e que mora com ela na casa dos patrões na Copacabana dos anos 1950. A menina tem um choque quando visita pela primeira vez o morro do Cantagalo, onde Olinda, sua mãe, cresceu e onde ainda vive sua família, quer ela mal conhece. Não se trata do enredo típico de telenovela, em que “menina rica se apaixona por menino pobre”, mas de mexer na intimidade da sociedade brasileira, naquilo que o sociólogo Gilberto Freire decifrou em sua obra mais famosa, Casa Grande e Senzala; a relação de dominação,porém não explicitamente(ou não necessariamente) conflituosa, com os negros que vivem na casa grande assumindo valores e costumes de seus senhores . Das imagens mais poderosas desta HQ estão uma página só com empregadas negras levando meninas loiras para brincarem na casa de Maria e Olinda rezando para santos católicos e do candomblé. Tal percepção tão aguda de nossa realidade pode ser creditada (pelo menos em parte) ao fato de Camus ser um francês filho de mãe brasileira. Negrinha é um belíssimo olhar estrangeiro sobre o Brasil, mais lúcido que muitos de nossos filmes e HQs.
O prefácio da obra fica é do músico e ex-ministro Gilberto Gil que é sinônimo de palavras compostas para maquiar de complexidade um texto bem simples. Dispensável.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

UMA ÚLTIMA POSTAGEM

O comentário fica para 2010, mas aqui está algo absolutamente genial, o filme Bastardos Inglóreos, de Quentin Tarantino, recriado em forma de HQ por Martin Duhovic. O detalhe é que não há um traço do autor, quer dizer, é como se o autor aqui (dos desenhos ao estilo do texto)fosse o mestre das HQs de super heróis dos anos 60-70 Jack Kirby.
Bem, este blog não vair parar ompletamente até 2010, apenas os textos exclusivos. Devo postar aqui algumas das críticas de HQs que faço para o site HQManiacs
Bem, de qualquer maneira, um feliz Natal e ótimo Ano Novo para todos.
Valeu pela presença aqui no bar !!

CINEMA - É PROIBIDO FUMAR


Bom, este blog entra agora, como o leitor também(eu imagino), em férias. Antes, porém, uma última dica, o filme É Proibido Fumar, da diretora Anna Muylaert (Durval Discos)que venceu o prêmio principal do 42º Festival de Brasília. No seu blog http://inacio-a.blog.uol.com.br/, o crítico Inácio Araújo disse "Achei formidável, sensibilíssimo, inteligentíssimo, um desses filmes que não vale a pena perder, não vale a pena esperar pelo DVD, nada". E é verdade. A história da professora de música que é fumante inveterada (Glória Pires)que se apaixona pelo vizinho, músico de bar e inimigo mortal do cigarro(Paulo Miklos), é uma história de amor à moda da diretora, ou seja, classe-média (mas média mesmo, não de novela) e com uma morte bizarra que, tal qual o fumo, põe á prova o amor do casal. Entre eles, uma disputa entre Chico Buarque(o preferido dela) e Jorge Ben (o dele)- "o Chico é...meio devagar, né" diz o personagem de Miklos. Aliás os diálogos são tão vivos que impressionam, provavelmente tem um trabalho envolvendo improvisação ali.
Uma história de amor sem atores com cara de quem faz Malhação e sem as convenções da omédia romântica, onde, om 15 min de filme você já onsegue antecipar tudo o que virá pelo frente. Insegurança, briguinhas familiares, picuinhas, tudo isso que faz a vida a dois de pessoas normais está lá. E é tão natural que até aquela morte absurda (não adianta, não vou dizer qual) se encaixa na normalidade toda.

Como disse o Inácio, não espere pelo DVD ou mesmo pelo Canal Brasil(ainda que este faça um trabalho bem digno ao exibir no formato original e não mutilar com intervalos comerciais). Um ou outro servem para se rever o filme (e há muita coisa ali para ser descoberta, aproveitada numa segunda vista), mas a experiência do filme, de qualquer bom filme, é no cinema.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

TEATRO - NATAL NOS PARLAPATÕES !

Apesar do violento episódio em que o drmaturgo Mario Bortolloto foi na sede de sua companhia de teatro, Os Satyros, a prgramação de natal do vizinho Parlapatões segue inalterada, como espécie de escudo contra a barbárie de nossa cidade.
São todas comédias natalinas. A hilária Auto dos Palhaços Baixos já foi apresentada ano passado,mas deve sofrer algumas mudanças, até por conta de toda improvisação do grupo.A história? Um diretor ranzinza e pretensioso e seu auxiliar, estiudante de cinema da Faap, tentam fazer um grupo de palhaços fracassados a encenarem a paixão de Cristo .Piadas internas, tiração de sarro com o mundo das celebridades, críticos de teatro que por fim leva boa parte do público para o palco. Imperdível !
- Missa do Galho, sábado(19), meia-noite.

- Farsas de Natal, sexta(18), meia-noite.

- Auto dos Palhaços Baixos, sexta, 21h30, sábado, 21h e domingo, 20h

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

CINEMA - ABRAÇOS PARTIDOS(E OS GÊNEROS CINEMATOGRÁFICOS)




Pedro Almodóvar é o James Cameron do circuito "alternativo" de cinema (aquele fora dos multiplexes), a julgar pelo frisson que causa no público. Filas enormes em sessões que normalmente não lotam as salas, gente falando do filme antes e depois dele ser exibido. Mas dessa vez Almodóvar decepcionou esse pessoal e não entregou um "filme do Almodóvar", ao invés disso teceu uma intrincada olha de retalhos cujo tecido não é outro senão a tradição cinematográfica. É claro que estão lá as paixões arrebatadoras e o uso ostensivo e agressivo do vermelho, tão caros ao diretor espanhol , mas ele foi bem além e costurou gêneros cinematográficos.


Cinema de gênero é aquele que obedee a certas regras internas; numa comédia é perfeitamente coerente que uma briga entre dois homens termine om um levando um tmbo e caindo de bunda no chão, tornando-se motivo de risos, o que o faria levantar e fugir envergonhado, o que soaria absurdo num filme de ação. Há gêneros e subgêneros inclusive, com situações e personagens que são caraterísticos só a eles. Os filmes de terror, por exemplo, tem uma certa gama de personagens próprios dele(aquela pessoa soturna que aparece e dá um mal presságio, um aviso à pessoa em perigo, mas que quanse nunca recebe atenção desta).


Pois bem, Almodóvar costurou o melodrama mais escancarado(aquele da telenovela mesmo) com a comédia rasgada, com o suspense e o terror. O mais brilhante disso é que ele o faz sem sacrificar a unidade da obra, sem torná-la declaradamente um experimento. Percebemos em qual gênero o filme se transformou em dado instante, mas em nenhum momento deixamos de nos identificar com os personagens. Almodóvar teve seu dia de Tarantino, por assim dizer. Em Kill Bill 1 e2 ele salta do filme de Kung-Fu para o Western, o de Samurais, volta para o western e por fim retorna o de Kung Fu. Isso mantendo as regras e os personagens típicos de cada gênero (o mestre Pai Mei é um desses).


Em abraços partidos, vemos também a deslumbrante Penélope Cruz se converter em várias figuras do mundo do cinema. Nas fotos acima, Audrey Hepburn e Marilyn Monroe.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

CINEMA - ATIVIDADE PARANORMAL


Falou-se muito, antes da estréia, deste Atividade Paranormal, do diretor estreante Oren Peli . Que custou 15 mil dólares e faturou mais de 120 milhões, que é o terror da década, que é uma porcaria, que pela internet circulou como se fosse um documentário sobre uma casa assombrada e que todo mundo acreditou nisso.

Não é o terror da década nem uma porcaria. Também é bem difícil que alguém tenha assistido trehos dele e pensado ser real, isso provavelmente é ação de marketing ara compara-lo a Bruxa de Blair, de 1999, de quem se falou o mesmo (que era o terror da déada, porcaria, verdade, mentira, etc). É um falso video caseiro em que um asal de jovens registraria a tal atividade paranormal em sua casa. Os 120 milhões de doletas foram feitos lentamente, não de uma paulada só, como pe praxe com os blockbusters americanos, o que talvez se deva ao fato de não tem cristão que não se lembre do filme ao levantar de madrugada para visitar o banheiro ou assaltar a geladeira. É uma recriação divertida do ancestral medo de escuro.

Atividade Paranormal foi comparado também ao terror espanhol REC. Só que aí o negócio é outro. Ainda que se finja fazer um video caseiro é preciso fazer cinema, neste casoe specificamente, cinema de gênero(terror) ou seja, dividir o roteiro em atos bem definidos, ter curva dramática etc. Isso está em REC, em Cloverfield-Monstro, no prórpio Bruxa de Blair. E este Atividade Paranormal peca ela falta de ritmo;quando parece que vai, não vai. E quando o terror chega com tudo, já é tarde demais, porque o filme está no final.

Mas oque há de mais importante é entender o motivo de tantos filmes simulando videos caseiros. Tanto pode ser a influênia dos reality shows (que eleva o vouyerismo cinematográfico a níveis ainda mais altos), pode ser a própria internet, pode ser a influência da narrativa dos games em primeira pessoa. Fico com a última possibilidade, pela força que ela pode ter nos jovens cineastas, mais ainda do que o cinema clássico(falei disso quando resenhei "Semum").

É só notar como neste Atividade Paranormal muita situação teria sido melhor resolvida como uma montagem tradicional. Mas vale a ida ao cinema.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

MAUS


Está chegando às livrarias novo trabalho do quadrinista de "vanguarda" Art Spigelman, autor de MAUS, única HQ até hoje já premiada com o prêmio Pulitzer(2002), o mais importante do mundo do jornalismo. Se Spigelman merece ser chamado de vanguarda (essa palavra requer cuidado, porque é delimitada históricamente) é por sua experimentação e liberdade com as imagens, que tornam muitas de suas HQs obras não-narrativas, exercícios de interação da imagem com as palavras, verdadeiro rompimento na tradição de contar histórias à que as HQs tem se dedicado desde sua origem.

Não é o caso de MAUS. Nesta obra cujo primeiro volume é de 1986, ele se rende à história, mas faz um cruzamento do "new journalism" (corrente jornalística surgida nos anos 1960 e que flertava sem medo com a subjetividade) com as artes visuais. A história se passa parte durante a segunda grande guerra, parte no presente, quando o autor entrevista seu pai (protagonista da história). Interagem a narrativa passada, om os sentimentos do autor e seus problemas familiares. Como se não bastasse, ele reinterpreta a peleja de seu pai nas mãos dos nazistas, retratando os judeus como ratos, os alemães como gatos e os poloneses como porcos, trazendo para MAUS toda a carga simbólica dessas criaturas (os judeus eram comparados a ratos pela propaganda oficial nazista). E, ainda por cima, a arte não está lá só para ilustrar a narrativa. Quem já viu esboços, ou mesmo a primeira versão da história (que é um conto ) sabe que ele pensou em desenhar "bem", mas abriu mão disso. Por que? Para que seu desenho parecesse bruto como uma xilogravura, que não existisse "beleza" como aquela que se vê normalmente nos quadrinhos e que, os quadrinhos amontoados, os detalhes encobertos pelo ontorno grosso das figuras causasse mal -estar, opressão.

Lê-se, MAUS, portanto em três níveis, como jornalismo(e documento de uma época), como uma história pessoal do autor e seu pai e como arte visual.

E uma obra e tanto.

sábado, 28 de novembro de 2009























Na primeira foto o "Bloco do Pé na Cova" levantando até defunto.
Na segunda, o coração da fanfarra;à frente deles (a foto não mostra) garotas sorridentes apertadas em seus collants fazem malabarismos .
Por último, ladeira com calçamento original capaz de provar a eficácia ou não de qualquer tratamento fisioterápico no joelho.





sexta-feira, 27 de novembro de 2009

SÃO LUÍZ DO PARAITINGA- ARQUITETURA (e uma dica de cinema)


Do feriado da sexta-feira (20 de novembro) ao domingo ,o Centro de apoio ao Turista esteve fechado, de modo que ficou quase impossível conseguir alguma informação além do que consta no site da prefeitura (http://www.saoluizdoparaitinga.sp.gov.br/t-aventura.htm) e que é pouco.
Bem , esta é a Igreja Matriz, a São Luiz de Tolosa, construída no séc 19. A fachada e a escadaria são originais, mas a decoração do interior é da década de 1970.
Mas, como toda boa igreja Matriz de ciadade do interior, é na frente dela que se apresentam os eventos oficiais. Foi assim com a fanfarra que tocou, debaixo de chuva, acreditem, "Have you evere seen the rain" do Creedence Clearwater Revival. De fato, há o centro histórico, com prédios do período da expansão cafeeira, mas o calçamento original (feito pelos escravos) só sobrevive em duas ruas. Em uma delas, significativamente, está alojada uma escola de capoeira e na outra, a capela das mercês. Perto dali, o bar onde se reúne o pessoal da Sosaci, organização que pretende transformar o 31 de outubro (haloween) em "dia do Saci".
Retorno com fotos da capela das mercês e da fanfarra.

PS1. O sujeito do lado esquerdo da foto na postagem anterior é o engraçadíssimo Totó, figuraça que atende no restaurante Tempero da Terra e é ele quem faz o tal afogado, prato pesadérrimo feito com feijão, farinha e carne literalmente afogada em se próprio caldo. Misture tudo, taque pimenta e vá pular num bloco carnavalesco pra ver o que acontece.

PS2. Estreou "Tokyo!", reunião de três curtas metragens que já foi exibido na Mostra Internacional de Cinema deste ano. De um modo ou de outro cada um dos episódios(a cargo de Michale Gondry, Los Carax e Bong Joo Hon) trata do paradoxal sentimento de solidão de quem vive na hiper populosaTóquio. Não é um filme fácil, tem estranhezas de todo tipo, mas é também imperdível.

PS3. Bem que eu queria um.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

SÃO LUÍZ DO PARAITINGA- MÚSICA


Este ao centro é o grande Afonso Pinto. Pra quem não conhece (qualquer um fora de São Luíz do Paraitinga) ele é uma autêntica celebridade local afinal atuou em três filmes de Mazzaropi (com quem aliás tomou muita cachaça), "Paraíso das Solteironas", "Uma Pistola para o Jeca " e "Jeca e seu filho Preto", onde interpretou o capanga do coronel Cheiroso. Na verdade, ele é mais do que isso. Compositor reconhecido,foi homenageado na festa de Santa Cecília, que tomou o último feriado. Lá, seu cancioneiro foi interpretado de diversas maneiras, desde modas caipiras, passando por músicos mais próximos do que conhecemos como sertanejo e também por bandas como o Estrambelhados (http://www.bandaestrambelhados.com.br/), que faz um barulho infernal com canções para blocos carnavalescos. Com eles, até um marmanjo com o bucho cheio de afogado(guardem este nome) pulou como se tivesse menos da metade de seus 33 anos. O Estrambelhados possui um CD chamado "Folias" e que foi produzido com verba do Prêmio Estímulo(Goiverno do Estado de São Paulo) de Música de 2007.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

DIÁRIO DE VIAGEM- SÃO LUÍZ DO PARAITINGA


Inicio aqui uma sequência diária de quatro postagens sobre uma viagem que fiz à cidade de São Luíz do Paraitinga. O leitor não se irrite, porque não se trata de compartilhar experiências pessoais, mas sim de impressões sobre a cultura local. Música, artesanato, arquitetura e até culinária merecerão atenção. De cara já aviso que esta cidadezinha que fica a meio caminho entre Taubaté e Ubatuba tem atrativos fora do carnaval, quando suas ruas ficam lotadas de universitários e moradores das cidades vizinhas.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA (PERGUNTAS)

Amanhã é Dia da Consiência Negra, feriado numas cidades, notras não. Por que? Se num Estado laico dias de festividade católica são feriados nacionais (num país, vale lembrar, onde o catolicismo cada vez mais perde terreno para outras religiões), porque um dia em homenagem aos afro-descendentes não o é? E vale lembrar que fomos o último país do mundo a abolir a escravidão e que, embora os livros didáticos não digam, isso foi feito a custo de muita violência, e não apenas de um ato de bondade real.
    • Porque levou tanto tempo para termos aqui em São Paulo um Museu Afro
      Brasil? Um museu como este, que preserva e difunde a cultura africana nunca foi
      considerado uma necessidade? É bom lembrar que a identidade de um povo
      passa pela preservação de seus símbolos, sua história.
    • Por que tanto dinheiro para criar, na Bahia, um "Museu
      Rodin" em uma clara atitude "civilizatória" das classes brancas que
      detém o poder. Que se pretende ao difundir este ideal de cultura na Bahia quando
      o julga mais importante do que o patrimônio de um povo sistematicamente
      massacrado e marginalizado.
    • Porque tanta relamação quanto ao sistema de cotas? Todos os países
      responsáveis pelo massacre, subissão ou desfavoreimento sistemático de
      um povo empreenderam medidas compensatórias (é assim até hoje na Alemanha) e
      ações afirmativas, equanto o Brasil nada fez .
    • Por que tão pouo esforço para preservar a cultura negra? E a indígena,
      que é dela hoje? Que sabemos dos nossos índios? Que é ensinado nas escolas? Onde
      estão os museus?
      Um exemplo digno porém isolado :
      http://www.sosaci.org/
Bom feriado (ou algo assim) para todos !

terça-feira, 17 de novembro de 2009

SEMUM ???


“Semum” é um filme de terror turco em que tudo parece estar errado. Exibido no último sábado no 4º Cine Fantasy conta a história de um casal atormentado pelo tal Semum, ser que segundo uma lenda muçulmana é parte de uma raça que existia na terra antes de Deus criar Adão e Eva. Para dar lugar ao capricho divino, os Semuns foram atirados nos quintos do inferno , literalmente e de lá se aliaram ao demônio para atormentar a raça humana. O filme é um legítimo “trash”, que assusta na mesma proporção que faz rir, ou melhor, da metade pro fim quase só faz rir. Ás vezes é proposital, às vezes não. Pra se ter uma idéia, parece uma mistura de “O Exorcista”, com o game Mortal Kombat e a sessão de descarrego da Igreja Universal. É, o tal Semum é um encosto com cara do Eddie, mascote da banda Iron Maiden ! O “herói” do filme,então nem se fala, mais parece o tio da barraca de cachorros-quentes que vemos em frente a toda faculdade.
Mas o que interessa de fato, é que no meio dessa bagunça toda, de todos os erros, há algo de novo, de absurdamente inovador neste filme; ele não se pensar como cinema e sim como video game. O cinema, aqui é sói referência visual, não narrativa, daí a gente entende o porquê dessa falta de unidade, de coerência. E isso é muito mais complexo do que a influência superficial que a gente vê num filme como “Corra,Lola,corra” ou mesmo do que a criatividade fértil de um Robert Rodriguez (Sin City, Planeta Terror) cujos personagens podem ser baleados, mutilados, mas só morrem quando acaba sua função na trama. Mais ainda do que “A Gruta” , filme-jogo exibido no mesmo festival, onde o público votava em certos momentos para decidir as ações dos protagonistas. Semum é cinema, sem dúvida, mas é muito mais um game que não se joga, é construído como um game. Não há bem um encadeamento de ações, mas mudanças de fases. Por isso numa hora o filme é uma cópia safada de “O Bebê de Rosemary”, para depois, brusca e toscamente, recriar “O Exorcista” e assim por diante (mudando inclusive a fotografia), com personagens que entram e saem da trama sem necessidade e ações que desrespeitam a regra básica de construção de roteiro, a de que deve haver precedente e motivação para tudo que for mostrado. O filme é feito em blocos (como as fases do game) motivo pelo qual ele não se constrange em num certo momento, recriar uma luta de videogame, num cenário digital entre o monstro e um médium, com golpes digno de um Mortal Kombat. E o final se prolonga, o mostro pé derrotado, mas há mais um desafio, depois mais outro.
O filme é ruim, mas tem uma vitalidade invejável, inédita. A ponta caminhos.
Os “gênios” de Hollywood, que não cansam de quebrar a cara na hora de adaptar games para as telas, deveriam atentar para este filme. Talvez ele traga uma identificação com o público jovem que eles nem sequer sonham.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

UNIBAN - 4

Para finalizar o quiprocó “garota da uniban” (ou “puta da uniban” segundo os vídeos no Youtube), um trecho da coluna do psicanalista Contardo Calligaris publicada ontem na Folha:
O resultado foi que 700 alunos da Uniban saíram das salas de aula se aglomeraram, toaram,fotografaram e filmaram a moça. Com seus celulares ligados na mão, eles pareciam uma ralé do século 16 querendo toar fogo numa perigosa bruxa(...)O estupro é, para essas turbas, o grande remédio: punitivo e corretivo. Como assim? Simples: uma mulher se aventura a desejar? Ela tem a imprudência de ´querer´? Pois vamos lhe lembrar que sexo, para ela, deve permanecer um sofrimento imposto, uma violência sofrida-nunca uma iniciativa ou prazer
Uma reportagem no Bom Dia Brasil de hoje mostrou uma polêmica com um portal de boas vindas na cidade de Americana. O portal, criado por um artista plástico é tem em Ada lado de sua base uma figura seminua (de um lado homem, de outro uma mulher), rechonchudas, uma de cada lado do arco, representando a força do imigrante e a indústria do tecido (o arco propriamente dito). A obra desagradou parte da população, que a considera “de mau gosto” ou “indecente”. Das opiniões contrárias à obra ouvidas pelas reportagem, muitas reclamavam da nudez e, destas, todas citavam a nudez feminina. Curioso como só ela foi apontada como “indecente”. Parece que tudo é uma questão do local onde é permitido à mulher exercer sua sexualidade. Ligue a TV no canal e abo e veja a tal “maratona sex time”. Programa de bastidores da industria pornô, stripteases , pessoas fazendo sexo de verdade. Closes na genitália feminina, mas os dos homens só se vê, de relance, as bundas branquelas. Para quem acredita na liberdade sexual é bom saber que esta sociedade tem papéis bem definidos para homens e mulheres. E quem transgride arruma encrenca.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

UNIBAN-3

Eu ia responder o comentário do Mário no espaço para comentários, mas achei melhor fazer isso aqui mesmo. Bom, acho também que faltam pedaços nessa história, essa garota deve ter elevado o conceito de antipatia à níveis estratosféricos. Tenho um palpite que não se baseia em coisa alguma: a menina entrou vestida daquele jeito e gerou comentários por todo o lado. Indignação, inveja, desdém. Alguém avisa que ela foi convidada pela direção a se retirar da sala de aula. O comentário se espalha. Os rancores explodem na hora em que ela deixa a sala.
Mas, discordo quando você diz que esse comportamento não faz sentido. Digo o porquê, que na verdade são dois:
1-Por mais chata que ela seja, que ela tenha lá dado para um ou para dez namorados namorados de alguém, não é suficiente para mover uma turba como aquela. E, a partir do momento em que você participa, seja gritando, seja atuirando coisas ou chingando é porque você, em algum grau, concorda pelo menos om esse tipo de comportamento, o que por si só já é moralmente condenável.
2-Quando você vê o que as pessoas falam sobre o caso, não chega a espantar dado o nível dos comentários, mesmo de gente que não estava lá. Numa matéria do Portal Terra, disponível em
http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI4079860-EI8139,00-Polemica+da+Uniban+alunos+levam+nariz+de+palhaco+a+aula.html a reportagem tentou entender o motivo da coisa toda. Segue um trecho:

Reginaldo dos Santos Nascimento, 28 anos e estudante do 3º ano de Turismo
da universidade, disse que quer "limpar o nome da universidade, porque o diploma
vai ficar manchado por esta história". Questionado sobre quem teria errado mais
na história, se os alunos ou Geisy, não soube dizer. Já para as estudantes de
Marketing Cláudia Rodrigues, 27 anos, e Nathália Leandro, 23, a universitária
hostilizada quis se autopromover.
"Ela provocou. Por baixo da minissaia, ela estava até com fio dental", disse Cláudia. "Ela causou", afirma Natália.
Já Thiago Luiz, 25 anos e aluno de Turismo, diz que o episódio "queimou o filme" da
universidade.

Agora veja os comentários postados num dos vídeos do youtube que mostram Geisa saindo escoltada pela polícia:

Dá pra vê o nível da universidade só pelas pessoas que estão nela..
fernandorobertoreis0
(59 minutos atrás)


E dize q essa gentalha é brasileira...pelo amor de Deus. As mulheres da
UNiban, tá na cara: td machorra. E os homens, chama de bixa é ofender estes
últimos. Por que nem bixa teria uma atitude dessas. Mas ak no sul as mulheres
bonitas podem vir pq o nivel é bem outro. A democracia diz q pod andar como
qser e os gaúchos agradecem...
paulozzz28 (1 hora atrás)


Divulgada a gravação das conversas entre estudantes da UNIBAN dentro do
campus..segue abaixo:Pedrão: Eu não sei...será que tudo o que a gente aprendeu
na UNIBAMBI...abominar a minissaia...as putas...as loira...chamar as meninas de
fedidas...está certo?me lembro do tempo que a gente olhava as garotas de
minissaia só pra sentir o prazer do braulio armando a barraca...mas agora estou
tão confusa...digo confuso...Geraldão: Relaxa bobo deixa eu te fazer uma
massagem gotosa vai... fast1sp
(2 horas atrás)


humm gostosinha sim...e se for puta safada melhor ainda...enfim uma mulher
de verdade na Unibambi...ja que as outras são todas sapatonas, e como ela não
deve ter dado bola pra elas elas criaram toda esta confusão chamando de
puta...puta sim... quem dera houvessem mais putas que lesbicas na Unibambi!!E
mais minissaias e mais putas para as Universidades!!!!!!!!!!!!!!!! Hum alguem
sabe o telefone dela...hehe
jurquisa (6 horas atrás)

as empresas evitam contratar formados desta facu. Agora entendo o porque.
não é a toa que essa facu é conhecida no estado inteiro como a FEBEM do ABC
MrEsquilo20 (6 horas
atrás)

Coitados desses alunos da Uniban, se pelo menos tivessem um mínino de
capacidade de autocrítica, chegariam à conclusão de que são medievais. Num país
civilizado do hemisfério norte, pode-se vestir da maneira que bem entender e as
pessoas nem sequer olham pra você. Deve ser por isso que toda empresa que
procura bons profissionais só recruta alunos formados em faculdades de 1a linha
(Unicamp, USP, Unesp e federais).


UNIBAN = FEBEM do ABC
batitucci33 (4 horas atrás)

hahahaha paulista e tudo viado mesmo!!!!
bando de bambi!!!
dansmurf (4 horas atrás)


Bando de Bicha... iauheuhaeuia
m1a2r3c4k5 (5 horas atrás)

terça-feira, 3 de novembro de 2009

UNIBAN - 2

Uma imbecilidade leva a outra. O comportamento absurdo dos alunos da Uniban chamou a atenção da imprensa e ,invevitavelmente, dos programas de auditório. A máquina começa a funcionar e de "vagabunda" ela passa a "celebridade" sem ter feito nada para ser nem uma oisa nem outra.
Conversei bastante e com várias pessoas sobre o ocorrido. O que se poode deduzir é que a garota muito provavelmente era antipática aos olhos de vários. Seu orkut ( quem viu garante) exala arrogância e ignorância nas mesmas proporções. Mas não se irrita a um grupo tão grande de pessoas apenas sendo assim, ainda mais quando boa parte dos "ofendidos" também aje da mesma maneira. O que se viu foram pessoas que, por vários motivos, ou até motivo nenhum, ancamparam um linhamento, pouco se importanto com os efeitos psicológicos que isso teria numa pessoa. Mas como a sociedade da imagem é mesmo fantástia, o tiro saiu pela culatra, e boa parte dos linhadores agora, neste exato momento, deve estar se onvertendo em aduladores.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

COMPORTAMENTO MEDIEVAL NA UNIBAN

Por mais que se esteja acostumado com o comportamento grosseiro das nossas classes altas, as chamadas A e B, ainda há como se surpreender. O episódio ocorrido na Uniban e que ganhou os telejornais ontem à noite é de assustar até os mais aleijados, como eu. Uma turba de alunos gritando, xingando e ameaçando de agressão uma garota por ela ter comparecido à fauldade usando uma minissaia muito curta? Isso é de um obsurantismo de corar George W.Bush. E isso no país do carnaval !! Nem há muito o que argumentar. De onde vem esse moralismo violento? Ele tem precedentes? O que se evidencia nesse caso é que essa classe que tem poder aquisitivo para pagar uma universidade como a Uniban é dada a extremismos como defender a pena de morte e a atos racistas, ou seja, é fã de carteirinha da intolerância. Por outro lado, pela internet perebemos o quanto de comportamento retrógado existe em nossa sociedade. Quando sure algum video erótico em um site, você pode notar que a descrição é quase sempre agressiva com relação à mulher. Tipo "a rampeira" faz isso e aquilo, ou "loirinha vagabunda" etc. Como se o "pecado" (na cabeça dessa gente é disso que se trata) fosse só da mulher, como se não houvesse um homem lá também.
Dá pra lembrar do episódio em que uma garota foi filmada ou fotografada fazendo sexo com três rapazes numa festa universitária(não me lembro qual). Ela também teve de abandonar os estudos e saiu da faculdade nas mesmas ircunstâncias que esta jovem da Uniban. Me pergunto: os que apedrejam por acaso não assistem a filmes pornográficos? Que ou quem define o que é condenável ? Talvez eles próprios, ou sua participação ou não do ato é que se coloque como o fiel da balança.
Se levarmos em conta os avanços sociais e omportamentais, esse ato é muito mais grave do que o de se queimar bruxas na Idade Média, ou o de se apedrejar as adúlteras, na palestina do século 1, porque não enontra respaldo num omportamento social tradiional, numa moral dita como lei.
Já li que nessas manifestações de linchamento, a tendência é que a maioria aja de maneira igual, porque a turba inibe a disordânia do indivíduo e ao mesmo tempo, liberta de culpa aquele que queria linchar mas não tinha coragem. Respaldado pela maioria, ele libera o pior de si.
Foi isso o que se viu na Uniban. E, infelizmente, essa é a nossa elite intelectual.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

HQ- O GUARANI


Mais do que cento e cinqüenta anos, é um verdadeiro abismo comportamental o que separa a obra do romancista José de Alencar(1829-1877) de nosso tempo e, mais ainda, do mundo dos jovens a quem se destina esta adaptação de O Guarani para os quadrinhos, levada a cabo pelo roteirista Ivan Jaf e o desenhista Luis Gê.
Ceci, a moça que corre atrás de passarinhos “rindo-se dos volteios que a avezinha lhe fazia dar” , tem tudo para ser, aos olhos do leitor de hoje, apenas uma chata de galochas e não a criatura encantadora descrita no livro. Isso, somado às juras de amor feitas por pessoas ajoelhadas e a construções como “se me fôsseis amigo, me havíeis de perdoar” fazem da leitura deste romance uma das maiores torturas a que um professor pode submeter o aluno secundarista que tem pouco familiaridade com a literatura.
Ao focar na ação Jaf consegue contornar este “problema” e tornar a leitura de O Guarani prazerosa e divertida como certamente foi em sua época, mas por outro lado deixa escorrer pelos dedos o espírito da obra original.
Luis Gê, por sua, vez possui um domínio excepcional sobre disposição dos quadros na página e do ritmo que isso impõe à história. Também é capaz de encontrar soluções brilhantes, como enquadrar apenas aquilo que interessa, seja um pedaço do rosto ou os pés de um personagem, ou mesmo deformar os quadros e os balões fazendo eco à cena. No entanto seu traço se mostra inadequado para transmitir o que neste caso é fundamental: o trasbordar do sentimento. Basta lembrar de duas coisas para vermos como este álbum está em descompasso com o romance; o ideal da arte romântica (seja pintura, escultura ou literatura)é transmitir a emoção do artista para seu público, mas a emotividade que a nós parece exagerada e de certo modo ridícula, não encontra correspondência nem nos desenhos nem no roteiro. Toda a representação visual romântica é, na opinião de Delacroix (1798-1863), maior dos pintores dessa escola, aquela que condensa a emoção e a faz permanecer viva por muito tempo na alma do espectador. Claro que não é o caso aqui.
Também a narrativa composta predominantemente por quadros pequenos , não apenas acelera uma história originalmente de ritmo lento (o que por si só não seria problema),como não dá conta nem da grandiloqüência na descrição dos cenários nem da exaltação da natureza brasileira, o que só seria possível com a utilização de quadros grandes e de um desenho vistoso. E a arte romântica, não custa lembrar, é aquela que, ao opor a natureza (sempre pura , bela e grandiosa) à decadência moral e física das cidades burguesas, a representa com grandiosidade à altura do valor que os artistas lhe dão.
Por outro lado a contratação de Luis Gê (que junto dos gigantes Laerte, Angeli e Glauco fez parte das míticas publicações Circo e Balão) poderia supor uma leitura cínica ou irônica, mas nunca acrítica de O Guarani, como é o caso. Ok, seu Peri não é o índio da pele cor de cobre “que brilhava com reflexos dourados” , na verdade se parece mais um Tarzã, e isso é ótimo, afinal Alencar o retrata não como um legítimo goitacá, mas sim como um homem de costumes europeus. O problema é que fica por aí. Não se estabelece um diálogo entre nosso tempo e o da obra original, o que seria possível , por exemplo, se evidenciando o exagero de sentimento do livro com closes nos rostos dos personagens, como acontece numa telenovela- (que todos sabemos é filha do romance romântico), ou mesmo destacando detalhes como o fato de José de Alencar dizer que Peri “embora ignorante, filho das florestas, era um rei ”, o que, à época, certamente era um elogio sincero. Nem mesmo a idealização dos personagens fica evidenciada, pelo contrário, o roteiro trata de naturalizá-los.
Sem ser crítica, esta HQ também faz o espírito da obra de José de Alencar desaparecer para dar lugar a uma história de ação. Boa, eficiente, empolgante até, mas não mais do que isso.
Fia perdida então a oportunidade de um diálogo rico com o romance, de estimular o leitor a reconhecer todo um período histórico e artístico e de nos possibilitar uma leitura crítica de uma obra tão distante, mas também tão importante quanto O Guarani.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

EDUCAÇÃO, VIOLÊNCIA, TV, ETC.(AINDA O DIA DO PROFESSOR)

Falar sobre violência em São Paulo não é fácil. Os números recentes mostraram aumento na quantidade de latrocínios (roubo seguido de morte) e, se não me engano, também na de sequestros. Algumas modalidades de crimes diminuiram sensivelmente. Os dados mais recentes são uma inversão na tendência de queda que era constante, tanto que chegou a se temer que o governo Serra ficasse marcado como aquele em que os crimes violentos aumentaram. A resposta (que veio, se bem me lembro, da Secretaria de Segurança) foi de que os índices não estão lá muito diferentes dos de N.Y, por exemplo. Toleráveis, portanto.
Se formos nos pautar pela cobertura da imprensa, estará tudo um inferno, tanto quanto estava antes, quando os números diminuiam. Se formos levar em conta a opinião do povo nas ruas, idem. Mas e aí, quem tem razão ? Não sou eu quem irá responder, claro, no entanto tenho uma opinião. O que aumentou e continua aumentando é algo que não se mede em pesquisas quantitativas (que lidam com dados estatísticos): o grau de violência. As pessoas estão mais violentas até mesmo no trânsito. Neste sentido a relamação do povo é justificada e até mesmo a gritaria dos jornais policiais. Claro que sabemos que a sensação de perigo mudaria aso a imprensa noticiasse com a mesma insistência , ocorrências de aidentes de trabalho, por exemplo. Ou se ao invés de um programa mostrando só crimes, tivesse um que só passasse acidentes de trânmsito. Mas isso é outra história e não muda o fato de que a violência está aí.
Minha opinião é a de que impera nas comunidades carentes uma glamourização do crime. Isso não é preconceito, qualquer professor da rede estadual sabe bem do que falo. As letras dos Racionais dizem o mesmo, com um tom amargop e desesperançado. "Artigo 157", por exemplo, diz "hoje eu sou ladrão, artigo 157, a polícia bola um plano, sou herói dos pivete".
Pesquisas dão conta de que o desapreço dos alunos da rede estadual (principalmente, mas não só) pela escola se deve à mínima expetativa que eles tem de que consigam conquistar algo através do estudo, logo a escola é apenas um estorvo e o professor, não alguém que o ajuda a trilhar um caminho melhor na vida, mas alguém que o pressiona e, como manda a lei do cão, deve ser tratado com a mesma violência com que se lida com um inimigo.
Sobram, então, nas omunidades mais pobres, duas opções para o sucesso na vida (sucesso esse exigido a cada minuto pela publicidade): futebol ou o crime. Talento para o futebol não basta (o filme Linha de Passe retrata isso maravilhosamente bem), é preciso contatos, dinheiro, amizades certas, favores etc. Sobra o crime que promete uma vida curta, mas atrativa. A admiração dos "pivetes" e das garotas. Para as meninas então, é ainda pior, afinal só existem posiçoes seundárias nos escalões do crime ou o papel de namorada de bandido. A satisfação, para todos, virá das drogas (isso vale em mesmo grau para a classe média e acima). É nesse fosso em que se atiram as crianças pobres e é por isso que a escola são frequentemente alvo de atos de vandalismo e os professores, de ameaça e até agressão.
Ou a escola cumpre seu papel de integrar os jovens na sociedade (seja através do esporte, da arte ou do estudo) ou veremos os índices de violência e criminalidade se estabilizarem nesse número que é tranquilo apenas nas planilhas dos órgãos públicos.

PS. Claro, há a saída na música, seja o hip hop, seja o funk. Deveria se investir mais nisso. Há aulas de músia nas escolas? As prefeituras promovem eventos onde se apresentem músicos formados om seu auxílio? Não. Logo, ninguém estranhe que o bem público seja também alvo de ataques sistemático e "inexplicável", como insistem os apresentadores dos telejornais.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

DIA DO PROFESSOR

Se algum leitor deste blog é professor, dou a ele ou ela meus mais sinceros parabéns, embora eu tenha muito a lamentar. Devido ao pouco tempo de que disponho atualmente, lanço uns rápidos tópios e deixo a reflexão para vocês:
  • - Um professor das séries iniciais deveria ser melhor remunerado do que um professor universitário, afinal sua responsabilidade na formação do cidadão (e por consequencia, da nação) é muito maior.
  • - Os salários atuais são mais do que um desrespeito. Um professor doutor por uma universidade federal leva não mais do que R$ 4 mil no fim do mês, descontados impostos. Uma fração do que ganhava Wellington Saci, um dos piuores jogadores da safra recente,que para alegria dos corinthianos(e tristeza dos palmeirenses), deixou o Timão.
  • - O salário ínfimo faz com que o professor seja obrigado a se sobrecarrear de aulas, erdendo tempo e saúde. Saúde por que lecionar é uma atividade extressante. E tempo para se desloar de uma escola a outra, muitas vezes longas distâncias no trânsito congestionado. O resultado disso é menos atenção e dedicação não apenas ás aulas, como a correção d provas e elaboração de atividades. E, mais do que isso, toma-se o tempo que para uim professor é precioso, o do estudo, do aperfeiçoamento. Quem perde com isso são os alunos e, claro, o país.
  • - Uma nação que deixou de ser devedora para ser credora internacional, que assumiu indiscutível hegemonia regional no continente e que, em breve, passará a ser parte do seleto grupo de países exportadores de petróleo não pode se dar ao "luxo" de ter seus alunos com uma formação pior que a dos paraguaios. Não pode formar engenheiros tão ruins que forcem as empresas a importarem profissionais. É preciso rever o modelo de cima a baixo e valorizar o professor. Senão, como já disse o Inácio Araújo em seu blog, "não há petróleo que dê jeito".
  • - Mais do que tempo, é preciso estimular o aperfeiçoamento do professor, facilitar sua presença em cursos, atividades culturais etc.
  • - O quadro é desolador: grande parte dos professores na rede estadual leciona matérias nas quais não se formou. Bacharéis em matemática lecionam física por exemplo.
  • - Alguém precisa entender que ensinar física não é fazer com que o aluno aprenda a calcular a trajetória e velocidade de uma bala de canhão.
  • - Por fim, a valorização da imagem do professor gera respeito nos alunos. Está na hora de mudar.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

ANALFABETISMO?

Juca Kfoury disse domingo, em entrevista a Christian Pior, do Pânico, que “a internet revela o tamanho do analfabetismo funcional brasileiro”. Mais ou menos o que eu tentei expor aqui quando usei o twitter da Xuxa como gancho. Vale notar que Juca não disse que a internet é culpada pelo fato das pessoas escreverem mal.
Só pra citar outro exemplo, copio aqui um recado deixado no blog da VJ Luísa Micheletti, logo após o término da premiação do VMB. Sempre devemos levar em conta de que provavelmente se trata de um adolescente (para fazer declarações de amor a uma VJ num blog e citando “um antigo filósofo”, só pode ser adolescente!) e que domina razoavelmente a construção de frases bem como a ortografia, mas que por outro lado comete erros graves. É bom relevar alguns pontos; o "mascreio" deve ter sido erro de digitação (algumas palavras aparecem juntas, pode ser problema de teclado) e a ausência de maúsculas no início das frases, desleixo normal de qualquer internauta.
Ou há algo de muito errado com o ensino da língua portuguesa nas escolas ou é a falta de leitura dos jovens que os impedem de adquirir um vocabulário que vá além daquele a que eles tem acesso verbalmente ou que e é ensinado nas escolas.Ou, pior, as duas coisas.

eu poderia responder a todas asperguntas, pois são de fácil comprienção. mascreio que este não é o intuito deste post e simque as pessoas pensem nas questões que vocêabordou. é como diz um antigo filosofo, não sepode saber todas as respostas, mas deve-secompriender exatamente as perguntas. você estavalinda naquele programa do vmb. você naquelevestido preto estava lindíssimamente provocante esensual. a festa deve ter sido maravilhosa.beijos, princesa do meu coração. amo você.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

SOBRE RIO-2016...

- A vitória do Riode Janeiro como cidade sede das Olimpíadas de 2016 é reflexo direto da atual preponderância do Brasil no cenário político internacional. A escolha da sede dos jogos Olímpicos é um jogo de geopolítica. Basta lembrar que o último país a sediar uma olimpíada foi a China num momento em que solidificava sua hegemonia para além da Ásia. Ou da sequencia Moscou 1980/ Los Angeles 1984, nos estertores da Guerra Fria. A rápida desclassificação de Chicago com cidade-sede,vista por este ângulo, não tem nada de inesperada.

-A insistência do presidente Lula em trazer os jogos para o Brasil foi importante para demonstrar, entre outra coisas, que passou da hora de o Brasil ter um lugar no conselho de segurança da ONU e que o G8 é coisa do passado. O país dexiou de ser um devedor internacional e recebe indiações positivas agências internacionais de investimento. A desoberta do pré-sal só tende a solidifiar o país, que ingressará num grupo ainda mais seleto, o dos exportadores de petróleo.
- Mas nem tudo deve ser reditado a Lula. A estabilização econômica (om o fim da inflação) vem de FHC e a independência do país na produção de petróleo é obra de seguidos governos.

- É preciso evitar o oba-oba da imprensa(principalmente os grupos Globo, que deterá os direitos de transmissão, e Record, interessado em divulgar Londres2012, em que tem exclusividade ). O mínimo que se pode esperar é que os tubarões de sempre façam o que fazem de melhor e, a exemplo do PAN do Rio, os custos das obras acabem ficando muito acima do previsto,com negociatas mal explicadas e prejuízo para o Estado.

- Não se deve esperar para que o estímulo ao esporte seja o legado dos jogos. É preciso uma mudança de mentalidade desde já, a começar pelas escolas. “Educação Física” tem de deixar de ser aquela herança do regime ditatorial em que se privilegia a noção de disciplina ou, pior, sinônimo de uma bola na quadra e um professor ausente. Se continuar assim, quantos mais atletas deixaram de ser descobertos. Quantos garotos nunca saberão do potencial que eles mesmos tem? O esporte tem de ser apresentado às crianças e jovens como um futuro promissor, como uma perspectiva de vida. Logo, muitos deixarão de se seduzir pela “vida loka” da criminalidade, ou de achar que é melhor “viver pouco como um rei” do que “muito como um Zé”, que é o que promete o crime, gerando pessoas violentas e que não se preocupam com a perspectiva de morrer cedo muito menos de passar alguns anos numa cadeia insalubre e lotada.

- Os versos são dos melhores cronistas da vida urbana, os Racionais MCs que radiografam como ninguém este mundo desconhecido da alta classe média que toma as decisões estratégias nas prefeituras e no governo estadual. A integração cultura + esporte precisa ser apresentada como uma alternativa viável e real. Para isso, um contato direto dos alunos com atletas e artistas. Por falar nisso, porque tão poucas homenagens públicas a atletas vencedores?

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

JORNALISTAS EM QUADRINHOS




O fascínio da ficção pelo jornalismo é grande. Só no caso dos quadrinhos a lista inclui Superman, Homem Aranha, Valentina, Questão e vários outros que fazem suas reportagens entre uma e outra peripécia. O leitor fica com a idéia de que a profissão é sinônimo de aventura,investigação e glamour , quando a realidade é bem diferente.
A jornalista recém-formada Jussara Nunes sabia bem disso quando,em julho deste ano, começou a publicar num blog a tirinha de humor “Quadrinhos Gonzo”,em que satiriza o mundo do jornalismo e os colegas de profissão. O nome,”gonzo”, é uma inteligente referência ao tipo de reportagem surgida nos anos 1960 com o norte-americano Hunter Thompson (1937-2005) e que é feita sem se preocupar com imparcialidade ou objetividade e onde o jornalista acaba por se tornar parte da matéria. As tiras já foram destaque no portal Terra e atualmente são reproduzidas no Oi Quadrinhos, site de HQs online da empresa de telefonia. “Faço por pura e simples diversão, embora não esteja descartada a hipótese de eu vir a publicá-las em algum lugar”, diz a quadrinista que é também autora, em parceria com o desenhista André Vazzios, do álbum recém-lançado “Uiara e os Filhos de Eco”.
Jussara atualmente não exerce a profissão em que se formou; o motivo,segundo ela, é relação cada vez mais desigual entre o número de formados e as vagas disponíveis. “Se antes eram necessários dez jornalistas para se fazer uma revista mensal, hoje só se precisa de quatro”, situação que, acredita, tende a se agravar agora que os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) lhe atiraram uma kriptonita na forma da queda da obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão. “Jornalismo para mim nem devia ser mais faculdade mas, na melhor das hipóteses, uma pós-graduação”. E se todo mundo ganhou super-poderes para poder levar essa vida de Clark Kent , ela já não sabe bem para onde ir: “ Penso em investir em ilustração ou redação publicitária ,embora seja outro meio apinhando de gente”. Mas e as HQs? “Quadrinhos para mim nem é uma ´área´ propriamente dita, pelo menos não no Brasil”.
Quadrinhos Gonzo funciona como um tipo de dupla vingança da autora, primeiro por que nasceu no mesmo mês em que o diploma deixou de ser obrigatório, segundo por que usa justamente os quadrinhos para mostrar uma imagem mais desglamourizada possível do jornalismo. As tiras riem desse dia-a-dia monótono e repetitivo, marcado não pela aventura, mas sim pela jornada de trabalho extenuante , gente vaidosa ou por coisas tolas como uma discussão sobre quem vai trocar uma lâmpada. Isso se manifesta até nos desenhos, feitos no computador, sem detalhes ou cores e que refletem com perfeição esse cotidiano “sem graça” que pouca gente associa à profissão. A graça ,então, está em perceber que se Superman realmente existisse e fosse um jornalista de verdade, ele não teria tempo para sair voando e salvar o mundo, simplesmente por que estaria ocupado demais cumprindo os prazos de fechamento das matérias, atendo assessorias de imprensa ou levando broncas de um editor turrão. Para baixo e avante !
!!!
Quadrinhos Gonzo:
Oi Quadrinhos:

terça-feira, 22 de setembro de 2009

AS VÁRIAS FACES DE WILL EISNER


Invisibilidade ( literal ou metaforicamente falando) é o conceito que liga os quatro trabalhos de Will Eisner produzidos entre 1981 e92 e que estão reunidos neste Nova York- A Vida na Grande Cidade, calhamaço de quase 500 páginas lançado pela Companhia das Letras e que reúne duas graphic novels,“O Edifício” e “Pessoas Invisíveis” e material “extra” compilado em dois tomos, “Nova York, a Grande Cidade” e ”Cadernos de tipos Urbanos” . No primeiro caso produzidas é material feito originalmente para a revista norte americana The Spirit Magazine entre 1981 e 83, no segundo, situações que ficaram de fora de outras graphic novels . Ambos são compostos por pequenas histórias, as vezes apenas vinhetas, que esquadrinham situações cotidianas. Quanto a “O Edifício” ,vale dizer que não é inédito no Brasil, pois já fora originalmente publicado pela extinta editora Abril Jovem na década de 1990.
A leitura de “Nova York-A vida na grande cidade” leva a uma conclusão inevitável: o autor norte americano, morto em 2008, era de fato um romântico. Só isso explica sua obsessão em retratar a cidade grande como destruidora de almas e geradora de seres insensíveis e que leva os indivíduos a se tornarem invisíveis uns aos outros. Este é o tema principal não só da literatura européia do século 19(romântica ou realista), como das artes do período (a pintura de Daumier, por exemplo) que viam na industrialização e na urbanização a degradação dos valores humanos e sociais. As grandes cidades já não são tão insalubres quanto eram as metrópoles européias de duzentos anos atrás, mas nem por isso deixaram de dar sua parte na crescente desumanização de seus habitantes- o trânsito é um bom exemplo disso.
Will Eisner,por outro lado, é também claramente parte daquela linhagem de escritores norte-americanos como Charles Bukowski ,John Fante e Raymond Chandler que nunca foram seduzidos pelos mitos do american way ou do self made man e que por isso se esforçavam tanto em retratar os “perdedores” , desiludidos e coadjuvantes da vida nas grandes cidades. É do retrato do cotidiano, do banal e até do violento que surge a poesia e a beleza na obra de todos eles. A diferença é que se em Eisner existe essa tentativa quase constante de a todo custo culpar unicamente a cidade pela desumanização das pessoas, o que o joga lá para trás, em companhia dos escritores românticos e realistas-naturalistas. Essa faceta um pouco incômoda do gênio dos quadrinhos fica mais evidente no “Caderno de tipos Urbanos”, que tinha tudo para ser figurar entre suas melhores obras, se ele abrisse mão do texto e deixasse as imagens falarem por si mesmas. São fragmentos de vidas, pequenas crônicas que tocam fundo a todos nós, pois falam ,por exemplo, do apuro de um desempregado em pegar o metrô sem se atrasar para uma entrevista,que acaba não acontecendo. Tocaria ainda mais fundo não fosse a teimosia do quadrinista de se portar como um cientista num laboratório e usar o texto para explicar as coisas, reduzindo tudo a uma relação simples de causa e efeito ,e as pessoas ,como produtos diretos do meio ambiente em que vivem. Quando ele abdica da obrigação de “explicar” aquilo que mostra, nos entrega pérolas, jóias desenhadas, como uma história em apenas quatro quadrinhos onde em três deles um homem convulsiona numa calçada lotada de pessoas, que o ignoram. No último ele aparece já morto, e centro das atenções. Esse é o espírito da invisibilidade, que em outros grandes momentos desta edição surge como fábula ( em O Edifício e seus fantasmas que correm em socorro de uma garotinha em perigo), ou metáfora, na história de Pincus Pleatnik, uma das quatro que compõem “Pessoas Invisíveis”. Lá Pleatniki tanto evita o contato com outras pessoa que, quando é erroneamente dado como morto por um jornal local, ninguém sente sua falta e ele não consegue sequer provar que está vivo. Através do melodrama propositalmente exagerado, Eisner traduz a máxima psicanalítica que diz que só se existe em função do “Outro”, que nos serve de referência e afirma nossa existência. “Nova York a grande cidade” é poesia pura e,por contraditório que pareça, quase “neo realista”. Eisner observa a cidade e as pessoas se emitir julgamento e nos mostra crianças brincando com um hidrante aberto até serem interrompidas por um policial ou as várias reações possíveis de diferentes pessoas em frente a uma caixa de correios.
Nem tudo é perfeito em Will Eisner mas seus grande momentos são superlativos. E este “Nova York- A vida na Grande Cidade” é precioso porque permite ao leitor tomar contato com as várias faces da sua arte, seja o melodrama, a fábula ou a crônica. E, mesmo quando escorregava, ele o fazia com uma grandeza incomum.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

REALITY (CONT.)


Falei de realidade, falei de imagem e não mencionei os reality shows. Talvez tenha falado lá atrás, nas postagens anterior, mas não me lembro. Enfim, aquilo é ralidade, tem câmeras o tempo todo, mas e a imagem? Ela "não mente" ? E a edição (que há no jornalismo também), a riulha sonora e todo o que envolve aquilo? Um exemplo perfeito é o "Girls of the Playboy Mansion" exibido pelo canal AXN e que mostra a vida de três coelhinhas, namoradas de Hugh Hefner, e que moram em sua mansão. Acho que acabou por que agora existe um outro, Kendra, que mostra a vida da mais bonita, gostosa e engraçada das três, mas também a de comportamento mais artificial. Não por acaso Kendra ganhou seu próprio reality onde ela acorda sempre linda e maquiada.
Go, Kendra !

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

FUTEBOL / ARTE

Foi dica do grande amigo e leitor assíduo(um dos quatro ou cinco que este blog tem) o site :
http://www.mundogump.com.br/pinturas-incriveis/ que traz pinturas hiper-realistas de artistas que eu desconheço.
Pausa.
Esta semana, durante o programa Jogo Aberto apresentado pela encantadora Renata Fan na Rede Bandeirantes, o comentarista e ex-jogador Neto disse, a propósito de um lance polêmico :"quem briga com a imagem é porque não tem inteligência". A patada foi dirigida o jornalista Ulisses Costa, que se recusava a reconhecer uma falta ou um impedimento(não me lembro bem) que Neto julgava estar evidente no videotape.
Bom, a esta hora os quatro ou cinco leitores devem estar pensando o que é que o ponto inal do reto tem a ver com as calças.
Explico.
No blog indicado pelo Daniel, o autor tece vários comentários que podem ser resumidos num só "parece fotografia" o que, para ele, é um elogio. Parecer uma fotografia de fato deixou de ser um elogio à arte desde,pelo menos, Cèzanne (ou até mesmo em Goya, dependendo do ponto de vista). Há uma série de questões aí, que envolvem o valor da "representação" nas artes visuais e que eu não vou expôr sob pena de tornar este blog ainda mais chato do que já é. Mas o que dá para dizer é que a questão de modo algum é essa, de se parecer fotografia, ou parecer real. Ou melhor, parecer real é só um meio de se chegar ao ponto que é este mesmo tocado pelo Neto;"quem briga com a imagem é porque não tem inteligência". Muito pelo contrário, nos dizem estes artistas (mas o blogueiro lá não entendeu isto), essa imagem perfeita não é real. Não faz sentido ter um arte meramente imitativa num mundo que já tem a manipulação das imagens ao alcance de qualquer um com um photoshop em casa. Mesmo antes disso a ambiguidade da imagem já era a questão do cinema desde pelo menos os anos 50. A imagem induz sim ao erro, ela é, afinal, só uma casca. Um signo (ou ícone pra ser mais preciso) de algo que existiu ou aconteceu. Essa relação da semelhança e orrespondência entre a imagem e o real , entre o íone e o referente(ou a impossibilidade de se estabelecer tal correlação) também já ferveu uma ciência como a semiótica. Quem assistiu Vertigo-Um corpo que caiu, de Alfred Hitchcock vai ver como o mestre inglês já trabalhava esta questão.
Já falei um bom tanto aqui do hiper-realismo. Mas não custa frisar o quanto a imagem é portadora de dúvida. Não fosse isso, eles não passariam duas horas por dia discutindo se foi pênalti ou não, se tinha impedimento ou não.
E isso quem me ensinou não oi nenhum boleiro, mas um crítico de cinema, o Inácio Araújo. Golaço.
!!!
Não oi uma crítica ao ótimo comentarista que é o Neto. Mas ainda é uma crença bastante arraigada de que a imagem é portadora da verdade e é disso que vive o jornalismo. Um foto ou filmagem é o que "prova" que algo teria acontecido. Todo mundo sabe o quanto de erro isso já provocou.
As imagens via internet então nem se fala. Nunca se sabe se são reais ou não. Sobre isso, quem talvez melhor tratou a questão foi George Romero e seu Diário do Mortos, de 2008, onde as notícias sobre mortos vivos se espalham pela internet e pela Tv mas por vários motivos(principalmente credibilidade), todas são alvo de descrença.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009


Terra Vermelha , filme de Marcos Bechis que está nas locadoras, foi de certa forma “injustiçado”. Por tratar do mesmo tema ( a questão indígena) e ter sido lançado mais ou menos no mesmo período em que Serras da Desordem, de Andrea Tonacci ele acabou um pouco ofuscado pela genialidade e a trangressão deste que foi sem sombra de dúvida o melhor filme brasileiro de 2008 - num ano que teve ainda peixes grandes como Falsa Loura, de Carlos Reichenbach, Encarnação do Demônio, do Mojica e Celópatra, de Julio Bressane. Também, como aliás quase todo filme nacional que não leve o logotipo da GloboFilmes,teve circuito exibidor restrito à região da Avenida Paulista e arredores, e só agora ganha uma preciosa segunda chance de travar contato com o público.
Há muita coisa nesta fita de Marcos Bechis, muitas perguntas não respondidas; a convivência entre índios e brancos, o desmatamento, a presença estrangeira, o confinamento dos indígenas em reservas minúsculas e degradadas, a bebida que vicia, os suicídios, a proximidade com a cidade grande e os shoppings , a pistolagem e a violência como única forma de mediar conflitos num local onde o Estado basicamente não existe. Tudo isso amarrado pela história de um jovem índio que começa a seguir os primeiros passos como xamã ao mesmo tempo em que se envolve com a filha do dono de um hotel, que aliás também é o latifundiário dono das terras que sua tribo invade numa atitude que lembra muito as cenas que vemos por pouco mais de um minutos nos noticiários televisivos. Essa situação violenta, que de certa forma começa quando o governo militar, por volta dos anos 1970 concede terras e instaura a grilagem, segue até hoje e vitimou de Chico Mendes a Dorothy Stang. Não é de se espantar que tenha tão poucos destaque nos telejornais, afinal não é tão fácil apontar culpados nem simplifiar a situação e palpitar soluções imediatistas.Requer tempo e reflexão, algo que este belo filme nos oferece.
Aceite de bom grado.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O BEIJOQUEIRO, O ESTUPRADOR E O BOXEADOR

Mero complemento à postagem anterior, mas vale lembrar do caso do e ex- campeão dos pesos leves Arturo Gatti que estava morando num hotel no Ceará. O boxeador foi encontrado morto em seu quarto pela esposa brasileira, que comunicou o fato a polícia. Apesar de Gatti ter morrido enforcado, o delegado levantou a hipótese da franzina esposa ser a assassina, com base numa marca de pancada na cabeça do ex-lutador. Os jornalistas compraram a idéia absurda (ela o teria golpeado na cabeça e o sufocado com a corda) mesmo sem testemunhas que contassem ter ouvido barulho de luta vindo do quarto do casal. Logo a moça era filmada e os repórteres e aresentadores gritalhões insinuavam uma culpa que rapidamente se provou inexistente. A marca na cabeça do ex-vampeão veio de uma briga na rua, acontecida pouco antes dele se enforcar no quarto.
A queda da versão do delegado- e dos jornalistas- no entanto, não ocupou nem metade do esaço dado à falsa acusação.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

O BEIJOQUEIRO E O ESTUPRADOR

Semana passada ganhou certo destaque no noticiário a prisão de um italiano por beijar na boca sua filha de 8 anos num praia cearense. O turista, cuja identidade permanece preservada, fora denunciado aos policiais por duas pessoas (de 70 e 75 anos) que se sentiram incomodadas com a cena e (provavelmente) acreditaram se tratar de um caso de pedofilia. A mãe da criança, que é brasileira, alegou que esta é uma prática comum entre os italianos. Pois bem, ao noticiário então. Para Sandra Annenberg, no Jornal Hoje de quinta feira(3), ele havia sido preso por dar uma “beijoca” na boca da criança. Para o portal G1l ”italiano é preso por beijar a filha na boca em barraca de praia no CE”. Para o Jornal da Band era “ato libidinoso”. Já Carla Vilhena disse na sexta-feira(4) no SPTV 1ª Edição que ele havia dado um “beijo, um selinho,uma bitoca” o que é “abuso sexual e pela nova lei é enquadrado como estupro”.
Tanto zelo com as palavras chega a impressionar, principalmente quando comparado com outro caso onde a acusação recaía sobre o mesmo artigo do código penal, estupro. Quando o médico Roger Abdelmassih foi preso o trato da imprensa foi bem diferente. “Médico é preso acusado de 56 estupros”. Está correto. Pela nova lei que trata dos “Crimes contra a Dignidade Sexual” ,sancionada em 07 de agosto deste ano, todas acusações dirigidas a Abdelmassih são classificadas como estupro, tanto quanto a “bitoca” do alemão (estupro a vulnerável) - que aos olhos das testemunhas não parecia assim tão inocente. Mas não foi lembrado que, das 56 acusações feitas a Abdelmassih - houve mulheres que fizeram mais de uma acusação,daí o número ser maior que o de acusadoras,36 ou 39 dependendo de quem dá a notícia - “apenas” (aspas enormes aqui) duas se enquadrariam no que a lei anterior classificava como estupro, ou seja, a tal “conjunção carnal”.
Num caso, o do médico, os acusadores foram dignos da confiança absoluta dos jornalistas enquanto no outro, mereceram a mais completo descrédito. Se a Lei é a mesma para todos porque cabe aos jornalistas decidirem por um ou outro lado? Por que num caso é bitoca, ato libidinoso(que nem existe mais) e abuso sexual e noutro é estupro?
É até desnecessário frisar a diferença entre os casos e até bom que não se noticie “italiano preso por estuprar filha de 8 anos ”. É,aliás, função do jornalista esclarecer os fatos, mas isso não foi feito nem em um caso nem em outro. Mas no caso do médico, os jornalistas, certos da culpa, tomaram parte na condenação e não muniram o leitor/espectador de conhecimento suficiente para entender a lei e o processo. Já com o turista, inocentaram-no com veemência (chega a parecer que Carla Vilhena estava presente na hora da bitoca).
É certo que parece mesmo que Roger Abdelmassih é culpado e o italiano, inocente. Mas é sempre bom lembrar que entre o “parece” e o fato existe muitas vezes um abismo pra onde foram atirados muitos inocentes e de onde escaparam ilesos muitos culpados. E no fim, entre culpa e inocência cabe ao juiz decidir, não a nenhum jornalista.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

NAÇÃO DOS ZUMBIS



Foi com pouco dinheiro, uma câmera digital e uma boa dose de criatividade que Rodrigo Aragão fez seu “Mangue Negro”, originalíssimo filme de zumbis de que circulou o país em diversos festivais e agora aporta direto nas locadoras, sem ter estreado em circuito comercial. O longa metragem consegue ser original num subgênero do terror que ,salvo raras exceções, tem tendência a se repetir; mais do que mortos vivos de andar trôpego, vemos ostras monstruosas (!) , defuntos surgindo da água escura do mangue e feitiçaria cabocla, tudo mostrado com ajuda de muita maquiagem, animação em stop motion e até computação gráfica. Já a história é uma fábula, quase um “João e Maria” ultraviolento, contando tentativa de um casal de fugir do mangue e chegar ao topo de uma montanha, onde estariam livres da epidemia de mortos-vivos.
Em meio a tantas idéias, umas funcionam, outras não. Talvez o maior problema esteja nos diálogos muito formais, de português corretíssimo, que tiram algo do impacto brutal do manguezal, e dos rostos tão diferentes do que estamos habituados a ver na TV. Nisso ele só teria a lucrar soasse como O Céu de Suely (de Karin Aïnouz), Cinema Aspirinas e Urubus (de Marcelo Gomes) ou Baixio das Bestas( de Cláudio Assis) . O cinema do nordeste tem se mostrado dono de uma identidade fortíssima e sem medo do acento regional. Também o uso da maquiagem para envelhecer rostos parece despropositado, deixa os atores com cara de boneco de cera ou de quem sofreu queimaduras graves.
Mais até do que a originalidade, salta aos olhos o laboratório de influências que é este filme. Tem algo do Zombie, de Lucio Fulci , por causa das cenas ensolaradas, dos mortos putrefatos. As vezes o herói parece descaradamente com o Ash, da série Evil Dead- A Morte do Demônio, de Sam Raimi, de onde Aragão também parece ter tirado o gosto pelo humor. Já a sangueira é típica de HQ , assim como o visual de alguns cadáveres . E é num instante que surge um cenário tratado digitalmente e uma câmera em primeira pessoa que faz parecer que estamos diante de um game estilo “Doom”. Há também cenas que foram tiradas da prateleira dos clichês do filme de terror (a mocinha encosta num parede de madeira, de onde surge a mão do monstro que lhe agarra o cabelo). Tudo ali parece uma colagem com vista a se chegar a um produto novo, com identidade própria.Está errado? Não mesmo. É dessa mistureba que vive o cinema de Quentin Tarantino e Robert Rodriguez, por exemplo.
Ninguém é obrigado a gostar do resultado, mas todo mundo deveria dar uma chance aos zumbis “mangue beat” de Rodrigo Aragão. Chance que as salas de cinema não lhe deram.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

MAIS TWITTER, MAIS XUXA ! SASHA PACIÊNCIA!




Essa tira (clique para ampliar) veio do excelente site Quadrinhos Gonzo http://quadrinhosgonzo.wordpress.com/ , da jornalista e quadrinhista Jussara Nunes e satiriza a saia justa de uma assessora de imprensa explicando o caso do twitter da Rainha dos Baixinhos a um repórter. Volto em breve a falar deste site. Mas o caso teve desdobramentos. Na última terça-feira (dia 1º) Xuxa foi fotografada pela Revista Quem passeando com um cãozinho num shopping center de luxo do Rio de Janeiro. Solícita, aceitou até posar para foto ao lado de um fã. Trabalho de bombeiro da assessoria de imprensa, que deve ter passado por apuros semelhantes aos satirizados nessa tirinha para livrar a apresentadora da imagem de burra e antipática que lhe ficou colada.






O caderno Folha Informática de ontem apresentou uma tendência representada por sites como o Tweetfeel http://www.tweetfeel.com/ que filtram as opiniões emitidas no Twitter e as classificam como positivas ou negativas. É um passo largo rumo à identificação de emoções dos usuários. O que se faz com isso? Basicamente o que fez a assessoria de Xuxa, que é possibilitar seu cliente a dar a volta por cima de uma situação adversa. Ou focar-se mais naquilo que é elogiado. Será uma festa para os marketeiros de políticos., por exemplo. No cinema uma coisa será certa, com um conheimento infinitamente mais apurado do gosto das massas, os diretores terão cada vez menos liberdade. Quem financia uma obra de centenas de milhões de dólares nuna quis correr riscos e terá a seu serviço exatamente aquilo de que se agradam as grandes platéias. Pra que mudar, pra que arriscar ? Ou seja, veremos ainda mais filmes rendidos
às mesmas fórmulas prontas, feitas à medida para agradarem adolescentes. A opinião abobalhada do garoto de que eu falei na postagem anterior terá um peso muito maior na hora, por exemplo, de se financiar um filme de terror de Sam Raimi (hipoteticamente falando). Se você acha que é infernal entrar num Cinemark hoje é porque não sabe o que te espera amanhã. Transformers vai ser fichinha...






Pois é, os blogs, os sites de relacionamento e o Twitter permitiram que muita gente possa expressar sua opinião. Mas, no final, a coisa é como num tribunal: o que você disser poderá ser usado contra você.




Quem aguentar a Quem pode ir em http://revistaquem.globo.com/Revista/Quem/0,,EMI90998-9531,00-XUXA+PASSEIA+EM+SHOPPING+E+E+ASSEDIADA.html e curtir um ótimo exemplo de jornalismo a serviço de uma Assessoria de Imprensa. E dá-lhe elogios à Rainha...

terça-feira, 1 de setembro de 2009

É rabugice minha criar caso com os erros ortográficos? Acho que não, até porque eu mesmo erro, e de montão. Citei a Xuxa, cito agora um anônimo. Fui ler a resenha do filme "Arraste-me para o Inferno" que o ótimo crítico Sérgio Alpendre fez para o apenas razoável site Cineclick (disponível em:
http://cinema.cineclick.uol.com.br/criticas/ficha/filme/arrasta-me-para-o-inferno/id/2208 ) quando topei com o seguinte comentário(assim mesmo em caixa alta) :
MEU DEUS QUE FILME HORRIVEL PIOR FILME QUE EU VI NA MINHA VIDA NA MORAL GENTE ACONSELHO A NÃO VERPQ QUEM VIU PARECE QUE FOI PRO INFERNO MUITO RUINFINAL MEIO E FIM COMPLETAMENTE HORRIVELESSE SAM RAIMI NÃO SABE FASER FILME AINDA QUER BOTAR PARTES ENGRAÇADAS EM FILME DE TERROR EU RI MAIS DO QUE ME ASSUSTEI NA VERDADE NEM ME ASSUSTEI
Pode ter sido um garoto o autor do texto (o que justificaria certos erros), mas é interessante notar que ele se preocupou em não errar o nome do diretor. Ou seja, ele não deu a mínima importância à escrita, que parece mimetizar a exasperação com que ele falaria com algum colega (isso explica o uso da caixa alta). A internet desestimula o uso de pontuação e acentuação, isso a gente bem sabe.
Mas há algo mais aí, algo sério. Esse garoto ( quero crer que seja um garoto - e pela linguagem devo estar certo) é parte de um grupo enorme ,Xuxa e Sasha inclusas, que parece não ver utilidade na escrita. É de se pensar em quais fatores levam a isso . A alfabetização é cada vez mais precária; hoje mais pessoas são alfabetizadas, mas apenas nas planilhas do governo. Crianças chegam aos 8 ou 9 anos de idade sem sabererem escrever uma única palavra, tudo isso por entraves burocráticos e interesses diversos, que vão do impedimento da reprovação à ação de diretores que não querem índices ruins de alfabetização em suas escolas, e por isso dão como preparados alunos praticamente (ou completamente) analfabetos. Há também a diminuição persistente no hábito da leitura - o crescimento na venda de livros não quer dizer que mais pessoas estão lendo-nem diz quais livros são vendidos. E com certeza outras coisas que façam as pessoas crerem que escrever é algo quase desnecessário.
Mas quais ?
PS. A propósito, não acreditem no garoto, o filme é excelente.
PS2. O Cineclick é site que publicou o texto do crítico Celso Sabadin sobre o "xou" da Xuxa no Festival de Gramado de que o Daniel falou nos comentários:
PS3. Ainda Xuxa, ainda twitter . Um fã, revoltado com as críticas à sua musa e rainha, postou na internet um vídeo para defendê-la. Deu nisso aqui : http://pepsi.gizmodo.com.br/conteudo/mexeu-com-xuxa-mexeu-comigo

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O TWITTER DA XUXA

Um dos assuntos mais comentados essa semana pelos usuários do Twitter foi o bate-boca da apresentadora Xuxa com os seguidores do seu microblog. Tudo começou quando ela digitou sua primeira mensagem toda em caixa alta (letras maiúsculas) o que, para quem usa o site (ou até para quem te e-mail) equivale a dizer alto gritando. Xuxa se desculpou, mas o emenda saiu pior do que o soneto, porque escreveu “OUTRA COISA , NÃO FIQUEM TRISTE POR EU NÃO RESPONDER TUDO EU FICO DOIDINHA , VOU APRENDER AOS POUCOS TÁ”. Logo em seguida, outro motivo de estresse; Sasha postou uma mensagem em que escrevia “cena”com “s” (sena). Ante a esculhambação geral e as respostas agressivas, Xuxa justificou dizendo que a filha, de 11 anos, havia sido alfabetizada em inglês. E desabafou, em caixa baixa, mas sem vírgula: “fui vcs não merecem falar comigo nem com meu anjo”.
!!!

Xuxa é nossa versão nacional de Michael Jackson; quanto mais envelhece, mais age como criança. A diferença (além do fato de que ela ainda não morreu),fica por conta do talento gigante do americano, frente à inexplicável empatia da ex-modelo com o público televisivo. Mas ela parece ter mergulhado tão fundo nessa fantasia de “rainha dos baixinhos” que age como se vivesse num mundo de conto de fadas. Só isso explica tamanha ingenuidade no uso do Twitter. Xuxa, isolada primeiro pelos altos muros de sua mansão, depois por seus seguranças e por fim pela trincheira inexpugnável da imagem fantasiosa da TV (a mesma fantasia que tentaram vestir, até agora sem sucesso, em Carlinhos) achou que realmente tinha “seguidores” num sentido de devoção e por isso se espantou tanto com areação negativa às suas postagens, ou à péssima alfabetização da anglófona filhota. Uma coisa é se relacionar com pessoas que estão numa platéia de um programa de auditório, outra é lidar com elas sem mediadores, como é o caso do Twitter. A Rainha sentiu brevemente um gostinho de bastilha e talvez seus cabelos tenham ficado ainda mais descoloridos. Mas ela ainda conta com sua guarda real, a imprensa de celebridades. A revista "Quem" (que como a Caras e a Contigo, faz de tudo pra injetar sangue azul em qualquer BBB) minimizou e disse que o problema se deveu a pequenos erros de português na postagens. Ah, ta.
!!!

Xuxa e sua filha demonstraram um domínio precário da língua portuguesa. Mas, ao mesmo tempo, vale lembrar o quanto isso é um problema quase epidêmico. No trajeto que o trem faz de Rio Grande da Serra até a Estação da Luz, lá pela altura da Mooca, pode se ler uma pixação que diz : “A panela esta formada”. O acento agudo de está não está lá. No sentido inverso, perto de Santo André, escreveram “Mauá”, sem acento mesmo, demonstrando que não sabia escrever o nome da cidade onde provavelmente morava. Em outro lugar, na rua, vejo uma estranha “O silêncio dos inocetes”. Não, ele não escreveu errado sem querer, assim como Xuxa também não e nem Sasha.
Em fóruns de discussão vejo pessoas que debatem, em termos técnicos complicadíssimos,
a montagem de um Home Theater de R$11 mil, mas com erros tão primários na escrita quanto os dos pixadores que eu mencionei acima. Já a maneira mais fácil e segura de identificar vírus que finge ser uma mensagem de banco solicitando recadastramento da conta é justamente encontrar erros grosseiros de portugês no corpo do e-mail. Ou seja, uma pessoa que é capaz de criar um programa que esvazia sua conta bancária não sabe escrever corretamente ! Num blog, não me lembro qual, alguém irritado com uma pessoa que criticava justamente a má escrita nos outros comentários, respondeu dizendo algo como “você que vá então pra academia brasileira de letras”. Ou seja, escrever de maneira minimamente correta é coisa de outro mundo, portanto perfeitamente dispensável. Os incomodados que se mudem.
Qual a razão disso? Eu bem que gostaria de saber. Mas escrever sem erros grosseiros (e este blog está cheio de erros de diversos calibres), mantendo um mínimo de concordância não é exibicionismo. Esse pouco domínio da língua que vemos tanto em gente muito pobre quanto nos mais ricos cria uma dificuldade de comunicação, uma fragilidade na hora de se expressar. E isso não é bom para ninguém.