quinta-feira, 31 de março de 2011

CINECLUBE GAMBALAIA -07/04

Dia 07 de abril ,  às 20h, o CINECLUBE GAMBALAIA exibe

 
“Jejum de Amor” (His Girl Friday,1940 – 92 min.)de  Howard Hawks



Uma homem condenado à forca. Políticos querendo lucrar com sua morte. Jornais idem. A verdade por detrás de tudo,no entanto, rende uma matéria ainda mais escabrosa mas que pode nunca ganhar vida porque Hildy Johnson (Rosalind Russell) a melhor de todas as repórteres decidiu abandonar o jornalismo e trocar o ex-marido (e ex-editor) pela vida pacata ao lado de um corretor de seguros.

Walter Burns (Cary Grant)tem só até sexta feira para salvar um condenado, trazer de volta sua repórter e , de quebra,conquistar seu coração. Nem que para isso infernize a vida de sua amada de todas as maneiras possíveis!



ENTRADA GRATUITA !

***
Meia hora antes da sessão rola boa música no nosso “tocacedês”; desta vez será o jazz dos anos 1940, com o melhor da incomparável big band de Duke Ellington e do inspirado clarinetista Sidney Bechet.



Na meia-hora seguinte ao filme, uma mini-palestra esmiuçando a obra de Howard Hawks e exibindo trechos de outros filmes do diretor que inspirou a geração da nouvelle vage a construir o conceito de “cinema de autor” e imprimiu sua marca em comédias, westerns, film noir e outros gêneros.




Espaço Cultural Gambalaia – R. das Monções, 1018


Santo André - SP - f. (11) 4316-1726

 http://www.gambalaia.com.br/

terça-feira, 29 de março de 2011

ROCOCÓ-3

Para terminar nossas postagens sobre o rococó incluo aqui um dado complementar:
a construção do palácio de Versalhes (imagens ao lado e abaixo) custou 2 milhões de liras (algo como 1 bilhão de euros hoje, dados do historiador Michel Vergé-Franceschi) e foi, junto de sucessivas guerras , do auxílio à independência dos EUA ,do atraso crônico da indústria têxtil francesa e das más colheitas de grãos,  um dos componentes que faziam o mundo da nobreza marchar para um fim que eles não percebiam e que decretaria a morte definitiva da arte rococó.


Diz Eric Hobsbawn(a tradução é de Maria Tereza L.Teixeira):

As 400 mil pessoas aproximadamente que,entre os 23 milhões de franceses,formavam a nobreza(...)gozavam de consideráveis privilégios, inclusive a isenção de vários impostos(mas não de tantos quanto o clero,mais bem organizado),e o direito de receber tributos feudais”.

Para se ter uma idéia melhor do violentíssimo contraste desse fausto que era a vida da nobreza com a do povo, uma descrição precisa do historiador Alain Frerejean (tradução de Marly N.Peres):
O trabalhador agrícola na França,no século XVII,geralmente morava numa casa de um único cômodo,algumas vezes,aklgumas vezes compartilhada com outra família.No interior,colchões de palha jogados no chão de terra batida(..)De maio a outubro,iam até os domínios dos nobres,do clero (...)para ajudar na colheita(...)Jornadas estafantes,nas quais homens,mulheres e crianças,dobrados sobre si mesmos durante horas e horasse esfalfavam a serrar,cortar,atar e empilhar.

A refeição dos camponeses restringia-se,quase exclusivamente,ao pão,uma mistura de centeio e de trigo,em porções diárias de cerca de 700 gramas,molhada numa sopa de legumes(...)Quase nunca havia carne ou derivados do leite(...)A caça e a pesca eram privilégio do senhor,mas alguns componentes,furtivamente,se arriscavam a abater um coelho ou conseguir um pouco de peixe”.




Obras consultadas

A Era das Revoluções (ed.Paz e Terra), Eric J. Hobsbawn

Revista História Viva ano III- nº25

Revista História Viva Especial temática nº2

sexta-feira, 25 de março de 2011

ROCOCÓ-2


Luis XIV (1701) , Hyacinthe Rigaud


A escolha entre o desenho e a cor foi mas do que uma questão técnica;a decisão em favor da cor subentendia uma posição contrária ao espírito do absolutismo, à autoridade rígida e à arregimentação racional da vida-era também o sinal para um novo sensualismo e culminou em fenômenos como Watteau e Chardin(...)A tendência para o monumental,o cerimonioso e o solene já desaparece nos primeiros tempo do rococó e dá lugar a uma qualidade mais delicada e mais íntima.Na nova arte, a preferência recai sobre a cor e as nuances de expressão em lugar do grande e firme traço objetivo,e a nota da sensualidade e sentimento será ouvida em todas as suas manifestações
                  - Arnold Hauser, "História Social da Arte e da Literatura"  ,ed.Martins Fontes.

A sugestão do autor acima, quem acmpanha os comentários do blog viu que foi do grande amigo e historiador Mario Cesar (o Marioc). A imagem acima eu incluí  a fim de que o leitor possa contrastar aquilo que Hauser identifica como "monumental,cerimonioso"  e "firme traço objetivo" com a arte rococó, da penúltima postagem . Claro que  arte como essa (retrato dos reis) continua a existir com algumas das mesmas características  ao mesmo tempo  em que Watteau e Fragonard produzem suas pinturas delicadas. O interessante é a mudança de sensibilidade, de modo de pintar, de motivos que surgem com o enfraquecimento dessa figura absoluta  que é o Rei- e essa grandiosidade percebemos perfeitammente na pintura de Rigaud. Aliás, justamente essa pintura já esteve aqui no Brasil, em exibição na  Pinacoteca,com outras obras produzidas para os Luises (14,15 e 16) no qual podia-se notar sutis mudanças no modo de se retratar cada  rei para outro, sintoma das mudaças porque passava a monarquia e a arte no período.

PS. A divulgação do cineclube fica para o início da semana que  vem, logo após uma  última postagem sobre a França de Luis XIV. Já adianto que o filme é "Jejum de Amor", de Howard Hawks e a sessão será dia 07 de abril, às 20h.

quarta-feira, 23 de março de 2011

NOVELA NÃO PRECISA SER BURRA


Quem acompanha este blog sabe que eu vivo resmungando contra as novelas. Pois bem, ontem paguei a  lingua ao assistir a algumas cenas do primeiro capítulo de Morde e Assopra.

Tem um núcleo de paleontologistas, do qual fazem parte Adriana Esteves(com visual meio Indiana Jones) e Bárbara Paz.
Adriana encontra um dinossauro numa fazenda ou sítio cujo dono é interpretado por Marcos  Pasquim o qual, já sabemos de antemão, formará par româtico com ela assim que superarem os tradicionais obstáculos que as  novelas impoem ao amor perfeito. Enfim, isso é o que menos importa. 
As  cenas que assiti  eram extremamente bem filmadas. O núcleo dos cientistas é  algo cômico (nesse sentido Bárbara Paz não estava ruim,  mas pareceu passar do ponto, fez um tipo com trejeitos demais, que destoava dos outros e mesmo dela própria outras cenas dela). Adriana Estevez foi perseguida por duas crianças que  a assustavam com um boi, na tentativa de botáa-la pra correr da fazenda. Ela tropeça e cai de cara num monte de esterco. Em primeiro plano vemos a cara dela toda suja e, bem ao fundo, desfocadas , as crianças com as mãos na cabeça certamente arrependidas. Cena visualmente bem construído e também muito engraçada.

Depois  vemos o grupo entrer num hotel de  luxo. Eles param na  porta, conversam um pouco e a câmmera faz um traveling acompanhando-os da escadaria até a  porrta. Lá, ela para e  nós vammos  aquele  salão ennorme, luxuoso e já antevemos a comédia que virá: aquela  gente emporcalhada tentando encontrar um quarto e recebendo olhares enviesados.
Há um outro núcleo, se bem entendi, ligado a inteligência artificial,robõs que parecem humanos (explico: assisti a novela sem som o que ressalta ainda mais a qualidade das imagens que falavam por si).

A novela em si traz um antogonismo interessante, que começa no título e se extende aos núcleos e opõe o mais ancestral (o dinossauro) ao mais adiante(os robôs), aquilo que é morto mas já teve vida(dinossauro) àquilo que está "morto" mas parece vivo(robô).

Enfim, esse texto bagunçado é só pra mostar que quando se dirige elogios a um filme e se ressalta esta ou aquela  qualidade ,muita gente torce o nariz, dizendo que é chatisse, que se deve levar como entretenimento e  pronto, mas não  é bem assim. Ser divertido não exclui um pensamento por detrás daquilo que se faz.
Morde e Assopra, pelo menos no primeiro capítulo, mostrou que não é  um amontoado de imagens vazias com muitos filmes que vemos por aí.

PS. Retorno ainda esta  semana com um breve complemento  ao texto sobre Rococó .Semana que vem, o  anúncio da próxima sessão do Cineclube Gambalaia.

sexta-feira, 18 de março de 2011

O ROCOCÓ

Teatralidade e persuasão são as palavras chaves para se entender o período artístico imediatamente anterior a rococó, o barroco e com o qual há mais semelhanças do que diferenças. Era como se as figuras retratadas em suas pinturas (caravaggio, oos  irmãos  Carracci) e esculturas (Bernini)  fossem flagradas no momento mais impactante e comovente de uma cena de teatro . Vale ressaltar que não é o caso aqui de traçar a diferença entre barroco nórdico(protestante) e católico, vamos ficar mais com o último caso.



O Milagre de Sant´Anna,  Bernini


 Giulio Carlo Argan nota que
 “Em ambos os casos(católico e protestante) a religião preocupa-se mais em dirigir as escolhas e os comportamentos humanos do que em contemplar e descrever a lógica providencial do universo

Essa "lógica do universo" era a "alma" da arte dos dois séculos anteriores, o período  do renascimento.

As igrejas católicas barrocas (até por oposição à austeridade protestante) flertavam com o exagero e buscavam mostrar-se como uma antessala do paraíso que permitisse ao devoto um breve contemplar da glória divina. Para isso, o excesso pinturas, imagens, esculturas, colunas e,sobretudo,muito ouro.

                 Biblioteca do mosteiro de Melk

Dos arquitetos desse período, E.H Gombrich diz que
abandonavam todas as limitações(...)Há nuvens por toda a parte com anjos tocando música e gesticulando na bem-aventurança do Paraíso. Alguns pousam no púlpito, tudo parece mover-se e dançar,e a arquitetura que cerca o suntuoso altar parece oscilar ao ritmo dos cânticos jubilosos. Nada era normal ou natural em semelhante igreja,nem pretendia ser” .

A vida das cortes era também marcada pela teatralidade, por um excesso de regras de etiquetas e de conduta próprias de uma classe que não tem grandes obrigações e cujo maior orgulho era o ócio. As pequenas intrigas, os flertes amorosos são seu grande passatempo (a noção de família, amor e ciúmes eram bastante diferentes então a ponto da figura do/a amante ser quase uma instituição).

Quando chegamos à França do Rei Sol, Luís XIV(1638-1715), assistimos à transferência dessa lógica da teatralidade da arquitetura sacra para a das cortes. Ou, o que se chama de arquitetura rococó. Como nota John Summerson há mais semelhanças do que diferenças:

Tenho certeza de que ´retórica´ é a palavra chave. Nesses edifícios, a linguagem clássica é empregada com força e drama para vencer nossa resistência e nos persuadir da da verdade que elas têm a comnicar-seja a glória dos invencíveis exércitos britânicos,seja a magnificência suprema de Luís XIV,ou ainda a abrangência universal da Igreja Romana.”

O palácio de Versalhes, construído entre 1655 e1682 não busca outra coisa senão a ostentação, a criação de um mundo fantástico e artificial habitado pela nobreza. E a moda pega no sul da Alemanha(o norte é protestante) , Áustria e outros países católicos onde casas de campo de nobres ganham  pequenas cascatas,jardins labirínticos trasnformando-se em verdadeiros cenários teatrais, no qual seria vivida com mais  desenvoltura o jogo de aparências dos nobres,  regado a saraus e festas intermináveis. Era o perfeito contraste com as ruas escuras, imundas e violentas das cidades 

No entanto Luís XIV era um rei de tamanha onipresença que basicamente toda pintura de seu período produzida na França era um classicismo grandiloquente voltada quase que unicamente à sua glorificação(ou à de fatso históricos dão reino). A arte,tal como seu governo, era centralizada em sua figura.





                                                                                            Palácio de Versailles
É com sua morte e a  ascensão de Luis XV que as coisas mudam substancialmente tanto para o governo quanto para a pintura. O novo rei comporta-se como um mero mortal, despreza toda  a liturgia do trono que marcava seu antecessor. Jean-Chrsitian Petitfils, diz que
 “o belo relógio da etiqueta-com seus horário imutáveis-acaba desregulado:o cerimonial do despertar e do deitar varia em função das noites passadas com as amantes e do sono ser recuperado. Luis XV prefere refugiar em seus gabinetes,proteger sua vida privada do olhar alheio”.

É exatamente esse desprezo pela teatralidade que o tornará um monarca desprezado, não-sagrado e, de “protetor do rebanho”, a um mero tirano.

Sem o vórtice que era Luis XIV os pintores agora podiam atender aos nobres que queriam,sobretudo, ver seu ideal de vida nas telas. É o que chama-se de pintura rococó.E aqui a cisão é drástica com o barroco. Para José Manuel Pita Andrade era uma arte marcada pela “intimidade, ligeireza,às vezes voluptuosidade”.
São cenas de vida campestre, onde músicos fazem serestas para donzelas enamoradas em cenários irreais. Um elogio ao ócio, à alegria de viver, à beleza dos pequenos prazeres.

Há certamente diferenças marcantes entre nomes como Antoine Watteau(1684-1721) , François Boucher(1703-1770) ou Jean-Honoré Fragonard (1732-1806) e uma breve descrição com a feita aqui pode levar o leitor a pensar que se tratava de uma arte vulgar, menor, o que não é o caso. Para não nos extendermos, o que separa a pintura rococó da arte de um  Renoir  (pra ficar no exemplo da postagem anterior) é mais a técnica da pincelada do que a temática.

     Os felizes azares do balanço (1717)- Jean-Honoré Fragonard

 

De qualqer modo era a arte feita para uma classe que ingenuamente não se apercebia do rufar dos tambores que lhes alcançariam em 1789, com a Revolução Francesa. Que não via que os privilégios conseguidos mil  anos antes, como a isenção de impostos, eram profundamente  atrasados e que, atrasada também era a França, que ignorava a Revolução Industrial ocorroida na Inglaterra e que mudava o ritmo da vida das pessoas(da badalada  dos relógios da igreja para a contagem do ritmo das máquinas a vapor) e também dava nova feição à arte.
A revolução Francesa traria o fim desse modo de vida e também da arte e arquitetura rococó.

 














Peregrinação à ilha de Citera(1717) Antoine Watteau



Diana saindo do banho, François Boucher  


Fontes consultadas

Imagem e Persuasão (Companhia das letras)  - Giulio Carlo Argan

A História da Arte (LTC) - E.H.Gombrich

A linguagem clássica da arquitetura
(Martin Fontes) -  John Summerson

História Geral da Arte Pintura - vol2 (Altaya) -  Vários autores

Revista História Viva Especial Grandes Temas nº.2- A Revolução Francesa

FILMES
O historiador  Marc Ferro recomenda todo o cuidado do  mundo com o cinema para exemplificação de momentos históricos. Para ele,  por melhor que seja a reconstituição, ainda é a visão de  um diretor e não deve sob hipótese alguma ser tomado como documento histórico. Com esse cuidado em mente  e mais  outro(um fiolme é uma obra de arte, não deve ser reduzido apenas á fidelidade histórica ou servir apenas de muleta para professores) , recomendo os três filmes abaixo:

Maria Antonieta (2006), Dir. Sofia Copolla - – A era essa vida de frivolidades de uma nobreza imersa em seu mundo de fantasia e  que sequer  se apercebe da grande tragédia que está por fim, a Revolução Francesa e a decapitação do casal real. A saída de Maria Antonieta (Kisrsten Dunst) do palácio de braço dado com as filhas é de  uma tristeza imensa.
 
Casanova e a Revolução (1982) Dir. Ettore Scola - Reconstituição cuidadosa para mostrar o  símbolo e perfeita metáfora da nobreza, o conquistador Casanova  (Marcello Mastroianni), envelhecido  (como sua instituição) e contemplando um mundo que já não existe mais de dentro de uma carruagem, último refúgio de sua antiga condição. 
 
Ligações Perigosas (1988) Dir.Stephen Frears - Para driblar o tédio, nobres franceses do séc 17 divertem-se armando jogos de conquista amorosa e intrigas sexuais. 
 






segunda-feira, 14 de março de 2011

RENOIR PAI, RENOIR FILHO


  Alguns dizem que Jean Renoir (1894-1979) foi parte do chamado “realismo poético” francês, rótulo paradoxal que pode servir para uni-lo a um cineasta bastante diferente dele, como Jean Vigo ,de “O Atalante”, mas também a toda uma geração do cinema falado de seu país o que é bem impreciso.

É provável que o “poético” que lhe atribuem se deva à leveza de sua obra, que lhe coloca em oposição a um cinema extremamente cerebral e ligado à literatura, que existia na França no anos 1930, justamente a primeira geração do cinema sonoro e que havia buscado justamente na literatura uma espécie de “legitimação” ou “status de arte” agora que os personagens podiam de fato falar e o uso das palavras,antes restritas às plaquinhas de texto, encontrava sua plenitude.

Nisso podemos ligá-lo à obra de seu pai, o pintor impressionista Pierre-Auguste Renoir (1841-1919), parte da geração que libertara definitivamente a pintura da literatura. Até então a importância do tema, da mensagem que a obra passava, era mais levada em conta do que a plástica em si. É neste momento que “tema” perde importância para o “motivo”.


           O almoço dos remadores, Pierre-Auguste Renoir

Jean Renoir se destaca na geração que produz filmes após a vitória dos socialistas e que começa a colocar a classe operária em cena. Como um Émile Zòla ou um Baudelaire, dá ao proletário o caráter de herói romântico, trágico até, influência de suas convicções socialistas.

Quando lhe chamam “realista”(palavrinha traiçoeira, que pode mudar de significado de arte para arte e até de acordo com a circunstância) podemos concordar ao notar o modo como ele escala seus atores menos pelas convenções (os estereótipos) e mais por sua adequação ao papel. Quem poderia dizer que Anna Magnani é tão linda ao ponto de deixar um vice-rei, um toreador e um soldado em conflito por seu coração, no filme “A Carruagem de Ouro”. No entanto qualquer um que assista ao longa sente que ela é perfeita para o papel da impetuosa atriz Camilla.

Há uma convicção muito forte aí, afinal o cinema lida não com o real e sim com a verossimilhança e o verossimilhante é aquilo que nos convence como real. Não há melhor exemplo do que a cena de “Cantando na Chuva”(1952) em que numa cena de briga de bar(estão filmando um western) o ator leva um soco e desmaia. O diretor esbraveja e chama outro ator(Gene Kelly) que refaz a cena, saltando ao levar o soco e rolando por cima do balcão, para alegria do diretor. Ou seja, aquilo que convém ao gênero do filme não é o soco real, mas o verossimilhante.

Outro dado que liga Jean Renoir à obra de seu pai : há um gosto pelos pormenores, pelas trivialidades, pela gestualidade dos personagens que se parece muito com a “captura do instante” , a retenção do momento fugaz que vemos nas pinturas impressionistas em que não há gestos ou ações grandiosas, não há heróis, santos ou reis, mas gente comum como em O Almoço dos remadores (1880) ou Le Moulin de la Galette
(1876).

 
                   Le Moulin de la Gallete


 
Na verdade a representação de “gente de verdade” é uma conquista de uma geração imediatamente anterior justamente a chamada “realista’, cujo maior representante é Gustave Courbet (1819-1877) . E é este pintor que (como os  escritores citados) transforma em imagens  essa idéia  do trabalhador,do homem do povo,como herói romântico e trágico, ante as agruras da vida. 

                                                                                            Os  Quebra-pedras , Gustave Courbet
No entanto a maneira com que nos prostramos diante de um Courbet é bem diferente da que temos diante de um Renoir e tudo tem a ver com a mesma “leveza” que encontramos no cinema de seu filho. Renoir dizia: “nos meus quadros não se pensa” ,evidenciando que eram obras para se sentir ao invés de traduzir em conceitos.

Para encerrar ficamos com uma frase do crítico Inácio Araújo sobre a obra de Jean Renoir:

Ele pode falar mil vezes sobre a simplicidade da vida.Cada vez,o espectador sentirá com se estivesse pisando na lua pela primeira vez”.




                           A Regra do Jogo


Indicação de filmes:


A Regra do Jogo (1939) – Um dos melhores filmes de todos os tempos. A aristocracia francesa vista pelo olhar de Renoir em tom farsesco que evidencia todo o conflito de classes que se faz de tudo para esconder.

A Grande Ilusão (1937) -  Libelo anti-bélico, mostra prisioneiros de guerra e sua relação com seus captores, cada qual afetados de maneira diferente pelo conflito e até onde a pressão da guerra pode levar as pessoas.

A Marselhesa(1937) -   A Revolução Francesa vista pelo olhar dos camponeses que,  engajados na luta contra a monarquia, permanecem meio alheios ao outro conflito que ocorre em esferas sociais mais altas. Outra vez Renoir evidencia um cenário de aparente igualdade para, nas situações mais triviais, explicitar o conflito de classes.



PS. A quem esteve presente no Cineclube:  a próxima  postagem deste blog será sobre arte rococó e a sociedade retratada em A Carruagem de Ouro.

quinta-feira, 10 de março de 2011

CINECLUBE GAMBALAIA - Material complementar

Como material complementar à nossa sessão do Cineclube Gambalaia de hoje, incluo aqui algumas opiniões  colhidas sobre o filme e seu diretor, Jean Renoir ,que certamente vão enriquecer a experiência de quem o assistiu (ou pretende assiti-lo). Até a próxima terça, dia 15, incluo em aqui os temas tratados na palestra após o filme, bem como algumas informações adicionais.


O impacto desses filmes foi absolutamente emocional,foi como estar na presença de um grande afresco (...) A carruagem de Ouro é como uma peça de teatro com personagens de commedia dell´arte. O filme é leve e belo. A ênfase está na composição da cor(...).Em muitas das cenas,os enquadramentos recordam-me os quadros de seu pai
                             Martin Scorsese em depoimento incluído nos extras do DVD da Versátil Video.


Poucos cineastas foram, ao longo do século,tão agradáveis quanto Jean Renoir(1894-1979). Essa sensação não decorre necessariamente da qualidade ou vigor de seus filmes,mas de uma atitude que,de algum modo,Renoir conseguia transpor para a tela até mesmo quando filmava uma história trágica(...) No cinema-como na pintura,não existem ideias,ou antes elas se covertem em gestos,movimentos,objetos,luz.Em Renoir,o cinema reencontra a experiência dos impressionistas,preocupados em libertar a pintura dos vestígios literários
         Inácio Araújo, no livro Cinema de boca em boca- Críticas de Inácio Araújo (Imprensa Oficial)


É provavelmente o melhor filme a contar com Anna Magnani, e poderia encerrar qualquer discussão sobre as diferenças entre teatro e cinema. Porque em A Carruagem de Ouro, o cinema nasce do teatro, claramente, por trás das cortinas vermelhas. Melhor seria dizer que o cinema penetra onde o teatro não pode. O cinema revela a reação daquele que escuta, que recebe o olhar. Revela também os caminhos por onde se fazem as intrigas, e por onde elas são combatidas. Os flertes, os amantes escondidos, os pretendentes revoltados, os duelistas, o serviçal do rei... E a pergunta da personagem de Magnani, uma comediante dell'arte, ressoa até muito além do final do filme: ´onde acaba o teatro e começa a vida?´ Talvez seja a pergunta que nós, cinéfilos, tenhamos que fazer sempre, obviamente com a substituição de uma arte pela outra" .


                      Sérgio Alpendre, no blog de crítica de cinema Chip Hazard http://chiphazard.zip.net/

quarta-feira, 2 de março de 2011

CINECLUBE GAMBALAIA (atualizado)


Dia 10 de março ,  às 20h, estreia o CINECLUBE GAMBALAIA


exibindo “A Carruagem de Ouro” (1952 – 100 min), de  Jean Renoir

Uma trupe italiana de comedia dell´arte  é convidada a se apresentar para a nobreza de uma colônia sul-americana...
O choque entre dois mundos e uma pergunta que não cala (onde acaba o teatro e onde começa a vida? ) são só alguns dos atrativos deste filme leve  e engraçado ,porém nada superficial, do mestre francês Jean Renoir.
ENTRADA GRATUITA !
***





 Nada  mais apropriado para iniciar o Cineclube  Gambalaia do que um filme  sobre teatro. O Gambalaia começou voltado  exatamente para o teatro, depois expandiu-se.  Aqui, uma reflexão dos limites, diferenças e semelhanças entre o teatro e o cinema.
Imperdível.
***
O que é o CINECLUBE GAMBALAIA ?



É um jeito diferente de fazer cineclube. Queremos trazer de volta aquele sentimento de que ver um filme é uma experiência coletiva e mostrart que um filme não acaba ao final da exibição (nem começa antes dela).


Para isso, meia hora antes de cada sessão, rola boa música no nosso “tocacedês”; desta vez será o concerto “As Quatro Estações”, de Antonio Vivaldi, obra-prima da música barroca  que serviu de inspiração para Jean Renoir escrever o filme.


Na meia-hora seguinte, uma mini-palestra relacionando a obra com seu contexto histórico e artístico e destacando suas qualidades.

Espaço Cultural Gambaia – R. das Monções, 1018 
Santo André - SP - f. (11) 4316-1726    http://www.gambalaia.com.br/