quarta-feira, 31 de março de 2010

REFLEXÕES SOBRE ...O BBB???




Tenho certeza de que nunca dediquei mais do que 10 minutos do meu nada precioso tempo para assistir a nenhuma das onze edições do Big Brother afinal, o que poderia haver de interessante numa casa que reúne fortões e gostosas siliconadas disputando um prêmio milionário? As gostosas siliconadas podem ser vistas em qualquer outro horário,em qualuer outro programa...

No entanto a vidraça da mediocridade televisiva conseguiu, quem diria, tocar um ponto nevrálgio da sociedade brasileira: o preconceito. Nesse sentido, esteve atinado a seu tempo, num momento em que uma polêmica lei anti-homofobia está em discussão. omo a esta hora quialquer um (até mesmo eu) sabe, o lutador de vale-tudo(ou o que quer que o valha) Marcelo Dourado, ex-BBB e autor de frases como "homem não pega AIDS de mulher" foi o vencedor do 1 milhão de Reais (já descontados impostos). A insistência premiada de dourado em transformar homossexuais em criaturas disseminadoras de doenças revela a recepção da sociedade brasileiras a um discurso idêntico ao utilizado por Adolf Hitler para iniciar sua campanha de extermínio dos judeus.

Apesar de lamentável ( e de prestar um desserviço a toda campanha anti-AIDS), este BBB teve o mérito de trazer para a mídia em geral a discussão sobre a homofobia e de levar aos lares brasileiros a realidade da diversidade sexual (e os conflitos decorrentes) de uma maneira impossível a uma telenovela. A novela, aliás, já foi o espaço de disussão de temas importantes (lembremos de Roque Santeiro, ou de Vale Tudo- nada a ver com Dourado, apesar do nome). O homossexualismo hoje, numa novela, vem cercado de um conflito de araque, de um romance falso -bom, até mesmo o omance hétero é falso. No BBB veio com lingua rasgada, ofensas, ambiguidade. Lá, valeu tudo.

terça-feira, 30 de março de 2010

REFLEXÕES SOBRE A CRISE DO DRAMA

Reportagem da Ilustrada de ontem trouxe o tema “A crisedo drama” para falar da influência cada vez maior da cenografia no teatro que estaria, assim, se aproximando das artes plásticas. A cenografia (e o figurino)deixaria,assim, de se constituir apenas como apoio para fazer parte da peça.
E é fato, essa fronteira estanque entre as artes não faz mais sentido. As peças da Sutil Companhia atravessam as fronteiras. Ou esse H.A.M.L.E.T, que está em cartaz no Club Noir (R.Augusta, 331 tel 3257-8129) onde a cenografia chega ao status de arte visual. O cubo branco em que os atores encenam, vestidos de preto tem (e traz) significado- podemos pensar no cubo branco por excelência, o museu, instituição em crise quando confrontado com a arte contemporânea- como “catalogar, preservar e expor”(função dos museus) obras só duram o tempo de sua exibição, ou que existem só no registro fotográfico, ou que se desintegram num tempo breve?
Retornando ao teatro, nesta peça em que tudo tente à dualidade(e a pensar esta dualidade, que é a natureza do confronto e,portanto,do drama) talvez nem seja intencional (embora eu ache improvável) que o palco seja um cubo branco numa peça que radicaliza trazendo a arte visual para transformar a tradição do teatro, o drama, representado alio pela tradição máxima, Sheakspeare. O que há ainda para alcançar representando Sheakspeare alcem de conseguir financiamento fácil de empresas de telefonia? A modernidade aboliu a representação nas artes visuais não era preciso mais que você olhasse um quadro e visse ali algo que você pudesse reconhecer (uma árvore, um animal, um santo, o que seja).Num passo adiante, Marcel Duchamp deu o maior de todos os pontapés da História da Arte e colocou lá coisas que voc~e podia sim reconhecer, mas não tinham mais o significado que você estava acostumado a atribuir a elas. O significado original era apenas parte do significado real da obra, o qua quem daria, por fim não era mais o artista(antes o idealizador e dono da obra), mas o espectador, transformado daí em diante em fruidor (pense nos parangolés de Oiticia, pense não , viva-os no Itaú Cultural). Ora, a representação de uma história (o drama) ficou para trás da mesma maneira netse H.A.M.L.E.T que eu não me envergonho de dizer que não entendi de todo, até mesmo porque muitas das questões postas ali parecem dizer respeito à tradição de uma arte de que eu entendo pouco, o teatro. Mas trata-se menos de atualizar Sheakspeare(outra maneira de se conseguir abrir o bolso das empresas de telefonia) e mais de trazer o hamlet para outros cantos, outras artes, outras experiências de vida, que podem ser a minha e a sua.
Falei bastante sobre o fim do drama no cinema quando tratei de Alan Resnais. No cinema esta é uma questão muito forte porque a crença na imagem é quase a razão de sua existência como arte. E hoje, David Lynch ou Quentin Tarantino lidam com esse “fim do cinema”, com reaproveitar os escombros de uma arte que Alan Resnais , Goddard E Cia destruíram. Tarantino lida não mais com personagens próprios (a autoria também não lhe interessa) mais com criaturas clichês saídas da tradição de um cinema tornado ultrapassado. Seus gânsters, lutadores de kung fu são cópias descaradas de outros que já vimos várias vezes por aí.
É da reconstrução da arte que vive o cenário artístico atual.

terça-feira, 23 de março de 2010

FAZENDO JUSTIÇA A AVATAR, UM WESTERN INCOMPREENDIDO - 3


UM FAROESTE NO SENTIDO CONTRÁRIO


Não é preciso muito esforço para classificar Avatar como um Western. Este gênero cuja origem remonta ao início do século 20 (fala-se em 1903) é conhecido como o mito fundador da nação norte-americana porque transforma um momento histórico que lhe era muito próximo (a conquista do Oeste) em linguagem mitológica. Condensa assim a alma do norte-americano ao professar sua fé no valor supremo do indivíduo (que prevalece sobre o coletivo) da liberdade e na doutrina do Destino Manifesto (o norte-americano como destinado por Deus a herdar aquela terra, civilizá-la e fazê-la progredir).
Com certa recorrência temos quase todas essas situações (convenções) num mesmo western:

- A conquista territorial (conflito com índios ou mexicanos)
- A agricultura (praticada pelas pequenas famílias) ameaçada pela criação de gado(dos grandes proprietários)
- Harmonia com a natureza (a terra como lugar quase santo)
- O aventureiro errante (elogio da liberdade)
- A pureza da vida no campo em contraposição à decadência das cidades
- A corrida do ouro (a ganância tornando os homens violentos e impuros)
- A segunda chance (lá bandidos e assassinos tem sua oportunidade de redenção e iniciar uma nova vida)


Em comparação, vejamos o caso de Avatar:

- A conquista territorial (conflito entre humanos e os Na’Vi)
- Os grandes mercadores que buscam o metal ameaçam a tribo
- Harmonia com a natureza ( a terra santificada) existe somente em Pandora
- A pureza da vida em Pandora em oposição à decadência da vida na Terra
- A corrida pelo metal valioso faz dos terráqueos violentos e impuros
- A segunda chance (o soldado tem a oportunidade de abandonar sua missão destruidora e iniciar uma nova vida, em um novo corpo)



Se Avatar não é daqueles filmes que revolucionam um gênero (como foi, num momento “Rastros de Ódio” (1956), de John Ford e, depois, “Os Imperdoáveis”(1992), de Clint Eastwood), ele faz algo sutil que é inverter os papéis de seu gênero fazendo inclusive Jake Sully, o típico herói errante, entrar no corpo daquele que deveria ser seu inimigo, o que é um recado claro à nação norte-americana. Algo semelhante ao feito por Steven Spielberg em “ET-O Extraterrestre” que reconstruiu o tradicional filme de ficção científica, um gênero em que alienígena (o estrangeiro) era sempre representado como uma ameaça a ser combatida (identificado com os nazistas num primeiro momento e depois com os comunistas). Spielberg inverteu a situação e colocou essa criatura de aparência e hábitos estranhos na posição inversa, a de visitante incompreendido e ameaçado - premissa,aliás, que o torna hoje ainda mais atual do que em seu tempo.

continua

sexta-feira, 19 de março de 2010

A ILHA DO MEDO


Não dá para dizer muito sem estragar a surpersa de quem ainda não viu o filme, mas uma coisa é certa: A Ilha do Medo é o melhor Scorsese em muito tempo. Aqui ele retoma grandes questões do cinema, como a nossa crença canina na imagem cinematográfica, ao tornar impossível de separar o que é realidade e o que é alucinação do Detetive interpretado por Leonardo DiCaprio que vai a uma ilha onde funciona um manicômio investigar o desaparecimento misterioso de uma paciente. Se por um lado o diretor não rompe totalmente com a verdade da imagem(falei bastante disso quando tratei de Blow -Up-Depois daquele Beijo), ele a coloca em dúvida o suficiente para fazer algo extremamente engenhoso que é retrabalhar alguns aspetos da obra de Alfred Hitchcock, mas num caminho inverso, com os sinais trocados. A referência à cena do chuveiro não é à toa e a chave para a compreensão do trabalho minuncioso de Sorcese está no ponto de vista assumido. É o que o difere de Hitchcock. Mais do que isso não dá para dizer. Ou melhor, dá sim: o final (calma, não vou contar nada que não deveria!) demonstra um pessimismo, uma falta de crença na redenção humana, na possibilidade de salvação que se torna um fardo a carregar na saída do cinema.

FAZENDO JUSTIÇA A AVATAR, UM WESTERN INCOMPREENDIDO - 2


2- AS CRÍTICAS A AVATAR


Antes, para quem não assistiu ao filme, um resumo da trama:

Jake Sully (Sam Worthington) ex-fuzileiro, agora preso numa cadeira de rodas, torna-se parte fundamental de uma equipe (composta por burocratas, militares e cientistas) enviada ao planeta Pandora a fim de convencer os nativos Na´ Vi a permitirem a extração de um valioso minério escondido no subsolo do planeta. Para isso eles tentam se infiltrar usando os avatares, corpos artificiais comandados mentalmente e à distância por humanos que dormem em câmaras fechadas, (projetando suas mentes para dentro do avatar). O herói, uma vez na tribo, acaba convencido de que está do lado errado e parte em defesa de seu novo lar, mas, para isso, terá de enfrentar o Coronel Quaritch (Stephen Lang) obcecado pela destruição dos nativos.

Ora, todos já vimos esta história antes, um exemplo é O Último Samurai, de Edward Zwick, onde Tom Cruise faz o papel do militar inglês que, enviado para combater os japoneses, acaba derrotado, preso e , por fim, integra-se àqueles que buscava combater. Mas o que no filme de Zwick se resumia a reconhecer o valor do outro, a uma troca enriquecedora de experiências, em Avatar vai muito além.
Já as críticas ao filme podem ser resumidas basicamente a dois argumentos :

1-O filme é formulaico, um amontoado de clichês
2- A história é ingênua e simplista


Não se pode confundir o clichê com as convenções do filme de gênero. O “Dicionário teórico e crítico de cinema” nos diz no verbete “gênero” :

“Cenas ou formas prescritas por um gênero (a declaração de amor e o primeiro beijo no love story, a gag no burlesco, a passagem com espancamentos por parte do detetive nos filmes policiais da década de 1940) são parecidas de um filme para a outro e acabam constituindo uma espécie de repertório que cada novo filme convoca mais ou menos ou menos conscientemente”. (AUMONT,MARRIE, 2007, p.143)


É possível lidar com as convenções de duas maneiras: subvertendo-as em algum nível ou aceitando-as, acrescentando-lhes camadas de complexidade. O que é extremamente difícil, pois um diretor e um roteirista de pouco talento podem fazer do filme uma seqüência de lugares-comuns - um mal epidêmico nas comédias românticas.O crítico Inácio Araújo, em seu livro “O Mundo em Movimento” fala especificamente a respeito do clichê:

“Quando um filme acumula clichês, é normal que os personagens se comportem de maneira convencional, isto é, conforme já conhecemos no passado, sem acrescentar-lhes nada em complexidade. É um filme que apreende a realidade de maneira imperfeita”. (ARAÚJO,2002,p.21)

Ou seja, quando um filme é um acúmulo de clichês ele repete fórmulas a ponto do comportamento dos personagens e até mesmo os diálogos parecerem extraídos de outro filme. Talvez esse seja o que mais causou incômodo em Avatar, afinal a figura do militar que pretende destruir Pandora se comporta de maneira totalmente convencional, sem nenhuma complexidade.
Pois bem, as convenções de filme de gênero existem em Avatar e veremos ao longo deste texto o porquê não constituem um problema em si. O que importa para se avaliar uma obra como esta é o uso que ela faz dessas convenções. A que elas servem? Isso nos leva ao segundo argumento, de que o filme seria simplista o que equivale a dizer que àquilo a que as convenções estão a serviço é de pouco valor, que seu significado é pobre. Antes,no entanto, devemos entender melhor as convenções presentes em Avatar.
- continua -

terça-feira, 16 de março de 2010

FAZENDO JUSTIÇA A AVATAR, UM WESTERN INCOMPREENDIDO


Avatar, filme de maior bilheteria de todos o tempos, foi ignorado pela Academia de Artes Cinematográficas que lhe concedeu apenas três dos nove prêmios Oscar a que fora indicado, todos eles em categorias de menor visibilidade (o mais importante foi o de melhor fotografia) .Antes disso,porém, o longa já vinha sendo malhado aqui no Brasil por boa parte da imprensa.
São situações diferentes: a academia deixou passar uma oportunidade de premiar um filme que coroaria o 3D como novo rumo para o cinema – e sua salvação frente à pirataria digital ou física e a TV por um de dois motivos : Avatar terá uma sequência, isso é certo, e talvez repita o feito de Senhor dos Anéis, premiado só em 20xx em sua terceira e última parte. Mas foi explícita a preferência por outro longa de temática antibélica, Guerra ao Terror, que não só foi escolhido melhor filme como deu a Kathryn Bigelow a honra meio surreal de ser a primeira mulher reconhecida como melhor diretora nos oitenta e dois anos de premiação. Se ambos os filmes fazem uma meã culpa pelos desarranjos no Golfo Pérsico da era Bush, Guerra ao Terror apenas lamenta o prejuízo que isso causa aos norte americanos, nunca aos iraquianos enquanto que Avatar questiona esta postura colocando o protagonista e o espectador literalmente na pele dos agredidos. Não é absurdo pensar que neste momento esta fosse uma mensagem forte demais para um país que já começa a questionar sua escolha por Obama (como mostram os índices de rejeição crescentes nas pesquisas).
Quanto aos jornalistas brasileiros (incluindo colunistas não necessariamente da área de cultura, mas que trataram do filme), prevaleceu a opinião superficial, que viu no filme apenas um espetáculo de efeitos especiais sem conteúdo, um blockbuster genérico. Vale ressaltar que a crítica especializada, representada por veículos importantes como as revistas eletrônicas Cinética e Contracampo ou mesmo pela Folha de São Paulo não desdenharam da nova obra do diretor de Titanic.
O que há de valoroso em Avatar e o que teria irritado tanto assim seus críticos ?
É certo que a oposição maniqueísta entre invasores malvados e nativos bonzinhos pareceu-lhes por demais simplista, até ingênua. De fato, em tempos em que até super heróis demonstram algum nível de ambiguidade e complexidade (o melhor exemplo é o Homem Aranha) um filme assim ganha opositores facilmente. Também defender a vida tribal como pura, santa e imaculada em oposição à civilização destruidora da natureza pode ser visto sem muito favor como uma cartilha do greenpeace,ou,como dizem por aí, pregação “eco chata” que emula o discurso romântico de que as máquinas e a ciência são uma ameaça aos humanos. Mas se James Cameron carregou no maniqueísmo, fez escolhas conscientes e não obedeceu servilmente fórmulas prontas (como fazem 99% das produções holywoodianas atuais). Isto é o que eu pretendo demonstrar nas próximas cinco postagens.

sexta-feira, 12 de março de 2010

O QUE DÁ PARA DIZER AGORA DE GLAUCO ?




Dos nossos três grandes cartunistas Glauco foi aquele de quem eu mais gostei por último. Explico: o Laerte teve personagens excelentes, um desenho de poucos traços prémn dificílimos e tiras reflexivas, o Angeli era o submundo, seus tipos(sub)urbanos e a relação com o universo da música, o desdém pela gente rica e empolada. Mas o Glauco sempre me pareceu o cara que fazia piadas simplórias, com a Dona Marta chegando toda vez no escritório, mostrando os peitos e alguém saía correndo.
Simplório era eu que demorei a pegar o lance todo. Glauco entendia como ninguém esses micro universos (como o escritório), desses tipos sutis demais para serem personagens de novela, como a própria Dona Marta, Solteirona com fome de subgerentes. E assim ele construía um retrato de um Brasil não retratado. Faquinha, o menor infrator a meio caminho entre a inocência e a alta periculosidade. Numa tira ele é vítima da violência policial, na outra assalta madames, e na seguinte domina um morrinho que é um montículo de terra, a visão infantil desse universo do crime. E como é humor do mundo de Glauco, ele trafica bosta de vaca, que faz os malucões viverem vidrados atrás dele. Eu poderia prosseguir aqui com vários exemplo, num texto bem construído, se não estivesse escrevendo de improviso, em horário impróprio e ainda sob a emoção da noticia. É importante dizer também que o traço dele, personalíssimo, trouxe para a cultura de massas a conquista primeira do cubismo, a representação de diversos planos numa mesma figura. Assim, seus personagens eram representados ao mesmo tempo de frente e de perfil, correndo e estáticos etc.
Bom, foi só um texto improvisado. E uma singela homenagem ao grande Geraldão !

segunda-feira, 8 de março de 2010

O CORTIÇO DE SÉRGIO BIANCHI , O IRAQUE DE KATHRYN BIGELOW E O MUNDO IMAGINÁRIO DE JAMES CAMERON


Esse amontoado de certezas que Sérgio Bianchi exprimiu em seu Os Inquilinos (espécie de O Cortiço do século 21, mas sem o rigor documental nem a grandeza artística deste) se assemelham bastante com o grande vencedor do Oscar deste ano, “Guerra ao Terror”, que deu as estatuetas de melhor filme e melhor diretor a Kathryn Bigelow. “Guerra ao Terror” é um mea-culpa pela invasão do Iraque, mas bem a gosto daquele cidadão norte-americano que votou duas vezes em George W.Bush para então expiar suas culpas apostando em Obama. O longa retrata o dia a dia penoso dos soldados aompanhando principalmente um espeialista em desarmar bombas o personagem “viciado em guerra”, que abandona a família para viver permanentemente na adrenalina do combate. O problema é que no Iraque do filme todo mundo é suspeito(como disse o crítico Inácio Araújo em seu blog), desde uma velhinha de andar trôpego aos homens de cara fechada, sendo que o único pecado norte americano foi de ter libertado essa gente estranha, capaz de assassinar criancinhas de seu próprio país em prol de seus intentos terroristas. Em alguns momentos o filme entrega suas convicções nos levando a torcer para que os soldados abatam iraquianos como em um game de tiro(não é conclusão minha, a semelhança é explicitada pela boca de um dos personagens). O filme finge uma complexidade psicológica de seu protagonista para apenas repisar aquilo que conhecemos desde O Nascimento de uma Nação (1915) quando D.W.Griffth fez uso de todos os recursos do cinema para retratar os negros como bandidos e no levar a cavalgar junto dos homens da Klu Klux Klan e torcer para que eles conseguissem salvar a mocinha branca em perigo. Os apressados e os simplistas que condenaram Avatar como apenas mais um blockbuster, cheios de dedos por causa de sua exuberância tecnológica, certamente não torceram o nariz para “Os Inquilinos” ou “Guerra ao Terror”. Mas Avatar não só é uma condenação real à política externa norte-americana (os militares invasores não são vítimas e sim os vilões!) como faz explicitamente aquilo que nem um desses outros filmes fez, colocar o espectador na pele do “Outro” - os avatares são isso, corpos artificiais por meio dos quais humanos podem penetrar sem gerar suspeitas dentro de um povo estrangeiro. Não é a toa que foi ignorado pela Academia de Artes cinematografias de Hollywood, que concedeu prêmios Oscar apenas em categorias técnicas.
E acertou quem lembrou neste momento de Tropa de Elite, longa de José Padilha que está prestes a ganhar uma continuação. Lá a favela carioca é retratada como um lugar hostil, perigoso e ruim (como o Iraque de Bigelow ou a periferia paulistana de Bianchi), no entanto a visão não é a do diretor convicto de suas certezas, mas a do Capitão Nascimento (portanto subjetiva e sujeita a seus preconceitos de policial), o que fica claro na cena final, quando seu discípulo aponta uma arma para a câmera (e,portanto para o espectador).Nesse momento ele nos coloca dentro do problema e instiga nossas convicções. “Guerra ao Terror” e “Os Inquilinos”, pelo contrário, nos oferecem problemas e suas conclusões claras e simples. Como se o mundo fosse simples assim...
PS. Essa postagem bem como a anterior forma escritas originalmente para o blog ContemporArtes

O CORTIÇO DE SÉRGIO BIANCHI


“Os Inquilinos” poderia ter sido “só” um filme sobre o impacto psicológico dos ataques do PCC à cidade de São Paulo em 2006 na população da periferia paulistana. Mas não, a mania de polemista de Sérgio Bianchi (Cronicamente Inviável,Quanto Vale ou é por Quilo) chegou agora ao nível de um chiste incontrolável, coisa de garoto birrento. Ele precisa apontar o dedo contra todos e, custe o que custar, e apontar culpados, identificar causas. Em Inquilinos temos uma família de periferia que recebe um grupo de rapazes bastante suspeitos como novos vizinhos. Barulhentos, desempregados, agressivos, tiram a paz do núcleo familiar composto por pai branco, mãe negra e duas crianças mulatas( o brasileiro típico). Em princípio tudo vai bem, pois temos uma visão talvez distorcida deste pai da família assustado em relação a pessoas que podem,ou não serem bandidos, bem como delírios de homem ameaçado em sua masculinidade (ele imagina sua mulher se insinuando para os rapazes, fortes,viris). Mas eis que Bianchi,o onisciente, decide fazer um tratado sobre a vida na periferia e desanda a apontar culpas da maneira mais simplista ,moralista,elitista e grosseira possível. Tem a sexualização das meninas pela axé music (essa música de mau gosto as torna pequenas prostitutas !) o pai que, covarde, não tem peito para exigir trabalho com carteira assinada (quando qualquer um sabe que o maior ameaçado nessa situação é o patrão,não o empregado), o povo que se engana com as balinhas dadas às crianças pelos bandidos, (ausência do estado? Nem se fala, a culpa é desse povo ignorante iludidos como índios pelos colonizadores) a mãe que fala errado e fuma o tempo todo dentro de casa, na frente das crianças e, por fim, a novela ,essa diversão popularesca e de mau-gosto (como a axé music!) com suas cenas quase pornográficas que corrompem as crianças.
Vítimas acéfalas, gente desprezível que merece o inferno em que vive, essa é a periferia de Sérgio Bianchi, que retorna aos valores naturalistas de um Aluízio de Azevedo para construir uma obra que, no entanto, só compartilha os preconceitos de O Cortiço, mas nada de sua grandeza artística.
Não fosse por nada disso, ainda poderia se criticar o fato de que as pessoas no filme não falam, não se portam,não vivem como na periferia real mas sim naquela vista pelos olhos preconceituosos da classe média alta (aí outra diferença com o caráter quase documental de O Cortiço). Quem quiser comprovar, basta assistir a “Linha de Passe”, de Walter Salles ou mesmo ao impressionante filme francês “Khamsa”,de Karin Didi , onde existem problemas estritamente franceses (a imigração e a relação e convivência entre os imigrantes) mas também outros universais como a pobreza, a marginalidade, e o crime e sua influência sobre as crianças. A diferença é que aqui é tudo infinitamente mais complexo e encantador do que no mundo de Sérgio Bianchi.

quinta-feira, 4 de março de 2010

CURSO- OFICINA DE CRÍTICA (ÚLTIMAS VAGAS)

A figura do crítico é, ao lado da do juiz de futebol, uma das mais odiadas e mal-compreendidas da sociedade. O crítico é, aos olhos da maioria, aquele sujeito arrogante que fala com desdém daquele filme que você adorou e, por isso mesmo, compra briga com você. No entanto a atividade crítica é muito mais do que gostar ou desgostar, ela requer conhecimento amplo da arte que se avalia bem como apoio em teorias da arte- motivo principal pelo qual ele detestou aquele filme que você adorou.
Para, numa só tacada, desmistificar e ensinar a profissão os críticos Francis Vogner dos Reis (Revista Cinética) e Sérgio Alpendre (Contracampo e Guia da Folha especial), expoentes da nova geração, criaram a oficina de crítica, 8 aulas que ensinam o fazer e o pensar crítico.
A Oficina será ministrada entre os dias 11 de março e 29 de abril na rua Aureliano Coutinho, 278 – conj. 32, em Higienópolis (São Paulo). Mais informações pelos fones: 3825-8141 / 7414-3534/8365-5164, pelo e-mail:franvogner02@gmail.com ou em http://cursodecritica.wordpress.com/