quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

MAUS


Está chegando às livrarias novo trabalho do quadrinista de "vanguarda" Art Spigelman, autor de MAUS, única HQ até hoje já premiada com o prêmio Pulitzer(2002), o mais importante do mundo do jornalismo. Se Spigelman merece ser chamado de vanguarda (essa palavra requer cuidado, porque é delimitada históricamente) é por sua experimentação e liberdade com as imagens, que tornam muitas de suas HQs obras não-narrativas, exercícios de interação da imagem com as palavras, verdadeiro rompimento na tradição de contar histórias à que as HQs tem se dedicado desde sua origem.

Não é o caso de MAUS. Nesta obra cujo primeiro volume é de 1986, ele se rende à história, mas faz um cruzamento do "new journalism" (corrente jornalística surgida nos anos 1960 e que flertava sem medo com a subjetividade) com as artes visuais. A história se passa parte durante a segunda grande guerra, parte no presente, quando o autor entrevista seu pai (protagonista da história). Interagem a narrativa passada, om os sentimentos do autor e seus problemas familiares. Como se não bastasse, ele reinterpreta a peleja de seu pai nas mãos dos nazistas, retratando os judeus como ratos, os alemães como gatos e os poloneses como porcos, trazendo para MAUS toda a carga simbólica dessas criaturas (os judeus eram comparados a ratos pela propaganda oficial nazista). E, ainda por cima, a arte não está lá só para ilustrar a narrativa. Quem já viu esboços, ou mesmo a primeira versão da história (que é um conto ) sabe que ele pensou em desenhar "bem", mas abriu mão disso. Por que? Para que seu desenho parecesse bruto como uma xilogravura, que não existisse "beleza" como aquela que se vê normalmente nos quadrinhos e que, os quadrinhos amontoados, os detalhes encobertos pelo ontorno grosso das figuras causasse mal -estar, opressão.

Lê-se, MAUS, portanto em três níveis, como jornalismo(e documento de uma época), como uma história pessoal do autor e seu pai e como arte visual.

E uma obra e tanto.

Nenhum comentário: