É verdade que 2009 está terminando, mas isso não é pretexto para se esquecer de “Negrinha”, excelente álbum de Jean-Cristophe Camus e Olivier Tallec que a Desiderata lançou como parte das comemorações do ano da França no Brasil. Delicado, profundo e emocionante são alguns dos adjetivos que se podem enfileirar para falar desta obra de rara sensibilidade em que cada quadrinho é uma pequena pintura em aquarela. Como é próprio da técnica, a atenção se desloca do desenho para as nuances da cor, que criam dois universos visual e antropologicamente distintos, o da casa e o da rua(parafraseando o livro do antropólogo Roberto DaMatta).
A imagem se abre para a imaginação, tão mais que o desenho imita o traço de uma criança, trazendo o leitor definitivamente para o mundo da pequena Maria, “morena quase branca” órfã de pai e filha de mãe negra e que mora com ela na casa dos patrões na Copacabana dos anos 1950. A menina tem um choque quando visita pela primeira vez o morro do Cantagalo, onde Olinda, sua mãe, cresceu e onde ainda vive sua família, quer ela mal conhece. Não se trata do enredo típico de telenovela, em que “menina rica se apaixona por menino pobre”, mas de mexer na intimidade da sociedade brasileira, naquilo que o sociólogo Gilberto Freire decifrou em sua obra mais famosa, Casa Grande e Senzala; a relação de dominação,porém não explicitamente(ou não necessariamente) conflituosa, com os negros que vivem na casa grande assumindo valores e costumes de seus senhores . Das imagens mais poderosas desta HQ estão uma página só com empregadas negras levando meninas loiras para brincarem na casa de Maria e Olinda rezando para santos católicos e do candomblé. Tal percepção tão aguda de nossa realidade pode ser creditada (pelo menos em parte) ao fato de Camus ser um francês filho de mãe brasileira. Negrinha é um belíssimo olhar estrangeiro sobre o Brasil, mais lúcido que muitos de nossos filmes e HQs.
O prefácio da obra fica é do músico e ex-ministro Gilberto Gil que é sinônimo de palavras compostas para maquiar de complexidade um texto bem simples. Dispensável.
A imagem se abre para a imaginação, tão mais que o desenho imita o traço de uma criança, trazendo o leitor definitivamente para o mundo da pequena Maria, “morena quase branca” órfã de pai e filha de mãe negra e que mora com ela na casa dos patrões na Copacabana dos anos 1950. A menina tem um choque quando visita pela primeira vez o morro do Cantagalo, onde Olinda, sua mãe, cresceu e onde ainda vive sua família, quer ela mal conhece. Não se trata do enredo típico de telenovela, em que “menina rica se apaixona por menino pobre”, mas de mexer na intimidade da sociedade brasileira, naquilo que o sociólogo Gilberto Freire decifrou em sua obra mais famosa, Casa Grande e Senzala; a relação de dominação,porém não explicitamente(ou não necessariamente) conflituosa, com os negros que vivem na casa grande assumindo valores e costumes de seus senhores . Das imagens mais poderosas desta HQ estão uma página só com empregadas negras levando meninas loiras para brincarem na casa de Maria e Olinda rezando para santos católicos e do candomblé. Tal percepção tão aguda de nossa realidade pode ser creditada (pelo menos em parte) ao fato de Camus ser um francês filho de mãe brasileira. Negrinha é um belíssimo olhar estrangeiro sobre o Brasil, mais lúcido que muitos de nossos filmes e HQs.
O prefácio da obra fica é do músico e ex-ministro Gilberto Gil que é sinônimo de palavras compostas para maquiar de complexidade um texto bem simples. Dispensável.
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