sexta-feira, 26 de junho de 2009

O ADEUS AO REI DO POP


Basicamente tudo já foi dito sobre a morte de Michael Jackson. Da cobertura ostensiva da CNN às entrevistas com músicos da Band News, passando pelas estupidezas de Nelson Rubens e Luciana Gimenes, sem contar os cadernos especiais dos jornais, lembrou-se a infância sofrida, o fenômeno precoce, a fase de “rei do pop”e,claro, as mudanças na aparência, o comportamento estranho e os escândalos envolvendo acusações de pedofilia. O que resta então a este blog dizer? Muito pouco. Mas é bom lembrar do impacto de sua arte.
Os Jackson Five,onde o menino Michael estreou aos em 1965 aos 5 anos de idade, eram uma boy band,claro que eram. Mas isso no tempo em que boy band era coisa para gente do calibre de Smoking Robinson,Isley Brothers e Temptaions. E foram a última grande sacada da Motown, gravadora de hitmakers por excelência que deu ao mundo não só os grupos já citados como também Marvin Gaye e Diana Ross e que se destinava a fazer música negra para ser vendida para brancos.
Antes de serem pinçados pela Motown,no entanto, eles gravavam pela naninca Steeltown, onde emulavam o som de Chicago (da gravadora Chess) com versões de clássicos do blues como Stormy Monday, e do doo wop, como My Girl.
A veia pop do grupo era tamanha que eles estrearam em 1970 na Motown com uma inacreditável sequencia de três músicas a atingirem o primeiro lugar das paradas. “I Want You Back”, “ABC” e “The Love you Save” chegaram ao topo não só da parada de R&B, reservada à música negra, mas também da chamada parada Pop,onde competiam om músicos brancos pela atenção do público branco que nos EUA, vale lembrar, é maioria. Eles eram,naquele momento, como Elvis ou os Beatles. Um ano depois cravaram a dolorida “Never can Say Goodbye”(gravada ao mesmo tempo que a versão do monstro Isaac Hayes)em primeiro lugar da parada de R&B e segundo da de Pop music.O feito foi quase repetido pela romântica “Got to be There”, (quarto lugar em ambas paradas)na primeira gravação solo de Michael. Em 1972, ainda solo, a dobradinha de segundo lugar com a animadíssima Rockin´Robin,com direito a um “tchu bi ri bi doo” assobiado por M.J. Daí se seguiram sucessos como a melosa “Ben” até a grande virada em 1979, com “Off the Wall”, para muitos,musicalmente o melhor disco da carreira do cantor. Daí em diante o resto é Thriller e história.


Abaixo, uma escolha completamente aleatória de álbuns e músicas para quem quiser aproveitar que as lojas estão oferecendo tudo o que tiverem de Michael Jackson no estoque.




The SteelTown Sessions: 1965-1967 – Aqui pode-se ver o quanto já havia de talento no grupo dos filhos de Joe Jackson antes de serem burilados por Berry Gordy e sua Motown. Uma adorável Big Boy escancara o encanto da voz de Michael, que coloca todo mundo pra se mexer sua versão de Under the BroadWalk.
Jackson Five:The Ultimate Colection –Da trinca de ouro (I Want You Back, ABC e The Love you Save) a pérolas desconhecidas como Dancing Machine e The Life of the Party, ambas de 1974.Coletânea de rara qualidade.
SkyWriter (1973)- Álbum irregular do J5,mas que traz as ótimas "Upper Most" e "The BoogieMan".
Blood on the DanceFloor-HIStory in the Mix(1997) – disco produzido pelo próprio Michael Jackson com remixes do fracasso comercial HIStory. Deveria corrigir a injustiça,mas a atenção sobre sua vida pessoal foi maior do que a sobre o álbum. Ficaram imperdoavelmente esquecidas músicas poderosas como “Morphine” e “Blood on the DanceFloor” (composição em parceria com Teddy Riley) que, sozinhas, são melhores do que todo álbum Bad (1987).

quinta-feira, 25 de junho de 2009

O MÉDICO E O MONSTRO




Ontem, após indiciamento do médico Roger Abdelmassih pela justiça, ressuscitou na imprensa o caso do especialista em reprodução humana acusado de molestar sexualmente várias de suas pacientes. O número de acusações variava de emissora para emissora;ora eram 60,ora 70. Nos jornais impressos, a notícia correu o país,na internet, claro, se espalhou como vírus.
Não é a intenção deste texto acusar ou defender Abdelmassih;para defendê-lo há seu advogado, para acusá-lo, já existe a TV e todo o resto da blogosfera.
Se ele praticou tais atos ou não, fica a cargo da justiça dizer. O que não impede a repercussão da coisa toda,claro.Uma tia minha com aguçado senso de humor disse que finalmente havia descoberto o pai dos filhos do apresentador Augusto Liberato, o Gugu,numa alusão ao boato que dá conta de sua suposta homossexualidade, explorada inclusive pelos humoristas do Pânico, com o personagem Glu-Glu. Genial.
O que interessa aqui, de fato, é o tratamento da imprensa em casos de linchamento moral,como este. Foi destaque o fato do médico ter ouvido calado sua intimação,como se isso fosse crime. Não é. Aliás, é um direito. Também foi dado como atestado de culpa o fato dele ter saído pelos fundos da delegacia. Não é crime recusar-se a dar entrevista.
Mas um caso em particular se destaca,como sempre. É José Luis Datena e seu grotesco “Brasil Urgente”, que não perde a oportunidade diária de fazer sua farra do boi com o estardalhaço de um Boi Bumbá por cima de cadáveres insepultos.
A receita de Datena é simples: ele diz apenas aquilo que seu espectador médio pensa, fazendo uso do senso comum; para ele, investigar, dar uma chance à dúvida está fora de questão pois isso enfraqueceria seu caráter de justiceiro. Aliás, a analogia com o personagem da Marvel Comics é interessante. Geraldinho Vieira em seu livro “Complexo de Clark Kent” (Summus Editorial,1991)ensina que a maior tentação do jornalista é a de fazer justiça, de achar que sua profissão o capacita a ser um super-herói. “ O poder da palavra,da imagem,da seleção dos fatos,e de sua multiplicação cria a ilusão do repórter super-homem,como,a começar pela tradicional história em quadrinhos,foi tantas vezes utilizada pela ficção”, diz, e completa a ficção coloriu uma profissão onde o dia-a-dia é uma maravilhosa aventura no combate aos males sociais e na procura da verdade,onde as portas parecem abertas a toda sorte de liberdade,da manipulação da realidade ao acesso e divulgação da informação”.
. Quem vê a si mesmo como herói e enxerga o mundo através de simples antagonismos, exime-se da dúvida no exercíio de suia profissão, fundamental no jornalismo. Datena parece ver a si mesmo como o personagem da Marvel que surgiu como um vilão nas histórias do Homem Aranha, mais foi alçado a herói a medida que o radicalismo de direita progredia nos EUA.Justiceiro(Punisher,no original) não é como os outros heróis, ele não dá socos e prende os vilões, mas os fuzila sem piedade. Ele pune(o nome em inglês é melhor por que exclui a noção de justiça) aqueles que considera errados, aqueles cuja conduta não está de acordo com seu código facista de moral. A HQ, e os filmes, mostram,claro, que ele está sempre certo. Datena é o mesmo caso. Para ele não basta acusar, é preciso agredir,destruir. Pouca gente se lembra, mas foi dessa maneira que ele procedeu quando surgiu uma denúncia de que uma jovem mãe colocava cocaína na mamadeira de seu filho(ou filha, não me recordo bem). Ela foi presa sob a fúria televisiva típica e,na cadeia, teve seu tímpano perfurado por uma caneta enfiada por uma outra detenta, indignada com a história.A moça, depois ficou provado era inocente e não havia cocaína alguma na história, e sim uma tipo de farináceo e uma denúncia falsa.
Datena,claro, nunca se retratou na TV. Pergunte a qualquer pessoa que assiste o Brasil Urgente o que pensa do apresentador e você terá, quase sempre, a mesma resposta: “ele fala verdade, doa a quem doer”. O conceito de verdade (junto de uma busca por “restabelecer a moral) é sempre a justificativa para todo tipo de atrocidade, seja um ataque terrorista , seja um golpe ditatorial. A dor, nesses casos, é um “mal necessário”.
Todo esse falatório serve apenas para retornar ao primeiro parágrafo, à reportagem sobre o indiciamento do Dr Roger Abdelmassih. Sendo ele pai dos filhos do Gugu ou não(parabéns, Tia!) uma reportagem deveria ter dado espaço para o advogado do médico falar. Não durou mais do que dez segundos seu pronunciamento(isso numa matéria de vários minutos),que estava lá apenas por precaução jurídica. Todo o resto foi acusação. Justa ou injusta, não interessa. Apareceu uma testemunha ex-funcionária da clínica que, segundo o repórter Marcio Campos “não tinha nada a esconder”, mas que estranhamente escondia o rosto. O repórter apresentava como verdade sua acusação, sem questionamento algum, nem mesmo quando ela afirmava ter ficado psicologicamente abalada com o que teria visto e por isso não conseguir trabalhar mais em lugar nenhum. Aliás, o verbo no condicional não era uilizado em momento algum por Marcio Campos.
Já Datena dizia que, caso ele tenha cometido o crime, mereceria ser “execrado pela sociedade”. O verbo no condicional aqui é mero ardil jurídico, afinal ele mesmo já execrava o médico, até porque dizia , exasperado : “você chega lá na esperança de te um filho e esse sujeito faz o que?”.
Datena bate prende e julga e executa, tudo com o discurso de que age em defesa do “povo”. É o que faz o Justiceiro, é o que fez o exército brasileiro em 1964, é o que fez Fidel Castro.
Isso é monstruoso.



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É preciso dizer que os pré-julgamentos não são sempre acusatórios, basta lembrar do caso Eloá, em que jornalistas, quase em uníssono, cantavam em verso e prosa como o jovem Lindenberg era decente, estudioso e trabalhador e ofereciam a ele adulações de todo tipo, até que ele se transformasse numa sofrida celebridade. Ao final, todos sabemos, a morte da refém e o constrangimento midiático. Só então passou a encontrar pessoas que faziam a ligação do passado do rapaz com criminosos. Ao partirem de uma certeza, de uma verdade, chegaram a um beco sem saída. E o motivo mais forte(senão o único) que impediu o comandante da operação de utilizar os atiradores de elite, era a imagem do jovem como inocente trabalhador. Tivesse ele ordenado o tiro, teria sido crucificado como monstro. Como não fez, foi acusado de permitir a morte da jovem Eloá.

O MÉDICO E O MONSTRO - PARTE2 ( a questão do diploma de jornalista)

O nome do programa, “Brasil Urgente!", entrega o conteúdo. A urgência se dá em casos extremos e para esses males extremos(como dizia o grego Hipócrates, o pai da medicina) remédios extremos.Datena se apresenta como o justiceiro , a solução última. O que não se diz é que essa sensação de pânico, de “urgência” conseguida através do sensacionalismo,se faz para que ele pareça indispensável, o remédio utilizado nos últimos casos de todos os dias. O objetivo, bem menos nobre, é garantir a fidelidade do espectador e entregar a audiência alta para o bem mais comedido Jornal da Band, que por si só não conseguiria atrair tanto IBOPE. Jornalismo e business se misturam com mais facilidade do que pode parecer. Retomando o livro de Vieira, “a ficção no entanto não mostrou quanta arrogância adquirem o empresário e o jornalista que uma vez embriagados por toda essa ilusão rompem os mais primários preceitos éticos(que sequer são regras específicas da profissão mas que,poderíamos imaginar,deveriam orientar todas as relações humanas). Não mostrou que se a imparcialidade exige uma boa dose de ceticismo é impossível fazer Jornalismo sem uma apaixonada vocação pelo contato íntimo com realidades nem sempre prazerosas (...)não mostrou que por mais honesto e ético que seja o profissional da mídia, ele é tão humano quanto o leitor que também lê com olhos diferentes aquilo que lhe agrada e aquilo que lhe fere”.
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O fim do diploma em comunicação social como exigência para o exercício do jornalismo só tende a agravar a situação e multiplicar os justiceiros.A universidade é o local privilegiado de discussão desta profissão, que não se faz apenas de conhecimentos técnicos.É preciso estudar, debater as diferentes posições tomadas pelos jornalistas e suas conseqüências.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

APENAS O FIM


É um caso tão raro, tão de exceção o de Apenas o Fim, filme do diretor estreante Matheus Souza, que chega a assustar. Primeiro: o filme foi feito com pouquíssimo dinheiro(R$ 8.000,00), sem verba vinda de leis de incentivo. Dinheiro via ANCINE (Agência nacional de cinema) só veio depois, na forma de verba extra e quando o filme já estava pronto e premiado(Menção Honrosa no Festival do Rio de 2008).Uma câmera digital ,um punhado de amigos , alguma improvisação e em quinze dos 30 dias de férias da faculdade de cinema já estava tudo filmado.
Segundo: conseguiu chegar aos cinemas, ainda que com poucas cópias(apenas duas salas exibem o filme em São Paulo),coisa que um diretor veterano como Ivan Cardoso tenta sem sucesso já ha dois filmes (“A Marca do Terrir” e “O Lobisomem da Amazônia”).
Terceiro: é feito por jovens e para jovens. O diretor de apenas 19 anos entupiu o longa de referências à cultura pop (quadrinhos, cinema de ação, games, ast food), o que fez com que fosse considerado um filme da “geração Orkut”. A história é simples : a menina decide terminar o namoro e ir embora, mas não diz o por quê nem para onde. A ele resta uma hora de conversa com ela, a qual gastam lavando uma roupa suja (só de leve),relembrando bons momentos e pensando sobre a vida com uma “filosofia” calcada em Star Wars e MacDonalds, enquanto caminham pelo campus da PUC do Rio. Acertou quem se lembrou de Antes do Amanhecer (1995) e Antes do Pôr-do Sol(2004), filmes de Richard Linklater cuja única ação constitui no diálogo quase em tempo real entre dois namorados (ex-namorados no segundo filme).
Os diálogos de Apenas o Fim são de um frescor, de uma vitalidade rara no cinema nacional e quase ausente na TV. Aliás, na tela pequena os jovens vêem a si mesmos através do retrato idiotizado de Malhação.
Curiosamente o filme não foi bem compreendido onde deveria ser, nos sites de cultura pop, que reclamaram da falta de ação ou de reviravolta do filme, mau acostumados que estão com o esquema engessado das superproduções que aportam toda semana no Cinemark. Tempos longos e diálogos soam cansativos aos jovens acostumados à edição frenética de filmes como Transformers.
Por último, vale dizer que no meio de tantas referências ainda há espaço para sensibilidade,no que a ótima dupla de atores Gregório Duvivier e Érica Mader colaboram muito. Ainda que você não seja um nerd que conhece de trás para frente a trilogia Senhor dos Anéis, não vai ficar insensível quando o garoto diz “eu não queria ser como o Tom Bombadill , que tinha a maior importância para os Hobbits mas ficou fora do filme. Eu não queria ser cortado se fizessem um filme da sua vida”.
Se houvesse vida inteligente nos escritórios das redes de TV, a esta hora algum executivo estaria conversando com Matheus Souza e quem sabe teríamos algo como um novo “Confissões de Adolescente”. Mas aí já seria exceção demais à regra; os jovens continuarão com "Mutantes" e "Malhação"
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Apenas o fim não é um filme perfeito,claro. Apesar de curto (80 min.), parece longo demais para o que tem a dizer;o final ensaia chegar várias vezes, mas o filme se prolonga, perdendo a chance de acabar de maneira mais inspirada. A divisão da tela (já quase no final), com dois acontecimentos distintos mostrados simultaneamente, destoa do tom adotado até então e parece despropositada, fora do lugar. Já a direção dá atenção demais ao texto e de menos à imagem; sobram palavras, faltam momentos de silêncio. Para o bem e para o mal, acaba por vezes parecendo um espiódio sério da série de TV Seinfeld- e nesse caso 80 minutos é muito tempo. Mas nada disso compromete o prazer enorme que se tem ao assistir a esse filme,muito menos seu caráter de excessão. Filme jovem no Brasil não existe desde a chamada geração BRock, nos anos 1980. Naquela época filmava-se namoros, praia, "azaração" como se dizia então, em tramas despretenciosas estreladas por astros juvenis e com trilha sonora afinada ao gosto jovem da época. "Menino do Rio", "Rádio Pirata" e tantos outros são bons exemplos dessa época.
Vale só como exemplo e comparação, até por que nenhum deles valia grande coisa (nem se sustenta quando visto hoje)o que não é o caso de "Apenas o Fim".
Até quinta feira (25) o filme estará em cartaz na sala 3 do Espaço Unibanco às 14h50, 16h40, 20h20 e 22h10. Na sala Cândido Portinari ,do HSBC Belas Artes, passa às 16h10,18h e 19h50.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

TV- FALSA LOURA


Se houvesse uma disputa oficial de segundo melhor filme brasileiro de 2008 ela seria acirradíssima e Falsa Loura, de Carlos Reichenbach, que o Canal Brasil exibe hoje, às 22h00, certamente estaria no páreo, junto de Cleópatra, de Julio Bressane e Encarnação do Demônio do Mojica. Isso ficou claro nas várias listas dos melhores e nas mostras retrospectivas (Cinesesc, Reserva Cultural, etc).
O melhor, incontestavelmente, foi Serras da Desordem, de Andrea Tonacci o que não diminui em nada a qualidade dos outros.
De todos esses,Falsa Loura é o mais acessível,mais palatável ao público, ainda que guarde uma certa dose de estranheza característica do cinema de Reichenbach(como a intromissão da leitura de textos clássicos, completamente descolados da narrativa).
Falsa Loura é um filme que expõe a atual sociedade onde uma espécie de manipulação publicitária da imagem tomou conta das relações pessoais, há e onde quem melhor manipula sua aparência exerce poder sobre os demais. Ou seja, um vício da política que se aplica à vida comum. Todos personagens, num certo grau, manipulam suas imagens a fim de construírem uma identidade .

É para melhor trabalhar essa idéia de manipulação da imagem que o diretor acumula diversos níveis de imagens construídas, a começar pela presença no elenco apresentadores que se travestem,como Léo Áquila e Mama Bruscheta, ou ainda de Suzana Alves, a ex-Tiazinha. Maurício Mattar usa outro nome, mas faz na verdade papel dele mesmo, ou de todos cantores românticos, com Fábio Jr ou Leonardo .
Personagens cujas aparências remetem imediatamente a um “arquétipo” cinematográfico forçam nosso juízo de valor ,melhor dizendo, é pela vestimenta e aparência deles que deduzimos seus passados ou ações meramente insinuadas. Para não estragar nada, resta só dizer que imediatamente “reconhecemos” um bandido e um gângster assim que os vemos em tela. Reichenbach coloca aí uma questão de maneira bem sutil por que sabe o que é que pensaremos, induzidos que somos pela imagem a que o cinema sempre recorre.Mas nos dá uma oportunidade de questioná-la. E há a construção da imagem dos próprios personagens durante a trama,que, aliás,dá nome ao filme; Silmara não é loura e isso terá um peso terrível para ela em dado momento.

No início, nos parece que tudo se trata de mais uma daquelas versões da gata borralheira, com a jovem operária Silmara (Rosane Mulholland), a falsa loura do título, transformando sua colega de trabalho Biducha (Djin Sganzerla), de “bruxinha”(esse é o apelido) numa mulher sedutora capaz de conquistar o homem que deseja, com direito até à manjada seqüência do “banho de loja” em ritmo de videoclipe, típico de comédia romântica. É o que prega, aliás, a sociedade de consumo: ao fazer uma operação plástica, usar a roupa adequada ou assumir a “postura” correta (e isso remete à chamada auto-ajuda) pode-se conquistar seus sonhos. O interesse constitui no desenrolar da trama, que, aliás, por si só daria um filme.
Silmara, já experimentada na construção de sua imagem, é quem “constrói” Biducha e ,portanto, manipula sua vida, exerce influência, poder. Seu pai,no entanto, ex- presidiário e com o rosto marcado por uma cicatriz, é vítima de sua aparência. O irmão de Silmara (Léo Áquila) é um travesti , ser de dupla identidade, manipulando-a a bel prazer e que por isso tem desenvoltura plena em dois mundos, masculino e feminino.

Há o salão de baile , o local onde se abandonam as vestes da firma e se apresentam essas novas imagens, maquiadas, construídas com o banho de loja e é também onde Silmara entrará em contato com o mundo da Imagem por excelência, o palco. É lá que conhece e encanta o rock star Bruno de André (Cauã Reymond). Se na fábrica ou na pista de dança Silmara tinha desenvoltura invejável, aqui ela se encanta pela imagem do astro pop (rebeldia, liberdade, sexualidade) e se deixará seduzir. Será ,portanto, manipulada por ele. É significativo o momento em que retorna à fabrica e diz em alto e bom som para as amigas que ele é o homem mais gentil, sexy e bem dotado do planeta, por que sabe que é isso que as colegas querem ouvir.
Silmara irá além. Decepcionada com o roqueiro, ela parte em busca não mais do mito sexual, mas do mito romântico (e o amor se presta a muito mais falsificações do que o sexo) e é quando irá parar nos braços de um ídolo da música romântica, interpretando(?) por Maurício Mattar. Surge aí um daqueles momentos de estranheza dos filmes de Reichenbach, pois irrompe um clipe romântico brega do qual Silmara participa. Se fosse preciso uma “explicação”, poderia se dizer que o diretor compartilha conosco o modo como ela enxerga o acontecimento.


Quando estiver despida de toda maquiagem, de toda postura artificialmente assumida, é que Silmara mostra que não é loura de fato. Completamente entregue, dominada e manipulada, terá seu rosto “ deformado”, “marcado” (quase como seu pai), numa inversão da típica cena de mulher vitoriosa(comum no cinema e na publicidade), que anda em direção à câmera e contra o vento . Não haverá então mais nada a dizer.
Falsa Loura tem reprise dia 20/06 às 23:00 no Canal Brasil

quarta-feira, 10 de junho de 2009

TEATRO- A LOUCADORA DE VÍDEO


No ano de 2012, num futuro dominado pelos DVDs e Blu-Rays , uma jovem linda e inocente(Luciana Caruso) decide entrar numa sinistra vídeo locadora em busca de filmes clássicos em VHS,que não existem em nenhum outro lugar. O que ela não imagina é que o lugar esconde muito mais do que fitas empoeiradas.

Esta bem poderia ser a sinopse de um filme de terror pra lá de vagabundo, no entanto também serve para descrever o divertido espetáculo “A Loucadora de Vídeo”, que entrou em cartaz esta semana no espaço N.Ex.T (Núcleo Experimental de Teatro) , no centro de São Paulo.
A brincadeira com o cinema começa já no nome da peça,que faz referência às típicas traduções brasileiras de títulos e se estende por toda a trama de Antonio Rocco (texto e direção) . O diretor faz uso de vários elementos dos filmes B , como a personagem desfigurada e com delírios de grandeza , o futuro “apocalíptico” ,a mocinha com pouca roupa e até mesmo a trama defeituosa, para tecer sua bem particular declaração de amor ao cinema e ao teatro. Pode não parecer, mas há porções iguais de comédia melancolia na história dessa estranha locadora onde os filmes ,antes de serem alugados, são interpretados na frente do cliente por Estúpido(Ivan Capuá), único funcionário e cativo da proprietária, Magdalena(Lulu Pavarin) . Com isso vemos cenas de “Cantando na Chuva” (inspiração também do cartaz) , “Dona Flor e Seus dois Maridos” , “Casablanca” e ” Ata-me”, bem como referências rápidas a vários outros filmes - a de “Um Corpo que Cai” é especialmente hilária.
A peça, que fica em cartaz até 26/07, comemora o aniversário de dez anos do N.Ex.T, que entre outros espetáculos de sucesso, lançou o Terça Insana, referência de humor nos palcos paulistanos.
Vale e pena chegar um pouco antes e curtir o espaço, que dispõe de bar, exposição de fotos de espetáculos encenados no local e curtir a seleção musical com temas de filmes que rola nas caixas de som.

O teatro N.Ex.T tem 70 lugares e fica na R. Rego de Freitas ,454, República – centro SP.
Sexta e Sábado 21h30, Domingo 19:30
Ingresso : R$ 30,00 (inteira) Estacionamento R$ 5,00
Informações pelo Tel. 3259-9636

sábado, 6 de junho de 2009

TV- FIM DOS TEMPOS


Estréia hoje na TV paga Fim dos Tempos, um dos melhores filmes de M.Night Shyamalan. O filme passa às 22 h no Telecine Premium e ganha inúmeras reprises nos próximos dias. Já falei dele aqui numa comparação com a animação Wall-E e com o inédito no Brasil “Pulse’de Kyoshi Kurosawa. O que ainda há pra dizer:
A esta altura todo mundo já sabe que as mortes misteriosas do início do filme são causadas por toxinas emitidas pelas plantas (você não sabia? Putz,foi mal...). então uma cena, daquelas impressionantes que só grandes diretores são capazes; no quadro, so um grande gramado verde e uma frágil florzinha amarela, chacoalha sem ceder ao vento. De repente, um pneu enorme passa por cima dela. Morta ? Esmagada? Não, a planta é frágil e da mesma maneira que resiste ao vento sem se quebrar, ela volta à posição em que estava assim que o pneu passa por ela. Todo o filme está resumido e explicado aí, em menos de um minuto de projeção. Impressionante.
No mais, uma das aberturas mais impressionantes do cinema recente. Essa eu não vou contar.
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Vale repetir: perpassa o filme a noção de que a maneira pela qual a humanidade pode ser destruída é isolando seus indivíduo, eliminando seus laços afetivos, criando relacionamentos meramente “virtuais”.

JOHN FORD GRÁTIS


A mostra “John Ford- O homem que contava histórias” traz gratuitamente um apanhado de 5 filmes de um dos maiores diretores da história do cinema entre hoje e dia 04/07, sempre às 20h do sábado, no Teatro Abílio Pereira de Almeida em São Bernardo. Normalmente associado ao western e à parceria com John Wayne, Ford também experimentou outros gêneros e parcerias. A seleção deixou de fora as duas obras mais célebres da dupla, No Tempo das Diligências e Rastros de Ódio para oferecer trabalhos, se não menos conhecidos, pelo menos mais diversificados.
É o caso do filme que passa hoje, As vinhas da Ira (1940) e que conta a saga de uma família de Oklahoma que, após perder tudo durante a grande depressão de 1929, se vê obrigada a viajar num carro decrépito,lotado de bagagens e caronas,rumo à mítica Califórina em busca de trabalho. Ao tormento da viagem se sobrepõe a desilusão com a mesquinhez humana, de homens que não se furtam a explorar o próximo quando isso signifique um pouco mais de dinheiro em seus bolsos. Atemporal,portanto.
Ainda serão exibidos “Como era Verde o meu Vale”(1941), “Marcha de Heróis”(1959), filme parte da trilogia dedicada à cavalaria dos EUA que,no entanto, não recorre a nenhum tipo de idealização dos soldados, “O Último Hurra” (1958) e “O Homem que Matou o Facínora”(1962),sem dúvida o melhor da mostra. Faroeste crepuscular, vê um momento em que a mitologa do oeste já sem otimismo ou certezas absolutas(com era típico do gênero), mas com angústia. A figura do cowboy matador de Wayne é mostrada como relíquia de um passado,tornado obsoleto ante a chegada do homem das leis, o advogado James Stewart, ao mesmo tempo em que Ford revê a si mesmo como o homem que “imprimiu a lenda’na história dos Estados Unidos. Aliás, uma das mais célebres frases do cinema está aí: “quando a lenda se torna realidade, imprimi-se a lenda”.


Teatro Abílio Pereira de Almeida - Pça. Cônego Lázaro Equini, 240 - Baeta Neves - SBC. Fone: 41250582

quinta-feira, 4 de junho de 2009

MORRE KOKO TAYLOR


Passou quase desapercebido pela imprensa brasileira a morte da sensacional cantora de blues Koko Taylor ontem,aos 80 anos, de complicações pós-operatórias.
Koko, apelido de Cora Walton Taylor, foi considerada na década de 1960 a rainha do blues de Chicago ,cidade onde chegara em 1953 em busca de serviços domésticos .
Seu primeiro encontro com a música foi aos 15 anos de idade,quando começou a cantar nos corais da Igreja Batista, escola de 9 entre 10 músicos negros norte americanos(antes do advento do hip hop,claro) .
Mulheres,aliás,sempre foram preponderantes no blues,se não como instrumentistas, mas como cantoras; Bessie Smith, Menphis Minnie e tantas outras tantas no início do século passado ditaram o ar melancólico que seria seguido daí por diante pelos homens.
Koko era de uma outra geração, a do blues eletrificado, urbano, radiado não mais no Mississipi ou na Louisiana, mas em Detroit e Chicago. O que a distinguia das demais cantoras (e de quase todo mundo) era o vozeirão rouco,potente, quase gritado , na herança dos melhores shouters (o canto religioso), mas com uma potência que fazia dela uma tempestade nos campos de algodão, verdadeira força da natureza.
Sua única contraparte possível no sexo oposto era Howling Wolf, que,como o apelido entrega, cantava como um lobo que uiva. Aliás, a gravação de Wang Dang Doodle, de Willie Dixon, liga os dois. Fracasso na voz de Wolf, teve parte de sua letra alterada e explodiu com Koko Taylor, atingindo 4º lugar na parada de R&B de 1966. O bluesman a regravou em 1970, aompanhado de músicos de peso ( ninguém menos que Eric Clapton , Bill Wyman, Charlie Watts e Steve Winwood). No entanto era tarde ,a música já tinha o emblema de Taylor.
Ainda neste período, Koko integrou o elenco do mítico selo Chess Records(que naquele tempo abrigava gigantes como Buddy Guy , Etta James e o próprio Wolf), onde ficou até que fosse vendido. Pulou então para a Aligator, onde ficou até 2007. Sua carreira prosseguiu como a da maioria dos bluesmen, idolatria no fim dos 1960, algum esquecimento nos 70 e daí por diante marcando presença em shows pela Europa e festivais de jazz. Foi indicada sete vezes ao Grammy (a última em 2007),que venceu em 1984.
Koko Taylor pode não ter sido a “rainha do blues” como dizem por aí (este posto nunca será tirado de Bessie Smith), mas com certeza fez parte da realeza.
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Quem quiser encontrar Koko Taylor na TV a cabo ou em DVD não terá muito trabalho; ela faz uma ponta no filme “Blues Brothers 2000” (1998) de John Landis, cantando ao lado de BB King, Bo Didley , Isaac Hayes e Eric Clapton na fictícia banda Louisiana Gator Boys.
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Em bons sebos pode-se encontrar a um preço bastante baixo (por volta de R$ 5,00) uma coletânea produzida originalmente para ser vendida em bancas de jornal, chamada “Mestres do Blues-Koko Tylor”.
A trilha sonora de Blues Brothers 2000 também é figurinha fácil no sebos e lojas.

terça-feira, 2 de junho de 2009

TV- COPA 2014


Risos,risos,risos pra festejar
É preciso muitos risos, é preciso...
Deixa de tristeza, deixa pra lá

"Risos" - Música de Fábio e Paulo Imperial,
gravada em 1970 por Tim Maia , em seu álbum de estreia.

O assunto envolve futebol e política, mas a cobertura de ontem da Globo para a escolha das sedes que irão abrigar os jogos da Copa do Mundo de 2014 em nada lembrou a farra do boi feita com o álbum de quadrinhos “Dez na Área,um na banheira e ninguém no gol”, quando os jornalistas César Tralli (foto) e Carla Vilhena viam horror em tudo e mais um pouco- (escrevi sobre o assunto quatro postagens atrás).
Desta vez, ao contrário, sobraram risos, que começaram no Bom Dia Brasil e só não foram mais e maiores porque, assim como no PAN do Rio, um avião caiu e atrapalhou a festa Global. Mas ainda assim ria Ricardo Teixeira, ria Joseph Blater, ria José Serra, bem como todos os jornalistas envolvidos na cobertura, que destacava a “revolução”(como eles usam mal esta palavra) que essa Copa vai causar, com geração de empregos , modernização dos estádios, fim das filas na compra de ingresso, , fim da chuvas na hora das partidas e por aí. Cléber Machado, cuja rouquidão não lhe atrapalhava o sorriso, lembrou que a FIFA ainda está decidindo qual das capitais será sede do jogo de abertura da Copa brazuca. Na disputa,São Paulo,Minas Gerais e “correndo por fora, Brasília”.
No meio da gargalhada toda, foi só Juca Kfouri, sempre ele, quem atirou merda no ventilador da CBF/Globo ao lembrar que não é a FIFA quem decide coisa alguma, mas sim o Sr Ricardo Teixeira cujo critério para a escolha da capital é meramente político. Pesa na decisão do supremo cartola a escolha do nome que disputará a Presidência da República no ano que vem pelo PSDB, se Aécio Neves (MG) ou José Serra (SP). E todos sabemos do peso político que possui,em termos de propaganda, ser a cidade escolhida pela “FIFA” como a sede da abertura da Copa. Brasília não “corre por fora”,como finge Cléber Machado(que sabe, mas se cala), mas está lá apenas para “contar e disfarçar o que está,de fato,em jogo” (Folha de São Paulo,1º Junho/09). Teixeira prefere Aécio (pelo domínio que ele exerce sobre a imprensa mineira) mas deve optar por Serra, que dificilmente deixará de ser o nome escolhido para a disputa presidencial.
O clima de oba-oba interessa à Globo, por que tudo deve ser perfeito no evento no qual terá exclusividade de transmissão na TV aberta. Deverá haver críticas birrentas (como cobertura farta de falhas nas vendas de ingressos, brigas nos estádios, atrasos no cronograma das reformas) por parte da Rede Record, rancorosa desde que ofereceu mais do que a Globo, mas nem assim levou o campeonato Brasileiro.No entanto,para não desagradar quem remete publicidade estatal, ela não questionará o dinheiro público que ,apesar do que falam agora- e a exemplo do que ocorreu com o Pan- certamente entrará para evitar atraso na entrega dos estádios. E haverá relativo silêncio por parte da Bandeirantes( José Luiz Datena sabe bem ser um cãozinho obediente quando lhe convêm e a seus patrões),conformada com as migalhas que irá receber. A Rede TV estará ocupada demais acompanhando as celebridades na compra de ingressos antecipados para poder se preocupar com outros assuntos.
E onde fica o seu e o meu interesse, o nosso direito à informação na TV aberta? Respondo: abafado no meio de tantos risos.
Que horror.

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Fica uma frase, dita ontem por Paulo Calçade,na ESPN: “dizem que a escolha foi técnica, mas nós sabemos que foi tática”. Certeiro.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

CINEMA- DESEJO E PERIGO


No momento em que Ang Lee disputava a palma de ouro em Cannes com Taking Woodstock é que chegava aqui ,com inexplicável atraso, Desejo e Perigo, filme de 2007 que levou o Leão de Ouro em Veneza.
A história é simples e já vista várias outras vezes no cinema, até mesmo com grandeza, como no caso de A Espiã, de Paul Verhoeven ; em tempo de guerra mulher se infiltra no covil do inimigo para obter informações privilegiadas a um grupo guerrilheiro . Antes de cumprir a missão, no entanto, apaixona-se pelo inimigo.
Pois bem, a Ang Lee não interessa tanto o local da ação (como interessava,por exemplo, a Verhoeven) ou mesmo sua importância política. A história passa-se em Hong Kong durante o período da ocupação japonesa na China(final da Segunda Guerra,portanto), mas bem poderia ser qualquer outro lugar, qualquer outra guerra, afinal a questão central aqui é a relação “xipófaga” e pulsional entre desejo e morte, essa força misteriosa e incontrolável que é o EROS, contra a qual o indivíduo pouco pode. O sexo,no filme, traz a marca da dor, da agressividade cujo reflexo está na violência visual das cenas quase explícitas. Refúgio de um mundo hostil, esconderijo precário da desgraça inevitável ele não poderia ser sereno, nem plasticamente “belo”.

Há importância fundamental dos vários níveis de interpretação: Wang Jiazhi (Wei Tang) é uma atriz universitária que faz peças de conteúdo político e que, dado seu talento, é escolhida para se tornar amante do Sr. Yee(Tony Leung Chiu Wai) , chefe de polícia do governo colaboracionista chinês, submisso aos japoneses.
O sexo como morte também é fortemente marcado. É em sua primeira relação sexual (quando ela perde a virgindade com um dos guerrilheiros para aprender a se portar como uma boa amante na cama) que morre sua personalidade ( estudante ingênua e carente da figura paterna) para dar a luz à espiã de dupla identidade. Durante o sexo com Yee a espiã também morrerá, para trazer à tona uma mulher desesperada por saber da iminência de seu destino (e de ser incapaz de escapar a ele).
Vale atentar também para a importância dos elementos de cena: a mancha vermelha do batom no copo, que antecipa o sangue porvir, mesma cor e relação existe na pedra do anel que celebra o auge e também a derrocada da escalada cega e vertiginosa dos amantes. Ou a vela que se acende no primeiro encontro dos dois e que remete tanto ao óbvio fogo da paixão que se acende quanto a seu caráter destrutivo, incontrolável e causador de dor.
A primeira cena de Desejo e Perigo é a de um cão pastor alemão. Um cão policial, portanto, que nos diz muito sobre o estado de vigilância em que todos os lados (colaboracionista e guerrilheiro) se encontram e sobre a violência de que são capazes. Mas, como o próprio Sr Yee nos lembra em determinado momento do filme, é também o animal que canta sua tristeza e solidão ao uivar para a lua.
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É um filme que repete alguns temas caros a Ang Lee, principalmente esse descontrole sexual que não se consegue frear nem ante a destruição iminente. Os cowboys de Brokeback Mountain podem estar casados e bem estabelecidos, mas, ante um encontro casual, são incapazes de se conterem, ainda que saibam que tal relacionamento homossexual num oeste moralista e conservador é impossível de ter um final que não seja trágico. Até mesmo em Hulk vemos essa pulsão incontida, do homem que se torna monstro e é caçado por isso. Melhor dizendo, ele não se torna mostro(como versão mais recente), ele apenas liberta o monstro que já havia nele. No meio disso tudo,claro, uma mulher encantadora, Betty Ross.