terça-feira, 31 de agosto de 2010

FUTURO PROMISSOR? -PERSPECTIVAS PARA A EDUCAÇÃO 1

A produção da série de textos “Estamos Pagando o Preço de nosso atraso” começou meses atrás, com coleta de dados em matérias de jornais,revistas e programas de TV mas se estendeu para muito além do planejado(seriam originalmente três textos) e adentrou até mesmo o horário eleitoral gratuito. Se o objetivo era radiografar o que eu julgava um estado lastimável da educação no país, acabei me deparando com dados esclarecedores e com uma perspectiva até certo ponto animadora. Eu nunca entendia o porquê pessoas por volta de 40 anos diziam maravilhas da escola estadual em que estudaram.Como vimos no texto anterior, ela era boa mesmo, mas ao preço da exclusão de um número gigantesco de crianças e jovens. Claro, os investimentos que se seguiram à inclusão total foram insuficientes, pra dizer o mínimo. Mas tenho certeza de que o fato de que a baixa qualidade da educação estar prejudicando o crescimento econômico do país fez com que praticamente todos os candidatos dessem atenção ao tema, coisa que não se via antes.

No programa do dia 25, Mercadante criticou a aprovação automática dos alunos da rede pública e disse que vai “valorizar o professor”, aumentando salários. Promete ensino em período integral, também profissionalizante e elogia as ETECs (unidades de ensino profissionalizante)do PSDB, mas diz que elas são para poucos- o mesmo que o PSDB dizia dos CEUS de Marta, vale ressaltar.
No mesmo programa, Alckmin, agora Geraldo, diz que vai fazer mais ETECs e “melhorar a educação” .
Já Paulo Skaf também propõe escola em período integral com ensino profissionalizante.
Deputados do PSOL pedem a ”valorização do professor” e o fim do “sucateamento das escolas estaduais” .
Até mesmo José Maria Eymael, dias depois, toca no assunto, propondo coisa semelhante.

Enfim, pode se preferir a ênfase dada aqui e ali por cada candidato, mas está claro que todos eles (com exceção dos Vampeta e dos Tiririca da vida) estão conscientes que educação não é luxo, é necessidade primeira para uma estado e uma nação que pretenda crescer.
A conclusão, não podia deixar e ser, continua no próximo texto.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

ESTAMOS PAGANDO O PREÇO DE NOSSO ATRASO -ÚLTIMA POSTAGEM

O Ideb é um indicador do MEC que mede o desempenho das escolas levando em conta a taxa de aprovação dos alunos e o desempenho deles em testes de português e matemática – testes estes do Saeb (Sistema de Avaliação de Educação Básica).

Os números do Ideb (é uma escala de zero a dez) concluiriam que entre 2005 e 2009 a distância entre as escolas pública e particular diminuiu, mas ainda permanece uma distância precupante:um aluno da rede pública, ao final do ensino fundamental, sabe o mesmo que um da rede privada que concluiu apenas o ensino médio. Ou seja, a rede privada está 3 anos à frente da pública.

O sociólogo Simon Schwartzman, em entrevista à Folha de São Paulo em 5 de julho deste ano lembrou que não se pode esquecer o fato de que uma escola particular pode escolher o aluno, bem como expulsar os piores. Outro dado é que o aluno da escola particular normalmente vem de uma família mais rica, portanto em tese mais alfabetizada o que, como já comentamos aqui neste blog, influi e muito no desempenho do aluno. Mas Schwartzman é enfático ao afirmar que “mesmo as melhores particulares do Brasil são piores do que as dos outro países”. Para ele, isso ocorre por outro problema, a dedicação obsessiva com o vestibular.
Abro um parêntesis aqui para lembrar o leitor de como as escolas comemoram índices de aprovação em outdoors, inclusive citando o nome de alunos aprovados numa USP ou Unicamp. E é bom notar o quanto o vestibular é ineficaz como ferramenta de avaliação. Um ensino voltado diretamente para ele faz com que o aluno aprenda física estudando algo completamente estranho à sua realidade como a trajetória de uma bala de canhão, por exemplo. Fecha parêntesis.

Com tudo que tem de ruim, a escola pública estadual de São Paulo ainda é a terceira melhor do país. A do Rio é a penúltima, a frente apenas da do Piauí.
A melhora nos números do Ideb foi mais expressiva entre os alunos dos primeiros anos do que no ensino médio.Isso ocorre porque a partir dos anos 1990 houve a universalização do ensino(conseguiu-se colocar todas as crianças na escola) e quem entrou naquele momento pegou uma escola pior, ainda despreparada para lidar com esse contingente.

Ainda hoje é ruim? Não. É péssimo. Mas, boa ou má notícia(depende do ponto de vista), é verdade tem melhorado ,ainda que de maneira desigual, devido ao baixo investimento público. A sociedade pressiona cada vez mais portanto é de se esperar que continue melhorando. Cobrar, reclamar, votar com isso em mente. Essa é a nossa função.

Na semana que vem, uma conclusão desta série de textos enfocando a educação.
Esse atraso perdurará?

terça-feira, 24 de agosto de 2010

ESTAMOS PAGANDO O PREÇO DE NOSSO ATRASO- 4

O escritor Moacyr Scliar,na edição de agosto do "Le Monde Diplomatique Brasil" apresenta dados bem interessantes que complementam a postagem anterior deste blog, sobre a questão da leitura, dos livros e do aprendizado da língua portuguesa.
Os números são indiscutivelmente ruins: o brasileiro lê apenas 1,3 livro por ano . Em comparação, o norte Americano lê 11, o francês, 7 e o argentino, 3,2.
No Brasil há uma livraria para cada 64 mil habitantes,bem abaixo do número que a Unesco considera ideal que é de uma para cada 10 mil.

Scliar diz que “o livro custa caro porque vende pouco,e vende pouco porque custa caro” mas ressalva que o livro de bolso tem público cada vez maior e que “aumentar a venda é uma forma de baixar o preço,mas isso só acontece quando as pessoas têm o hábito da leitura” . Para ele, o gosto pela leitura se desenvolve basicamente em duas etapas , infância e escola. Na infância a criança é influenciada basicamente pelo ambiente familiar(de forma semelhante ao que eu disse aqui, que a escolaridade dos pais influencia na dos filhos- influencia, não determina, por favor).O problema é que no Brasil 63 % dos leitores afirmam que nunca viram os pais lendo. Para completar a encrenca, “faltam bibliotecas em 113 mil escolas, ou seja , 68,81% das escolas da rede pública de ensino”.

Dos aproximadamente 190 milhões de brasileiros, 95 milhões podem ser considerados leitores.Podem, mas na prática não são, ainda que a maioria absoluta,75%, afirme gostar de ler.
Scliar é ainda assim é otimista: “Os últimos governos têm se esforçado para preencher esta lacuna;em 2008,as escolas receberam,em média,39,6 livros cada uma,por meio do Programa Nacional de Bibliotecas Escolares.A par disto, um grande esforço está sendo desenvolvido para estimular o hábito da leitura entre os escolares”.
Ele enfatiza também a modernização no ensino da literatura: “hoje as escolas trabalham também com escritores contemporâneos, e a interação com o texto é a regra. Os alunos fazem dramatizações, escrevem suas próprias versões dos textos, editam jornais na escola”.

Por outro lado, dados do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) divulgados pelo UOL Educação mostram que ano que vem, nada menos do que 222 municípios do país não vão receber livros didáticos do PNLD (Programa Nacional do Livro Didático) distribuídos pelo MEC (Ministério da Educação)aos alunos do ensino fundamental. Destes, 146 estão em São Paulo. É certo que muitos dos municípios trocaram os livros por apostilas didáticas(mais práticas, mas que limitam o trabalho do professor) mas outros simplesmente não se cadastraram no programa, exigência que começou este ano.
O Brasil ainda é um país de abismos gritantes, em que avanços coexistem com desertos culturais como na Zona Sul de São Paulo, em que quase inexistem opções de lazer e cultura à população carente.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

ESTAMOS PAGANDO O PREÇO DE NOSSO ATRASO- 3

Eu me referi na postagem anterior ao péssimo domínio da lingua portuguesa por pessoas com formação universitária.Há este problema flagrante e crônico que atinge os jovens: a falta de leitura. Preço do livro influi sem dúvida na qualidade do que e lê(ver comentário do Mario Cesar na postagem anterior- o livro caro desestimula ), mas muitos jovens e adultos também não demonstram o mínimo interesse pela leitura o que cria um ciclo vicioso:não lendo, a pessoa domina menos o idioma, escreve mau e em consequência interpreta mau um texto.


Reportagem de Fábio Mazzitelli para o Jornal da Tarde mostrou que foi o péssimo desempenho dos alunos em português que puxou a média do Enem para baixo- nenhum colégio do país teve 70% de acerto, o pior desempenho entre todas as áreas avaliadas. E em "português" foi avaliado não só o domínio da língua, mas também a interpretação de texto(de novo voltamos à postagem anterior).Professores criticaram a internet, que afasta o aluno do contato om a norma culta da língua e faz o aluno estranhar textos longos- textos longos estão em livros, voltamos ao ciclo.



Essa deficiência, notou Miguel Arruda, coordenador do ensino médio do Colégio Santo Américo, interfere "em outras áreas, como história, geografia e até na área de exatas, por causa da leitura" . E isso não é bom nem na formação do cidadão, que tem menos capacidade de enxergar criticamente o mundo à sua volta(isso só se adquire coma leitura) como para o mercado de trabalho.



O Programa Expressão Nacional, exibido pela TV Câmara em 29 de junho deste ano, debateu a qualidade da educação e o impacto sobre a economia da má formação escolar dos jovens, que se tornam profissionais incapazes de atender ao mercado. Participaram o deputado e também professor Antônio Carlos Biffi (PT-MS), o deputado Professor Ruy Pauletti (PSDB-RS), Roberto Franklin Leão , presidente da CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação) e o presidente do movimento Todos pela Educação, Mozart Neves Ramos.




É sempre bom lembrar que o rendimento do aluno sabidamente depende também de outros dois fatores além destes que eu já mencionei infraestrutura da escola e escolaridade dos pais. Um política educacional eficiente deve levar em conta tudo isso. Basta olhar à nossa volta, para as escolas Estaduais e ver o quanto o país está atrasado.

No caso específico da nota de Português no Enem(em que pese todas as deficiências dele como forma de avalição) até mesmo os colégios particulares bem estruturados apresentaram média sofrífel.Aí o problema é mais amplo.


Não, ainda não terminamos de discutir a Educação no Brasil. E obrigado a você que não achou este texto longo demais.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

ESTAMOS PAGANDO O PREÇO DE NOSSO ATRASO- 2

Retornando à postagem sobre a má formação universitária, deixei em aberto um ponto importante da discussão(que foi inteligentemente notada nos comentários) : a má formação dos universitários tem origem muito antes, no ensino fundamental. Nas escolas públicas o ensino é terrível, mas não da para dizer que as particulares sejam dignas de inveja. Canso de ler e-mails de pessoas com formação universitária que simplesmente não sabem diferenciar um ponto de exclamação de uma interrogação, uma vírgula de um ponto final.
Eu falava (citando a reportagem da Folha) da falta de professores das chamadas ciências pesadas, física e matemática. Mas o problema é geral e é particularmente grave no caso do ensino da língua portuguesa. Como alguém que desconhece os fundamentos da língua (a pontuação) pode interpretar um texto, seja ele qual for? E, se é incapaz de interpretar texto, é também um mau profissional em qualquer carreira que siga (com exceção,talvez, das meramente práticas).

Mas voltemos: porque não há professores? Simples, baixos salários. Porque o ensino é tão ruim? Em parte:baixos salários. Um professor da rede pública de ensino do Estado de São Paulo ganha R$ 1.500,00 por 30 horas de trabalho. Quer dizer, isso no papel, porque o trabalho de um professor nunca fica restrito ao horário de expediente, ele precisa criar e corrigir trabalhos e provas, planejar aulas e (utopia)se aprimorar estudando. Isso tudo “recebendo” um vale-alimentação de R$ 4,00 (apelidado de “vale coxinha”)que seria só uma piada de mau gosto se não estivesse atrasado desde fevereiro – daí as aspas.
Quem, na possibilidade de ter um salário razoável como, sei lá, bancário, vai querer ser professor e enfrentar a falta de estrutura do ensino e alunos desinteressados e desmotivados(o interesse vem da motivação que o país não oferece e do estímulo, que a escola não dá) e, ainda mais, o cotidiano violento de muitas escolas? Só mesmo os profissionais sem muita opção ou preparo e que não recebem estímulo para aperfeiçoamento porque um professor para ser bom depende dele mesmo estar em constante aprendizado o que depende de que ? Tempo e salário. Se o salário é pouco o professor tem de se sobrecarregar de trabalho para ter um rendimento decente, logo, não irá se aperfeiçoar. Se o Estado tivesse uma política educacional decente, com bons salários, teríamos profissionais cada vez melhores e alunos também e profissionais também. Sem contar que salário alto no ensino público forçaria uma alta nos salários das escolas particulares. E não se pode ignorar o efeito psicológico sobre o aluno que veria no professor um exemplo de sucesso e não o contrário- logo ele teria mais interesse no estudo. E “sucesso” não se entenda apenas dinheiro, mas benefícios , facilidades que denotem uma posição de prestígio na sociedade e não o contrário, como ocorre agora.

A Educação é de responsabilidade de Estados e municípios, mas não sei de nada substancial feito pelo governo Lula para melhorar o panorama. Serra, por outro lado, criou uma política demagógica que dá prêmios em dinheiro às escolas que melhorarem seus indicadores(notas dos alunos, índice de aprovação). O que ocorre? A direção força professores a não reprovar e você tem crianças em fase de alfabetização que não sabem sequer escrever o próprio nome.

A série de postagens sobre Educação continua amanhã.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

MORREU HERMAN LEONARD


O Jazz surgiu por volta de 1900 em New Orleans, da fusão da música negra com elementos brancos e da intersecção das culturas afro-americanas, latino-americanas e espanhola num momento e locais únicos na história. O gramofone, “máquina falante” de Emile Berliner e ancestral dos toca-discos nasceu em 1896, alguns meses depois da estréia em 28 de dezembro de 1895, no Grand café, em Paris, do cinematógrafo dos Irmãos Lumiére. Em 1888 George Eastman lançou a câmera e a empresa Kodak que abria uma nova era na fotografia (até então feita de daguerreótipos e chapas metálicas) e ao criar uma caixa portátil com um rolo de filme negativo(que seria o princípio do cinema). Pouco antes, em 1872,Claude Monet pintara “Impressão- Nascer do Sol”, de cujo nome derivaria um apelido desdenhoso, "impressionismo", que acabaria por nomear toda uma nova fase da pintura ocidental.

É a modernidade que chegava, em suas diversas faces, com a fotografia criando o cinema e transformando a pintura, criando enfim, todo um novo mundo.

E foi através da fotografia, tanto quanto do disco e do rádio, que o jazz se consolidou no imaginário mundial. Herman Leonard, que morreu sábado em Los Angeles aos 87 anos, foi sem dúvida quem melhor soube retratar o universo do jazz, traduzindo sua imprevisibilidade, sua fugacidade brutal em imagens tão bem quanto Baudelaire descrevia a modernidade. O trompetista Chet Baker(1929-1988), sobretudo, deve boa parte de sua fama e reconhecimento menos a perícia com seu instrumento do que às fotos de Leonard , que o mostravam com um James Dean do cool jazz, um rosto bonito e algo triste. Acima, em foto de 1949 no BirdLand, o autodestrutivo e revolucionário Charlie Parker perdido em si mesmo, gênio romântico totalmente entregue a sua arte.

Gênio Herman também.
Site oficial, direto nas fotos que têm o jazz como tema:

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

ARTE EM ESTADO IMPURO


Moisés Patrício é da Vila Industrial ,região da Zona Leste de São Paulo relegada ao desprezo típico que normalmente recebem do poder público os bairros mais pobres e vizinhos a outras cidades. Grafiteiro, enveredou por outras artes visuais e hoje expõe suas cromotipias em locais como o Espaço Cultural Gambalaia.


Grafite e Vila Industrial estão impregnados em sua obra, composta muitas vezes de linhas retas sobrepostas por manchas de cores que mimetizam a decomposição dos muros sujos de fuligem, cobertos de pixo, pintados com publicidade. As cores não tem pureza, contaminam umas às outras, interpenetram-se rumando ao desaparecimento nas bordas do papel, como uma parede diversas vezes pintada e que perde sua cor. A que morre revela sua ancestral mas esta não conta nenhuma história de sua existência, não deixa testemunho, apenas rastros,pistas.


A arte de Moisés Patrício é urbana e atualíssima, uma vez que dialoga com o grafite, atual queridinho dos galeristas, sem negar sua origem de caos urbano(ao que os galeristas tem verdadeiro horror).E, é bom lembrar, mês que vem tem Bienal de Arte de São Paulo discutindo a pixação o que faz essa (última) oportunidade de ver a arte de Moisés ser ainda mais imperdível.


O Gambalaia funciona de segunda a sexta-feira das 10h00 às 12h00 e das 14h00 às 17h00 e nos finais de semana, das 20h00 às23h00. A entrada é gratuita. A exposição fica só até este domingo.

UMA BELA VISÃO SOBRE OS MORADORES DE RUA


O grande número de mendigos nas ruas é um problema gravíssimo do bairro”, foi o que disse Célia Marcondes, presidente da Sociedade dos Amigos e Moradores do Bairro de Cerqueira César à Folha de São Paulo em matéria da última terça-feira que tratava da revitalização de parques e praças empreendida pelo prefeito Kassab. Marcondes, sobre a revitalização, dissera que “finalmente resolveram dar uma melhorada nisso”. “Dar um jeito" nos moradores de rua é o que muita gente quer, tanto é que nas imediações de Santa Cecília se discute não doar mais alimentos a eles, para que migrem de lá, para onde foram desde que se iniciou um policiamento mais duro na chamada cracolândia. Que eles incomodam, não há dúvida, mas também as políticas públicas voltadas a eles são nulas. O caso é complexo: a maioria é de homens, usuários de drogas. Poucos são os com mais de 40, porque a taxa de mortalidade é ata nessa faixa. Os com mais de 40 são na maioria dependentes de álcool. Muitos não dormem em albergues justamente porque ficam longe dos centros, onde eles trabalham, muitas vezes recolhendo materiais reciclados. Há pouca assistência social voltada à reinsersão deles na sociedade, que passe pelo tratamento da dependência química. Enfim, estes são apenas alguns dados recentemente divulgados por pesquisas com moradores de rua, mas, apensar de tudo, são só números. Se você quiser ver além (ou através) dos números vá até o Espaço Cultural Gambalaia neste domingo conferir a última apresentação de "Oswaldo Raspado no Asfalto", peça da companhia Teatro de Asfalto que dramatiza depoimentos reais colhidos nas ruas.
Os números, então, se tornam pessoas, e os dados, vidas engraçadas, tristes e até trágicas.

Domingo, 20h – R.das Monções, 1018 - Santo André SP-

F(11) 4316-1726 – Ingr. R$ 10.00 (a inteira)

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

IV JORNADA BRASILEIRA DO CINEMA SILENCIOSO


Não há dúvida de que, pelo menos desde os anos 1980 com a invenção do videocassete, a importância das salas de cinema vem diminuindo frente à possibilidade de se ver um filme na hora e no lugar que lhe for mais conveniente. Essa facilidade passou pela disponibilidade da Tv a cabo, daí para a comodidade do pay-per-view e chegou ao ponto máximo agora que é possível baixar em pouquíssimo tempo o filme que se desejar. Sendo assim, só uns poucos estão dispostos a pagar o preço(alto) do ingresso de cinema.


O fato é que a experiência do filme é afetada pelo lugar onde se assiste a ele.
Ao ver um filme, dividimos nossa atenção com o entorno iluminado (você não vê só o filme, mas a estante, os enfeites)com o parente que passa em frente à TV, com o vizinho barulhento, coisa que inexiste no cinema, onde nossa atenção está toda direcionada à imagem que, pelo tamanho monumental, nos engloba.
Essa sensação de que o cinema é uma atração única, tão insubstituível tanto quanto uma peça de teatro é que a Cinemateca resgata, ao menos uma vez por ano, com a Jornada Brasileira de Cinema Silencioso quando são exibidos filmes mudos com acompanhamento musical e apresentação dos curadores antes de cada filme.


A principal questão é se a música(que muitas vezes incluis até colagens sonora) pode “trair’o filme ou interferir no seu significado original. O curador musical da Jornada Livio Tractenberg diz no catálogo da mostra:


mais do que uma pretensa ‘atualização, que,de resto, soa ridículo quando se trata de criação artística,(...) as musicalizações buscam sobretudo estabelecer uma conversa criativa ,ao invés de uma moldura decorativa, com as narrativas fílmicas”.


A Jornada, que está em sua quarta edição, vai até domingo e tem como destaque o cinema sueco (está lá Greta Garbo, ainda Greta Gusstafson ,anos antes de brilhar na MGM) além de uma imperdível apresentação no Auditório Ibirapuera, nesta sexta-feira 13, de “A Feitiçaria através dos tempos”(1922), de Benjamin Christensen híbrido de horror e documentário com narrativa não-linear que mostra o alcance da feitiçaria na Idade Média. A fotografia de Johan Ankerstjerne é lendária. Na cinemateca pode-se também apreciar fotografias de bastidores de alguma das produções suecas exibidas.


A Sessão no Auditório Ibirapuera será às 21h00 e terá acompanhamento musical de Marcio Nigro e André Abujamra. O Programa completo da IV Jornada Brasileira de Cine Silencioso , que é gratuita, você encontra em http://www.cinemateca.com.br/



segunda-feira, 9 de agosto de 2010

ESTAMOS PAGANDO O PREÇO DE NOSSO ATRASO -1

Alguns anos atrás era comum a máxima “o Brasil é o país do futuro” .
O caso é que o tal futuro chegou para o país (mesmo não sendo “o” país, com sonhavam os ufanistas) e a nação não está preparada exatamente porque o povo nunca teve educação decente . Se isso era intencional, não sei, mas a coisa se voltou contra os próprios políticos que se vêem agora desesperados para consertar a situação.

Reportagem publicada pela Folha de São Paulo em 21 de junho deste ano revelou dados preocupantes. O mote era que o país não forma engenheiros e, dos que se formam, poucos são os que tem preparo adequado (1 em cada 4) e isso custa ao país U$ 15 bi por ano,boa parte por falha no projeto de obras públicas.
O problema começa na má formação do aluno no ensino fundamental. E por que? Faltam professores. E com professores de menos, alguém formado em matemática acaba sendo deslocado para dar aulas de física,por exemplo. E não vai ensinar direito, lógico, porque isso é tão absurdo quanto um professor de História ensinar literatura com a justificativa de que ambas são tidas ciências humanas.
Resultado: Mau formado em física o aluno chega despreparado na universidade o que acarreta a enorme evasão que encontramos nos cursos de engenharia.
Aí o gargalo é outro. Muitas universidades particulares são ruins porque, na guerra por alunos, baixam os preços, derrubando a qualidade de ensino (não há laboratórios de qualidade e as salas são superlotadas, entre outros problemas). Petrobras e outras empresas já estão financiando o estudo de engenheiros, desesperados com os números: aqui se formam 30mil por ano, na India, 250 mil. E o ritmo de crescimento da economia pede outro patamar, de quantidade e qualidade.
No próximo texto desta série: a má formação dos alunos antes da Faculdade.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

EDUCAÇÃO EM DEBATE

No debate de ontem, Serra se deteve pouco sobre o tema educação, Plínio, franco-atirador, disse (como dizia sobre qualquer tema) que teria de mudar tudo, de cima abaixo, distribuição radical de renda.
A conversa mais produtiva foi entre Marina Silva e Dilma Roussef. Dilma exaltou o investimento do governo atual em educação, próximo dos 5 % do PIB e que,com ela no poder, deve chegar a 7% (é bom ter em mente o quanto as metas de campanha, na prática, ficam aquém do prometido). Marina afirmou que,mesmo atingindo os 7%, o Brasil estaria “30 anos atrás de países como o Chile” (é bom ter em mente que dados ditos em debate,ainda que com segurança, podem ser fantasiosos).
Enfim, para Dilma, a solução é o ensino profissionalizante, que irá aproveitar essa massa de jovens trabalhadores que chegam pouco qualificados ao mercado- lembrando que a queda na taxa de natalidade aumenta o número de idosos e diminui o da força de trabalho. Dilma disse que iria integrar a educação, “da pré-escola à pós-graduação”, Deus sabe como e acabar com a progressão continuada, estratégia utilizada para manter os alunos na escolas (os repetentes tendiam a abandonar os estudos, piorando o quadro).

Esse blog, a partir da semana que vem, começa a bancar o chato e tratar longamente sobre educação por entender que o momento é crucial e que é a educação a base para um país que se pretenda desenvolvido. E também para que mudemos nossa mentalidade, de que o crime se combate só com a “Rota na rua”, com “pau neles” e outras bravatas típicas de apresentadores de corpo e bolso gordo (a integração educação /esporte/arte já foi tratada com insistência aqui). Espero que o leitor não se aborreça com a aridez dos temas e que ajude a propagar a discussão.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

AINDA HÁ LUGAR PARA SUPER HERÓIS NO MUNDO?







O quadrinista e cineasta Frank Miller, autor de O Cavaleiro das Trevas, recentemente anunciou que uma história que tinha planejado para o Batman(e que está produzindo há 5 anos)não terá mais o personagem como protagonista. Para ele, a trama que envolvia combate ao terrorismo, não comportava mais o herói. Ele disse, em entrevista ao Los Angeles Times que “Parece-me que sair atrás do Charada parece bobo comparado ao que está acontecendo lá fora” - http://omelete.com.br/quadrinhos/graphic-novel-de-batman-por-frank-miller-nao-vai-mais-ter-batman/




De fato, desde o 11 de Setembro, quando o horror invadiu os EUA sem pedir licença, a fantasia que envolve o combate a supervilões ficou meio sem cabimento. Um caminho tem sido o de adicionar maior realismo às tramas (e,consequentemente,mais violência). É dentro desse quadro que surge essa nova Mulher Maravilha, de traço realista com um traje que pouco lembra o original e qu provocou a ira dos fãs. “Não se mexe no que é sagrado” foi o comentário repetido em sites e blogs. De fato, apesar do peso excessivo da palavra “sagrado”, seria difícil de imaginar tamanha mudança no visual do Batman ou do Superman (a exceção foi o uniforme negro do Homem Aranha). Dizem que é para adaptar a personagem para um filme, o que não az muito sentido, uma vez que os X-Men foram transpostos para a tela grande com mudança no figurino sem que isso acontecesse antes nos quadrinhos.




A verdade é que os uniformes colantes, as cores puras, o desenho estilizado, tudo aquilo que sempre caracterizou as HQs de super heróis tinham a ver com, a bidimensionalidade explícita, com uma concessão forte à realidade. Hoje, quando a mais tola história pede o apelo ao realismo do 3D, o mundo dos Super Heróis fica algo deslocado. E deslocado também ante o perigo real do terrorismo e a impotência de uma crise econômica que dificulta a vida do norte-americano - e cujo vilão não foi senão, o próprio capitalismo norte-americano.