sábado, 18 de dezembro de 2010

MACHETE É UM TROPA DE ELITE2 "MEXICANO"


Tanto lá como cá. Em Machete, de Robert Rodriguez, como em Tropa de Elite 2 de José  Padilha,  há  a relação entre tráfico, milícias e campanhas políticas. No meio disso tudo, gente comum, bucha de canhão. Nos dois casos não háa um vilão que, derrotado, coloque as  coisas em ordem.  Há conflito,pancadaria, sangue e,no final, mudam-se os atores, mas o cenário continua o mesmo. Há hipocrisia, mentiras dadas para seduzir a opiniãao pública e a resposabilização ao "sistema" (o termo é dito nos dois filmes) essa ordem de coisas abstrata, difusa em que pessoas, por mais poderosas que sejam, são meras peças do jogo. Nãao se trata de não dar nomes aos bois até porque eles são somente isso, bois. Morre um, vem outro.
O flerte com a comédia e o trash nesse sentido prejudicam Machete, porque meio que desviam o foco, ou melhor, faz com que boa  parte das pessoas não leve a sério o que ele tem a dizer quee  é tão grave quanto nosso Tropa. Entre outras coisas, há traficantes  financiando políticos de extrema direita que dizem lutar pela moralidade. Machete toca fundo na questão da imigração ilegal  dos EUA, num momento em que  se discute a criação de um muro separando a "terra das oportunidades" do México.
Alguém aí se lembra da idéia de construir um muro fechando as favelas cariocas, que ganhou a imprensa pouco tempo atrás?
Pois é...

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Machete é sensacionaal e,de quebra, tem uma Michelle Rodriguez de enfartar qualquer marmanjo e fazer Lindsay Lohan tão sexy quanto a freira que ela interpreta...

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O bar  fecha  as portas agora para um tiquinho de férias.
Meus sinceros agradecimento a todos que me acompanharam neste ano! Um feliz Natal e um ótimo 2011 para todos !

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

SOBRE TROPA DE ELITE2 E VERA FISCHER

O trecho a seguir foi retirado da entrevista dada pela atriz Vera Fischer à coluna da jornalista Mônica Bergamo, na Folha de São Paulo do dia 13 deste mês. Fischer estava anunciando o lançamento de uma coleção de nada menos que dez romances de sua autoria.

Vera F. - Meus personagens não são nunca pobres, são sempre ricos(gargalhadas).

Coluna-Por que?

Vera- Porque eu não gosto,eu não sei escrever pra gente pobre.Eu detesto.

C-Os que você chama de pobres podem comprar seus livros.

V- Podem.Porque eles não custam caro. Eles vão se identificar e adorar. Coisa bonita é sempre melhor.

Tropa de Elite 2 jogou luz de maneira única sobre o quanto é ilusória essa idéia de que a violência nasce no morro, na favela.
Porque sempre se tratou de,seja no jornalismo como na ficção, de identificar o inimigo, o culpado pelos males e dar a ele uma feição clara: o preto da favela. Devidamente identificado, era fácil descobrir uma solução para a tal da violência: prender e jogar a chave fora,pena de morte, fazer uma prisão no meio da Amazônia e outras bobagens que o povo repete a torto e a direito por aí. Era pra isso que os ricaços no auto do Cristo redentor rezavam durante a invasão no morro do alemão, era pra isso que esses mesmos ricaços se vestiam de branco e saíam em passeata pelas ruas de Copacabana uns anos atrás por causa de algum desses crimes que causam comoção popular. Quando fala-se em violência remete-se diretamente ao traficante, ao negrinho armado com fuzil mas violência é um conceito amplo demais. Vera Fisher por exemplo, é a mais acabada personificação da violência social, de uma elite (vamos esquecer o ranço sidicalista que essa palavra ganhou), de um grupo de poder aquisitivo muito alto, que quer apenas viver a parte do “populacho”, ainda que às custas dele o que é o caso dela, que construiu sua carreira tanto em filmes como novelas de alcance extremamente popular.

Ou seja, qualquer identificação com a relação da Casa Grande com a Senzala não é mera coicidência. E a polícia, para essa elite, não é muito mais do que um Capitão do Mato. Só que o Capitão da vez, o Nascimento, mira agora sua fúria para seus patrões.


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Penso  que até hoje não se reconhece a violência social pelo pouco empenho da ficção em deter-se sobre ela. É sem dúvida muito mais fácil lidar com o inimigo que, posto na cadeia ou morto com um tiro, resolve os problemas. A violência social é difusa, não pode ser atribuída a este ou aquele vilão. As novelas muitas vezes trazem um rico arrogante e malvado, mas fica claro que é aquele indivíduo em si que é daquele jeito, que nãooo expressa todo um pensamento de uma camada social, uma maneira de ver o mundo. E,vida de regra, ao final  ele é punido, colocando as coisas na ais santa paz. Paz que não existe nesta sociedade camuflamente violenta.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

TROPA DE ELITE 2

Depois de ver Tropa de Elite2 ninguém mais pode dizer que é inocente. Está tudo ali, a corrpução policial, as ligações espúrias do crime com a política,os assassinatos mandados e a ação direta e indireta da imprensa em favor desse esquema todo. Páginas e mais páginas de artigos sobre violência e corrupção encontraram uma representação perfeita em duas horas de filme.

A profundidade do poço de lama em que o filme mergulha é tão grande que fica a sensação de que ele deveria ser mais longo,ter pelo menos uma hora a mais,  mas isso prejudicaria o desempenho nas bilheterias, arrumaria dor de cabeça com os distribuidores, os cinemas e tal. Enfim, não é o caso de elogiar o Tropa2, porque ele fala por si e porque gente muito melhor do que eu já escreveu sobre ele.

Mas uma palavrinha sobre os defeitos, vale a pena. O problema todo está na narração em primeira pessoa. É uma opção problemática, típica do film noir e que aqui repete suas manias, principalmente a de fazer do narrador personagem um narrador onisciente. Como se fosse um livro em terceira pessoa. Nascimento,agora coronel, sabe e narra coisas que ele não presenciou e que o filme não coloca em cheque. Nesse caso não dá pra atribuir subjetividade ao que ele diz (dizer que é o ponto de vista dele, não do filme-como era possível no primeiro “Tropa”), não dá pra julgar Nascimento um Bentinho que diz e “prova” por A+B que Capitu é adúltera mas o livro não nos dá prova alguma. E com isso vêm alguns furos no roteiro. Bráulio Mantovani,o roteirista, tem momentos de brilhantismo alternados com alguns erros meio primários.

A cena inicial é a de um atentado à vida de Nascimento. Crepúsculo dos Deuses, obra –prima de Billy Wilder começa um pouca assim, só que o narrador entrega logo de cara que é Brás Cubas, ou seja, está morto. Como não tem nada de fantástico no universo de Tropa de Elite, fica claro que é um truque meio safado pra enganar o público e que, claro, não engana, afinal,se ele está narrando é porque está bem vivo. E com isso nada de suspense na cena também. Isso remete ao Kill Bill também, mas lá sabemos que a Noiva era pra ter morrido e não morreu. E remete também ao Pânico nos Bastidores, de Hitchcock em que, pra surpreender o espectador, começa com um flashback falso. Hitch depois admitiu ter sido este o maior erro de sua carreira, pois não se deve mentir para o espectador.

O fato da narração de Nascimento não ser subjetiva não é o problema (a gravidade das coisas que o filme aponta pedem uma objetividade, uma firmeza de opinião que não se deve flexibilizar a nenhum custo) e sim os pequenos tropeços advindos dessa opção.

Nada que diminua a intensidade do,com o perdão da expressão, sonoro “puta que o pariu” que a gente solta ao final do filme.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O MAL NOSSO DE CADA DIA

Christoph Türcke é professor de filosofia de uma universidade de nome impronunciável em Leipzig,na Alemanha e autor do livro "Sociedade Excitada" (Unicamp). Em entrevista à revista Cult n 151(outubro 2010) ele falou sobre o foco de seu livro, a comunicação de massas. Vai bem ao encontro das últimas postagens nas  quais tratei  dos programas policiais. Mas  é bom atentar que não é exatamente deles que Türcke fala, seu especrto é mais amplo.
Vejamos:


Na mídia(...)os horrores do mal fazem o papel do entretenimento.Ocultam não apenas os agrados cotidianos, os progressos sociais, os modelos de responsabilidade e coragem civil; desviam,antes,a atenção daqueles problemas que chateiam o público cada vez mais,pois continuam tanto mais conhecidos quanto irresolvidos,como o desemprego, a fome, a força nuclear,a camada de ozônio,a Mata Atlântica. Tais problemas exigem paciência,concentração,repetição,insistência,resistência. Não cabem no esquema sensacionalista da indústria cultural,que atrai a atenção de um evento ao outro,enquanto esse evento é atendido perfeitamente pela apresentação disjunta de crimes,corrupções,acidentes.
Sugere-se que a realidade não consiste senão em horrores.Cobrem-se os problemas gerais,estruturais e sociais por uma multidão de horrores particulares.Transformam-se,finalmente,tais horrores em eventos de entretenimento”.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O FIM DA VIOLÊNCIA (?)

Palaras do  cientistra político e professor da PUCRS, Álvaro Oxley Rocha para a revista "Sociologia" nº 31 (Ed Escala) de outubro de 2010. A matéria, Desafios da Segurança Pública, citava os ataques do  PCC em 2006 e tratava da Polícia comunitária, projeto semelhante às UPPs de que tanto se fala agora:

A população precisa ser educada para conviver com os agentes do Estado,mas os agentes do Estado,no Brasil, também precisam ser educados para a realização do bem comum,a que se destina o dinheiro público. Se for abaandonada à própria sorte,com costuma ser entree nós,mesmo louváveis iniciativas como essa (Polícia Comunitária)serão tragadas pela corrupção,que resulta da falta das políticas de educação e de renda”.