terça-feira, 28 de junho de 2011

TIRINHAS - LAERTE


Interessante o comentário da leitora na postagem anterior. Normalmente as  pessoas tendem a não dar importância às tiras. Ou nem sequer se lembrar delas depois da leitura. Muitos jornais inclusive fazem o possível para isso ao colocar as tiras num tamanho minúsculo que quase impede sua leitura e espremê-las entre o horóscopo e as cruzadinhas. Enfim...

Esta é uma tira de Laerte, artista que depois que abandonou as tiras de humor teve seu material recusado por vários jornais em todo Brasil. Ele não deu bola e prosseguiu testando os limites dessa arte.
Aqui ele lida com o som, limitação inerente aos quadrinhos e também com sua representação em imagem.
Há várias maneiras de fazê-lo, uma delas é usando aquelas linhas tortas para demonstrar barulho, mas Laerte recusa. Parece encarar um problema quase como se estivesse fazendo  literatura, ao criar esse signo impronunciável(bela ironia, aliás).  O som vem da maneira como reconhecemos a imagem do personagem desenhado. É é através dessa imagem que conferimos um significado a uma outra imagem(ou signo) que representa unicamente um som.

O desenho,aliás, é tosco, como percebe qualquer um que sabe do que Laerte é capaz. Mas o desenho não interessa aqui. O foco é  outro.Fazê-lo com perfeição ou detalhamento seria prestar um desserviço ao leitor, porque lhe edsviaria a atenção do que realmente interessa.
E há o humor, claro, que nos faz rir da empreitada inútil do personagem.

Quando Godard fez Une Femme Est une Femme (Uma Mulher É uma Mulher) em 1961 ele estava testando os limites de sua arte. Seu foco, também, era o som e para isso ele mudava a trilha sonora bruscamente numa mesma cena, conferindo significados diversos a ela.

Não fosse um artista de quadrinhos e,  "pior", de tiras, Laerte ja´teria um bocado de livros escritos a seu respeito, de teses analisando sua obra, de entrevistas em programas culturais. Como não é o caso, ele só aparece quando é pra falar da sua mania de crossdressing.




segunda-feira, 20 de junho de 2011

AS TIRAS MERECEM MAIS RESPEITO




O mercado  literário volta e meia  faz compilações de microcontos. Justo.  São inovadores, diferentes, até radicais em sua forma ultra condensada.
Hoje então, quando se tenta dizer tudo em 140 caracteres, podemos pensar se não é esta a mais contemporânea forma de narrar.

As tiras narram usando um espaço exíguo também. Tem a condensação por força de lei.

Pelo menos parte do prestígio  dos microcontos poderiam ter algumas tiras, não fossem os quadrinhos uma arte cadela, sem respeito de quase ninguém e não fossem as tiras,pelo menos aqui no Brasil, sinônimo de  piada, alívio cômico à parte "séria" do jornal.

Há poesia, beleza, melancolia e inocência nesta tira do argentino Liniers.
É arte também. E da boa.


***

"Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá"
- Augusto Monterroso
Mais famoso microconto do mundo.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

FILMES " BARROCOS " (Atualizado)

Diz-se que o horror italiano é barroco ou que tal e tal cineasta é barroco. Com toda imprecisão que a definição ganha ao ser tirada de seu contexto original(pintura,escultura e arquitetura- e sobre isso já tratamos aqui neste blog ) pode –se dizer que barroco, no cinema, é um

termo que conota o bizarro,a complicação ou a estranheza, é utilizado para designar uma arte muito ornamentada,extravagante,sofisticada,com preciosismos
(AUMONT,MARIE, pg31).

De todo modo é interessante forçar as fronteiras só para ver o alcance e a limitação do termo.

O filósofo Heinrich Wölfflin, no início do século 20, procurou estabelecer uma metodologia que permitisse estabelecer categorias capazes de caracterizar a arte e,assim, definir os estilos artísticos. Para o alemão existiriam pares de conceitos opostos, um caracterizando a pintura renascentista, outro a barroca. Seriam eles:

Linear em oposição a pinturesco, planar em oposição a recessional , forma aberta sendo o oposto de forma fechada e,por fim, multiplicidade diferindo de unidade.

As pinturas Renascentistas,para Wölfflin, seriam lineares (os contornos das figuras são perfeitamente delineados e elas recebem luz de maneira uniforme),planares(os planos de profundidade são paralelos), fechadas(a composição é equilibrada, com figuras secundárias ou cenário “fechando” o quadro em torno da figura principal) e unidas(essa categoria se refere à maneira como cada elemento parece isolado pela luz, tendo sua cor própria, independente da influência de outros elementos).


ESCOLA DE ATENAS(1509-1511) Rafael, afresco na Stanza della Segnatura,Vaticano.

Uma pintura barroca, em oposição, teria os contornos das figuras obscurecidos pelo jogo de luz e sombra(as pinceladas mais ágeis), as figuras não em planos paralelos, mas numa profundidade dada por linhas diagonais, portanto não contidas dentro do próprio quadro por nenhum elemento e cujas cores se misturam, de uma figura para outra, de uma parte a outra da mesma figura.



Seria ingenuidade tentar transferir um a um os conceitos de Wölfflin para o cinema,mas é interessante notar que,pelo menos, uma das características presentes em “Suspiria” e “Máscara do Demônio” é correspondente : o uso da perspectiva em diagonal.

A “sofisticação” a que se refere Aumont é aquela que já discutimos aqui (ver postagens sobre o "Rococó") e que claramente está presente no cinema de Bava e Argento na forma de elementos de cena que muitas vezes são lançados para o primeiro plano, indo além da construção de cena comum, em que os atores estariam em primeiro plano e o restante seria meramente descritivo (para sabermos que aquilo é uma floresta e que as pessoas envolvidas são monges). Aqui o conjunto ganha em expressividade(não vamos falar em “expressionismo” pra não complicar de vez as coisas) e dramaticidade. Dramaticidade, aliás, conseguida também por meio do violento jogo de luz e sombra “caravagesco”. Mas , é bom sempre repetir, não da par ser sistemático quanto a  isso: são apenas aproximações possíveis.

                                          Rembrandt: A ronda noturna(1642)

Apenas para que o leitor não fique alheio: Como maneira de se definir o barroco, ou mesmo de procurar um meio de explicar o que define um estilo artístico, a análise de Wölflin, apesar de criteriosa e instigante, é considerada ultrapassada porque

permite uma análise sistemática do próprio produto artístico que se limita à sua descrição,compreensão e explicação,sem considerar a expressão de juizos de valor:fornece o método para reconhecer o mecanismo e o código de cada poética, excluindo a interpretação valorativa e intuitiva da obra de arte,inclusive o recurso análise extra textuais,como baseadas em documentos históricos

(CALABRESE,1987,24)

BIBLIOGRAFIA UTILIZADA

AUMONT, Jacques/ MARIE,Michel. Dicionário teórico e crítico de cinema. São Paulo: Papirus,2003.

AUMONT, Jaques. O olho interminável (cinema e pintura).São Paulo: Cosac Naify,2004.

CALABRESE, Omar. A linguagem da arte. São Paulo: Globo,1987.

WOODFORD, Suzan. A arte de ver a arte. São Paulo:  Circulo do Livro, 1983

Sobre Dario Argento , Suspiria e Mario Bava (fontes digitais)


Os esqueletos da imagem: o enigma do espaço em Dario Argento, por Jean-Baptiste Thoret ( Tradução: Luiz Soares Júnior). Disponível em:
http://dicionariosdecinema.blogspot.com/2011/02/o-esqueleto-da-imagem-o-enigma-do.html

Dario Argento- by Xavier Mendik. Revista digital "Senses of Cinema". Disponível em:
http://www.sensesofcinema.com/2003/great-directors/argento/

Kinoeye - new perspective on european films - edição especial Dario Argento. Disponível em:
http://www.kinoeye.org/index_02_11.php

Mario Bava’s Black Sunday aka The Mask of Satan By Christopher J. Jarmick. Disponível em:
http://www.sensesofcinema.com/2003/cteq/black_sunday/

























AUMONT, Jaques. O olho interminável (cinema e pintura).São Paulo: Cosac Naify,2004.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

CINECLUBE GAMBALAIA -09/06

Dia 09 de junho ,  às 20h, o  CINECLUBE GAMBALAIA exibe




Duplo Suicídio em Amijima( Japão,1969 – 104 min.) de Masahiro Shinoda



Uma estranha e terrível história de amor  entre um homem casado e uma gueixa.

Incapazes de levar a relação adiante eles decidem:farão amor uma última vez antes de cometerem suicídio.



Uma das obras-primas da Nouvelle Vague japonesa, ousada fusão de cinema, teatro e bunraku (teatro de bonecos).

Grátis !

 
** Após o filme,  exibiremos cenas de “Cega Obsessão” de Yasuzo Masumura.

Espaço Cultural Gambalaia – R. das Monções, 1018



Santo André - SP - f. (11) 4316-1726



http://www.gambalaia.com.br/