terça-feira, 30 de setembro de 2008

CACHORRO,NÃO !

O documentário Waldick- Sempre no Meu Coração, dirigido por Patrícia Pillar (e de que já falei neste blog)passa hoje às 22h no Canal Brasil.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

BELEZA E SIMPLICIDADE EM "MESA PARA DOIS"


Uma garota é contratada por Milo, um escritor com bloqueio criativo que quer alguém para conversar ( vale notar que ele na verdade é o Lourenço Mutarelli, para quem o álbum é dedicado). Em paralelo, vemos que ela trabalha num restaurante onde conhece um garoto de cabelos bagunçados. Ele, nas horas vagas é músico, mas não um rocker estiloso, mas um trompetista de uma orquestra que toca em bailes onde a maioria dos freqüentadores são idosos.
Eles pegam lotação juntos e às vezes conversam. Ele gosta dela, ela não sabe.
Foi sem pretensão ou grandiloqüência que os gêmeos paulistas Fábio Moon e Gabriel Bá , vencedores em três categorias do Eisner Awards (o Oscar dos quadrinhos) deste ano, conseguiram com este "Mesa para Dois"(Devir) algo raro (até mesmo no cinema, principalmente o brasileiro) : construir uma história simples (apenas na forma) mas encantadora sobre a incompletude de todos nós ,a dificuldade que temos em nos comunicar e sobre a importância das pequenas coincidências em nossas vidas.
O senhor Milo diz que a gente não enxerga as coisas que estão bem debaixo do nosso nariz”, diz a garota. Verdade.

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dedicado especialmente ao casal Mário e Leila (e à Sophia também !)

terça-feira, 23 de setembro de 2008

O QUE FAZ VOCÊ FELIZ? - continuação

Só como complemento ao "o que faz você feliz", vale dizer que na chamada para o programa Dr. 90210(ignoro o nome que ele tem na tv aberta), reality show sobre a vida de um cirugião plástico exibido pela RedeTv! domingo passado a apresentadora anunciava que iriram mostrar "como a operação plásica pode melhorar a vida profissional de alguém".
Também em outdoors pode se ver o anúncio de uma marca de calçados infantis cujo slogan é "a sandália que faz o meu mundo mais colorido".
Em comum a ambos a noção de que uma transformação externa leva a alguma forma de melhora na vida ( o "colorido"). Isso, calro, vaoi na contramão de toda psicanálise, para quem os desonfortos tem,na realidade, origem intena. Não é nem a posse de um bem, ou a conquista de um "grande amor", ou o "banho de loja" que elimina as angústias (usando os termos om toda liberdade a que um não psicológo pode ter).

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

NELSON RODRIGUES E O LEMA " O QUE FAZ VOCÊ FELIZ?"

O conto O Pastelzinho, de Nelson Rodrigues, que pode ser lido no livro “A Coroa de Orquídeas e outros contos de A Vida como ela É” (Companhia das Letras) é um dos cinco encenados pela Cia Paulista de Artes na peça As Noivas de Nelson, que tem direção e adaptação de Marco Antônio Braz. Segue um trecho:

Muito carioca, estabanado, Sérgio mudava diante da noiva assim doce e assim macia. Sem querer, ele a tratava com relativa e involuntária cerimônia. O chamado “beijo bem molhado”era a máxima liberdade formal que se permitia. Mas, na véspera do casamento, ela o chamou de lado.No seu jeito manso, começou:
- Vou lhe pedir um favor, meu filho.
Abriu-se:
- Pois não!
E ela:
- Eu não queria que você falasse mais em “beijo molhado”. Acho tão sem poesia!
Pela primeira vez, Sérgio quis resistir:
- Mas,meu bem,escuta cá- por quê?
Explicou:
- É o seguinte: - quando você fala assim eu penso logo em saliva.
O outro animou-se:
-Mas é por isso mesmo!A graça do beijo está, justamente, na saliva meu anjo.-E insistia, já inspirado:-Na mistura de saliva.
Dalva encerrou a discussão com sua doçura irredutível:
- Eu não penso assim.
Sérgio transigiu, imediatamente:
- Está bem, coração. Todo meu interesse é de te agradar
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Acerca dos personagens de Nelson Rodrigues, Ruy Castro diz na apresentação do livro “O Melhor do Romance, Contos e Crônicas” (Companhia das Letras/Folha de São Paulo) que eles são “homens de bem, senhoras honestas e virgens de catorze anos, roídos por fantasias inconfessáveis”.
É interessante notar o quanto isso mudou, o quanto a sexualidade reprimida dos tempos de Nelson (e que levava seus personagens a situações constrangedoras e de desespero) hoje é escancarada. Basta dizer que qualquer celebridade de quinta categoria hoje faz um filme pornográfico e vai a programas de TV divulgar seu “trabalho”. Isso não pode ser explicado apenas pelo que se chamaria de “evolução dos costumes”, mas sim por uma cultura que privilegia o prazer e a felicidade do indivíduo acima de tudo. A evolução ocorreu sim e uma peça como Beijo no Asfalto, em tempos de Parada Gay, soa até estranha. E se um dia já foi considerada valorosa e “decente” a mulher que permanecia virgem até o momento do casamento, hoje ela é motivo de, no mínimo, estranheza. Mas há mais do que apenas a evolução da sexualidade rumo a uma maior liberdade.
Hoje a obrigação é ser feliz, e o que conta mesmo é o Indivíduo, e não há porque se colocar entraves à satisfação de nossos desejos (sexuais, de consumo ou de outra ordem). Daí muito daquilo que antes era moralidade ser hoje tabu, (por exemplo, a virgindade).
A publicidade o tempo todo nos mostra imagens de pessoas felizes (O que faz você feliz? -nos pergunta um anúncio da rede Pão de Açúcar) e que assumem uma postura vitoriosa diante da vida. Ficamos assim numa obrigação de sermos “vencedores” e “felizes” (passando por cima de tudo quanto de abstração há nestas palavras). Se não nos encaramos nem como vitoriosos nem como felizes (e se todo sofrimento é inaceitável, toda dor, um defeito) temos sempre à mão nossas soluções mágicas, que já não são mais os patuás benzidos ou as fitinhas trazidas de alguma romaria, mas sim produtos de uma sociedade que mesmo quando é religiosa, se mostra “científica” e, quando se diz “científica”, é quase mística.
Temos desde as pílulas do amor e as da felicidade a inúmeros livros de auto-ajuda que nos “ensinam” a obter “sucesso” e ter uma vida “vitoriosa”, curiosamente as mesmas promessas feitas por tele-evangelistas, padres cantores e todo um sem número de crenças religiosas, que, ao contrário do que vemos nas peças de Nelson, buscam não mais recalcar, mas exacerbar. Se, por um lado, seus problemas podem ser resolvidos engolindo alguma pílula, eles também podem desaparecer apenas assumindo a atitude “correta” (seja ela o “pensamento positivo” dos livros ou a afirmação da fé, ou mesmo algum tipo de doação)
A transformação da aparência é apenas outra face da solução mágica. Não é de surpreender a busca desesperada pela operação plástica ou a crença (literalmente) no poder de um banho de loja. Acredita-se, do mesmo modo, que mudando o “visual” muda-se a personalidade – os livros de auto-ajuda falam em “mudança de atitude”; o “banho de loja” que muda para melhor a vida de uma pessoa é comum em filmes, principalmente as comédias românticas e é apresentado como o primeiro passo para a superação dos obstáculos apresentados ao protagonista( a conquista do grande amor , o sucesso no emprego, etc). Essa crença na personalidade “ideal” conseguida através da construção da identidade (maquiagem da aparência) está no cerne da existência, por exemplo, dos sites de relacionamento e boa parte da comunicação via internet. É no universo virtual que se transforma naquilo que se gostaria de ser e assim se apresenta aos outros.
O que a idéia de soluções mágicas traz consigo é que tudo está ao seu alcance (o que faz você feliz?) , basta assumir a atitude correta. Portanto o “fracasso” ou a frustração gera toda uma nova gama de males, como síndrome do pânico, consumismo, ninfomania e depressão (vale notar que Freud se referia apenas à melancolia).
É o mal-estar da pós-modenidade.

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não há nada de especificamente psicanalítico na idéia de depressão. Na verdade,pode-se afirmar que a depressão,na forma como a concebemos hoje, é produto tanto da influência sutil da indústria farmacêutica no modo como encaramos nossa vida emoional quanto da medicina psicológica. Os fabricantes de antidepressivos fazem questão de que a aflição seja entendida como depressão para criar a necessidade dos seus produtos” diz Jeremy Holmes no pocket book “Depressão” (Ediouro/Duetto).

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Que as drogas tenham se tornado uma epidemia não surpreende. Elas são a maneira mais rápida e fácil de se obter prazer e esquecer frustrações.

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Não passa nem perto das intenções desse texto dizer que a obra de Nelson Rodrigues está ultrapassada. As figuras de filhos dependentes, mães castradoras, sogras dominadoras e toda sorte de tipos urbanos estão vivíssimos. E o repórter justiceiro e oportunista de Beijo no Asfalto só trocou os periódicos sensacionalistas pela TV.

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A peça As Noivas de Nelson está em cartaz no Teatro Arthur Azevedo (av.Paes de Barros,955-Mooca) até o dia 28 deste mês que é também quando sai de cartaz Senhora dos Afogados, dirigida pelo gigante Antunes Filho, que está no Sesc Consolação (r.Dr.Vila Nova,245- região central).

PAPO DE BALCÃO

- Um grande abraço para o superamigo Zidane, cuja identidade secreta é o jornalista do Diário de São Paulo, Fábio Saraiva !

- Reproduzo aqui o recado do Nicolau Soares, jornalista do site Futepoca (futebol,política e chachaça). Já visitei e recomendo. Ao recado : O Futepoca (www.futepoca.com.br) está com a promoção Praga do Zé que vai premiar com três exemplares do Prontuário 666 (ed. Conrad) as melhores pragas de futebol. Vale texto, vídeo, charge, desenho, repente, cordel etc. contra time de futebol, jogador, técnico, cartola... É só ver no blog como participar. Aguardamos as contribuições!

- Um abraço também para a e para o retorno do Daniel Lupi !

- E finalmente ao Anderson (Dj Mandio) que mesmo sem poder postar comentários, continua visitando este Bar1211 !

NELSON RODRIGUES EM HQ- O GRANDE DILEMA

Na hora de se fazer uma adaptação de Nelson Rodrigues, uma HQ sai em larga desvantagem em relação ao cinema e o teatro. Nestes, os diálogos perfeitos de Nelson podem ser reproduzidos com pouca ou nenhuma alteração. Já numa história em quadrinhos eles têm obrigatoriamente de ser mutilados e espremidos para caberem dentro dos balões, o que é uma agressão e tanto à obra do dramaturgo. Agrava ainda o fato das palavras disputarem a atenção do leitor com a força da imagem . Sendo assim, talvez (o grifo aqui é importante) uma adaptação ideal de Nelson devesse ter os diálogos deslocados do quadro onde estão inseridos os desenhos, ou, como na obras de Will Eisner, os desenhos ficariam melhor soltos na página, livres dos quadros, com mais espaço para o texto. Mas essa versão de Beijo no Asfalto graphic novel da dupla Arnaldo Branco e Gabriel Góes publicada pela Via Lettera tem seus triunfos: o desenhos “relaxado”, ajuda a compor a caráter dos personagens. Arandir, que está na desconfortável posição de ser acusado por um jornalista de homossexualismo (que é tratado como um crime- voltamos aqui ao post anterior) tem o corpo pequeno em proporção à enorme cabeça, que o fragiliza. O delegado boçal e violento por vezes tem o rosto deformado em relação aos desenhos anteriores, o que mostra bem sua mutação perigosa de personalidade. Isso sem falar nos violentos jogos de preto e branco das imagens, que têm tudo a ver com essa história onde se opõem obscurantismo retrógrado e ingenuidade,certo e errado, inocência e culpa acusadores e acusados, discurso proferido e os desejos inconfessáveis.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

PAPO DE BALCÃO – DE VOLTA AO BATENTE

Depois de fechar uma semana para balanço, este Bar1211 reabre as portas. Sem enrolação, vamos aos abraços e agradecimentos (aliás, isto aqui está muito bem freqüentado!) a quem apareceu aqui pela primeira vez:
Ao magro de alma gorda, André di Peroli ator e idealizador da peça Hoje Acordei Gorda, que aliás deve reestrear em breve. Avisaremos assim que isso acontecer.
Stella Florence, autora do livro que inspirou a peça, por ter visitado este Bar1211.
Jô Barranova, contista e poeta que milita pela democratização da cultura em Santo André com afinco invejável. Pouca gente têm a propriedade que ela tem quando diz que “No subsolo. É assim mesmo que as coisas acontecem nesta cidade.”
E, Maria Batatais, garanto que as letrinhas chatas na hora dos comentários não vão mais dar o ar da graça.

O MISTÉRIO DO SAMBA – POR ONDE ANDAM OS SAMBISTAS?

O Mistério do Samba, de Carolina Jabor e Lula Buarque de Hollanda é um filme imperdível por mais de um motivo; não só por ser belíssimo, mas também por seu caráter documental, de raridade mesmo.
A memória do brasileiro, diz a sabedoria popular, é curta. E é para corrigir este problema, que este documentário serve.
Artistas brilhantes e esquecidos existem em qualquer gênero musical de qualquer país. Muita gente boa, por um motivo ou por outro acabou jogada para escanteio ou recebendo um reconhecimento tardio. Pode-se dizer isso de Ike Turner, que pouca gente sabe, foi autor de “Rocket 88”, primeira composição de rock and roll, mas que ficou famoso pela violenta convivência com a ex-mulher, Tina. King Keppard, maior músico de Jazz de seu tempo, que poderia ter se tornado o primeiro artista do gênero a ser gravado (o que não o fez por medo de que outros músicos aprendessem a tocar como ele após ouvirem o disco). Aqui, entre tantos outros exemplos, poderíamos citar Johny Alf, precursor (e transcendente, nas palavras de Ed Motta) da bossa nova que acabou ofuscado pelo gênero que poderia tê-lo consagrado. Pode acontecer até com quase todos os grandes nomes de um gênero musical. Foi assim com um a soul music, que “morreu” ao surgirem seus desdobramentos, o funk e a disco, até renascer nas gargantas de Joss Stone, Amy Winehouse e Duffy. O ocaso destes músicos, compositores e cantores é mostrado no filme “Only The Strong Survive”, de que já falamos aqui neste blog (no post sobre Isaac Hayes).
No entanto, quando isso acontece com todo um gênero musical vivo e pulsante, podemos dizer que os motivos são outros e bem mais mesquinhos.
Não foi só a ganância das gravadoras multinacionais que afastou boa parte dos sambistas do grande público, mas há um sistemático isolamento das velhas-guardas que acontece dentro das próprias Escolas de Samba, que em certo momento passaram a privilegiar o espetáculo em detrimento das composições. Disso padeceu Jamelão, que morreu tendo sua carreira como cantor de sambas-canção e grande intérprete de Lupicínio Rodrigues quase completamente esquecida.
O grande público hoje ignora, não um ou outro, mas quase todos os grandes nomes do samba. E, infelizmente, iniciativas como esta O Mistério do Samba são raras. Para uma comparação, vale ver quantos documentários sobre jazz estão disponíveis nas lojas de DVDs. De alguns oportunistas, como “Lois Armstrong – um retrato íntimo do pai do Jazz” (que erra já no título, ao atribuir uma paternidade que não é dele) de John Akomfra, até o magnífico “Jazz”, de Ken Burns com mais de 12 horas de duração, há uma oferta enorme. Tivemos, é verdade, Cartola – Música para os olhos, Paulinho da Viola- Meu tempo é hoje e a ficção Noel, o poeta da Vila . É pouco. A TV, os jornais e as revistas também só raramente se lembram do samba, muito menos de seus ídolos.
Agora, sobre o filme propriamente: acompanhamos durante os pouco mais de 70 minutos de duração, a cantora Marisa Monte, (por vezes acompanhada por Paulinho da Viola e Zeca Pagodinho) na busca por canções nunca gravadas de grandes compositores da Portela. Nessa jornada, que durou aproximadamente dez anos e gerou, além deste documentário, três álbuns, nos deparamos com entrevistas históricas como as primeiras de Argemiro Patrocínio e Seu Jair do Cavaquinho. Históricas porque, por iniciativa deste projeto, eles gravaram seus primeiros discos somente em 2002, respectivamente, com 80 e 79 anos (ambos morreram durante a produção do filme, Argemiro em 2003 e Seu Jair três anos depois).
É absolutamente encantador de se ver (e ouvir) como o samba é vivo, como continua passando de geração a geração e como pulsa nas comunidades, mesmo que distante da mídia.
Das muitas histórias deliciosas, veremos Seu Jair contar que saiu de casa às broncas da esposa, que se irritava com o fato dele ir para o samba, onde estaria rodeado de mulheres. Ao retornar, percebeu que estava trancado para o lado de fora. Só com muita conversa é que conseguiu entrar em casa, onde, na maior cara de pau, apresentou à companheira o samba “Voltei”, criado durante a noitada:

Voltei, voltei
Já chegou quem lhe socorre
Já lhe avisei
Que por falta de amor
Você não morre
Voltei pra matar os desejos seus
Pra não me esquecer a quem não me esqueceu
Lhe adoro tanto criatura
E o nosso amor ainda não morreu


Já Argemiro Patrocínio canta “Solidão”, de versos rascantes como: “É dor, angústia e sofrimento/ O tédio é um eterno tormento/Assim é a solidão” para logo em seguida, sobre o mesmo tema disparar que “pelo menos pra isso a mulher serve, pra brigar. Tem vezes que isso faz falta”.
Com se tudo isso não bastasse, vale ainda dizer que será literalmente impossível segurar os aplausos após as apresentações musicais (feitas em botequins e barracões), como se elas estivessem acontecendo ali mesmo no cinema.
É bom corrigir, O Mistério do Samba não é só imperdível, é obrigatório.

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Podemos ouvir samba tradicional aqui no ABC com o projeto Samba de Terreiro de Mauá, que inclusive já trouxe para uma homenagem, outro compositor esquecido, o octagenário Xangô da Mangueira. É um trabalho de resgate não só de sambas antigos, (semelhante ao que faz o Berço do Samba de São Mateus), mas também de uma tradição, a de tocar numa roda em volta de uma mesa, emendado um samba com o outro e, por vezes, contando histórias entre eles. Em cada apresentação há também exposição de capas de discos históricos e raros, livros, pinturas outras coisas ligadas ao universo do samba. Neste sábado (dia 13) eles estarão no Bar SET, avenida Padre Anchieta 230 em Santo André, por volta das 21 h.
Quem quiser conhecer um pouco mais pode visitar: http://www.terreirodemaua.blogspot.com/

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No caso da memória da nossa cultura musical, as majors (grandes gravadoras multinacionais) fizeram de tudo para encurtá-la ainda mais. Jogaram carreiras num buraco tão profundo que acabaram tragadas, elas também, para dentro dele. Num dado momento, trataram de fazer duas coisas: investir em modismos, com criação (promoção) de artistas em linha de produção (foi assim com o sertanejo, depois com o axé e o pagode), sempre copiando ao de maior sucesso no gênero. Para isso, viciaram as rádios a só tocarem músicas mediante o famigerado jabá (valor pago pela gravadora por música executada ou incluída nas “mais pedidas do dia”. E trataram também de desmontar a cultura do álbum musical, ao investir na venda de coletâneas com as “melhores”músicas de cada artista e nos “Ao Vivo”. Não havia a necessidade de se investir na gravação de um novo disco e o lucro, conseqüentemente, era bem maior. Com interesse concentrado num único gênero musical por temporada e fazendo o possível para despersonaliza-lo ao máximo (desagradando ao menor número possível de pessoas) gente muito boa foi sendo esquecida, as grandes composições foram rareando e o gosto popular, se degradando. Chegou a pirataria dos CDs e o MP3 e as gravadoras, sem nomes consistentes, sem a cultura do disco físico (que valorizava não só a música, ma a capa e o encarte) que eles trataram de destruir , desmoronaram. Com elas, foram suas lacaias, as rádios FM, que agora estão nas mãos de outras empresas (Mitsubishi Motors, Oi, Sul América).

EU NÃO FUI CACHORRO NÃO! – O ÚLTIMO UIVO DE WALDICK


Waldick Soriano, morto na última quinta-feira é figura central do livro Eu Não Sou Cachorro Não(Editora Record) de Paulo César de Araújo (o mesmo da biografia censurada de Roberto Carlos). Nele o autor mostra o preconceito da imprensa que ignorou o fato de que os “cafonas” foram tão perseguidos e censurados pelo regime militar quando os “inteligentes” (aspas enormes) da MPB. Mas também o de gente ligada à música, como Nelson Motta, que em seu livro de memórias “Noites Tropicais” “esquece”. (aspas maiores ainda) que escreveu a música “Drama Passional” em 1976 para Odair José.
Mas o mais interessante é que ele desmonta o conceito de “cafona”.Para ele, as definições tradicionais (grandiloquecia, sentimentalismo exagerado e artificial) também se aplicam perfeitamente a músicas consagradas como, por exemplo, Rosa, de Pixinguinha que tem versos “Waldickianos” como tu és a forma ideal, estátua magistral, oh ! alma divinal. No entanto, só se chama de “cafona”ou “brega”a musicas de artistas de apelo abertamente popular. Paulo César separa a música brasileira em duas tendências: a tradição que engloba toda música feita até 1945 e a modernidade ou tudo o que veio depois de 1950. A produção musical entre estes períodos seria tachada de “baixo nível artístico”. Assim, à toda a geração de cantores e cantoras do rádio (Nora Ney, Cauby e Ângela Maria inclusos) seria legado o limbo. E todos aqueles não identificados com as duas vertentes (como as canções aboleradas) seriam “cafonas”. Sofreu com isso também Nelson Gonçalves, que teria várias vezes negado o direito à gravação de sua voz e depoimentos no MIS (Museu da Imagem e do Som).
Já nosso man in black de beira de estrada, nosso Johnny Cash de coração mole, Waldick ainda poderá ser visto mais uma vez quando (se) estrear em circuito do documentário “Waldick, sempre no meu coração” feito ano passado pela atriz Patrícia Pillar e que foi exibido na Mostra de Cinema de São Paulo deste ano em duas apresentações.

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A opção é sempre por entrevistar artistas articulados, bem vestidos e com livre trânsito em festas badaladas, bairros nobres e casas de empresários colunáveis. Os motivos vão desde o eficiente trabalho das assessorias de imprensa destes artistas, que tratam de “plantá-los” em colunas sociais e eventos cheios de jornalistas bem como ao extrato social preconceituoso de onde vem os jornalistas das editorias de cultura (sem generalizações, claro), que têm uma noção bem particular de “bom gosto” e acham que um Seu Jorge ou uma Ana Carolina têm muito mais a dizer do que tinha, por exemplo, Argemiro Patrocínio. “O Mistério do Samba” e “Eu não sou cachorro Não” provam bem o contrário.