sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

ALAN RESNAIS 4

Amanhã, ao meio dia, o Espaço Unibanco exibe "Stavsky ou o império de Alexandre", de 1973 e último filme do ciclo dedicado ao cineasta francês Alan Resnais. Stavsky é a identidade falsa que o industrial golpista Serge Alexander (que realmente existiu) usa para viver entre os endinheirados parisienses dos anos 1930 . Só que um ele se envolve em um escândalo que quase causa uma guerra civil.
Trago mais uma trascrição do livro -catálogo "A Revolução discreta da memória".

"Mas já é tempo de abordar o tema profundo deste filme. Não se trata do retrato de Stavsky, mas do personagem que ele fingia interpretar.Não é um estudo do caráter, mas o de uma mise en scène.Não é uma imagem realista, mas a análise de uma ilusão(...)para quem presta de fato atenção a este filme, não é a ´realidade` que descreve Resnais.Ele nunca surpreende seus personagens, nem revela sua ´interioridade`. Eles são sempre vistos por intermédio de um outro. Organizadores ou sujeitos de um espetáculo. (...) É revelador. A proposta de Resnais não possui ambiguidade:ele não faz um filme mundano, mas um filome sobre a mundaneidade"

- Frédéric Vitoux, Positif nº 161, setembro de 1974

Os ingressos para "Stavsky" custam R$ 5,00.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

AS ENCHENTES E SUAS IMAGENS

Esqueça o chavão “uma imagem vale mais do que mil palavras”. Vemos o tempo todo, na TV, imagens de [pessoas chorando, de casas inundadas , de pessoas que morrem soterradas. Isso tudo sempre acompanhado da descrição redundante “as famílias perderam tudo”ou algo do tipo. Transcrevo um trecho da reportagem de Mariana Barros e Afonso Benites, publicada pela Folha de São Paulo ontem (quinta feira, 21) e que falava do protesto de moradores da Cidade Dutra após terem suas casas invadidas pelo esgoto.

“Encheu de cocô aqui dentro”diz Luciemeire, abrindo o armário onde guarda as
roupinhas da filha Rayane,1,que iria passar a noite de ontem na casa de
vizinhos.”Quando a água entrou , pus minha filhaminha filha em cima da mesa. Mas
começou a boiar”,conta Lucimeire, qe entrou em desespero quando viu a filha cair
na água suja. Ela foi salva pelo irmão, que subiu em uma cadeira e a colocou em
cima da geladeira”.

O impacto destas linhas supera o de todas as reportagens de todos os telejornais juntos. É buscar o íntimo ao invés do geral, é se ater aos detalhes, ao invés do genérico.
A primeira equipe a entrar na pousada destruída pelo desabamemnto em Angra dos Reis foi da GloboNews. O repórter ficava só descrevendo aquilo que víamos, como se não confiasse na imagem. Domar a imagem, dar a ela um rumo, um sentido, é para aquele grupo seleto familiarizado com o cinema, com a arte de um Alan Resnais, por exemplo. Tinha lá uma pedra gigante, impressionante e o repórter : “essa é a pedra que caiu na pousada”. Mas é claro que ninguém a colocou lá. Dez segudos de silêncio e somos automaticamente levados e imaginar a violência daquela pedra sobre as coisas e as pessoas que lá estavam. Mas esse tempo o repórter nos sonegou, empobrecendo a informação. E, bem, tolice dizer que imaginação não cabe no jonalismo, tolice desde os anos 1960. Já vi casos bem engraçados, como um que o extinto programa do Reynaldo Gottino falva contra a práica de soltar balões. O apresentador gritava com aquele estilo que mesclava pânico e bronca de chefe de departamento. Não adiantou, as imagens do balão voando eram tão encantadoras que ninguém conseguia dar bola para o falatório histérico. E, quando o balão caiu e queimou, já era tarde demais.
O telejornalismo domina mal a imagem e, não raro, é dominado por ela.
PS. Agora, se a Glória Vanique estiver na frente das câmeras, tudo o mais é perdoável.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

ALAN RESNAIS 3 – MEDOS PRIVADOS EM LUGARES PÚBLICOS


Quem quiser pode fazer uma dobradinha com outro filme de Resnais (menos radical que Ervas Daninhas), "Medos privados em Lugares Públicos", em cartaz no HSBC Belas Artes há inacreditáveis três anos e meio. Resumidamente trata de três homens e três mulheres, todos solitários e que vivem no mesmo bairro, mas não se conhecem. Seus destinos irão se cruzar durante quatro dias. É adaptação de uma peça de 2004 de Alan Ayckbourn.
Reproduzo trechos do que disseram alguns críticos (material que que está em “A revolução discreta da memória” catálogo da mostra de 2008 do CCBB dedicada ao cineasta).




“Corações(título de Medos Privados em francês) poderia perfeitamente
intitular-se Sexos. Catedral translúcida, o filme é povoado por erotômanos
discretos: Dussulier de queixo caído diante de um vídeo pornô, os secretos shows
onanistas de uma beata, tagarelices obcenas de um um impotente, soldado bêbado
que propõe um último gole a sua ex-companheira(...)A solidão é patente e, antes
de tudo, sexual: um barman sua libido no culto à memória da mãe morta, uma
pequena Bovary puritana condena a porn addiction de seu irmão, mas freqüenta os
anúncios que nunca sabemos se são de amor ou de sexo”- Hervé Aubron, Cahiers du Cinema.



“Cada lugar de Medos privados é cortado em dois por uma
divisão fantasma, uma neve interior, parede no meio de uma janela, no primeiro
apartamento, cortina no bar do hotel Globe, divisória de vidro na agência
imobiliária, apenas perceptível pela lateral, porta aberta no quarto do pai, no
apartamento de Lionel”- Emmanuel Burdeau – Cahiers du cinema





“Algo, porém, soa estranho: o colorido dos cenários(...)certa disposição dos
espaços, que descolam não tão sutilmente da vida real. Aos poucos esses
personagens deixam de ocupar o lugar estático que tinham na narrativa e buscam
novas acomodações(...)a cada momento nos damos conta de que cada personagem tece seu próprio labirinto. Ele o esconde sob uma identidade, sob a aparência de uma
unidade. Mas Resnais parece que vai dispondo espelhos dentro de cada um,
enquanto a história se desenvolve, multiplicando-os, tornando-os ao mesmo tempo
quebradiços e estilhaçados mas também surpreendentes em sua diversidade e ricos
em seus paradoxos” – Inácio Araújo, Folha de São Paulo

Quem leu a postagem anterior entendeu por que esses paradoxos podem assustar o espectador. Ainda mais quando a norma hoje em cinema é acelerar o ritmo das cenas, diminuir sua duração e focalizar na ação. Volto ainda esta semana a falar sobre as convenções do cinema, tratando do cinema clássico.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

ALAN RESNAIS 2 – O QUE É CERTO NO CINEMA?


O Espaço Unibanco de Cinema (Augusta) exibe amanhã em sua Sessão Cinéfila (12h- ingresso a R$5) o filme "Ano Passado em Marienbad"(foto) como parte o ciclo Alan Resnais. "Marienbad" é, junto de "Hiroshima Mon Amour" o filme mais importante de Resnais. Seu foco, no entanto, está no tempo e na forma de representação; quem for ver poderá notar omo ele faz uso do som, que não serve para completar uma cena, mas sim para colocar uma narrativa dentro da outra. Diálogos e sons pertendentes a outro tempo da história narrada, por exemplo.

Bom, semana que vem prossigo com a análise da obra de Resnais focando outro filme seu em cartaz, "Medos Privados em Lugares Públicos". Hoje, no entanto, me dedico a destacar a diferença entre sua maneira de narrar e a dos filmes hollywoodianos.


Como se constrói um filme? Digo, não todo filme, mas sim aqueles que tomam conta das salas dos Cinemark ou da programação dos canais a cabo. Ou mesmo uma novela. Dou uma dica que vem do livro "Como aprimorar um bom roteiro", de Linda Seger (ed. Bossa Nova):

“O objetivo é parte essencial do drama.É comum ouvir a pergunta´mas, afinal, oque esse personagem quer?´ Sem um objetivo claro em mente, a história fica vaga e se torna extremamente confusa”

“Também já vimos filmes em que o personagem parece irritado, perde a cabeça ou se apaixona, sem que haja alguma razão aparente que justifique esses estados de espírito. O que acontece nesses casos é que a motivação do personagem não está clara ou não é forte o suficiente.E se não sabemos por que um personagem está tomando determinadas atitudes, fia difícil nos envolvermos com a história”

Pois bem, são essas convenções que dão o espectador a noção daquilo que é “certo”num filme. O que fugir dessas convenções imediatamente causará estranheza e aí o espectador dirá que “não faz sentido” porque entende que o mundo no filme é perfeitamente ordenado e coerente,mas forçado que é a esquecer da ligação possível entre cinema e a vida, que Resnais explora como poucos. Relação que não precisa ser nem de imitação, nem de redução(caso da maioria dos filmes). Ou seja, já esperamos algo acontecer dentro de cada gênero cinematográfico (falei dos gêneros lá atrás, ao tratar de Abraços Partidos, de Pedro Almodóvar). Há que se entender que quem coloca centenas de milhares de dólares do seu bolso na produção de um filme espera receber uma quantia bem maior de volta. Para que isso ocorra com a maior certeza possível, o filme é submetido de maneira rigorosa ao maior ao maior número possível de fórmulas capazes de gerar empatia com o público, afinal aquilo que é familiar não cria estranheza nem desconforto. E é isso o que querem também as grandes redes exibidoras instaladas nos shopping centers, que o sujeito entre lá para ver o blockbuster da semana e, caso não consiga por causa do horário(o que é difícil dado o número de salas em que passa um mesmo filme-evento) veja um outro que não o desagrade, não lhe cause desconforto. A experiência cinematográfica então passa a ser algo que exige pouco ou nada do espectador que, por conseqüência, fica mal acostumado, pois só vê o que lhe é familiar, fato agravado pela mania de se medir o sucesso de um filme pela bilheteria no primeiro final de semana que praticamente elimina qualquer possibilidade do sucesso boca-a-boca, de se dar a chance para que um filme sem verba para aportar em centenas de salas de uma só vez consiga fazer seu público aos poucos. Mau desempenho inicial é sinônimo de morte certa para o filme. Não deveria, afinal Atividade Paranormal provou que é possível o contrário(se bem que contou com um eficiente marketing pela internet).
Bom, o resultado disso é a criação de um público que só vê(por que é só isso o que passa) filmes simples e de estrutura acomodada que, ao menor contato com algo que quebre a regra, rejeita o filme, dizendo que ele é ruim ou “mal-feito”(a expressão diz muito sobre o que se pensa ser fazer um filme). Por isso não vemos nem nunca veremos um filme de Alan Resnais num cinema de shopping center e por isso também que o público em geral não gosta de seus filmes. É triste porque, para escapar ileso desse moedor de carne que é a máquina Hollywoodiana, é preciso muita personalidade, muita precisão e talento, para fazer o jogo dos gigantes sem entregar algo rarefeito. Estatura para tanto, pouquíssimo tem. Há Clint Eastwood, Tim Burton,Sam Raimi e James Cameron, claro. Mas para cada um deles há dezenas de Michael Bays por aí.


PS. Só depois de yer escrito isso oi que fiquei sabendo que Sam Raimi pulou fora da franquia Homem Aranha, por discordar das imposições do estúdio. A série prossegue, com data de lançamento adiada e novo diretor, certamente alguém bem subserviente.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

ERIC ROHMER (1920-2010)


Esta postagem estava pronta aguardando o momento de ser lançada, mas eis que somos todos pegos de surpresa hoje pela morte de Eric Rohmer. Perto de completar 90 anos (faria em abril) foi, de seus pares da nouvelle vague, o que teve o reconhecimento mais tardio, talvez porque fosse o mais próximo das teorias de André Bazin, que animaram a geração imediatamente anterior, a do neo-realismo. Mas isso não fez dele um cineasta ultrapassado em seu tempo, pelo contrário. Sua poesia era outra. Ao Cinelcube, pois:

O projeto Cineclube do HSBC Belas Artes exibe desde 1 de janeiro um precioso ciclo de quatro filmes dedicados ao cineasta francês Eric Rohmer. Oriundo da revista Cahiers du Cinema, foi integrante da Nouvelle Vage, mas diferia de seus pares, principalmente de Godart por que se seu cinema rompia com o academicismo então em voga na França, não o fazia através da radicalidade da montagem e das experimentações formais e sim pelo uso “abusivo”do diálogo, que traz uma ligação poderosa e fecunda com a literatura. Os quatro filmes pertencem a uma série dos anos 1990 dedicada às estações do ano. O primeiro a ser exibido foi “Conto de Primavera” e esta semana passa o “Conto de Outono”,seguido, um por semana, por Conto de Inverno e “Conto da Primavera”.
Em Conto de Outono, vemos uma série de relacionamentos amorosos se entrelaçando, mas tendo como ponto central Magali, viúva e vinicultora para quem todos teimam em arrumar um par. É sintomaticamente num casamento que tudo chega ao ápice, com dois homens apresentados a ela.Os Contos das Quatro Estações são comédias que tratam de escolhas e suas conseqüências e do compromisso das pessoas consigo mesmas. E é através do falar que se constrói o filme, uma vez que neles isso equivale a uma sessão de psicanálise, onde através do jorro de palavras, os personagens aos poucos se descortinam. Ou seja, muito frequentemente aquilo que eles dizem não corresponde àquilo em que acreditam ou que pretendem fazer. O desejo também tem papel preponderante, uma vez, ainda que surgido do acaso, desarranja as coisas mais certas .
Comum a todos seus filmes era o fato de evitar a todo custo o uso da música incidental (aquela que reforça o sentimento da cena) e os movimentos complexos de câmera, porque Rohmer acreditava sobretudo que a poesia reside não no modo de filmar, mas naquilo que se filma.
O Projeto Cineclube do HSBC Belas Artes exibe esta semana Conto de Outono na Sala Carmem Miranda (97 lugares) ás 19h20 (os filmes do cineclube são sempre exibidos entre 19h e 19h30). Informações pelo tel. 3258-4092 ou em http://www2.hsbc.com.br/hs/quem_somos/cultural/hsbc_belas_artes.shtml?WT.mc_id=HBBR_Dominos049.
O HSBC Belas Artes fica na rua da Consolação, 2423.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

ALAN RESNAIS 1 – AS ERVAS DANINHAS


Tudo o que escrevi a respeito de Blow-Up vale, de certa forma, para Ervas Daninhas, de Alan Resnais, pelo menos naquilo que toca à estranheza que o espectador possa sentir em relação ao filme. Nada surpreendente, afinal Resnais é daquela geração de modernizadores do cinema, que empreende uma revolução modo de se fazer essa arte que se torna parâmetro para tudo o que virá depois, coisa até então não vista desde Cidadão Kane. Embora não fosse da nouvelle vage (afinal seus membros eram críticos da revista Cahièrs du Cinema e tinham uma relação forte com o cinema norte-americano, em especial Hitchcock e Vincent Minneli), seu filme chave, Hiroshima Mon Amour é da mesma época (1960) e compartilha mais semelhanças do que diferenças com Goddart, Truffaut e cia. Vejamos o que disse Glauber Rocha num artigo publicado no Diário de Notícias de Salvador, em 2 de outubro de 1960 :

“Hiroshima deixa atordoado qualquer espectador que o veja pela primeira vez. E
só começamos a ‘descobrir’ o filme muito depois de te-lo visto. É um perigo ver
Hiroshima. Eu por exemplo,não tenho vergonha de confessar que assistir Hiroshima
foi uma das minhas maiores experiências humanas”.

Há diferenças entre o filme de 1960 e o de agora, claro. Mas ao que interessa ao espectador que nunca tomou contato com Resnais ou com o chamado cinema moderno (que é pra quem se destina esse texto) a experiência é a mesma. A chave para “entender” Ervas Daninhas é a da imprevisibilidade do desejo. É de paixão que fala o filme e, por acaso, existe algo mais imprevisível, incoerente do que uma paixão? Pois bem, a forma corresponde ao conteúdo e o filme é incoerente e cheio de situações absurdas, de arroubos, inclusive na “irrealidade” de alguns cenários, no uso da core, da luz, tudo nos entrega a um certo delírio. E como notou muito bem o Inácio Araújo, também tem uma ligação muito forte com o real, na forma da interpretação dos atores e de detalhes como a mulher que ao ver o telefone tocar insistentemente, diz “calma, já vou”. Coisa comum na vida real, mas raríssima no cinema (tem bastante disso em É Proibido Fumar). Esses dois pólos opostos coexistem talvez para nos mostrar o quanto uma vida ordinária de uma pessoa ordinária, pode se tornar absurda extra-ordinária quando se entrega a uma paixão, ou a mais de uma.
Ah, a história? Nem precisaria contar, afinal não é uma trama que se desenvolve com começo, meio e fim e sim aos pedaços, com situações que, sim, umas desencadeiam as outras, mas sem essa relação de causa e efeito coerente do cinema tradicional, mas vamos lá: uma mulher a bolsa roubada, o ladrão pega o dinheiro e joga a carteira fora. Um senhor a encontra e fica imaginando quem é essa mulher. Não parece muito bonita pela foto, mas desperta seu interesse mesmo assim principalmente porque ele percebe que ela é aviadora (por algum documento que está lá). Devolve a carteira para a polícia e fica aguardando que ela o ligue em agradecimento, cria expectativas. E por aí vai, por caminhos tão estranhos quanto podem ser os de uma paixão.
O “segredo”para apreciar este filme é degusta-lo aos pedaços, ver a beleza de cada cena, de cada situação e se identificar com essas incoerências, não com os personagens ou a história. Aí você poderá dizer mais ou menos o que disse o Glauber. Na próxima postagem, outro filme de Resnais em cartaz, Medos Privados em Lugares Públicos.

Ervas Daninhas (Les Herbes Folles) tem 104 min. E está em cartaz nos cinemas :
UOL Lumière(Sala2) às 14h, 16h10 e 18h20, Espaço Unibanco Augusta(Sala5) às 14h, 16h e 22h, no HSBC Belas Artes(Sala Aleijadinho) às14h10, 16h10, 18h20 e 20h30 e no Reserva Cultural(Sala2) às 13h10, 15h10, 19h15 e 21h20.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

CURSO- QUENTIN TARANTINO

Pessoal, dias 19, 20 e 21 de janeiro, às 19h30 (de terça a quinta) acontece o mini-curso O Cinema de Quentin Tarantino ministrado por Sérgio Alpendre, crítico do UOL e do Guia Especial da Folha(Livros, Discos,Filmes). Em ada uma das aulas um tema seguido de trechos de filmes. Na primeira aula, por exemplo, o tema é "Os primeiros filmes. Influências e influenciados" que tratará desde ios filmes de Brian De Palma até o cinema barato europeu e o cinema oriental.
O valor do curso é R$ 150,00.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

PEQUENO GUIA PARA AJUDAR SÃO LUIZ DO PARAITINGA


Faça sua doação. Isso é o mais importante.


Faça campanha, divulgue que QUALQUER batalhão da Polícia Militar recebe arrecadação. Muita gente não sabe como doar nem o que doar.


Mande e–mails, publique em seu blog, twitter, faça panfletos em Xerox e deixe nos comércios de seu bairro.


Atitudes como estas fazem muita diferença para o povo de Paraitinga, Cunha e as outras cidades atingidas pela chuva.
Está ao seu alcance ajudá-los !

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

TV- BLOW-UP


O canal TCM tem renovado seu acervo de filmes e caprichado na programação. Hoje, por exemplo, às 22 h exibe o incontornável Blow-Up- Depois daquele Beijo (1966 – 88 min.), de Michelangelo Antonioni. Filme chave da modernidade do cinema, Blow-Up dialoga tanto com as conquistas da nouvelle-vage quanto com uma obra prima (uma das) de Alfred Hitchcock, Janela Indiscreta, a fim de pensar o cinema, a imagem cinematográfica e seu contato com o público. A história em si é um thriller simples com um fotógrafo de moda que acredita ter acidentalmente, flagrado um crime com sua câmera. Mas é mais do que isso.
É esse pensamento, próprio dos anos 1960, que permite que existam filmes hoje como Hotel Atlântico, Abraços Partidos ou mesmo um diretor como Quentin Tarantino. Ou seja, é um pensar o cinema e levar o público a ter uma relação diferente com o filme que não apenas a de apreciar a história. Não há em Blow Up uma postura de quem tem fé no cinema como arte capaz de catar o real (volto a esse tema em breve), crença que nasce com a fotografia. Bem, mas isso Hitchcock já tinha feito em Vertigo e também em Janela Indiscreta. Quem assistiu lembra da cena da montagem das fotos (que foi recriada com muita inventividade primeiro em Blow Out- Um tiro na noite, de Brian de Palma e depois em Meu Tio Matou um Cara, do Jorge Furtado) . Lá a cada vez que se mexe na ordem das fotos tiradas pelo personagem de James Stewart enquanto bisbilhota o vizinho suspeito de matar a esposa cria histórias diferentes, possibilidades diferentes e, mais ainda, significados diferentes. Ou seja, uma hiostória existe a parir do momento em que se articula uma série de imagens. Elas, por si, não contém um significado fechado, correspondente da realidade.
Em Blow Up esta cena é recriada de outra maneira, o fotógrafo busca também na imagem a verdade para um crime, mas acredita tanto na foto como reprodução do real que passa a ampliá-la mais e mais em busca de algum detalhe revelador, que ele não encontra afinal, quando mais próximo da imagem, menor sua definição e maior a incerteza.
Se em Hitchcock a incerteza acaba em determinado momento em Blow-Up tudo é incerteza, desde o mistério da trama até as ações dos personagens e o tempo toma o lugar da ação, com personagens que vagueiam sem que isso necessariamente seja importante para op transcorrer da história. Antonioni faz isso para questionar a construção de um filme. Em qualquer manual de roteiro, dons muito bons aos muito ruins, recomenda-se não inserir nenhuma ação que não seja indispensável ao progresso da trama e nenhuma ação que não tenha um precedente. Ou seja, se um personagem demonstra ter uma habilidade surpreendente em determinado momento, essa habilidade deve ter sido explicada antes. De maneira semelhante, toda ação deve ter uma motivação, numa das convenções mais idiotas da dramaturgia, afinal, se tem algo que as pessoas são é incoerentes. Quantas vezes você já ouviu uma mãe dizer “eu pensei que conhecia meu filho” ou um marido dizer “e eu que pensei que conhecia essa desgraçada”. Ninguém no mundo age como uma molécula num tubo de ensaio, só mesmo no mundo do cinema. Por isso tudo, Blow Up é um filme estranho, de gosto amargo, principalmente para quem não é acostumado com a chamada modernidade do cinema (Goddart, Truffaut, Glauber Rocha, Nagisa Oshima, etc). Mas, principalmente para esses, é um desafio que deve ser encarado mas com isso em mente: um filme é uma mentira que se passa por verdade. Nada mais.

RECADO AO LEITOR

Bom, após externar a tristeza por São Luiz do Paraitinga este blog volta à sua função de boletim cultural. Mas antes, renovo o recado :
Qualquer batalhão da Polícia Militar recolhe doações para ajudaras cidades do
Vale do Paraíba(São Luiz, Cunha, etc). Doe alimentos não perecíveis(incluindo
leite longa vida), água mineral (que está muito em falta por lá) , roupas ou
produtos de higiene (shampoo, sabonete, absorvente) e limpeza (principalmente
água sanitária). No site da Polícia Militar
http://www.polmil.sp.gov.br/inicial.asp
você pode digitar seu endereço e encontrar o quartel mais próximo de sua
casa. Vale lembrar que 10L. de água mineral custam aproximadamente R$ 10,00, 5 L. de água saniitária ,apenas R$4,99 e 8 rolos de papel higiênico, módicos R$ 2,89. Vamos todos fazer uma forcinha.
Pois bem, convido também os leitores a visitar o blog Contemporartes http://www.contemporartes-contemporaneos.blogspot.com/ extensão da revista eletrônica Contemporâneos, ambos criações da ProfªDrª em História Social Ana Maria Dietrich. No blog, um texto meu (acompanhado de uma apresentação carinhosa da Profa) , uma crítica da HQ Frankenstein, de Marion Mousse, lançada pela editora Salamandra.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

LUTO POR SÃO LUIZ DO PARAITINGA -2









Recebi um e-mail de uma amiga que eu não vejo há muito tempo. Era uma carta de memórias e também (e principalmente) de lamentação pela destruição de São Luiz do Paraitinga de alguém que conhece a cidade muito bem. Reproduzo um trecho :





Que São Luiz consiga se reconstruir... Nunca mais será a mesma porque os
casarões do Século XIX não serão os mesmos... Mas que São Luiz consiga voltar a
respirar cultura... E que viva Elpídio, Cinira, Paranga... E que viva os
bonecões, os carnavais de marchinhas e os São João tradicionais da cidade!





Assim ficou a praça do coreto (o menor, não o que ficava em frente à Igreja Matriz).



As notícias hoje dão conta de que o acervo do músico e compositor Elpídio dos Santos ficou intacto, uma vez que estava numa das poucas casas não atingidas pela enchente. Elpídio(já morto) foi homenageado junto de seu parceiro Afonso Pinto em novembro último na festa de Santa Cecília (foi quando estive lá). A casa do sanitarista Oswaldo Cruz (mais um dos filhos ilustres da cidade) e que hoje é um centro cultural, ficou preservada, pois estava numa parte mais alta da cidade. Já a capela de Nossa Senhora das Mercês(foto - FolhaImagem), construção em taipa de pilão do século 18 não teve a mesma sorte(a casa de Oswaldo Cruz fica no alto da rua que se pode ver no lado esquerdo da foto). Me lembro que passei um bom tempo num sushi-bar onde se reúne o pessoal da SoSaci (associação de defesa do folclore que luta pela implantação do Dia do Saci), observando a capela e vendo as fotos do carnaval que estavam expostas. Aliás, o carnaval deste ano já foi cancelado. Imagino o prejuízo para a economia da cidade, com a perda de empregos e tudo que advém da tragédia. A alegria dos bonecões vai demorar um bom tempo para voltar...

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

LUTO POR SÃO LUIZ DO PARAITINGA




Difícil saber o que dizer sobre a tragédia em São Luis do Paraitinga. Quem acompanha este blog vai lembrar que eu postei algumas fotos de lá sob pretexto nenhum. Não uso este espaço para assuntos pessoais, mas meio que abri uma exceção naquele caso, exceção que abro novamente agora que sei que a cidade deve perder 80 % de seu patrimônio histórico (70 dos 90 imóveis tombados pelo Condephaat) e que 9 mil de seus 10.500 habitantes estavam desabrigados (pelo menos até ontem).
Fico pensando nas pessoas com quem conversei, bebi, dei risada. No genial Afonso Pinto, no barulhento e divertido Totó, nos músicos do Estrambelhados, nas moças todas (algumas de olhar inocente, outras nem um pouco), nos garotos vestidos como se estivessem na cidade de são Paulo, mas sem disfarçar o sotaque “caipira”. Que é deles todos exatamente agora?
Penso também em tudo que se perde de memória. Não só a coletiva, do Patrimônio Histórico,que é uma perda irremediável, mas também aquela dentro das casas das pessoas, as fotos, os documentos, o brinquedo preferido da infância, a roupa de criança de um filho que já se casou. Me lembro de um café que ficava bem próximo ao coreto, aquele em frente à Igreja Matriz, que desabou. Lá havia fotografias do passado recente e distante, da cidade. As fotos estavam enquadradas, junto de mapas e outros documentos e reportagens de jornal que faziam valer o nome ao local de “Café Cultural”. Você sentava, pedia o café e ficava lá vendo aquilo tudo que agora se perdeu definitivamente. Lembro também de um antiquário. A dona do local mantinha no mesmo endereço um espaço cultural, na verdade um porto seguro para os estudantes de humanas da Unicamp beberem e curtir sua MPB mal tocada. Tinha algumas tranqueiras, mas também coisas lindas, muitos oratórios, um deles lindo, imponente e caríssimo, vendido como sendo francês do século 19. Podia ser ou não, mas agora nunca vou saber.
Sempre pensei como forma de conforto que quando alguém muito querido morre, o que fica é a memória, ela vive naqueles que o amavam. O que me angustia bem agora é pensar que em São Luís do Paraitinga, algo dessa memória morreu também.


PS. A Polícia Militar está recebendo donativos e encaminhando para as cidades de Cunha e Paraitinga. Basta ir a qualquer batalhão ou posto policial e entregar alimentos não perecíveis, principalmente leite longa-vida e água mineral.