sexta-feira, 29 de agosto de 2008

MORREU O CRIADOR DA MIRZA

A notícia que era ruim ficou pior, morreu Eugênio Colonese. Ele está enterrrado no cemitério da saudade na Vila Assunção em Santo André. A prefeitura do município, sempre cheia de boas intenções, nunca lhe rendeu uma homenagem maior do que a exposição de seus desenhos no subsolo da biblioteca municipal.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

PAPO DE BALCÃO: ABRAÇOS E RECADOS DO BALCONISTA

Abraços : justiça feita às mulheres
O primeiro(e duplo) vai para a mamãe da Sophia (que está chegaaando) adorável Leila, que nem precisa ficar mais P da vida com este humilde balconista !
E um enorme para os braços, pernas, voz e coração deste blog: minha querida Olga Defavari !!!

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O comentário do amigão Anderson foi muito interessante: Zé do Caixão passando num cinema de Mauá. Talvez a maior barreira foi superada, aquela que faz com que a maioria dos filmes brasileiros(até mesmo alguns da GloboFilmes) fiquem ou restrito aos cinemas da avenida Paulista ou consigam no máximo duas semanas em cartaz em cinemas de shopping.
Aliás, como os links da semana passada foram mal colocados, vai aí novamente os endereços para quem quer conhecer melhor o projeto Vira5Acaba10 : http://www.myspace.com/vira5acaba10http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=42191922http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=42191922
E quem quiser saber o que o site BaresSp achou do dom deles no PuriMuziK dê um pulo em:
http://www.baressp.com.br/fotos/fotos.asp?b=9019

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Altamente recomendado o programa semanal Quadrinhos – A Nona Arte, do canal Brasil (passou ontem 21h) que conta a história das HQs por aqui. Entre os entrevistados (o pesquisador Álvaro de Moya, o ilustrador Patati) está o grande mestre Waldomiro Vergueiro, que já visitou este blog. Na próxima terça-feira, o tema será os quadrinhos de terror e quem assistir verá um pouco mais da Mirza, de que tratamos em nosso primeiríssimo post. Reprise hoje às 15h30 e sábado 12h.

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Infelizmente Eugênio Colonnese, criador e desenhista da Mirza, sofreu um AVC recentemente. Está incapacitado não só de desenhar como de dar aulas de desenho. Com pouco tempo de contribuição ao INSS e sem ainda ter conseguido qualquer befício, sua situação é bastante difícil.

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Saiu um box com três filmes da Blaxploitation (que comentamos no post sobre Isaac Hayes), Rififi no Harlem (1970), O Chefão do Gueto(1973) e Sweet Sweetbacks Bacadassss Song´s (1971) – os nomes são sensacionais!. A nota vale pela curiosidade, uma vez que a distribuidora é a Magnus Opus, o que significa preço alto (cerca de R$ 120,00 a caixa) que nunca entra em promoção.

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Cientistas divulgaram esta semana um estudo que prova que o Homem de Neandertal não era um “parente burro” do Homo Sapiens, era apenas fisicamente diferente. Seu desenvolvimento tecnológico, ficou provado, era equivalente ao de nossa espécie. As razões para sua extinção (que antes era m atribuídas á incapacidade de construir ferramentas eficientes), portanto, permanecem um mistério. Isso vem ao encontro das idéias expressas lá no início deste blog, acerca da ingenuidade das idéias “evolucionistas” que infestam nossa cultura pop.

FAT IS BEATIFUL ! – PEÇA “HOJE ACORDEI GORDA” É UM SAUDÁVEL CONTRAPONTO ÀS NEUROSES DE NOSSA SOCIEDADE



Nossa sociedade é de uma hipocrisia assustadora: inúmeras inovações tecnológicas (a escada rolante e o controle remoto) nos prometem conforto, mas terminam por reduzir drasticamente nossa atividade física total no final do dia. Nos acelera o ritmo de vida e, em nome da conveniência nos oferece o fast-food entupido de gorduras literalmente venenosas (as trans) que, aliás, só com pesada pressão da opinião pública foram ou diminuídas ou informadas ao consumidor de sua existência. E por fast-food entenda-se não só a comida de shopping, mas também aquela coxinha ou pastel que substituem a refeição na correria do dia-a-dia.
A publicidade exclui o gordo de anúncios onde se ofereçam lanches, refrigerantes e cervejas. Neste mundo irreal, todos são não só magros, como atléticos.
O único retrato sem maquiagens dessa realidade cínica e cruel acabou vindo de uma ficção, a maravilhosa animação Wall-E, (ainda em cartaz e na qual deteremos com mais profundidade numa próxima oportunidade). Lá vemos um anúncio de tv de uma empresa, BnL(prováveis siglas para Buy and Live – compre e viva, corrupção da máxima cartesiana do “penso, logo existo”) que promete disponibilizar todo tipo de conforto (espécie de “tudo ao seu alcance”) em um misto de shopping center e condomínio de luxo no espaço. Alguns séculos depois, é mostrada a aterradora realidade: os seres humanos são como animais obesos de laboratórios que mal podem se mover sem a ajuda de cadeiras flutuantes. O corpo, gigantesco, é desproporcional aos membros atrofiados. Desnudada a publicidade, vemos a realidade de todos nós.
Que o ideal de beleza seja hoje a magreza, não é de se surpreender, uma vez que é preciso sobretudo tempo para se manter, ou magro ou tornar-se atlético. Gordura já foi sinal de beleza quando a população era composta por uma maioria absoluta de famintos. Das “Três Graças” de Rubens, no séc17 às várias “Banhistas” de Renoir dois séculos depois, as pinturas nos mostram exatamente isso. Comer bem (muito) já foi um privilégio e fazer exercício físico, um indicativo de trabalho braçal, portanto,de pobreza. Era preciso tempo de sobra para poder engordar.
Engordamos com facilidade, mas não só não admitimos isso como odiamos essa realidade. É no cinema e na TV que declaramos isso. Ao gordo é reservado quase sempre papéis cômicos (o tipo atrapalhado simpático), bizarros (normalmente um porcalhão ou um tipo esquisito) e, às vezes, vilanescos. Se é para ser um herói, que o seja um do tipo atrapalhado, que atinge seu objetivo mais por uma conjunção de fatores (tudo conspira a seu favor), como, por exemplo, num filme do tipo de Kung-Fofo. No limite, temos a horrenda versão de Eddie Murphy para “Professor Aloprado” (cujo original, de Jerry Lewis, será tema de um texto em breve), onde uma família gorda (todos interpretados pelo próprio Murphy) senta-se à mesa como verdadeiros animais, chafurdando a comida, arrotando, peidando, cutucando o nariz e se divertindo muito com isso. Ser gordo é ser nojento, grosseiro e imbecil, nos diz o filme.
“Hoje Acordei Gorda” é um monólogo musical engraçadíssimo baseado no livro de mesmo nome escrito por Stella Florence, adaptado pela dramaturga Adélia Nicolete e cujos vários personagens são interpretados por André di Perolli sob a direção de Daniele Pimenta.
A peça é, em mais de um sentido, uma experiência singular. Primeiro por que trata da questão da obesidade sem julgamentos de valor, sem uma mensagem edificante-mala (do tipo ‘vamos nos aceitar como somos’) e o, melhor, sem ridicularizar as pessoas gordas. Está tudo lá, da crítica à sociedade que oferece gorduras e depois produtos emagrecedores à neurose da dieta. Mas o que de mais interessante ela oferece é nos aproximar da vida dos gordinhos com humor (mas não com escárnio), e mostrá-los não através de abstrações ridículas (com os exemplos já citados), mas como pessoas que todos conhecemos.
Veremos lá a Mama Italiana com suas comidas tão deliciosas quanto gordurosas, a mulher que, aos tantos anos de casamento, ouve do marido um “tu tá gorda” e se vinga preparando para ele comidas irresistíveis (e extremamente calóricas), ou ainda a garota que, após levar um fora, entra numa dieta severa a fim de aparecer “gostosa” e com ar de superioridade na frente do ex. Feito isso, comemora matando uma lata de leite condensado no bico. Há ainda várias outras personagens, todas muito engraçadas, mas o destaque acaba ficando com as músicas.Só este trecho já dá uma boa idéia:
Croissant, fondant, bombom/Petit four, fricassé, filé mignon/ Baguete, croquete, pardon!/ Engordar em francês é “très” bom!
Para completar o “combo”, há ainda divertidas citações a Psicose, Iluminado e Star Wars.Vale dizer que os gordinhos pagam meia-entrada, concedida após pesagem numa hilária balança em frente à bilheteria. Quem quiser assistir terá de queimar algumas calorias e correr, pois ela fica em cartaz só até o próximo final de semana (sábado e domingo, às 20h) no Teatro Elis Regina (R. João Firmino, nº 900) em São Bernardo do Campo. A entrada inteira custa R$ 20,00. Informações pelo telefone: 4351-3479

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Quem quer que tenha visto filme, novela ou programa humorístico onde haja um gordo fazendo papel ridículo, estará ajudando muito este blog se disser qual foi.
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Pelo que ouvi dizer,a animação Kung-Fu Panda não compartilha destes estereótipos manjados. Estou certo? Alguém assistiu?

OS DOIS LADOS DA QUESTÃO – A PALESTINA VISTA PELO CINEMA E PELA HQ


Primeiro de tudo, alguns dados históricos:
- 1850 aC – é o ano que alguns pesquisadores estimam que os fatos atribuídos ao patriarca Abraão tenham ocorrido.
- 70 – Tito toma Jerusalém e destrói o Templo, expulsando os sacerdotes e autoridades judias. Ob domínio romano, passa a ser Aelia Capitolina e a Judéia , a Palestina.
- Desde 638, quando o sultão Omar tomou Jerusalém do Império Bizantino, os árabes estão instalados na região da Palestina (que inclui a cidade santa). Entre 1099 e 1187 Jerusalém fica sob domínio dos cruzados, até que Saladino a devolva aos muçulmanos.
- 1917 é o ano em que cai o Império Otomano e os Ingleses tomam toda a região.
- Em 1947 havia resolução da ONU aprovando a criação de um Estado Árabe e um Estado Judeu na região da Palestina.
- Em 14 de maio de 1948 foi instituído o Estado de Israel como forma de compensação pelos horrorres nazistas ao povo judeu. O movimento sionista, marcadamente anti-árabe, teve preponderância no processo. Logo em seguida, inicia-se o primeiro conflito entre árabes e judeus.
- Na Gerra dos Seis Dias, conflito em 1967 contra a frente árabe(Egito Jordânia e Síria) Israel (armado pelos EUA) antecipa-se à guerra e ataca primeiro ficando com territórios que esses países haviam conquistado m 1948 ( incluindo a Cisjordânia ). Incicia-se a colonização judia das áreas ocupadas.

Tudo isso serviu para duas coisas, mostrar o quão complexa é a questão palestina e o quanto qualquer recuo na História (com vistas a justificar a “razão’de um ou do outro lado) não só não resolve nada como pode tocar o terreno da mitologia.
Dito isso, fica mais fácil dizer o quanto o noticiário é falho, quando não burro, na hora de tocar a questão. Tanto na mídia impressa, com sua sanha de dizer tudo ocupando cada vez menos espaço e tomando menos tempo do leitor, quanto na televisiva com a superficialidade que lhe é peculiar, o que temos é meramente a notícia (homem bomba explode e mata sei-lá quantos). E a parcialidade é tamanha que só sabemos dos atos de violência dos terroristas palestinos, quase nunca dos do exército israelense muito menos há a comparação de dados dessa violência (o número de mortes causados pelo exército israelense contra o número de mortes causadas por terroristas ) não é exposto tampouco nos é mostrado toda a violência e arbitrariedade destes.
Sendo-nos inútil o jornalismo, vejamos o que a Arte nos oferece:
Palestina (Conrad), escrita e desenhada por Joe Sacco é uma HQ em duas partes (“Uma Nação Ocupada” e “Na Faixa de Gaza”) fruto do período entre 1991 e 1992 em que o artista-jornalista esteve na região. Foi na forma de uma história em quadrinhos que Sacco encontrou o meio ideal para fazer seu documentário que percorre ruas, entra em casas e mostra de muito perto toda a violência e sofrimento causados pelo exército israelense, o que incluía desde prisões arbitrárias e tortura de “suspeitos” a ações repressoras como impedir os palestinos de cavarem poços, o que engessa boa parte de sua economia,como o plantio de tomates(convenientemente eliminando a concorrência). Também nos é mostrada a ação das milícias que atacam casas de palestinos a esmo.
O grande triunfo do formato dos quadrinhos é que ele não trata com a imagem fotográfica (como o cinema) que clama para si o estatuto de “verdade”. Uma pintura é só a visão de um artista sobre um fato (sabemos bem do falseamento da realidade em O Grito do Ipiranga, de Pedro Américo), mas um filme não, afinal as imagens são captadas mecanicamente. O filme parece incontestável, o que é um problema maior ainda quando se trata de um documentário (Eduardo Coutinho é um dos que encaram o desafio de provar a subjetividade do meio). A HQ não nos obriga a ter fé nela mesma, pelo contrário, exige descrença. E Sacco não crê nem por um instante na objetividade; não nos esconde o fato de que sua presença altera os rumos (e o conteúdo) das conversas com os entrevistados, desconfia deles e de suas convicções. Seu traço irônico e escrachado, herdado do estilo da revista MAD, por contraditório que possa parecer, nos dá todo o peso da existência sofrida dessas pessoas, ao captar suas feições, sua individualidade.
Lemon Tree, filme de Eran Riklis que está em cartaz nos cinemas da Paulista e arredores, foi significativamente filmado nos dois lados (palestino e israelense) para nos contar a história real da viúva Salma Zidane que se opõe ao Ministro da Defesa israelense quando este decide derrubar suas oliveiras com a justificativa de que elas podem servir de esconderijo a terroristas que pretendam atacar sua casa (eles são vizinhos separados por uma enorme cerca metálica e torres de guardas). É uma metáfora perfeita (involuntária, dado que é história real) da situação de pessoas que moram no mesmo território mas não conseguem superar o muro que as divide. O filme se chama Lemon Tree pelo fato do diretor ter optado por trocar as oliveiras (cujo significado emotivo para os palestinos podemos ver no primeiro volume da HQ de Sacco) por pés de limão, talvez pelo fato de os frutos renderem suco refrescante (vemos o tempo todo pessoas bebendo limonada), tão vital num local árido como aquele. E sendo a água fonte da vida, sua necessidade nos faz todos iguais. É uma opção pela poesia, o que faz deste um filme universal, não fechado no contexto da Palestina, muito embora vejamos vez por outra as arbitrariedades israelenses. “Lemon Tree” fala a todos nós desta universalidade trataremos semana que vem.

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A situação mudou muito desde que Sacco escreveu Palestina. Ele mesmo avisa isso no prefácio, que é de 1995: “Os habitantes de Gaza têm agora algum grau de liberdade pessoal. Por exemplo, eles não encontram mais patrulhas israelenses nas suas vizinhanças nem são submetidos ao toque de recolher noturno(...)mas o panorama atual de Gaza está longe do ideal”. De lá para cá houve a retirada dos assentamentos judeus nos territórios ocupados e, anteontem, Israel libertou sem contrapartida 198 prisioneiros palestinos. No entanto três coisas não mudam: as negociações de paz são cheias de indas e vindas, ainda não foi criado um Estado Palestino e ainda muito pouco sabemos do dia-a-dia dessas pessoas.

domingo, 24 de agosto de 2008

DUAS ÓTIMAS CRÍTICAS DE "ENCARNAÇÃO DO DEMÔNIO"

Este não é um blog de crítica, mas sim de reflexão a partir de filmes, HQs, peças, etc. Quem quiser ler textos excelentes sobre Encarnação do Demônio deve visitar as revistas eletrônicas Paisá e Cinética. Abaixo, alguns trechos. Primeiro, do amigo Francis Vogner dos Reis, na Cinética, depois de Filipe Furtado, na Paisá. Ambos, vale lembrar, são professores do curso "Panorama do Cinema Japonês" citado no post anterior:

"Se as cenas de torturas e sangue, por exemplo, escapam ao fetichismo (que é a sensação da série Jogos Mortais), é porque elas não são concebidas como uma câmara de tortura para um espectador voyeur e sádico, mas como um delírio, um pesadelo. O próprio personagem/diretor seria um maestro de cenas extremas, que impressionam mais pela plasticidade e agressão, do que pela mera e simples crueldade. Cenas como a mulher saindo da barriga do porco e a cena de sexo inundada por sangue, ou mesmo o purgatório com Zé Celso Martinez, aproximam mais o diretor da parceria Luis Buñuel e Salvador Dali do que desses recentes filmes de horror de tortura, porque o horror vem pela via das imagens absurdas (e até do sarcástico), não da mera representação da dor e da psicose" disponível em : http://www.revistacinetica.com.br/encarnacaododemonio.htm

"Tudo no filme gira em torno do ícone. A começar por um Zé do Caixão muito mais sedutor, capaz de trazer consigo um séqüito de admiradores e de encontrar belas mulheres mais do que dispostas a carregar seu filho. Não deixa de ser uma bela metáfora para a carreira do próprio Mojica: o Zé do Caixão de Encarnação é pop, mas é ainda mais marginal". Disponível em:
http://www.revistapaisa.com.br/agosto08/encarnacao.htm

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

PAPO DE BALCÃO: AGRADECIMENTOS, ABRAÇOS E SUGESTÕES DO BALCONISTA

*Primeiro, os abraços:
Ao Mário César, historiador, grande amigo (de longa data) e, de quebra, pai da Sophia (que na barriga da mamãe Leila já adora ouvir Roberto Carlos). Um texto sobre as tiras do Calvin está no forno.
Ao grande camarada Anderson, também conhecido como Dj Mandio. Para quem quiser conferir o set list do rapaz (que num pulo vai de Tim Maia a Funkadelic, passando por indie rock, eletrônico e hip hop old school) ele está quinzenalmente no Puri Muzik, na Rua Augusta 2052, no projeto Vira5Acaba10 e numa porção de outros locais. A agenda do fera está em:
http://www.myspace.com/vira5acaba10

http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=42191922

A querida Letícia Macedo, jornalista francófona a quem devo um pastel de bacalhau do Mercadão. Quem quiser conferir uma de suas matérias feitas para a editoria de Turismo do IG é só dar um pulo em : http://turismo.ig.com.br/julho/noticias/2008/07/29/europa_em_dezembro_1476247.html

Ideal para quem pretende passar uns dias na Europa.
Ao Daniel Lupi, colega das aulas do Inácio Araújo.
Dois abraços muito especiais pelos e-mails elogiosos e por terem me honrado visitado o blog:
ao Prof.Dr. Waldomiro Vergueiro, presidente do Núcleo de Pesquisas em Histórias em Quadrinhos da USP e referência nacional e internacional no estudo das HQs.
E o jornalista e escritor premiado Luiz Ruffato (autor de Eles Eram Muitos Cavalos,entre outros), de cujas aulas de criação literária eu tive a felicidade de participar.

*Quem se interessa em conhecer mais sobre cinema e cultura japonesa não pode perder o curso Panorama do Cinema Japonês ministrado pelo jornalista, professor e crítico das revistas eletrônicas Cinética e Paisà, Francis dos Reis, que também costuma dar as caras neste boteco. Junto dele, outros bambas da nova geração de críticos, Sérgio Alpendre e Felipe Furtado apresentarão desde os clássicos de Ozu, Mizoguchi e Kurosawa até os contemporâneos, como Takashi Miike. Curso recomendado por ninguém menos que o mestre Inácio Araújo. As aulas serão dadas todas as quintas-feiras de 04 de setembro a 20 de novembro, a partir das 19 h Informações pelo telefone 3825-8141 ou pelo e-mail cursos@revistapaisa.com.br .

*Bobeada feia: faltou dizer, sobre a HQ Prontuário 666, o básico; que ela é uma prequel ao filme Encarnação do Demônio, ou seja, conta fatos que teriam acontecido durante o período em que o Zé do Caixão esteve preso. Foi mal (sem trocadilho).

BOSSA NA OCA- UMA NOVA (VELHA) FORMA DE SENTIR O TEMPO E OUVIR MÚSICA

Em tempos de excesso de informação e imagens e escassez de tempo, quando se busca fazer tudo ao mesmo tempo (ver tv, falar ao celular, navegar na internet- o iphone chega ainda este ano !) visitar a exposição Bossa na Oca parece ser um ato da mais absoluta transgressão. Viver o “menos é mais” do som criado por João Gilberto no final dos anos cinquenta e que foi emblema das modernizações dos tempos JK é ir na contramão da vida contemporânea;é preciso, sobretudo, “perder tempo” percorrendo os três andares da exposição, gastá-lo deitado em confortáveis estofados espalhados pelo chão vendo documentários, ou recostado num sofá ouvindo Tom Jobim e assistindo imagens que são projetadas no teto e nos mostram praias desertas, ondas que se chocam com as rochas, e mar, muito mar.
É preciso esquecer de tudo para melhor “sentir”a música, seja tocando a areia da praia, seja contemplando o calçadão de Ipanema (reconstruído especialmente para a exposição).
Contra as neuroses dos zapping e da conhecida sensação de que “o tempo passa cada vez mais rápido”, um convite à lentidão, contra o excesso de informações, o silêncio absoluto da câmara anecóica (sem eco).
A exposição fica até o dia 07 de setembro na Oca, Parque do Ibirapuera. O horário de funcionamento é das 10 às 21h e o ingresso inteiro custa R$ 20,00, e às terças é grátis. Informações pelo telefone: 4003-2050

ENCARNAÇÃO DO DEMÔNIO: MOJICA TRANSGRIDE TODAS AS CONVENÇÕES EM SEU NOVO FILME


O Brasil mudou muito desde que Zé do Caixão fez suas últimas vítimas em Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver (1967). Enquanto o coveiro tinhoso penou 3 décadas trancado na Casa de Detenção (e mais uma num manicômio), o diretor José Mojica Marins viu tudo aquilo que sustentava seu personagem praticamente desaparecer.
Viu as antes abundantes salas de cinema de rua, que fizeram a glória de artistas populares como ele e Mazaroppi, desaparecerem para ressurgirem na forma de multiplexes, cobrando ingressos caros e trancadas em shoppings centers que cobram até pelo estacionamento. Se o cinema virou uma diversão elitista, o terror deixou de ser uma abstração, de ser uma idéia metaforizada na forma de monstros de cinema e chegou à porta de todos, ricos ou pobres, na forma da violência urbana. Aliás, o próprio país passou a ser predominantemente urbano, tornando os matutos que ele assombrava nos filmes anteriores, mera recordação.
Mudou também a religiosidade; a carolice católica das cidades pequenas, contra a qual Zé se batiacomendo carne de cordeiro na sexta feira santa, deu lugar ao tele-evangelismo e a um tipo de culto produto da sociedade do espetáculo, que se manifesta seja na forma dos “Shows da Fé” protestantes ou na das Showmissas carismáticas, onde se enfatiza a busca pelo felicidade, o sucesso e a realização pessoal.
Para piorar, aparentemente não havia mais nada que transgredir, afinal a transgressão virou norma; sexo , violência e bizarrices são trivialidades, atrações de todo dia nos Superpops da vida. Algo que seria impensável nos anos sessenta: a ausência de polêmica em torno da foto da revista Playboy na qual a atriz global Carol Castro aparece nua, usando como adereço apenas um crucifixo.
No âmbito econômico o Brasil deixou para trás o papel secundário de nação “terceiromundista” para adentrar o mundo globalizado como destaque entre os emergentes e assumir papel de destaque no mercado internacional. Até a dívida externa, que a crença popular dizia vir “desde os tempos de Don Pedro”, desapareceu e o Brasil passou de devedor a credor.
O país mudou mas Zé Mojica/Zé do Caixão não ficou indiferente a essas mudanças.
No filme, Zé do Caixão sai da prisão e vai para uma favela onde se depara com o terror nosso de cada dia (aquele que recheia os telejornais) e fica assustado.Vê policiais assassinando crianças e apavorando a população. Vê essa mesma população acomodada com a bandidagem. Vê a miséria que, ao contrário da dívida externa, não só não desapareceu como persiste sendo nossa maior vergonha.
Já Zé Mojica enfrentou outro desafio: conseguir filmar. Cinema é feito hoje basicamente com dinheiro oriundo de empresas que abatem este valor de impostos devidos ao governo. Quem decide qual filme vai receber a verba é normalmente um executivo da área de marketing, alguém que não necessariamente (na verdade quase nunca) entende de cinema. Sendo assim, têm muito mais possibilidade de viabilização os filmes mais alinhados ao que este pessoal entende por “bom gosto” ou que agreguem “prestígio” a suas empresas. Na hora de escolher entre um filme da Xuxa (ou qualquer um da GloboFilmes) e um terror de Zé do Caixão, por exemplo, a escolha (para eles) parecia óbvia e Mojica seguia sem filmar.
No entanto, contra todas os prognósticos, tudo o que parecia impossível aconteceu. O filme não só saiu como é transgressor até o osso. Mojica desrespeita todas as convenções (há personagens incoerentes, que são violentos mas também paspalhos e engraçados, colagens de clichês) e despeja violência na medida certa para afrontar o último bastião, o do bom gosto (do público, dos exibidores, dos financiadores). E por fim, tem a loucura visual: que poderia ser mais transgressor do que o embate Zé Celso- Zé do Caixão, sob um céu cor-de-laranja, entre pessoas que comem vísceras e o olhar impávido de uma morte pálida, anoréxica e fashion? Ainda somos violentos, egoístas e desiguais é o que nos diz as loucuras deste novo filme de Zé do Caixão. Apesar de todas as mudanças, o Brasil ainda é um horror!

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O destaque do Brasil no mercado internacional tende a aumentar, principalmente com a crescente demanda por biocombustíveis e alimentos. No entanto, a despeito do destaque no cenário internacional, continuamos relegando a segundo plano os investimentos em educação (quase todos tem acesso a escolas, mas de péssima qualidade), artes (ainda privilégio de uma elite) e esporte (basta ver o pífio desempenho de nossos atletas em Pequim). Isso para não falar no vergonhoso sistema carcerário.
O Brasil entrou de fato na nova ordem mundial, só sua população é que ainda não. A este respeito, vale assistir o documentário “Encontro com Milton Santos ou O Mundo Global Visto do Lado de Cá”, dirigido por Sílvio Tendler (2007).

O ADEUS A ISAAC HAYES

Ganhou pouquíssimo destaque em nossa imprensa a morte de Isaac Hayes, ocorrida no último dia 8. Para muita gente ele será lembrado pela dublagem do personagem Chef, da animação South Park . Para outros, ele foi o precursor dos cantores de vozeirão sexy como Barry White e Teddy Pendergrass e autor de pérolas eróticas e dançantes do final dos anos 1970 como “Moonlight Loving (Ménage A Trois)” de 1977 e Love Hás Been Good To Us, esta um clássico da Disco de 1979. Mas ele bem foi mais do que isso.
Isaac Hayes, em parceria com David Porter, foi o mais prolixo compositor da emblemática Stax, gravadora que, junto da Atlantic e da Motown, era a ponta de lança da música negra norte americana dos anos 1960. Foram mais de 200 composições (incluindo o hino do gênero, “Soul Man”) até que ele resolvesse se lançar como cantor, em 1971, com “Never Can Say Goodbye”, música de Clifton Davis que, naquele mesmo anos estourava com o fenômeno Jacksons Five. Mesmo assim a música (em tom erótico-melancólico, bem diferente da animação do grupo de Michael) alcançou 5º lugar na parada de R&B (de música negra). No mesmo ano ele dá seu maior passo e compõem o primeiro álbum conceitual da música negra, a trilha sonora para o filme “Shaft”. Shaft, o disco, foi o primeiro da música negra a utilizar orquestra sinfônica a ser produzido pelo próprio cantor e a usar e abusar da complexidade, portanto abriu caminho para maravilhas como Whats Going On, de Marvin Gaye (1972) e Superfly, de Curtis Mayfield (1973). “Shaft”, o filme deu largada à chamada Blaxploitation, filmes feitos por e para negros, que eram também maioria no elenco. A trilha sonora era encomendada, quase sempre, a grandes nomes da soul music. Foi assim com o já citado “Superfly” e com “Trouble Man” (1972), trilha de Marvin Gaye, entre outros.
Se a Soul Music foi peça chave na construção do orgulho dos negros norte-americanos, a Blaxploitation foi sua decorrência direta.
Quem quiser ver o impacto de sua presença, tem a sua disposição em DVD os documentários “WhattStax”, dirigido por Mel Stuart em 1972 e que mostra o evento para 100 mil espectadores, o Woodtscock da black music, onde Hayes é atração principal, e “Only The Strong Survive”, espécie de Buena Vista Social Club da soul music, dirigido por Chris Hegedus e D. A Pennebaker em 2003 em que captura o destino de várias estrelas do soul nos anos 2000. Hayes esteve no meu do gigantesco turbilhão cultural norte-americano e ajudou a movê-lo.Toda homenagem é pouco.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Hoje às 15h10 passa Mutum no Cine Vila Lobos 1 (Av. das Nações Unidas, 4777). Vale notar como o caminho naturalista que o filme tomou com o uso de não-atores (e conseqüentemente a fala improvisada, quase “real”) é o oposto da literatura de Guimarães Rosa. Observação sem julgamento de valores, vale dizer.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

REENCARNAÇÃO DO DEMÔNIO! Zé do caixão retorna aos quadrinhos em álbum de luxo


Zé do Caixão está de volta, não só nos cinemas, com o filme Encarnação do Demônio, como também nos quadrinhos, no álbum Prontuário 666 lançado este mês pela Conrad. Em ambos os casos o retorno não tem nada de saudosista nem faz nenhuma tentativa tola de “atualizar” o personagem. Por enquanto ficamos só com a HQ.
O ilustrador Samuel Casal (conhecido por seu trabalho na Folha de São Paulo) que dividiu o roteiro com Adriana Brunstein foi uma escolha duplamente acertada pois livrou a HQ não só da armadilha de ser “realista” (retratar fielmente Mojica e a Casa de Detenção) como da de imitar o traço incomparável de Nico Rosso, desenhista que ilustrou várias histórias em quadrinho do Zé do Caixão no final dos anos 1970.
O traço expressionista de Samuel é perfeito para criar um ar irreal, claustrofóbico e perturbador que traduz em desenhos toda aura de maldade que envolve Zé do Caixão. Corpos dilacerados, sangue e vísceras desenhadas realísticamente não teriam hoje metade do impacto que tiveram nos tempos de Rosso. Os filmes de terror conhecidos como torture porn (como Jogos Mortais e O Albergue) levaram a violência gráfica a um novo patamar, mas mais do que isso, a violência real, via tv ou mesmo em sites de internet (onde qualquer criança consegue ver fotos de tragédias aéreas), fazem com que o desenho tenha de buscar outras saídas caso queira transmitir sentimentos, principalmente medo e repulsa.
Quanto ao texto a história é bem outra.Os diálogos, escritos com uma ingenuidade inacreditável, prejudicam a HQ. Não dá para acreditar que alguém ainda coloque a frase “peguem-no” na boca de um personagem. Cruz-credo!

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

GUIMARÃES ROSA EM TRÊS MOMENTOS: QUADRINHOS, CINEMA E TEATRO



Alfred Hitchcock sabedor que era do problema de se adaptar obras-primas da literatura, quase sempre transformava em filmes livros menores e com eles fez clássicos cinematográficos como Os Pássaros, Psicose e Janela Indiscreta, muitas vezes ignorando boas porções das histórias originais. Em entrevista ao também cineasta François Truffaut publicada no livro Entrevistas –Hitchcock Truffaut (Companhia das Letras) ele diz, a propósito da obra imortal de Dostoievski, Crime e Castigo: “ ... há muitas palavras lá dentro e todas têm uma função(...)para expressar a mesma coisa de modo cinematográfico, seria preciso fazer um filme que substituísse as palavras pela linguagem de câmera,durasse seis ou dez horas, do contrário não seria sério”.
Visto por este ângulo, nada pode ser mais problemático do que a adaptação de uma obra de Guimarães Rosa seja no cinema, no teatro ou nos quadrinhos, afinal o autor não só embaralhou os limites entre os gêneros literários (poesia e prosa), narrativos (conto e romance) como extrapolou os da linguagem. Rosa era um antinaturalista por excelência, alguém que fazia pouco da máxima “a arte imita a vida”. Nunca reproduziu o mundo sertanejo (o que o faria dele mais um autor regionalista como Graciliano Ramos ou Euclides da Cunha) mas transformou-o no mundo, o que deu a sua obra caráter universal, atemporal. Tampouco reproduziu a fala do mineiro, recriou-a; o uso abundante de neologismos (que dão dimensão poética às palavras) é um de seus instrumentos na reconstrução tanto do mundo como da linguagem do sertanejo. É assim com a cidade do “Aõ ” de Noites do Sertão, o “amormeuzinho” ou a “colossalidade” de Sagarana e a célebre “nonada ”que abre Grande Sertão: Veredas.
Abarcar toda a grandiosidade de Rosa é impossível, claro, e cada adaptação tem de escolher um aspecto em que se focar. No caso dos quadrinhos o problema é ainda maior, pelo fato de lidar diretamente com a palavra escrita e ter de encarar a inevitável questão: “manter ou não o texto original? Estórias Geraes (Conrad) não se aventurou a adaptar Guimarães, mas, no melhor estilo Guimaraniano, recriou-o. Uma série de histórias passadas no sertão mineiro e que se ligam umas às outras compõem o álbum escrito por Wellington Sberk e desenhado pelo brilhante Flávio Colin, morto em 2002. Sberk assume outras influências tão diferentes como Ariano Suassuna e Dias Gomes. Mas o espírito de Guimarães Rosa está todo lá no traço brilhante de Colin, que não busca em nenhum momento reproduzir a natureza e sim recria-la com desenhos sem tons de cinza, que chegam a se parecer com xilogravuras. O texto, no entanto, vai por outro caminho, o da mera reprodução da fala popular. Sberk e Colin fizeram um belo trabalho. Falta agora alguém que encare diretamente a “colossalidade” do sertão de Rosa.

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Muito do caráter mítico da literatura de Guimarães Rosa nasce de sua recriação do mundo, que tem o sertão por matéria-prima, não um fim em si, um cenário a ser retratado. Foi o sertão mítico, místico, metafísico que o grupo andreense de teatro amador Transpiração escolheu para privilegiar em sua adaptação de Primeiras Estórias. O texto, como bem prova a série de palestras “O texto no teatro contemporâneo” (que ocorre às quartas-feiras até 3 de setembro no espaço Satyros) é mais um dos recursos cênicos, talvez nem o mais importante. Foi enfatizando o cenário que o Transpiração não só construiu uma peça memorável, como colocou o espectador em contato com a dimensão mística de Rosa. A peça (que já não está mais em cartaz), encenada à noite, levava os espectadores, convidados pelos próprios personagens, a passear por um parque que fazia as vezes de sertão. Em cada local (muitas vezes de acesso um pouco “dificultoso”) se assistia de perto ao drama da Santa Nhinhinha ou ao assustador Famigerado. Já a estreante Sandra Kogut trocou a riqueza das palavras pela das imagens na hora de adaptar Campo Geral. É delas que nasce a poesia do sertão do filme Mutum (2007). Cinema, afinal, é a arte das imagens e por muito tempo quase prescindiu de palavras. Sandra sabiamente evitou a transcrição do texto original (algo que não ocorreu, por exemplo, com o filme Um Copo de Cólera (1999), de Aluízio Abranches, adaptação do livro de Raduan Nassar) e se valeu de muitos não atores, para, como de certa forma fez Sberk, recriar a obra de Guimarães Rosa, sem ter a pretensão de alcançá-lo. Caso contrário, como disse Hitchcock, seria preciso um filme de “seis ou dez horas” e olhe lá.