quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

FESTA DE FAMÍLIA


Para finalizar o ano e dar as boas vindas a 2009, escolhi para vocês este recorte da história pós-natalina “Família Sagrada” do álbum “Vale Tudo- os quadrinhos mais revoltados do mundo” (Opera Graphica) a mais recente publicação do cartunista rocker e morador do grande ABC Marcio Baraldi.
Meus sincero agradecimentos a todos vocês que acompanharam este blog durante este ano,deixando comentários, comentando por e-mail ou apenas lendo. E um abraço especial à minha adorada salve-salve Olga Defavari, que fez surgir este blog e faz com que ele prossiga existindo.
Para todos então um
Feliz Ano Novo !!!

RETROSPECTIVA

O ano novo inicia terrivelmente velho na faixa de Gaza. Em três dias morreram 60 civis palestinos, vitimados pela resposta israelense motivada pelos insistentes bombardeios do Hamas em direção à cidade de Sderot, a mais próxima de Gaza. Antes, porém, em junho, tanto Israel quanto o Hamas romperam o cessa-fogo. Como há dois meses não entram jornalistas em Gaza, vale voltar a “Palestina – Cidade Sitiada” e “Palestina- na Faixa de Gaza” obras do jornalista e quadrinista Joe Sacco. Postei texto sobre ambas HQs em agosto deste ano (Os Dois Lados da questão).
Com 2008 termina a Era Bush, período dos mais esquecíveis da história dos Estados Unidos, cujo momento mais emblemático foi a sapatada levada pelo Comandante em Chefe no Iraque, reveladora da completa desmoralização de sua administração. Com ele, perdem força os heróis truculentos que espelhavam com perfeição seu governo belicoso. A seguir, texto que escrevi sobre o seriado 24 Horas, num longínquo 2007 mas que mantém certa atualidade, não pelo que o liga ao moribundo governo George W. Bush, mas pelo Eterno Retorno da questão Palestina.
A QUESTÃO PALESTINA NÃO CABE NO MANIQUEÍSMO DE JACK BAUER

Nesta sexta temporada, 24 Horas não se preocupou em fazer de vilões aqueles que defenderam a “política do medo” de George W. Bush após os atentados de 11 de setembro. Mostrou os absurdos das prisões arbitrárias de cidadãos de descendência árabe e criticou o ataque militar a nações islâmicas como resposta a ações terroristas. “Nem todos nesses países estão a favor dos terroristas” nos lembra o assessor da presidência Tom Lennox.
Tudo muito elogiável. Elogiável até demais, afinal se trata de uma série de ação que reprisa a manjada oposição entre os EUA e o resto do mundo, sendo os EUA, claro, os mocinhos. Enxergar e desvelar a sujeira e os erros de seus governantes, então, não é pouca coisa.
No entanto, toda a complexidade utilizada no retrato da chamada “doutrina Bush” (reacionarismo de direita, tendência à supressão de direitos civis e belicismo histérico) desaparece quando se trata de compreender os terroristas islâmicos bem como as motivações desses grupos.
De início nos é mostrado que quem explodiu uma bomba nuclear em solo norte americano (ponto de partida da atual temporada) e ainda ameaça detonar mais quatro é o terrorista islâmico Abu Fayed. Dez anos atrás o vilão da série seria provavelmente um narcotraficante colombiano e, vinte, algum russo maluco vestindo um casaco cafona e um chapéu de pele de urso. Mas os tempos são outros.
Em oposição a Fayed está um ex-terrorista, Hamri Al Assad, que abdicou da luta armada e quer um acordo de paz com os EUA. Para isso ele se aliará a Jack Bauer na busca por Fayed, que não aceita o cessar fogo proposto por Assad e se põe a sabotá-lo. A simplificação é de assustar. Ao colocar Assad no lado dos mocinhos, entendemos que o terrorista “bom”é o que, unilateralmente, abandonou a luta armada, numa mensagem de que é pela via da negociação que as coisas devem ser feitas, não pela luta suja e assassina de Fayed (que é apenas uma alegoria para Osama Bin Laden). Dito assim, ninguém há de discordar. Mas e Jack Bauer, por acaso ele não mata e tortura também? Apenas quando não há outra alternativa , nos diz a série, quando há um “bom motivo”. Já os terroristas só usam de agressão por que são incapazes de enxergar a tal outra alternativa, a da negociação pacífica. Curioso, não? Pois então, Assad acaba morto por radicais de direita norte-americanos , golpistas que querem o poder por vias outras que não a da democracia(algo impensável para qualquer norte americano), o que põe ainda mais em risco o processo de paz.
Mesmo sendo Fayed uma representação de Bin Laden, também podemos identificar em sua luta com Assad os dois lados claramente distinto da Palestina atual, na qual os EUA de Jack Bauer estão diretamente envolvidos. O “Fayed”de lá é o grupo islâmico que não abdica da luta armada, o Hamas. Já o Fatah é partido árabe que não age em nome da religião e que busca diálogo com o ocidente, ou seja o “Assad” da questão . Os EUA e Israel nunca economizaram armas nem dólares para fortalecer o Fatah na Palestina, mas mesmo assim, talvez pelas várias acusações de corrupção e de submissão a interesses estrangeiros, o Fatah foi perdendo prestígio até que a maioria do Parlamento acabou ficando com o Hamas. Recentemente o governo de coalizão entre os dois acabou de vez, quando o Hamas expulsou o Fatah da faixa de Gaza. EUA e Israel entraram em polvorosa e, sob o argumento de que o único líder legítimo eleito democraticamente era Mahmoud Abas, do Fatah,deram início a um embargo econômico a Gaza.
E ai temos a seguinte situação: um partido que tem maioria num Parlamento eleito democraticamente pelo povo palestino não só não é reconhecido pelos EUA como legítimo, como sofre sanções econômicas e repressão militar. Onde está, então, a opção pelo diálogo? Cadê a deposição das armas que eles tanto pedem aos “terroristas”? Parece que, no fim das contas, virar a cara para a via da negociação pacífica não é privilégio de extremistas islâmicos...
Mas façamos justiça à série. Alguns episódios mais tarde, ficamos sabendo que na verdade quem arquitetou o plano de explodir a bomba nuclear na terra do Tio Sam fora, na verdade, um russo maluco vestido num casco cafona, Vladmir Gredenko. Seu motivo? Ele se ressentia da vitória dos EUA na Guerra Fria... Esse sim merece levar uns tapas de Jack Bauer !

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

CANAL TCM INCONTORNÁVEL ESTA SEMANA

o TCM traz um filme simplesmente imperdível. Confira:
A semana começa endemoniada hoje, às 17 h55 com Fritz Lang e seu “Fúria”, filme de 1936, primeiro filme de sua fase americana. Lang cometeu jóias raras do cinema como Metrópolis (1926) ,Dr.Mabuse(1922) e M.,o Vampiro de Dusseldorf (1931).
Daí em diante,sempre às 22h.:
terça-feira, dia 9, tem Todos os Homens do Presidente (1976), de Alan J. Pakula, que, todo mundo sabe, é sobre o caso Watergate e todo aspirante a jornalista deveria assistir.
quarta-feira tem o suspense Pacto de Sangue (Double Indemnity), de 1944. Ainda não assisti, mas é Billy Wilder , portanto teremos um olhar irônico, quase europeu do cinema (e do mundo) do sujeito que fez coisas como Crepúsculo dos Deuses(1950) e Quanto mais Quente Melhor (1959),talvez o melhor filme de Marylin Monroe. De quebra Pacto de Sangue traz a mais fatal das mulheres, Barbara Stanwick.
quinta-feira vem com o imperdível terror O Enigma de Outro Mundo do incomparável (porém subestimado) John Carpenter . É a história de cientistas presos no Ártico às voltas com uma criatura alienígena.
sexta-feira uma raridade absoluta: “Agonia e Glória” de Samuel Fuller (!!), diretor que na década de 60 dividiu a França em duas metades: a de seus admiradores (a geração revolucionária da Nouvelle Vage) e seus detratores (todos os outros).

QUANDO OS QUADRINHOS TENTAM SER CINEMA











Entre o Homem de Ferro de 2007 (a primeira imagem de baixo para cima, ) e o de 1979 há grandes diferenças.
Na cena extraída de Guerra Civil nº 7, publicada pela Panini ano passado e que tem desenhos de Steve McNiven, vemos claramente uma daquelas tentativas dos quadrinhos de super-heróis de se aproximarem do cinema em mais de um aspecto . Em primeiro lugar, a busca por um certo realismo dos desenhos (com as proporções dos corpos correspondendo às humanas, o uso correto da perspectiva,etc) que é parte de uma tendência de se tornar as histórias “sérias” de dar a elas “complexidade” inserindo tramas mais complicadas e longas , muitas vezes com intrigas governamentais. Às vezes tem-se resultados muito bons, noutras vezes , constrangedores, o que não é o caso aqui. A seqüência é um exemplo de decupagem cinematográfica, com o uso correto de plano e contraplano (mostra-se o rosto do Capitão,depois o do Homem de Ferro, então volta ao Capitão) numa seqüência lógica que poderia muito bem ser um storyboard (os desenhos feitos a partir do roteiro e que orientam o diretor) de um filme.
Já o de 79(extraída de Os Grandes lássios do Homem de Ferro nº1,com traço de John Romita Jr), tem à sua disposição muito mais elementos que são próprios à linguagem dos quadrinhos e só a ela. Se isso lhe custa em “realismo”,em desenhos detalhados, lhe dá em expressividade e riqueza de significado. Um simples fundo azul, ali é entendido como um céu, linhas brancas tanto como vento ou velocidade. Um fundo amarelo (absolutamente irrealista, sem cenário ou figura de fundo),por exemplo, amplia o impacto visual e dramático de um desenho.
Lembremos que o cinema, em seus momentos expressionistas (na Alemanha dos anos 1920) a fim de conseguir estes mesmos efeitos(com objetivos outros,claro), trabalhava arduamente para extrapolar as sombras, explodir a iluminação e distorcer cenários, maquiagem e cenografia.
****
Extraídas de seus contextos, o resultado é desigual. O desenho de McNiven se enfraquece sem a seqüência que o sustenta, que é impactante, com belos desenhos, mas não mais do que isso. Já o de Romita Jr poderia muito bem ser transposto para uma tela e pedurado numa parede de Galeria de Arte que ganharia significado próprio, dialogando com a linguagem da pintura (a tela, as cores, a tinta) e sua tradição visual bem como com o público, que participaria da interpretação da obra a partir de seus elementos mais abstratos (as linhas, as cores puras).
****
Quanto às histórias, a mais recente é claro, é mais madura,complexa e melhor construída (ainda que a primeira traga o interessante lado alcoólatra do Homem de Ferro), com noções de clímax e depuração de roteiro superiores. Mas isso está ao alcance do cinema.

DIA DE CÃO, DIA A DIA

É assistindo a Um Dia de Cão, que Sidney Lumet dirigiu em 1975 que percebe-se como grandes filmes (e grandes romances,contos,peças) não envelhecem e ainda ganham constantemente novos significados.
Baseado num caso real, conta a história de Sonny (Al Pacino nos bons tempos) e seu parceiro, que invadem um banco, mas acabam encurralados pela polícia, dividindo-se entre as exigências absurdas (um helicóptero e um jato para a fuga) e a simpatia do população (que cerca o local) e do reféns, que se divertem com o fato de não estarem trabalhando.
A presença das câmeras de TV no local, os entrevistadores falando ao vivo por telefone com Sony , tudo isso faz dele uma celebridade instantânea . Um momento iluminado é o que mostra um entregador de pizzas (negro com o melhor visual black power)na porta do banco e que, após receber o dinheiro de Sony, faz alguns passos de dança e grita: “sou uma estrela”.
Impossível não relacionar com a estupidez de apresentadores-animadores como Brito Jr, Geraldo Luís e outros tantos na condução de casos policiais, o mais recente deles o de Lindemberg Alves que terminou com assassinato de Eloá Pimentel em Santo André.
E numa outra análise, com os bancos sendo parte da roda de ganância que atirou os EUA e o mudo numa recessão quase sem precedentes, ver o povo aplaudindo alguém que ataca uma instituição bancária (mas não seus funcionários) e atira notas em direção à multidão tem um outro significado, atualíssimo.
Duas coisas:
1- De lá pra cá boa parte da imprensa não aprendeu nada.
2-Fosse dirigido por um Michael Bay (Transformers, Armaggedon) da vida esse filme já teria sido esquecido. Mas não, é obra de quem entende do riscado, e por isso permanece.

DE VOLTA AO BALCÃO

Bem, primeiramente peço desculpas ao leitores como o Dj Mandio e o caríssimo Daniel Luppi, que perguntaram o motivo das férias prolongadas deste blog. Concluídos(ou quase) os compromissos acadêmicos, já posso voltar a escrever.
E a primeira dose é por conta da casa!