sexta-feira, 30 de outubro de 2009

COMPORTAMENTO MEDIEVAL NA UNIBAN

Por mais que se esteja acostumado com o comportamento grosseiro das nossas classes altas, as chamadas A e B, ainda há como se surpreender. O episódio ocorrido na Uniban e que ganhou os telejornais ontem à noite é de assustar até os mais aleijados, como eu. Uma turba de alunos gritando, xingando e ameaçando de agressão uma garota por ela ter comparecido à fauldade usando uma minissaia muito curta? Isso é de um obsurantismo de corar George W.Bush. E isso no país do carnaval !! Nem há muito o que argumentar. De onde vem esse moralismo violento? Ele tem precedentes? O que se evidencia nesse caso é que essa classe que tem poder aquisitivo para pagar uma universidade como a Uniban é dada a extremismos como defender a pena de morte e a atos racistas, ou seja, é fã de carteirinha da intolerância. Por outro lado, pela internet perebemos o quanto de comportamento retrógado existe em nossa sociedade. Quando sure algum video erótico em um site, você pode notar que a descrição é quase sempre agressiva com relação à mulher. Tipo "a rampeira" faz isso e aquilo, ou "loirinha vagabunda" etc. Como se o "pecado" (na cabeça dessa gente é disso que se trata) fosse só da mulher, como se não houvesse um homem lá também.
Dá pra lembrar do episódio em que uma garota foi filmada ou fotografada fazendo sexo com três rapazes numa festa universitária(não me lembro qual). Ela também teve de abandonar os estudos e saiu da faculdade nas mesmas ircunstâncias que esta jovem da Uniban. Me pergunto: os que apedrejam por acaso não assistem a filmes pornográficos? Que ou quem define o que é condenável ? Talvez eles próprios, ou sua participação ou não do ato é que se coloque como o fiel da balança.
Se levarmos em conta os avanços sociais e omportamentais, esse ato é muito mais grave do que o de se queimar bruxas na Idade Média, ou o de se apedrejar as adúlteras, na palestina do século 1, porque não enontra respaldo num omportamento social tradiional, numa moral dita como lei.
Já li que nessas manifestações de linchamento, a tendência é que a maioria aja de maneira igual, porque a turba inibe a disordânia do indivíduo e ao mesmo tempo, liberta de culpa aquele que queria linchar mas não tinha coragem. Respaldado pela maioria, ele libera o pior de si.
Foi isso o que se viu na Uniban. E, infelizmente, essa é a nossa elite intelectual.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

HQ- O GUARANI


Mais do que cento e cinqüenta anos, é um verdadeiro abismo comportamental o que separa a obra do romancista José de Alencar(1829-1877) de nosso tempo e, mais ainda, do mundo dos jovens a quem se destina esta adaptação de O Guarani para os quadrinhos, levada a cabo pelo roteirista Ivan Jaf e o desenhista Luis Gê.
Ceci, a moça que corre atrás de passarinhos “rindo-se dos volteios que a avezinha lhe fazia dar” , tem tudo para ser, aos olhos do leitor de hoje, apenas uma chata de galochas e não a criatura encantadora descrita no livro. Isso, somado às juras de amor feitas por pessoas ajoelhadas e a construções como “se me fôsseis amigo, me havíeis de perdoar” fazem da leitura deste romance uma das maiores torturas a que um professor pode submeter o aluno secundarista que tem pouco familiaridade com a literatura.
Ao focar na ação Jaf consegue contornar este “problema” e tornar a leitura de O Guarani prazerosa e divertida como certamente foi em sua época, mas por outro lado deixa escorrer pelos dedos o espírito da obra original.
Luis Gê, por sua, vez possui um domínio excepcional sobre disposição dos quadros na página e do ritmo que isso impõe à história. Também é capaz de encontrar soluções brilhantes, como enquadrar apenas aquilo que interessa, seja um pedaço do rosto ou os pés de um personagem, ou mesmo deformar os quadros e os balões fazendo eco à cena. No entanto seu traço se mostra inadequado para transmitir o que neste caso é fundamental: o trasbordar do sentimento. Basta lembrar de duas coisas para vermos como este álbum está em descompasso com o romance; o ideal da arte romântica (seja pintura, escultura ou literatura)é transmitir a emoção do artista para seu público, mas a emotividade que a nós parece exagerada e de certo modo ridícula, não encontra correspondência nem nos desenhos nem no roteiro. Toda a representação visual romântica é, na opinião de Delacroix (1798-1863), maior dos pintores dessa escola, aquela que condensa a emoção e a faz permanecer viva por muito tempo na alma do espectador. Claro que não é o caso aqui.
Também a narrativa composta predominantemente por quadros pequenos , não apenas acelera uma história originalmente de ritmo lento (o que por si só não seria problema),como não dá conta nem da grandiloqüência na descrição dos cenários nem da exaltação da natureza brasileira, o que só seria possível com a utilização de quadros grandes e de um desenho vistoso. E a arte romântica, não custa lembrar, é aquela que, ao opor a natureza (sempre pura , bela e grandiosa) à decadência moral e física das cidades burguesas, a representa com grandiosidade à altura do valor que os artistas lhe dão.
Por outro lado a contratação de Luis Gê (que junto dos gigantes Laerte, Angeli e Glauco fez parte das míticas publicações Circo e Balão) poderia supor uma leitura cínica ou irônica, mas nunca acrítica de O Guarani, como é o caso. Ok, seu Peri não é o índio da pele cor de cobre “que brilhava com reflexos dourados” , na verdade se parece mais um Tarzã, e isso é ótimo, afinal Alencar o retrata não como um legítimo goitacá, mas sim como um homem de costumes europeus. O problema é que fica por aí. Não se estabelece um diálogo entre nosso tempo e o da obra original, o que seria possível , por exemplo, se evidenciando o exagero de sentimento do livro com closes nos rostos dos personagens, como acontece numa telenovela- (que todos sabemos é filha do romance romântico), ou mesmo destacando detalhes como o fato de José de Alencar dizer que Peri “embora ignorante, filho das florestas, era um rei ”, o que, à época, certamente era um elogio sincero. Nem mesmo a idealização dos personagens fica evidenciada, pelo contrário, o roteiro trata de naturalizá-los.
Sem ser crítica, esta HQ também faz o espírito da obra de José de Alencar desaparecer para dar lugar a uma história de ação. Boa, eficiente, empolgante até, mas não mais do que isso.
Fia perdida então a oportunidade de um diálogo rico com o romance, de estimular o leitor a reconhecer todo um período histórico e artístico e de nos possibilitar uma leitura crítica de uma obra tão distante, mas também tão importante quanto O Guarani.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

EDUCAÇÃO, VIOLÊNCIA, TV, ETC.(AINDA O DIA DO PROFESSOR)

Falar sobre violência em São Paulo não é fácil. Os números recentes mostraram aumento na quantidade de latrocínios (roubo seguido de morte) e, se não me engano, também na de sequestros. Algumas modalidades de crimes diminuiram sensivelmente. Os dados mais recentes são uma inversão na tendência de queda que era constante, tanto que chegou a se temer que o governo Serra ficasse marcado como aquele em que os crimes violentos aumentaram. A resposta (que veio, se bem me lembro, da Secretaria de Segurança) foi de que os índices não estão lá muito diferentes dos de N.Y, por exemplo. Toleráveis, portanto.
Se formos nos pautar pela cobertura da imprensa, estará tudo um inferno, tanto quanto estava antes, quando os números diminuiam. Se formos levar em conta a opinião do povo nas ruas, idem. Mas e aí, quem tem razão ? Não sou eu quem irá responder, claro, no entanto tenho uma opinião. O que aumentou e continua aumentando é algo que não se mede em pesquisas quantitativas (que lidam com dados estatísticos): o grau de violência. As pessoas estão mais violentas até mesmo no trânsito. Neste sentido a relamação do povo é justificada e até mesmo a gritaria dos jornais policiais. Claro que sabemos que a sensação de perigo mudaria aso a imprensa noticiasse com a mesma insistência , ocorrências de aidentes de trabalho, por exemplo. Ou se ao invés de um programa mostrando só crimes, tivesse um que só passasse acidentes de trânmsito. Mas isso é outra história e não muda o fato de que a violência está aí.
Minha opinião é a de que impera nas comunidades carentes uma glamourização do crime. Isso não é preconceito, qualquer professor da rede estadual sabe bem do que falo. As letras dos Racionais dizem o mesmo, com um tom amargop e desesperançado. "Artigo 157", por exemplo, diz "hoje eu sou ladrão, artigo 157, a polícia bola um plano, sou herói dos pivete".
Pesquisas dão conta de que o desapreço dos alunos da rede estadual (principalmente, mas não só) pela escola se deve à mínima expetativa que eles tem de que consigam conquistar algo através do estudo, logo a escola é apenas um estorvo e o professor, não alguém que o ajuda a trilhar um caminho melhor na vida, mas alguém que o pressiona e, como manda a lei do cão, deve ser tratado com a mesma violência com que se lida com um inimigo.
Sobram, então, nas omunidades mais pobres, duas opções para o sucesso na vida (sucesso esse exigido a cada minuto pela publicidade): futebol ou o crime. Talento para o futebol não basta (o filme Linha de Passe retrata isso maravilhosamente bem), é preciso contatos, dinheiro, amizades certas, favores etc. Sobra o crime que promete uma vida curta, mas atrativa. A admiração dos "pivetes" e das garotas. Para as meninas então, é ainda pior, afinal só existem posiçoes seundárias nos escalões do crime ou o papel de namorada de bandido. A satisfação, para todos, virá das drogas (isso vale em mesmo grau para a classe média e acima). É nesse fosso em que se atiram as crianças pobres e é por isso que a escola são frequentemente alvo de atos de vandalismo e os professores, de ameaça e até agressão.
Ou a escola cumpre seu papel de integrar os jovens na sociedade (seja através do esporte, da arte ou do estudo) ou veremos os índices de violência e criminalidade se estabilizarem nesse número que é tranquilo apenas nas planilhas dos órgãos públicos.

PS. Claro, há a saída na música, seja o hip hop, seja o funk. Deveria se investir mais nisso. Há aulas de músia nas escolas? As prefeituras promovem eventos onde se apresentem músicos formados om seu auxílio? Não. Logo, ninguém estranhe que o bem público seja também alvo de ataques sistemático e "inexplicável", como insistem os apresentadores dos telejornais.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

DIA DO PROFESSOR

Se algum leitor deste blog é professor, dou a ele ou ela meus mais sinceros parabéns, embora eu tenha muito a lamentar. Devido ao pouco tempo de que disponho atualmente, lanço uns rápidos tópios e deixo a reflexão para vocês:
  • - Um professor das séries iniciais deveria ser melhor remunerado do que um professor universitário, afinal sua responsabilidade na formação do cidadão (e por consequencia, da nação) é muito maior.
  • - Os salários atuais são mais do que um desrespeito. Um professor doutor por uma universidade federal leva não mais do que R$ 4 mil no fim do mês, descontados impostos. Uma fração do que ganhava Wellington Saci, um dos piuores jogadores da safra recente,que para alegria dos corinthianos(e tristeza dos palmeirenses), deixou o Timão.
  • - O salário ínfimo faz com que o professor seja obrigado a se sobrecarrear de aulas, erdendo tempo e saúde. Saúde por que lecionar é uma atividade extressante. E tempo para se desloar de uma escola a outra, muitas vezes longas distâncias no trânsito congestionado. O resultado disso é menos atenção e dedicação não apenas ás aulas, como a correção d provas e elaboração de atividades. E, mais do que isso, toma-se o tempo que para uim professor é precioso, o do estudo, do aperfeiçoamento. Quem perde com isso são os alunos e, claro, o país.
  • - Uma nação que deixou de ser devedora para ser credora internacional, que assumiu indiscutível hegemonia regional no continente e que, em breve, passará a ser parte do seleto grupo de países exportadores de petróleo não pode se dar ao "luxo" de ter seus alunos com uma formação pior que a dos paraguaios. Não pode formar engenheiros tão ruins que forcem as empresas a importarem profissionais. É preciso rever o modelo de cima a baixo e valorizar o professor. Senão, como já disse o Inácio Araújo em seu blog, "não há petróleo que dê jeito".
  • - Mais do que tempo, é preciso estimular o aperfeiçoamento do professor, facilitar sua presença em cursos, atividades culturais etc.
  • - O quadro é desolador: grande parte dos professores na rede estadual leciona matérias nas quais não se formou. Bacharéis em matemática lecionam física por exemplo.
  • - Alguém precisa entender que ensinar física não é fazer com que o aluno aprenda a calcular a trajetória e velocidade de uma bala de canhão.
  • - Por fim, a valorização da imagem do professor gera respeito nos alunos. Está na hora de mudar.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

ANALFABETISMO?

Juca Kfoury disse domingo, em entrevista a Christian Pior, do Pânico, que “a internet revela o tamanho do analfabetismo funcional brasileiro”. Mais ou menos o que eu tentei expor aqui quando usei o twitter da Xuxa como gancho. Vale notar que Juca não disse que a internet é culpada pelo fato das pessoas escreverem mal.
Só pra citar outro exemplo, copio aqui um recado deixado no blog da VJ Luísa Micheletti, logo após o término da premiação do VMB. Sempre devemos levar em conta de que provavelmente se trata de um adolescente (para fazer declarações de amor a uma VJ num blog e citando “um antigo filósofo”, só pode ser adolescente!) e que domina razoavelmente a construção de frases bem como a ortografia, mas que por outro lado comete erros graves. É bom relevar alguns pontos; o "mascreio" deve ter sido erro de digitação (algumas palavras aparecem juntas, pode ser problema de teclado) e a ausência de maúsculas no início das frases, desleixo normal de qualquer internauta.
Ou há algo de muito errado com o ensino da língua portuguesa nas escolas ou é a falta de leitura dos jovens que os impedem de adquirir um vocabulário que vá além daquele a que eles tem acesso verbalmente ou que e é ensinado nas escolas.Ou, pior, as duas coisas.

eu poderia responder a todas asperguntas, pois são de fácil comprienção. mascreio que este não é o intuito deste post e simque as pessoas pensem nas questões que vocêabordou. é como diz um antigo filosofo, não sepode saber todas as respostas, mas deve-secompriender exatamente as perguntas. você estavalinda naquele programa do vmb. você naquelevestido preto estava lindíssimamente provocante esensual. a festa deve ter sido maravilhosa.beijos, princesa do meu coração. amo você.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

SOBRE RIO-2016...

- A vitória do Riode Janeiro como cidade sede das Olimpíadas de 2016 é reflexo direto da atual preponderância do Brasil no cenário político internacional. A escolha da sede dos jogos Olímpicos é um jogo de geopolítica. Basta lembrar que o último país a sediar uma olimpíada foi a China num momento em que solidificava sua hegemonia para além da Ásia. Ou da sequencia Moscou 1980/ Los Angeles 1984, nos estertores da Guerra Fria. A rápida desclassificação de Chicago com cidade-sede,vista por este ângulo, não tem nada de inesperada.

-A insistência do presidente Lula em trazer os jogos para o Brasil foi importante para demonstrar, entre outra coisas, que passou da hora de o Brasil ter um lugar no conselho de segurança da ONU e que o G8 é coisa do passado. O país dexiou de ser um devedor internacional e recebe indiações positivas agências internacionais de investimento. A desoberta do pré-sal só tende a solidifiar o país, que ingressará num grupo ainda mais seleto, o dos exportadores de petróleo.
- Mas nem tudo deve ser reditado a Lula. A estabilização econômica (om o fim da inflação) vem de FHC e a independência do país na produção de petróleo é obra de seguidos governos.

- É preciso evitar o oba-oba da imprensa(principalmente os grupos Globo, que deterá os direitos de transmissão, e Record, interessado em divulgar Londres2012, em que tem exclusividade ). O mínimo que se pode esperar é que os tubarões de sempre façam o que fazem de melhor e, a exemplo do PAN do Rio, os custos das obras acabem ficando muito acima do previsto,com negociatas mal explicadas e prejuízo para o Estado.

- Não se deve esperar para que o estímulo ao esporte seja o legado dos jogos. É preciso uma mudança de mentalidade desde já, a começar pelas escolas. “Educação Física” tem de deixar de ser aquela herança do regime ditatorial em que se privilegia a noção de disciplina ou, pior, sinônimo de uma bola na quadra e um professor ausente. Se continuar assim, quantos mais atletas deixaram de ser descobertos. Quantos garotos nunca saberão do potencial que eles mesmos tem? O esporte tem de ser apresentado às crianças e jovens como um futuro promissor, como uma perspectiva de vida. Logo, muitos deixarão de se seduzir pela “vida loka” da criminalidade, ou de achar que é melhor “viver pouco como um rei” do que “muito como um Zé”, que é o que promete o crime, gerando pessoas violentas e que não se preocupam com a perspectiva de morrer cedo muito menos de passar alguns anos numa cadeia insalubre e lotada.

- Os versos são dos melhores cronistas da vida urbana, os Racionais MCs que radiografam como ninguém este mundo desconhecido da alta classe média que toma as decisões estratégias nas prefeituras e no governo estadual. A integração cultura + esporte precisa ser apresentada como uma alternativa viável e real. Para isso, um contato direto dos alunos com atletas e artistas. Por falar nisso, porque tão poucas homenagens públicas a atletas vencedores?