sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

.CINEMA É A MAIOR DIVERSÃO? - e vem aí Cineclube !

Entre tweets e retweets, um seguidor (antigamente isso era coisa só de religioso...) responde à apresentadora do SPTV 1ª edição, Carla Vilhena, que dava suas impressões sobre o filme Cisne Negro, de Darren Aronofsky. É pra ler de baixo pra cima, claro.




@carlavilhenaa concordo! Fui ver o filme com minha esposa, pra relaxar, e saímos muito mais tensos que entramos! Mas é excelente o filme


carlavilhenaa


Não vou contar o fim, mas o desenrolar é quase insuportável. A tensão da protagonista nos invade e quase não dá pra encostar na poltrona.


carlavilhenaa


Em suma: filme bem realizado, Portman excelente (inclusive nas cenas de balé) mas o filme não condiz com a frase "Cinema é a maior diversão”.



Ora,com mil diabos,quem foi que disse que “cinema é a maior diversão”? O dono do Cinemark? Algum paspalho em Holywood? Pode ser, porque Hollywood, que já nos deu obras-primas, hoje entrega lixo atrás de lixo que o Cinemark trata de distribuir junto de sua pipoca hipercalórica. E é extremamente interessante notar que o casal foi ao cinema “pra relaxar”. È por essas e por outras que o espectador que eu citei na postagem anterior saiu bufando da sessão de “Tio Boonmee”.

A industria tomou conta de tal maneira do cinema, disseminou essa visão curta de tal maneira que hoje, quando alguém diz que cinema é arte, é tachado de chato,mal-humorado, ranheta,estraga-prazeres. Não consigo imaginar alguém indo ao MASP ver um Degas “pra relaxar” ou dizer que escultura é “a maior diversão”. Simplesmente porque não houve essa devastação da arte a ponto desse termo, “arte” ser quase um palavrão em cinema – ( não vou aqui discutir o termo “filme de arte” que normalmente cabe em produções pretenciosas e vazias). Nada contra se divertir com filmes como Predadores ou Mercenários, mas não dá pra pensar como esse pessoal, que cinema é só isso e,se não for,é uma porcaria – (o espectador acima se surpreendeu por não ter relaxado, mas gostou do filme).

Nas postagens seguintes vou trazer as idéias de Adorno e Horkheimer, que estabelecem uma divisão bastante rígida entre arte e a tal da “diversão” ainda que eu não concorde de todo com esse radicalismo deles.
Por enquanto,incluo  aqui um trecho de um texto publicado esta semana pelo Inácio araújo em sua coluna diária na Folha de São Paulo.

“Uma boa questão:por que os filmes que a crítica endossa são quase sempre ignorados pelo grande público?

Talvez não haja motivo para se surpreender. A crítica se interessa pelo filme com arte e tem a ilusão(às vezes nem tão ilusória) de definir o que é cinema.

Já a primeira obrigação de um grande filme, um filme de público,consiste em ir ao encontro desse público.

(...)Talvez o cinema hoje seja como a literatura.Ou alguém acha que Joyce e Proust figuram e alguma lista de Best-sellers?”

!!!



PS. Um bom tempo  planejando e organizando e finalmente vai estrear  o cineclube idealizado por este que vos  escreve e pelo Alex Lima, do espaço Cultural Gambalaia. Explico melhor o projeto, que será mensal e envolverá também música e  mini-palestra, em postagem semana  que vem. Mas desde já estão todos convidados !













sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

TIO BOONMEE PODE ENCANTAR VOCÊ

Bom, antes de tudo, desculpas  ao leitor pelo sumiço. Mas teve texto pro HQM (faltam dois ainda), logotipo de bloco de carnaval, criação e divulgação de cineclube...ufa!
Mas vamos lá, ainda que aos trancos e barrancos(não está descartado outro sumiço semana que vem).


A vidraça da vez nas seçoes de cartas de jornais e revistas de  cultura é o  filme "Tio Boonmee que pode recordar suas vidas passadas". Sempre tem alguém revoltado  com os elogios dos  críticos (eu mesmo presenciei reclamações). É aquela coisa, o sujeiro vê o crítico elogiando, vai ao cinema, detesta o filme e se sente tapeado.Acha que o crítico é um idiota que elogia coisas  que os outros odeiam só pra ser do contra.
é parte de tudo o que temos discutido aqui, mas não só. Tio Boonme nãao é nem um pouco fácil. Dá pra entender a bronca do público.  É daqueles filmes em que não  acontece "nada". Na verdade acontece muita, mas muita coiisa, só que não está no esquema de narração tradicional.  Não há uma evolução da trama  (apresentação-problema-desenvolvimento-climax-desfecho). Quando não há uma estrutura asssim, parace mesmo que não há nada.

Um leitor do Guia da Folha,munido de seu "diploma-autoridade" de sociólogo empreedeu uma "análise":

Trata-se de um loga sem profundidade alguma:não tem trama,seus diálogos são improváveis,suas imagens são incrivelmente vazias e entediantes e a duração estende-se por muito mais  ttempo do que o bom senso autorizaria

Agora: o que é um diálogo provável?- deixa pra lá.  Imagens vazias? Ok, vamos lá.

Cinco pessoas sentam à mesa e começa a conversar sobre a vida. Mas um deles  é um fantasma. Outro é um fantasma também,só que de outro tipo, um macaco, um espírito da floresta. Há uma dose de magia aí muito maior doo que em todos os HaryPotter e Senhor dos Anéis juntos.   A natureza está impregnada de magia, não é algo isolado, fantástico que se manifesta, não eestá na esfera do extra-ordinário, está na do ordinário mesmo,  ela é assim para o diretor e para  toda uma cultura oriental.  é um modo de encarar o mundo. Por isso o filme pede uma postura diferente, de contemplação  e nãao de esperar o que está  por acontecer. Não é o depois, é  o agora. é viver aquela cena, é respirar aquele ar. Porque os manuais de roteiro ensinam que um filme deve deixar sempre o espectador pensando: o "que vai contecer em seguida?". Se é uma comédia romãnticaa pergunta-se  "e agora?complicou tudo" ou "será que vão ficar juntos? ou ela vai encontrar vai preferir aquele outro cara?".

Em Tio Boonme isso pouco importa, sabemos desde o início  que ele está para morrer. E depois? Depois nada, sabemos dos espíritos mas que,como diz um deles, "os espíritos só existem ligados a uma pessoa viva"."O céu é superestimado.  Não existe nada lá".  Ou seja, nós damos sentido e vida a esse mundo. E a alguém que está morrendo, como Tio Boonmee e descobre tudo isso, só o que resta é a beleza da vida.

No mais, a cena da morte do tio é  encantadora.  Eles entram numa caverna uterina, cheia de pedras preciosas brilhando como um céu estrelado. é da mitologia oriental, como me lembro de Joseph Campbell explicando, nessa ccaverna de cristais cada pedra reflete o brilho de todas as outras, não se sabendo de qual veio a luz primeiro. Tudo está ligado, ninguém está isolado, nem das outras pessoas nem da natureza.
é uma abordagem do mundo e da vida muito mais profunda do que a de Avatar, por exemplo, que já é um ótimo filme.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

POR UMA ARTE DESCONFORTÁVEL


Reproduzo aqui,com prometido, trechos da entrevista do dramaturgo Edward Albeee, ao repórter Lucas Neves e publicada pela Folha de São Paulo em 30/12/10.
Albee, que é autor de “Quem tem medo de Virginia Woolf” e cuja nova peça, “A Senhora de Dubuque”, com Alessandra Negrini, está em cartaz no SESC Pinheiros, em São Paulo, bate forte contra a cena teatral norte-americana (notadamente a Broadway) ,que,aliás, é muito semelhante à cinematográfica. A ausência da ligação entre arte e educação, tanto lá como cá,geram esse público preguiçoso e desejoso de fórmulas fáceis .
À entrevista:


A maioria das pessoas quer um entretenimento seguro e amigável.não desejam um ato de agressão.E quase toda arte,em seu melhor,é um ato de agressão contra o status quo. Ou seja, está ali para levantar questões não para fornecer respostas fáceis,simples. Mas se você faz perguntas difíceis, irrita muita gente.Essa é a função da arte,entretanto.Se ela não lhe saca do conforto,não é arte.O problema é que boa parte das pessoas tem preguiça intelectual”


“Atraente é uma palavra perigosa, significa que as pessoas vão gostar.O que a arte precisa é ser mobilizadora de nossa mente e de nossas emoções.Ela não tem de nos deixar felizes,ma sim mais conscientes de nossos valores. E deve nos levar a interrogar se estamos dando conta ou não de nossas responsabilidades. Não entendo côo alguém pode querer ir ao teatro só para ver atores voando suspensos por fios (referência a ´Homem Aranha´ ).Vá ao circo,então. O teatro deve mobilizar o intelecto e o olhar”

“ (...)as pessoas não querem ser incomodadas quando vão ao teatro.Anseiam ter seus valores reafirmados-se é que se chega a discutir valores em cena.Não esperam vê-los questionados. Não estão ali para ser perturbadas. Querem perder tempo e estão dispostas a gastar muito dinheiro para isso”

“(o indivíduo) tem de ser instruído para fazer a democracia funcionar e para querer um teatro que faça algo útil.Quando eu ia a escola, tinha uma classe de formação cívica,em que aprendia como o governo trabalhava e o que significava um ato político.Não se ensina mais isso na América.Também tive aulas de música, literatura e artes visuais.Hoje elas não são consideradas importantes.As preferências das platéias são ditadas pelo pouco que aprendem.Se o cardápio ensinado fosse mais amplo, a gama de interesses seria mais diversificada”





SESC Pinheiros - Teatro Paulo Autran.


Tel.: (11) 3095-9400


Sexta e sábado, às 21h. Domingo, às 18h.

 




sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

TALENTO, ARTE E A VIDA, VINTE ANOS DEPOIS...

É próprio de quem chega nos 30 começar a sentir saudade  "dos velhos tempos". Que dirá aos 40  ! Os amigos que não se vê mais, as loucuras dos tempos de faculdade, os  porres, os amores  (que com o teempo se confundem na memória), tudo ganha uma  certo verniz romântico quando comparado ao presente, principalmente se ele não honrou  às expectativas do passado.

  Tanto pior se você era uma jovam promessa do teatro que acabou fazendo stand up em barzinhos e se seu melhor amigo  era um  dramaturgo de talento que  bebeu e cheirou tudo,inclusive o talento.

O que sobra senão o orgulho (com uma ponta de rancor) e a saudade? O orgulho de ter tentado, de saber que se tem talento, de ter passado o pão que o diabo amassou pra provar seu valor, ainda que poucos tenham reconhecido. E a saudade das madrugadas lendo John  Fante e Bukowski, enchedo a cara e azarando as garotas. Bons e velhos tempos, melhores ainda se comparado aos de hoje, com essa garotada que só conhece aquilo que está  ao alcance dos primeiros resultados do Google.

Explico-me,agora: este não é um texto confessional, mas o coração da excelente, engraçadíssima ,terrivelmente melancólica (e ainda assim otimista) peça Corações Under Rocks que está  em cartaz no CCSP Sala Paulo Emilio Salles Gomes (100 lugares) até  06 de março às sextas e sábados, às 21h  e aos domingos, às 20h - Ingressos: R$10,00 (retirada de ingressos: duas horas antes de cada sessão) 
Amanhã, dia  5/2  o preço é promocional, (R$2,55)- não sei pra que esse 5 centavos, mas ok, ta valendo.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

FILMECOS "CHATÍSSIMOS"

 


Parece até um texto produzido especialmente para o Bar1211 a postagem do Blog do Inácio desta semana
(http://inacio-a.blogosfera.uol.com.br/2011/01/31/filmes-que-ninguem-compreende-6/) afinal complementa com exatidão nossa discussão aqui nas últimas semanas, que é a da relação com os filmes ditos "complicados" e  da repulsa do público, que prefere o que de mais confortável estéticamente que a indústria lhe oferece. A distinção imediata acaba sendo entre arte  e indústria ainda que no cinema tal distinção seja virtualmente  impossível(a discussão, trataremos disso um dia, já chegou ao mundo das Artes Visuais- que é como se chamam hoje as artes plásticas).

Inácio na verdade construiu um texto para responder a um leitor que chamava o filme do de Apichtapong "Tio Boonmee que pode recordar suas vidas passadas"(vencedor da última palma de ouro de Cannes) de "filmeco" e "chatíssimo" deixando entender que ninguém na verdade poderia gostar desse filme a menos que fosse para fazer pose  de intelectual. E reclama  : por que esses filmes não dizem "o óbvio"?

Em resposta o crítico fala dos "filmes que vêm com bula" como “A Origem”, de Cristopher Nolan,  movidos a " explicações prévias que os estúdios destilam pela mídia" e destaca a palavra "chatíssimo" usada pelo leitor, para o crítico, uma "espécie de condenação à morte simbólica", argumento indiscutível de quem não entendeu um filme e pretende desqualificá-lo. Para Inácio "há duas maneiras de um filme ser chato: ou porque nós não o compreendemos ou porque o compreendemos demais".

Destaco um trecho   e convido o leitor a ler e indicar aos amigos  o texto original. E também a  comparar com a entrevista do dramaturgo Edward Albee que eu trarei ainda esta semana:

 
E para esses leitores o único conhecimento aceitável é o das bulas de remédio. E, como se trata de fenômenos de conhecimento, é bem mais fácil imaginar que não existe desconhecido, que não existem campos a desbravar. Apenas o óbvio. O mundo já está decifrado. Quem não professa o óbvio é, obviamente, um impostor. O quê? Freud com o inconsciente? Um impostor. Picasso? Não sabia pintar, era um idiota, por isso pintava tudo torto. Godard? Nem se fala. Esse é tão óbvio que é melhor nem falar. Beckett? Como não sabia desenvolver histórias, inventava essas coisas que não vão nem pra frente nem pra trás. E todos esses, claro, contam com o beneplácito dos intelectuais, dos críticos, esses parasitas infatigáveis, sempre dispostos a dizer que se deleitaram com essas monstruosidades, mas que elevam aos céus esses impostores tipo Manoel de Oliveira, Antonioni, David Lynch… Que não compreendem que só queremos ver “uma boa história”.