quinta-feira, 29 de abril de 2010

30 ANOS DA MORTE DE ALFRED HITCHCOCK


Hitchcock é daqueles cineastas de quem se tem tanto a falar que até desanima. Escrever pouco sobre ele é trair o leitor. Pois lá vou eu bancar o traidor, até pela falta de tempo que corróe este blog aos poucos.

Seus filmes nunca se resumem à história que contam, nem suas imagem meramente a aquilo que mostram e por isso é preciso ver e rever um Hitchcock várias vezes, descobrindo suas camadas aos poucos.

Vamos tomar como exemplo (rápido, infelizmente) de Psicose: Ele não foi filmado em preto e branco à toa (na época os filmes já eram em cores), mas sim para expressar uma violenta dualidade sobre a qual se constrói o filme,um embate entre trevas e luz . Marion Crane, a personagem de Janeth Leigh, logo no início, aparece trocando de roupa, com sua lingerie branca (sinal de pureza). Ela, todo mundo sabe, cede à tentação de um roubo fácil e, na próxima vez que a vemos trocando de roupa, a lingerie já é preta (sinal das trevas em que ela mergulhara). Não por acaso, ela já está no Bates Motel, onde novos pares de opostos se constróem: mãe e filho; vida e morte (é interessante notar o hobby de Norman a taxidermia e os animais empalhados); homem e mulher, todos sempre em tensão, conflito. A primeira vez em que Norman Bates aparece é registrando a entrada de Marion em sua pensão. De seu lado no balcão, um espelho reflete sua imagem(se não me engano ele corresponde ao ponto de fuga, ao centro da imagem filmada). Esse espelho não está ali a toa, mas sim para motrar que há um outro duplo, outra pessoa por detrás daquele simpático e tímido hoteleiro. Aliás, não só dele, de Marion também. No mundo de Hitchcock nada fica apenas na superfície.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

FAZENDO JUSTIÇA A AVATAR, UM WESTERN INCOMPREENDIDO - 5

CONCLUSÃO

Vimos que dizer que o filme é um amontoado de clichês não faz sentido, afinal Avatar traz convenções de um gênero, o Western e faz um uso significativo delas ao situar na posição de vilões aqueles tradicionalmente tidos como heróis. Essa construção engenhosa está a serviço de uma mensagem que, além da clara defesa de ideais ecológicos, condena a política da guerra como única saída para a solução de conflitos. Por conseguinte isso toca os próprios cidadãos norte-americanos e sua obsessão pelo direito de portar armas de fogo(legitimada, inclusive, pelo western), obsessão esta que tem raízes no individualismo protestante norte-americano. Portanto não dá para dizer que Avatar seja um daqueles filmes com “tudo já conhecemos no passado, sem acrescentar-lhes nada em complexidade”, ou seja, ele não é um amontoado de clichês.
Tirar o western de seu cenário tradicional não é novidade, Akira Kurosawa fez isso com Os Sete Samurais e George Lucas com seu Star Wars. A propósito, há que se notar um paralelismo entre o Darth Vader de Lucas (o pistoleiro violento desse western espacial), que é um homúnculo dentro de uma armadura a serviço de um sistema de regras inumano e os militares dentro das tanques de guerra humanóides que invadem Pandora e mesmo com a figura do Exterminador do Futuro, máquina travestida de homem.
Também não podemos esquecer que o filme apresenta um “happy end” agridoce. Vemos os terráqueos expulsos de Pandora, mas não destruídos. Nada é dito ou mostrado que comprove que eles desistiram e que não voltarão com força maior.
Quanto à maior fragilidade do filme, os personagens extremamente planos, podemos dizer que um alto grau de complexidade prejudicaria, por exemplo, a identificação do Coronel Quaritch com o monstro mitológico e,logo, a premissa do longa. O que no entanto não o exime de todo das críticas, basta retornar a “ET”e comparar os dois filmes ou a outros grandes Westerns como Rastros de Ódio ou O Homem que matou o Facínora, ambos de John Ford.
Não tem a estatura de uma obra-prima mas tampouco é ingênuo como apregoaram por aí. É,sim, mais um grande filme de James Cameron que merece ser revisto, afinal, retornando a Inácio Araújo:

“A riqueza de um bom filme consiste,portanto,na sua capacidade de assimilar o
gênero que pratica,oferecendo algo novo(mesmo que isso não se
dê,obrigatoriamente, de maneira ostensiva)” (ARAÚJO,2002,p.21)
BIBLIOGRAFIA

AUMONT, Jacques/ MARIE,Michel. Dicionário teórico e crítico de cinema. São Paulo: Papirus, 2003.

CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. São Paulo:Ed Cultrix, 2005.

VERNANT, Jean Pierre. Mito e sociedade na grécia antiga. Rio de Janeiro: José Olympio, 2006.


ARAÚJO, Inácio. Cinema: o mundo em movimento. São Paulo: Scipione, 2002 .

sexta-feira, 16 de abril de 2010

ANDY WARHOL


É absolutamente incortonável a exposição Andy Warhol, Mr.America por vários motivos. Primeiro para desfaze aquela idéia de que ele seria um violento rítico do capitalismo e dos EUA. Isso os textos e as próprias imagens fazem bem. Mas também para se captar toda a dimensão de sua arte porque existe uma mania terrível de se ler sobre um artista e ver as fotos de seu trabalho, seja num livro ou na internet e se acreditar que pode parar por aí. No caso do artista POP isso é ainda mais grave porque as obras dele buscam se pareer com gravuras, fotografias ou anúnios publicitários. E aí vem aquela idéia : bom, se isso se parece com um anúncio do "Seleções" pra quer ver ao vivo? O caso é que é preciso ter em mente que aquilo é uma obra de arte e expoxta num museu, portanto o fato dela parecer algo banal é bastante signifiativo. Ela seria banal se estivesse num lugar banal, ou seja m, se fosse só um anúncio de jornal, uma embalagem de sopa, etc. Mas é muito mais do que isso e sua forma quer nos dizer algo. É preciso estar frente a frente com as Marilyns em série para sentir a força daquilo a que Warhol se propõs a fazer. Engana-se quem pensa que uma foto, por captar todos os detalhes (de uma obra sem minúncias) é capaz de apreender toda suia dimensão.

É preciso estar lá para ver e sentir.


A exposição fica até 23 de maio na Estação Pinacoteca, Lgo Gen.Osório,66,Luz Centro-SP. Tel. (11)3335-4990, de Terça a domingo das 10h às 17:30. Ingressos : R$ 6,00, grátis aos sábados.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

FAZENDO JUSTIÇA A AVATAR, UM WESTERN INCOMPREENDIDO - 4

OS PERSONAGENS


Como já foi apontado, muito se criticou os personagens planos, estereotipados de Avatar
Na verdade é característico do western privilegiar personagens planas, arquetípicas por que não trata da história de indivíduos, mas de uma nação. E assim é em Avatar, o que proporciona uma possibilidade de deslocar a atenção para as outras camadas do filme.
É comum no Western o grande criador de gados enviar seu pistoleiro violento para aterrorizar os agricultores(foi este papel que eternizou a figura de Jack Palance em “Os Brutos Também Amam, de 1952). No longa de James Cameron vemos uma expedição chefiada por um burocrata ganancioso e levada a cabo por um coronel assustador. Mas é o caso de se pensar nele não apenas como um clichê de militar malvado mas como alguém extremamente ególatra e egoísta, que busca destruir o outro para auto afirmar-se e que é incapaz de ver na grandeza de Pandora nada além de um adversário imponente, afinal este é um planeta cruel, que o encheu de cicatrizes. Ele não vai ao planeta para desmatar, mas para massacrar. Destruir a árvore sagrada, sob a qual está o tão cobiçado minério de seus chefes engravatados, é apenas a parte chata do trabalho. Ele, afinal, é o pistoleiro, não o fazendeiro desse western.
Diz Joseph Campbell em “O Herói de mil Faces”:

“A figura do monstro tirano é familiar às mitologias, tradições folclóricas, lendas e até pesadelos do mundo; e suas características, em todas as manifestações , são essencialmente as mesmas.Ele é o acumulador do benefício geral.É o monstro ávido pelos vorazes direitos do “meu e para mim”. A ruína que atrai para si é descrita na mitologia e nos contos de fadas como generalizada, alçando todo o seu domínio”
(CAMPBELL,2005, p.25)

Campbell tinha o defeito de ser um simplificador da mitologia, notório pela ausência de metodologia em seus trabalhos mas inegavelmente era um conhecedor de mitologia comparada, alguém capaz de descrever e traçar semelhanças e estruturas comuns aos mitos como ninguém.
Há uma clara identificação da figura do monstro, como a define Campbell, com a postura do militar e, como já vimos, da nação norte-americana. Basta trocar a pedra que está no subsolo de Pandora por petróleo e temos a invasão do Iraque. Aqui está o coração do filme, sua mensagem e ideologia afinal monstro mitológico Cameron identifica justamente com a nação norte americana e sua postura com relação ao resto do mundo, àqueles cujas culturas não conhecemos bem o suficiente para respeitar.
Campbell prossegue:

“Auto-aterrorizado; dominado pelo medo;alerta contra tudo, para enfrentar e combater as agressões de seu ambiente-que são, primariamente, reflexos dos incontroláveis dos impulsos de aquisição que se encontram em seu próprio íntimo”.
(CAMPBELL,2005, p.25)


Esse é o monstro primordial, esse é o coronel estereotipado, esse é George W.Bush.
continua