sexta-feira, 30 de julho de 2010

BLACK POWER ! - MOSTRA "A SAGA NEGRA DO NORTE"


Para a historiadora Mônica Almeida Kornis , em seu livro Cinema, televisão e História (Zahar) “o filme deve ser visto também como um agente da história e não só um produto” . Citando o historiador francês Marc Ferro, Kornis afirma também que o cinema revela uma contra-história, passível de uma contra-análise da sociedade, por “ revelar aspectos da realidade que ultrapassam o objetivo do realizador, além do fato de as imagens expressarem a ideologia de uma sociedade”. Ou seja, um filme não deve ser encarado como um documento histórico afinal é a visão de uma pessoa sobre determinado momento, mas indiretamenente dá pistas sobre momento em que foi filmado .


Este “aspecto da realidade” é que motiva a mostra de 11 filmes “A saga negra do norte” que acompanha, desde o dia 17 deste mês, a exposição “Eu tenho um sonho- a saga negra do norte-de King a Obama” no Museu Afro Brasil (São Paulo).

Com curadoria de Eugenio Pupo ( o mesmo da retrospectiva José Mojica Marins no CCBB), a mostra composta por documentários e longas de ficção tem como mote a chegada do primeiro negro à presidência da república nos EUA para refletir sobre a imagem que seu país faz do negros e a maneira como eles mesmos passaram a se enxergar em momentos importantes da história norte-americana. Há desde o elogio da Klu Klux Klan pelo sedimentador da gramática cinematográfica clássica, D.W.Griffith, com seu “Nascimento de uma Nação” (1915) - ele meio que se desculparia depois filmando “Intolerância”- até os filmes Blaxploitation como “Shaft”, de Gordon Parks (1971) feito por negros e para negros e com marcante trilha sonora dos bambas da soul music.


E a soul music não podia mesmo ficar de fora, afinal o jeito de dançar, de cantar e as roupas extravagantes eram tudo o que os brancos não podiam copiar e fortaleciam o “orgulho negro” na virada dos 60 para os 70 – época inclusive em que o blues era meio desprezado, visto como música conformista, herança de escravos. Pena que fique restrito apenas a “O Poder do Soul”, de Jefrey Levy-Hinte(2008)- “WattStax” ficou de fora, por exemplo. A mostra passeia ainda por filmes de cunho histórico , como Malcom X(1992) de Spike Lee e por documentários como “ O Assassinato de Martin Luther King (1993), de Denis Muller.




Museu Afro-Brasil funciona de terça a domingo, das 10h às 17h. A entrada é gratuita.
Para ter acesso à programação completa vá a
http://www.museuafrobrasil.org.br/

quarta-feira, 28 de julho de 2010

VIOLÊNCIA, FUTEBOL,DEMOCRACIA E A MÍDIA

Na edição deste domingo do “Juca Entrevista”, programa da ESPN comandado pelo jornalista Juca Kfouri, primeiro feito após a Copa, o entrevistado Antônio Carlos Mariz de Oliveira, advogado criminalista e ex-secretário de segurança de justiça do estado de São Paulo, falou sobre a relação da imprensa com casos como o do goleiro Bruno.

Está se transformando a tragédia humana num espetáculo. Há uma teatralização que aproxima o caso de uma novela”, disse Mariz.
A culpa não é só da imprensa,completou, mas também das autoridades (delegados ou mesmo o ministério público) que, seduzidos pelo poder da imagem, pelos holofotes que podem atrair para si, acabam metendo os pés pelas mãos, falando mais do que deveriam. É,de certa forma, o que eu chamei aqui , algumas postagens atrás, de Peeping Tom, em referência ao filme de Mike Powell.

O programa na verdade foi sobre a necessidade de a CBF ter eleições diretas para presidente a fim de impedir mandatos quase vitalícios como o de Ricardo Teixeira, idéia que o advogado exprimiu num artigo para o jornal Estado de São Paulo semana passada. Em dado momento falou-se que a democracia não chegou ao futebol, que é tudo como algo privado, onde nem os governos ousam se meter. Juca destacou que isso é algo absurdo, afinal o hino que toca antes das partidas da Seleção Brasileira não é um hino da CBF, mas sim do Brasil. Nem Mariz nem Juca não tocaram nesse ponto, mas temos uma herança monárquica (tivemos sob o poder dos reis portugueses e depois de uma monarquia própria) que torna a democracia algo estranho a nós. No documentário O Abraço Corporativo (de que já tratei aqui), o jornalista Hérodoto Barbeiro (CBN, TV Cultura) diz que “nós temos 500 anos de história, dos quais 50 de democracia em duas parcelas de 25”. Ou seja, ainda precisamos aprender a viver com ela.
Pois é.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

ESPORTE CONTRA A VIOLÊNCIA


Vale Tudo,ou MMA (Artes Marciais Mistas) como chamam hoje, é sinônimo de violência?
A despeito do sangue que normalmente corre sobre o ringue, este esporte é uma arma na luta contra o crime e, por que não, a violência, como mostra o documentário Dias de Luta. Dirigido por Eduardo Brand, o filme acompanha a rotina do mestre Casquinha em sua academia num morro da zona norte do Rio, onde trava uma luta particular para tirar jovens do convívio com as drogas e o crime oferecendo a eles, como alternativa de vida, a dedicação ao esporte.

Combate desleal, é evidente, mas nem por isso Casquinha desistiu, nem mesmo quando a verba prometida a ele pela prefeitura do Rio foi deslocada para o PAN(aquele que custou 10 vezes mais do que o orçamento inicial e no qual não iria entrar verba pública).


Você não tem dois caminhos no morro, você tem um só, que é o tráfico. Você quer um tênis legal, o traficante tem, você quer comer uma pizza, o traficante manda comprar, você quer mulher bonita, o traficante tem. Só um milagre pra trazer um moleque pra cá”, diz Casquinha, que ainda assim conta com alguns alunos dedicados que desistiram da vida bandida para buscarem vitórias no ringue.


É interessante o que disse o presidente da Fundação Palmares, Zulu Araújo em entrevista a Lázaro Ramos no programa Espelho no Canal Brasil (a transcrição é de memória): “a sociedade diz que você precisa de uma TV enorme, de um tênis bacana , de uma série de coisas. Você acha que um jovem pobre e sem perspectivas irá reagir pacificamente?”. É o mesmo que disse Casquinha. Há o apelo ao consumo ( e a necessidade histérica de ser feliz, via consumo, a maior fé da sociedade ocidental) e há jovens sem perspectiva nenhuma de ascensão social. O milagre de que casquinha falou seria bem possível se a prefeitura do Rio, governos do estado e Federal e o raio que os parta tivessem direcionado parte dos 4 milhões do PAN a projetos sociais, como a academia de Vale Tudo. Por que se o esporte ou a arte se mostram alternativas viáveis de ascensão social não haverá tantos assim sendo aliciados pelo crime que, como diz o rapper Mano Brown, oferece a possibilidade de você escolher entre “viver pouco como um rei ou muito como um Zé”. Tanto é que, como aponta Zulu, a única oposição real ao tráfico é a igreja evangélica. O sujeito entra lá, se veste daquela maneira, carrega a bíblia debaixo do braço e anuncia a todos que está fora desse mundo do tráfico.
E aí nós voltamos de novo a duas postagens atrás neste blog.


Dias de Luta pode ser visto no Canal Brasil, basta ficar atento à programação.
O Trailer, você encontra aqui:
http://vimeo.com/3777465

sexta-feira, 16 de julho de 2010

O DEUS DAS PEQUENAS COISAS- CINEMA DE YASUJIRO OZU


Chega a ser lugar-comum dizer que se deve procurar beleza nas coisas simples da vida, dos livros de auto-ajuda às apresntadoras de programas femininos, todos concordam, no entanto pouca gente realmente leva a cabo e, menos ainda são aqueles transformam isso em arte, talvez porque isso não seja assim tão...simples.
O cineasta Yazujiro Ozu é um dos poucos que conseguiu tirar beleza e encantamento dos fatos mais triviais da vida, aqueles do íntimo do cotidiano familiar. A rigor seus filmes (feitos na maioria entre os anos 1930 e 60) versam “na verdade sobre um único tema, a dissolução da família tradicional japonesa” como diz Richard Beardsword, em seu A Hudred Years of Japanese Cinema” (Koadansha), no entanto engana-se quem pensa que eles são desprovidos de interesse a um ocidental do século 21. A poesia, a beleza toca fundo em qualquer um, ainda que passe despercebido algumas obeservações sobre a abertura da sociedade japonesa de seu tempo;são comuns os closes em garrafas de whiky, placas com propagandas da coca cola, ou estabelecimentos com nomes estrangeiros(como o “Balboa Tea and Cofee”).


Mas Ozu é ainda mais do que retratista do encanto das coisas triviais, ele é um dos primeiros a enxergar criticamente o cinema clássico norte-americano(que ele tanto admirava e de que absorvia tantas lições). Para ele, não deveria haver ligação emocional do espectador com os personagens afinal o mundo já é pleno de significados para que o cinema faça recortes (no tempo e no espaço- a edição) e transformações a fim de dar-lhe um significado único. Afinal o cinema americano era(e é) assim, ele diz alguma coisa com a imagem da qual não devemos duvidar, ou mesmo entender nada por nossa conta. Assim, sentimentos são padronizados e universalizados. Ozu utiliza planos longos, foge do fade out, busca a ambigüidade das cenas para dialogar com o espectador ao invés de dar um sentido único, uma verdade pronta.
Um dos muitos artifícios daquilo que ficou conhecido como o “sistema Ozu” é o uso da câmera baixa, à altura de um homem sentado no tatame. Pode parecer bobagem, mas a câmera nessa posição, tira o rosto dos personagens do centro da tela. E o centro da tela, desde o Renascimento, corresponde ao ponto de fuga, ao lugar onde o olhar do espectador se dirige instintivamente e é lá onde se dá a identificação emocional, que Ozu rejeita. Porque,para ele, o verdadeiro sentimento está em nós, não naquilo que nos diz o cineasta.


A mostra "Emoção e Poesia: O cinema de Yasujiro Ozu" vai até 25 de julho no CCBB São Paulo.

Informações em



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O título da postagem é uma referência ao belíssimo livro da indiana Arundathi Roy

segunda-feira, 12 de julho de 2010

ACABOU A COPA. É HORA DE PENSAR EM 2014


A Copa acabou, o Brasil perdeu (ou melhor, a seleção brasileira perdeu) e é hora de pensarmos nos interesses políticos por detrás do esporte, que nada têm a ver com as ingênuas e infantis teorias conspiratórias (a recorrente história deque “o Brasil entregou o jogo”). O jogo agora é outro, é a Copa 2014, com que Ricardo Teixeira estava tão preocupado a ponto de delegar plenos poderes a Dunga, tão plenos que este acabou por expôr as entranhas da relação Rede Globo-CBF. Tem também a história do Morumbi, preterido em lugar da construção do tal Piritubão e a decisão ainda por vir da cidade que será sede da abertura dos jogos, decisão que não caberá à FIFA(como não coube o veto ao Morumbi), mas sim à vitória ou não do candidato de Aécio Neves em Minas ou à vitória ou não de Alckmin em São Paulo.

O Programa Ver TV, exibido pela TV Câmara em 09 de junho deste ano, teve como tema “O Poder mágico do futebol sobre a audiência” e tratou longamente sobre o monopólio de um canal de TV sobre transmissões esportivas(e no que isso influencia na qualidade da informação,como eu já apontei aqui) mas também tocou num tema mais contundente: a ausência completa de política esportiva no Brasil .
São dados internacionais: para cada dólar investido em esporte, retornam U$ 3,4 ao Estado na forma, por exemplo, de jovens mais sadios(que utilizam menos o sistema público de saúde). No Brasil, o problema não é exatamente a falta de dinheiro (vêm recursos, por exemplo, das loterias) mas sim a ausência absoluta de uma política esportiva, que seria capaz, por exemplo, de articular esse dinheiro junto a comunidades carentes. Para se ter uma idéia do absurdo atraso do Brasil, inexistem aqui cursos de Educação Física com viés comunitário. Pesa aí também o fato de no Brasil ainda se discutir se professor de Educação Física é de fato um educador, logo não utilizamos o potencial do esporte nem como ferramenta de educação nem como promotor de saúde.


Tem uma Copa batendo à nossa porta, os tubarões de sempre estão famintos pela construção de Estádios, mas pouco se fala no legado do evento(que será feito desses estádios todos?). É o momento oportuno para se discutir também, a criação de uma política esportiva que acabe com os criadouros que são,por exemplo, as categorias de base, com jovens amontoados em acomodações precárias, sem estudo e um empresário a espera que um deles desponte para um clube grande, fazendo valer seu investimento(que é mínimo, para lucro máximo).
Hoje , em comunidades carentes, quando muito se constrói uma quadra esportiva, sem estrutura nenhuma e nenhum educador, nenhum programa.



Existem ações isoladas, empreendidas principalmente por ex-atletas, como a Gol de Letra
http://www.goldeletra.org.br/ , de Raí e Leonardo, ou a Fundação Cafú http://www.fundacaocafu.org.br/. Devia servir de exemplo para o Estado mas até agora, que eu saiba,nem Dilma nem Serra tocaram no assunto.
O programa Ver TV está disponível para Download em 3 blocos:



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Caderno especial da Folha de São Paulo Copa 2010 de hoje traz uma série de questões sobre 2014, entre elas quem serão os responsáveis por administrar os 33 bilhões a serem gastos com o evento , se todas as obras necessárias estarão concluídas até lá(tudo leva a crer que não) e anunciado caos aéreo. Dado interessante exposto lá é da consultoria Crowe Howarth de que pelo menos cinco dos nove estádios públicos(Brasília,Recife,Manaus,Natal e Cuiabá) não serão sustentáveis após a Copa. Outro ponto é o conselho do ex-ministro da economia de Portugal (1996-97) e atualmente professor da Universidade Técnica de Lisboa, Augusto Mateus. Com base na experiência de Portugal em sediar uma Eurocopa, ele defende que é melhor reformar estádios do que construir novos.

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Assisti a reportagem no Fantástico(03/07) que mostrou uma adolescente que,a exemplo de outros jovens, se ofereceu aos traficantes para infiltrar celulares em presídios."Eu tinha o sonho de conhecer a cadeia", ela explicou.

Enquanto o governo não focar numa política cultural e numa política esportiva,enquanto não se apresentar ao jovem carente uma alternativa viável acessível e valorizada de vida vamos continuar reféns do mata-e-esfola dos Datenas da vida e a coisa vai continuar do jeito que está e os que pedem voto prometendo colocar a Rota na rua, pena de morte, “cadeia neles” e etc vão continuar felizes da vida, sempre conseguindo novos mandatos ou índices crescentes de audiência.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

O PEEPING TOM NOSSO DE CADA DIA




É sempre a mesma coisa. Algum crime ganha repercussão nacional e os programas policiais (e não só eles) desatam a falar sonbre aquilo por horas a fio, gritando, pedinco justiça(mas sem promover debate sobre as causas do crime ou ouvir quem possa apontar soluções) e repetindo as imagens da vítima ou do crime em sequencia nauseante.
Tudo que seja além de dar a notícia, que ultrapasse alguns minutos em noticiar um fato, é exploração. O que Datena e tantos outros fazem, ao repetir imagens de pessoas assassinadas, não é jornalismo e sim voyerismo doentil, é “torture porn. O termo é utilizado para designar filmes como O Albergue, de Eli Roth, e os da série Jogos Mortais em que o barato é curtir com o sofrimento alheio, sobre o qual a câmera se detém por um bom tempo. Verdadeiro tratado sobre essa relação erótica e perversa da imagem filmada com a dor é Peeping Tom, filme de Michael Powell que conta a história de um jovem mentalmente perturbado que só se excita sexualmente ao assassinar garotas ao mesmo tempo em que as filma(à sua câmera está presa uma lâmina) . O filme de 1962 arruinou a carreira de Powell, tornou-se maldito até sua redescoberta por cineastas cinéfilos como Martin Scorsese (quando virou pérola Cult) e servir de inspiração para o “Frenesi” de Alfred Hitchcock. A idéia de alguém (protagonista e espectador)se deliciar com a expressão de horror no rosto das vítimas pareceu, à época, doentia,mas, quem diria, hoje isso é quase um exercício diário.Sem, é claro, o humor negro e o tom ácido de Powell.

E A IMPRENSA TOMA PARTIDO...

A Folha tem apresentado cobertura abertamente pró-Serra, sem fazer discurso a favor do candidato, claro. Um exemplo: quando o PT foi multado por fazer propaganda antecipada, o caso virou manchete de capa. Aconteceu a mesma coisa ontem, desta vez com Serra(multa de R$ 5.000,00) no entanto a notícia ficou escondida na parte inferior da capa, ocupando o menor espaço disponível para este espaço. Foi o mesmo que aconteceu com as pesquisas eleitorais;quando IBOBE e Gallup deram Dilma na frente da corrida presidencial, a manchete ficou escondida, uma semana depois o DataFolha dá empate técnico (com ligeira vantagem para o tucano) e é manchete principal.
Já a TV Cultura, como seria de se esperar(mas não desejável) faz campanha:no anúncio para o programa Roda Viva, o primeiro de uma série em que são entrevistados os candidatos à presidência da República, anúncio nos jornais diziam “No Roda Viva , o primeiro na largada para a corrida presidencial”. Era Serra, claro, e o anúncio, em tese, fazia referência apenas ao fato dele ser o primeiro dos entrevistados.
Não se trata de teoria da conspiração contra os pobres petistas (como adoram dizer os militantes) porque a Rede Record, por exemplo,é pró-Lula. O presidente já esteve na inauguração da Record News e libera quantidade generosa de dinheiro em propaganda oficial no canais de Edir Macedo.
Cabe ao eleitor apenas abrir o olho aos interesses por trás da maneira de se dar uma notícia.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

“O ABRAÇO CORPORATIVO” É UM DOCUMENTÁRIO OBRIGATÓRIO


O documentário O Abraço corporativo, do diretor Ricardo Kauffman está em cartaz em apenas uma sala da grande São Paulo, mas deveria estar ao alcance de todos tamanha é a importância dos temas que trata.
A coisa é assim: Um ex-executivo, Ary itnem,decidiu abandonar seu emprego após ter sofrido um colapso e juntar-se à Confraria Britânica do Abraço Corporativo e pregar as benesses de abraçar os colegas de trabalho- alta da produtividade é uma delas. Itnem faz isso andando para lá e para cá na avenida Paulista, de terno e gravata, segurando uma placa onde pedia um abraço aos transeuntes. Virou vídeo no youtube, ele foi entrevistado pela Folha, CBN, e vários canais de TV, revistas e portais de internet e seiu vídeo circulou de maneira viral por e-mail.
Só que nem Item nem a tal Confraria existiam, eram criações do diretor. Aliás, Itnem (intepretado por um ator profissional) é um quase anagrama da palavra “mentira”. E como isso foi parar nos mais respeitados veículos de comunicação?Aí, como diz o outro, é que o bicho pega e gente como o Contardo Caligaris (psicanalista), Juca Kfoury (ESPN,Folha), Mauro Wilton de Souza(cientista social e professor ad USP) , Manuel Chaparro(pesquisador do jornalismo) eoutros tentam entender não só como isso aconteceu, mas também como funciona a relação da sociedade com a notícia.


O que está lá exposto (mais do que a “pegadinha” que enganou meio mundo na mídia) é a permeabilização do jornalismo pelo entretenimento (programas como Hoje em Dia, entre tantos outros, onde o que menos importa é a qualidade da notícia), a ficcionalização da realidade (não importa se algo é real, mas sim que pareça) e a banalização da notícia, motivada, entre outros tantos fatores, pela pressa em noticiar- é exemplar o caso lá mostrado de um grande portal que noticiara a queda de um avião na grande são Paulo, logo copiado por quase todos os outros portais noticiosos mas ,como depois se descobriu, não tinha avião nenhum na história e sim uma fábrica de colchões queimando. Onde há fumaça não há apenas fogo, mas todo um espetáculo. Aliás o espetáculo que encobre o fato explica a cobertura feita pela TV dos atentados públicos do PCC , caso bem lembrado pelo ex-governador Claudio Lembo, quando chegou a se exibir como “ao vivo” a imagem gravada de um ônibus em chamas e a coisa toda pareceu bem maior do que realmente foi.
É um documentário importantíssimo, indispensável e se algum dia sair em DVD(o que é bem improvável) deve fazer parte do acervo de todo mundo, afinal, pensar a mídia é um exercício diário.


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Dá para estender a reflexão para outras searas. Num dado momento, Ary Itnem é convidado a dar uma palestra em uma dessas conveções empresariais onde todo mundo se apresenta como um grande especialista numa coisa que só ele faz e sempre tem uma fórmula mágica para aumentar a tal da produtividade. Pois bem, Itnem vai lá, faz sua palestra, diz para o povo se abraçar, eles obedecem e ele acaba aplaudido por um público quase em êxtase. Contardo Calligaris, em entrevista, diz que nenhum boato se espalha a toa, ele tem de dizer algo àqueles em que nele acreditam e é isso que o ator e diretor fizeram: dizem algumas verdades (a distância criada pela comunicação eletrônica,a frieza crescente da sociedade) e isso encontra resposta em angústias de todos nós (o medo –paradoxal- da solidão é das mais contemporâneas) e pronto, está todo mundo fisgado. O que ele disser em seguida vai ser aceito com verdade incontestável. Ora, essa é a retórica não só desses executivos de palanque, mas também dos livros de auto-ajuda e de muitos tele-evangelistas.


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Dessa sociedade em que o que vale mais é a imagem do que o conteúdo eu tratei algumas postagens atrás, sobre o“caso” Carol Castro e ojornalismo com espetáculo, analisando a cobertura da Globo na Copa de 2006 .

Y- O ÚLTIMO HOMEM


Já saiu o segundo número de Y- O Último Homem, de Brian K. Vaughan (Panini, R$ 16,90), história de um ilusionista meio bobalhão que, após uma praga devastar todos espécimes do sexo masculino sobre a Terra(os portadores do cromossomo Y), se torna o tal último homem. Se nas mãos de um mestre do erótico como Milo Manara (Gullivera, Clic) isso daria numa orgia em escala planetária, aqui teremos, além do mistério que cerca a morte dos homens e animais machos(sobra apenas o macaco que o ajudava nos truques),mulheres querendo matar o pobre sobrevivente e uma série de cutucões na sociedade norte-americana. Por exemplo, boa parte dos transportes e da geração de energia está comprometida porque os cargos eram ocupados majoritariamente por homens. E surgem também todo tipo de rancor que evidencia a posição ainda secundária da mulher na sociedade. Sobra também, claro, para as feministas que, apesar de dizerem um bocado de verdades, se afundam no próprio radicalismo- mostrar o povo norte-americanos sendo capaz de ações fundamentalistas é um feito e tanto. Normalmente, na ficção, isso é sempre “privilégio” dos outros.
Se não fosse por tudo isso, só uma machadada que pega dispara o coração do leitor já valeria a compra da revista.
Pra quem estiver com medo de não entender porque não leu o primeiro número, não tem problema, há um resumo bem completo antes do início da história.