sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O TWITTER DA XUXA

Um dos assuntos mais comentados essa semana pelos usuários do Twitter foi o bate-boca da apresentadora Xuxa com os seguidores do seu microblog. Tudo começou quando ela digitou sua primeira mensagem toda em caixa alta (letras maiúsculas) o que, para quem usa o site (ou até para quem te e-mail) equivale a dizer alto gritando. Xuxa se desculpou, mas o emenda saiu pior do que o soneto, porque escreveu “OUTRA COISA , NÃO FIQUEM TRISTE POR EU NÃO RESPONDER TUDO EU FICO DOIDINHA , VOU APRENDER AOS POUCOS TÁ”. Logo em seguida, outro motivo de estresse; Sasha postou uma mensagem em que escrevia “cena”com “s” (sena). Ante a esculhambação geral e as respostas agressivas, Xuxa justificou dizendo que a filha, de 11 anos, havia sido alfabetizada em inglês. E desabafou, em caixa baixa, mas sem vírgula: “fui vcs não merecem falar comigo nem com meu anjo”.
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Xuxa é nossa versão nacional de Michael Jackson; quanto mais envelhece, mais age como criança. A diferença (além do fato de que ela ainda não morreu),fica por conta do talento gigante do americano, frente à inexplicável empatia da ex-modelo com o público televisivo. Mas ela parece ter mergulhado tão fundo nessa fantasia de “rainha dos baixinhos” que age como se vivesse num mundo de conto de fadas. Só isso explica tamanha ingenuidade no uso do Twitter. Xuxa, isolada primeiro pelos altos muros de sua mansão, depois por seus seguranças e por fim pela trincheira inexpugnável da imagem fantasiosa da TV (a mesma fantasia que tentaram vestir, até agora sem sucesso, em Carlinhos) achou que realmente tinha “seguidores” num sentido de devoção e por isso se espantou tanto com areação negativa às suas postagens, ou à péssima alfabetização da anglófona filhota. Uma coisa é se relacionar com pessoas que estão numa platéia de um programa de auditório, outra é lidar com elas sem mediadores, como é o caso do Twitter. A Rainha sentiu brevemente um gostinho de bastilha e talvez seus cabelos tenham ficado ainda mais descoloridos. Mas ela ainda conta com sua guarda real, a imprensa de celebridades. A revista "Quem" (que como a Caras e a Contigo, faz de tudo pra injetar sangue azul em qualquer BBB) minimizou e disse que o problema se deveu a pequenos erros de português na postagens. Ah, ta.
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Xuxa e sua filha demonstraram um domínio precário da língua portuguesa. Mas, ao mesmo tempo, vale lembrar o quanto isso é um problema quase epidêmico. No trajeto que o trem faz de Rio Grande da Serra até a Estação da Luz, lá pela altura da Mooca, pode se ler uma pixação que diz : “A panela esta formada”. O acento agudo de está não está lá. No sentido inverso, perto de Santo André, escreveram “Mauá”, sem acento mesmo, demonstrando que não sabia escrever o nome da cidade onde provavelmente morava. Em outro lugar, na rua, vejo uma estranha “O silêncio dos inocetes”. Não, ele não escreveu errado sem querer, assim como Xuxa também não e nem Sasha.
Em fóruns de discussão vejo pessoas que debatem, em termos técnicos complicadíssimos,
a montagem de um Home Theater de R$11 mil, mas com erros tão primários na escrita quanto os dos pixadores que eu mencionei acima. Já a maneira mais fácil e segura de identificar vírus que finge ser uma mensagem de banco solicitando recadastramento da conta é justamente encontrar erros grosseiros de portugês no corpo do e-mail. Ou seja, uma pessoa que é capaz de criar um programa que esvazia sua conta bancária não sabe escrever corretamente ! Num blog, não me lembro qual, alguém irritado com uma pessoa que criticava justamente a má escrita nos outros comentários, respondeu dizendo algo como “você que vá então pra academia brasileira de letras”. Ou seja, escrever de maneira minimamente correta é coisa de outro mundo, portanto perfeitamente dispensável. Os incomodados que se mudem.
Qual a razão disso? Eu bem que gostaria de saber. Mas escrever sem erros grosseiros (e este blog está cheio de erros de diversos calibres), mantendo um mínimo de concordância não é exibicionismo. Esse pouco domínio da língua que vemos tanto em gente muito pobre quanto nos mais ricos cria uma dificuldade de comunicação, uma fragilidade na hora de se expressar. E isso não é bom para ninguém.


segunda-feira, 24 de agosto de 2009

CARLINHOS: DO REALITY SHOW À NOVELA


A esta altura qualquer um, mesmo que não seja fã de reality shows ou não tenha visto um dia sequer de A Fazenda, na Rede Record, sabe que de lá saiu consagrado(embora perdedor) Carlinhos, humorista que interpretava o personagem Mendigo no programa Pânico na TV, antes de ser contratado pela emissora de Edir Macedo.
Programa após programa exploraram seu passado de menino de rua, os anos longe da família e a volta por cima em sua nova profissão. Até um encontro ao vivo com a mãe (negligente e violenta )que ele não via há anos foi providenciado, bem como imagens do pai (ironicamente mendigando). Este só não apareceu também porque fora levado pelo veículo de uma outra emissora, também faminta por um naco de audiência que a tragédia pessoal do humorista podia render. Do Hoje em Dia, pendurado uma passarela suspensa a 45 metros de altura, ao Geraldo Brasil, onde sua popularidade elevava os números da audiência, Carlinhos protagonizou cenas do dramalhão mais rasgado. Geraldo Luis, que em outros tempos chegou a sacudir uma boneca através de uma tela rasgada para ilustrar o assassinato da menina Isabella Nardoni e a enviar seus repórteres para encontrar casas assombradas, extra terrestres no interior de São Paulo ou animais falantes, agora agradecia o décimo abraço dado por dona Maria de Lurdes do Nascimento, no filho Carlinhos com um possante “obrigado meu Deus!”.
Bom, isso tudo é uma novela já vista inúmeras vezes, em diferentes circunstâncias, apenas com diferentes protagonistas. Só que agora o alvo não é bobo (como Carlinhos se referira ao paspalho Dado Dollabela, ainda dentro do reality), ele questiona um programa em que pessoas se expõem por dinheiro, em que fazem caras e bocas a fim de enganar o público, em que imagens são editadas e apresentadas como “realidade”. Mas, mais do que isso, ele se recusa a ceder ao sentimentalismo de novela mexicana e afirma que não quer vínculo nem convivência com os pais. Fica a pergunta: será isso suficiente para manter sua integridade(no sentido de se manter inteiro mesmo) quando se está até na capa da Contigo? Programas como este e revistas desse tipo viver de criar personagens, de simplificações, de mostrar a realidade em termos quase infantis como bom, mau, chato ou legal.Ou seja, transforma a vida em um enredo de novela. Carlinhos agora é o rapaz sofrido que deu a volta por cima, o moço de bom coração que não cedeu à drogas ou ao crime, aquele que fia com a mocinha no final.
O que será dele, criador de personagens, agora que sua vida foi mexida, remexida e reinterpretada pelos TV Fama Brasil afora e ,ele mesmo, tornado personagem? O que será de seu humor, cujo mérito estava em expor ao ridículo essa máquina de moer carne humana que é a indústria das celebridades?

terça-feira, 18 de agosto de 2009

GAMES E ARTES PLÁSTICAS NO ITAÚ CULTURAL


Interatividade é a palavra chave para se compreender a exposição GamePlay que fica no Instituto Cultural só até o dia 30 deste mês e é composta por 6 instalações artísticas e 11 jogos, entre eles Halo 3 , Mario Kart wii e Fifa Street 3. Mais do que promover um encontro entre as artes plásticas e os games, a exposição busca explorar o conceito de gameplay, um “conjunto de experiências interativas entre 2 ou mais sistemas, humanos ou artificiais” e testar seu alcance. A atenção da curadoria se voltou para a capacidade única dos games de prenderem a atenção de quem joga (que é muito maior do que a de quem vê um filme ou admira uma obra de arte) e de tornarem possível uma autêntica troca de experiências entre a máquina e o jogador. Isso tudo se reflete nas instalações, que só se completam quando o visitante entra em ação. É assim com a melhor obra, “KinoArcade Machine”, em que um fliperama exibe o clássico Encouraçado Potemkin (1925), de Sergei Eisenstein. Extrapolando a tradicional ligação entre games e cinema (filmes que viram jogos e vive versa), este Arcade permite que o visitante, através dos botões e do joystick, interfira na textura e na ordem das imagens, acrescentando inclusive cores que inexistem no filme original, criando uma obra nova que não pode jamais ser reproduzida.
A GamePlay coincidiu com o 7º Simpósio Internacional de Artemídia e Linguagens Digitais (que aconteceu entre 7 e 12 de agosto no quase vizinho prédio da Casa das Rosas) e com o lançamento do livro ArteMidia e Cultura Digital, organização de Artur Matuck e Jorge Luis Antonio em que intelectuais se debruçaram sobre conceitos como realidade virtual, cibermídia, arquitetura líquida e games.
Olhar os jogos eletrônicos com atenção não é novidade;o próprio ItaúCultural já promoveu em 2002 outra exposição, a “Game o quê?” , onde o foco era a evolução tecnológica e as possibilidades criadas pela linguagem digital. Um ano antes o professor do MIT(Massachusetts Institute of Technology) dizia “chegou a hora de levar os jogos a sério como uma forma popular de arte que moldará a sensibilidade do século 21” lembrando de outras artes populares que por muito tempo foram vistas com desdém, como o Cinema, o Jazz e as Histórias em Quadrinhos*.
Agora, no entanto, quando se solidificam conceitos como “pós-humano” e “cíbrido” (a presença ao mesmo tempo no mundo físico e no ciberespaço) é que se pode medir a importância dos games, para além de sua relação com a industria do cinema ou da crescente sofisticação tecnológica. É a interação possibilitada por estes jogos que abre as portas do novo século.


O Itaú Cultural fica na Av Paulista 149 (próximo à estação Brigadeiro do Metrô) e está aberto à visitação de terça a sexta, das 10h às 21h e aos sábados e domingos, das 10h às 19h.
A entrada é gratuita e o visitante também não paga para jogar, precisa apenas retirar uma senha.
Mais informações em
http://www.itaucultural.org.br/gameplay/


* publicado originalmente na Technology Review e reproduzido pela Folha de São Paulo no Caderno Mais de 14/01/2001.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

HIPER-REALISMO




A primeira imagem, assim como a da postagem anterior, é uma escultura do artista plástico Ron Mueck feita em espuma de poliuretano e fibra acrílica, materiais comuns à construção de modelos para o cinema, principalmente para filmes de terror e ficção científica. A segunda, a foto de uma bailarina adolescente imitando a pose de uma réplica em bronze (como a que está no MASP) da escultura de Degas de que falarei mais adiante.
Muita gente deve se lembrar de “A Nona Hora”, polêmica escultura do espanhol Maurizio Catellan, em que o papa João Paulo 2º aparecia esparramado pelo chão, atingido por um meteoro e que, claro, causou protestos por parte da comunidade católica.A escultura fora feita num momento em que o Papa estava em cirrado confronto com idéias científicas, as quais Catellan represnetou na forma do meteoro.
São esculturas chamadas de hiper-realistas. Quem é fanático por Action Figures (os bonequinhos para marmanjos- pausa: eu mesmo comprei um, semana passada) sabe bem a que nível de perfeição produtos industrializados podem chegar. Uma miniatura de aprox. 40 cm de Marlon Brando em o Poderoso Chefão é de uma semelhança impressionante. Por aí, ainda que o trabalho de Muek ou Castellan seja muito superior tecnicamente, que a grande questão não está na semelhança com este ou aquele modelo. A primeira imagem é a obra “Um Fantasma” , de 1998 e que, apesar de seus 12 m de altura (ou até mesmo por isso), transmite de forma aguda toda a fragilidade de um adolescente em contato/confronto com o mundo.
A maior ou menor semelhança com um modelo (ideal ou real) deixou de ser a questão ou o objetivo da arte já no Séc.19, com Cèzanne, Gauguin e Van Gogh (lembremos que o impressionismo buscava uma fidelidade de outra ordem, científica, ao reproduzir perfeitamente o espectro das cores no olho de quem vê a obra). Cubismo, surrealismo, expressionismo e outras vanguardas radicalizaram e ampliaram essas conquistas.
No entanto, foi ainda durante o impressionismo que Degas, mais conhecido pelo seu trabalho com giz pastel, fez em 1878 “A pequena bailarina de 14 anos” escultura em cera coberta com tecidos , tal qual uma pequena boneca. No entanto era tamanho seu realismo que, quando de sua exposição, críticos sugeriram que seu lugar era o museu de etnografia (onde ficavam animais empalhados e reconstituições de ancestrais humanos )e a tacharam de grotesca. Apesar de seu realismo, era minúscula, o que criava o mal-estar. No entanto, Degas, ao lidar num só tempo com o real e o fantástico, travava ali um diálogo poderoso com seu tempo. Da postura a um só tempo altiva e arrogante da bailarina à sua posição social dúbia (grandiosa nos palcos, desqualificada fora deles – as bailarinas eram de famílias pobres, no entanto eram admiradas por ricos burgueses e muitas se tornavam suas amantes) está tudo nessa pequena criatura que era construída com material nada nobre (cera) e recoberta com roupas em tecido e que ainda tinha uma peruca, o que só contribuía para a rejeição do público. Degas, naquele momento, impunha uma questão ao realismo, que era o de qual seria seu lugar na História da Arte, qual sua função.
A atual geração dos hiper realistas encara novamente essa questão sob uma perspectiva ainda mais ampla, afinal o realismo deixou de ser a perfeita imitação da natureza dos tempos de Caravaggio ou Velazquez , tanto quando o retrato sem retoques da homem do povo levado a cabo pela geração naturalista de Courbet ou Daumier. Que sentido tem o realismo num tempo em que a imagem fotográfica ou cinematográfica, em decorrência da manipulação digital, perdeu seu estatuto de portadora da verdade documental ?
Mais do que ser perfeita como uma actionfigure, essas esculturas são obras de arte, por que a arte, afinal, é um discurso sobre a realidade.
PS. Mais uma vez peço desculpas ao leitor, afinal este texto estava prometido para segunda-feira.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Por hora vou apenas dizer que a imagem é uma escultura de uma corrente artística chamada hiper-realismo . A intenção não é fazer suspense, trata-se apenas de falta de tempo . Segunda feira retomo o tema. Até lá.