sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

MARCHA PARA ZENTURO NO CCSP



Não é incomum  hoje  amigos que pouco se vêem, mas que mantém contato virtual intenso. É uma espécie de  não existência, uma existência fantasma(sem julgamento de valor), parte do modo de vida contemporâneo . 
É disso, basicamente, de que trata Marcha para Zenturo, peça  em cartaz no Centro Cultural São Paulo. Ou melhor, é esse o cerne da questão,  em torno do qual gravitam muitas outras questões .
Não é um tema estranho nem mesmo ao cinema. A animação da Pixar, Wall-E tocou nele e o filme Pulse (inédito no Brasil), de Kyioshi Kurosawa foi fundo.

O que torna essa peça  especial é a maneira como o faz.  Estamos no futuro(só se dirá  que ano lá pela metade da peça).  Um grupo de amigos se reencontram para celebrar o reveillon no apartamento de um deles. Lá fora a tal marcha para Zenturo, pessoas marchando e prometendo ficarem em sil~encio na virada do ano, a subversão máxima, a negação máxima..  Ninguém consegue sair do apartamento, apenas observam lá  de cima. Um deles  é  problemático, dado a andar a  pé, aos afetos  e à convivência humana. Está ,pois, fora de seu tempo (a maneira como isso fica demonstrada cenicamente é fantástica, mas não voui contar aqui). Como é o futuro em que eles vivem, que aconteceu com o cristanismo  são  coisas mostradas aos poucos, sem discurso ou descrição. Mas há mais:

um deles, o mais excêntrico, resolve dar de presente aos demais uma peça de teatro. Chegam os atores e começam a encenar Tchecov.  muda o tom, há aquele mergulho em outro tempo, mas os atores da "outra peça ainda estão no palco, assitindo essa encenação. Os significados se sobrepõem. Termina a peça. Eles inteeragem e encaram a tal "marcha para Zenturo. Que é o que? Um outro significado, no qual a platéia está diretamentre implicada (uma projeção em cena deixa isso claro) é que emerge. 
Uma coisa é clara: o futuro fictício é a caricatura do hoje. Mas: Fazemos parte da marcha? Ou do apartamento? Dos que querem afeto, toque, ou dos que buscam a impessoalidade,a  virtualidade. 
Há muito o que pensar depois da peça.


Centro Cultural São Paulo -  R.Vergueiro, n 1000. Centro.
Tel. (11) 3397-4002
Sex.Sáb. 21h.Domingo 20 h.
Até 13/02.
Ingressos: deR$10 a R$20.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O CINEMA-GULOSEIMA

Leio no blog do Sérgio Alpendre (http://chiphazard.zip.net/ ) que no Festival de cinema de Tiradentes o diretor Zelito Viana disse ,a respeito do cinema jovem, que   "raramente vê algo que presta, porque os jovens de hoje recebem informações de forma fragmentada e superficial demais, graças a muita internet e muita televisão” . Zelito,vale  lembrar, foi entrevistado da semana passada do programa Sala de Cinema, da TV Sesc.

Já o professor da Pós-Graduação em História Social da USP e doutor em arqueologia clássica pela Sorbonne, Ulpiano Bezerra, em entrevista à Revista E. deste mês diz algo bastante semelhante. E tem a ver também com a coisa da velocidade de que falei e que o Inácio Araújo também cita em seu livro(que eu transcrevi na postagem anteror). Os grifos,novamente,são meus.

A reflexão não se dá bem com o instantâneo.Como na estética do videoclipe,valoriza-se exclusivamente a imersão.E a imersão redutora,sem posterior emersão,pode onduzir ao afogamento. No campo do conhecimento e da formação crítica,que exigem distância e tempo não é o que tem acontecido. A percepção se dilui na sensação, o que é sem dúvida prazeroso e positivo,mas compromete a consciência da mediação sensorial da vida-raiz da inteligibilidade.
Além do mais,quando a bateria de sensações é excludente de alternativas, até a interatividade pode ser enganosa e corre o risco de mascarar passividade intelectual sob aparência de hiperatividade gestual.Mais uma vez,parece-me que os desajustes não são da tecnologia,mas de quem os opera”.

Entrevista completa disponível em: http://www.sescsp.org.br/sesc/revistas/revistas_link.cfm?Edicao_Id=393&Artigo_ID=5996&IDCategoria=6908&reftype=2 ou na versão impressa, distribuída gratuitamente nas unidades do SESC.

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 Leio no blog da Ilustrada ( http://ilustradanocinema.folha.blog.uol.com.br/ ) Bruno Yutaka escrever (também sobre Tiradentes):
 
O que é usufruir um filme hoje? Para Bressane, temos filmes guloseima, consumidos depois do prato principal, algo supérfluo, ingerido sem necessidade, mais por reflexo do que por uma busca, que não alimenta, engolido após já estarmos saciados.


“É uma exigência medieval, hoje não há mais tempo para a observação sensível”, disse Bressane. O que sobra, diz, é a escória da usura –que justifica o salário. Consumimos por desespero.



sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

CINEMA É MOVIMENTO,NÃO AGITAÇÃO

Transcrevo aqui um trecho do livro "Cinema de boca em boca-Críticas de Inácio Araújo" (Imprensa Oficial) de já falei aqui e tem bastante a ver com o que estamos discutindo nas últimas postagens. Os  grifos são meus:


“(...)numa entrevista à Veja, Décio de Almeida Prado falava da diferença entre o público de teatro dos anos 1950/1960 e o de agora.Ee diz que,naquele tempo,as pessoas viam uma peça de teatro e depois aquilo era motivo para conversa reflexão,durante dias.

Com o cinema não é tão diferente. O que se vê mais recentemente é a substituição de uma arte que nasceu popular por uma atividade de massa. É o que se pode chamar de cultura do blockbuster:a pessoa quer um filme agitado,com explosões,correria.Até aí,tudo bem.Não é por ter isso que um filme deixa de ter iportância.

Mas o que se está sedimentando,que me parece muito perigoso,é a idéia de que cinema é movimento. Muito bem.Estou até de acordo.Mas o que é movimento?Não é agitação. De algum modo ainda espero escrever pra quem se dispõe a fazer uma distinção entre essas coisas”.



segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

"A CÂMERA É UM OLHO MÓVEL..."

Aproveitando o gancho da última postagem, sobre edição e iluminação nas telenovelas, transcrevo aqui algumas palavras do mestre  Douglas Sirk tiradas do precioso documentário “Alguns dias com Douglas Sirk”, de Pascal Thomas e Dominique Rabourdin ,que acompanha o filme "Tudo que o Céu Permite" lançado pela Versátil Video.


“A câmera é um olho móvel que segue o ator. Sempre costumei,em planos móveisfazer as vezes de assistente de fotografia.para er de perto o foco e a qualidade da tomada. Trata-se de não perder os atores nem sua composição.Ela não pode ser mudada nessa hora. Filmes,para mim, são uma coisa ótica. A câmera é um olho em si. Você tem de gostar de quê? Da luz. Mas há certas regras. A primeira regra, penso, é estudar os rostos, a aparência geral da pessoa,do ator ou atriz(...)

Não basta iluminar a pessoa ou o rosto inundando o rosto de luz.Pode ser péssimo. Iluminar o rosto de frente achata o rosto,que perde suas melhores e mais interessantes características. Precisamos de sombras. Minha filosofia,em cinema, é a luz. Principalmente seu estilo, sua letra, seu toque é o que conta em um filme. Não é tanto a história em si mas seu estilo pessoal. Cinema, o lugar da linguagem assumido pela câmera,pela luz e pela montagem".

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

TELENOVELA 2

Me pergunto: que diabo de formação têm o diretores de novelas? Ou quem decide com as coisas são filmadas? Por que tudo tem que ser tão igual, tão sem personalidade, tão medíocre? Que a estrutura seja sempre a mesma, entende-se. Há de ter um amor impossível que se mostrará possível, algum invejoso querendo impedir o amor dos pombinhos e que se dará mal no final. E etc. Mas, no trato com a imagem? Caramba!

Numa cena intensa ,com diálogos entre dos personagens (no caso Ximenes e Daniel Boaventura) a cena foi filmada numa seqüência histérica de campo e contracampo, ou seja, ela diz algo, close nela, ele diz algo, close nele. Como se não bastasse o recurso primário, cada plano dura de 3 a 5 segundos! Um plano longo (aqueles de silêncio) dura,no máximo, 10 segundos !!! Não é de surpreender que as pessoas fiquem de estômago virado quando topem com um filme do Resnais ou do Antonioni. E o cinema nacional cada vez mais reproduz,tim tim por tim tim, todos os vícios da TV. As comédias, então, nem se fale, repetem o ritmo das gags, o tipo de humor, os enquadramentos,essa mediocridade toda.
Aí a pessoa vai ao cinema pra ver o mesmo que vê na televisão e acaba achando que cinema é isso aí e aquilo que não é,não presta.

Algum leitor pode até estar  me chamando de rabugento, de defender filmes “chatos”(não são nem um pouco chatos, só não entregam tudo mastigado), mas é bom lembrar que essa edição histérica da TV (que é também do cinema americano de hoje) destrói o trabalho do ator, câmera não tem tempo de se fixar nele. E o close, já se disse, é o investigar da alma humana. Numa novela na investiga nada, não se busca o que está por detrás do olhar do personagem. Aliás, nem se detém sobre este olhar.


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A diretora da novela, uma das, tem sobrenome Saraceni. Será que  é parente do Paulo Cesar, do cinema novo ? Não tem um pingo do talenrto dele? Recebe instruções de filmar dessa maneira? Sei lá.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A PAUTA ESQUECIDA

Alguns anos atrás (bem uns 5 ou 6) havia um daqueles programas excelentes que a TV Cultura costumava exibir em horários meio chatos(por volta da meia noite). Não me lembro o nome, mas nele um professor discorria sobre um assunto ao longo de uma semana, ou seja tinha a oportunidade de se aprofundar sobre o tema de uma maneira que não se vê mais no jornalismo de hoje em dia(nem mesmo no escrito,que deveria ser o saudável contraponto à TV). Lembro do Ismail Xavier falando do cinema de Hitchcock,por exemplo.

Enfim, o tema deste programa era “A Pauta Esquecida” e o professor(adivinhem, não lembro quem era!) discorria sobre a mania da imprensa se deter somente nas pautas quentes, os assuntos do dia, aqueles que chamam a atenção na sociedade no momento. Ele destacava também inúmeras pautas esquecidas, temas que poderiam e deveriam ser abordadas,mas,por não terem nenhum fato lhes servindo de gancho, ficam assim mesmo, esquecidas. È mais ou menos assim: se alunos depredam uma escola, o jornalista vai lá e faz uma matéria de um minuto e meio sobre os problemas na educação, o baixo salário dos professores e a situação precária das escolas. O professor também listava algus programas na época que eram exceção a essa regra. Me lembro dele falar do Diálogos Impertinentes queacho que não existe mais. Na época era apresentado pelo Mario Sergio Cortella na TV PUC e retransmitido pela então TV SESCSENAC.

Hoje  no Bom Dia Brasil teve uma entrevista de um geólogo dizendo,entre outras coisas, que as bananeiras favorecem os desabamentos em encostas na época de chuvas. Algo a ver com o formato em funil da planta, que injeta água de uma forma meio brutal no solo o que é literalmente mortal nessa época. Ok, ótimo saber disso. Mas os jornalistas teriam cumprido melhor seu dever se tivessem lembrado, uns meses atrás, que em dezembro em diante começa a chover, torrencialmente como dizem os maus escritores. E tivessem entrevistado o geólogo. Assim o pessoal teria arrancado as bananeiras antes que elas mesmas tivessem sido arrasatadas pelos desabamentos que levam também casas e vidas.

Enfim, uma pauta que não deveria ser esquecida durante o inverno.

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Esse comportamento é bbem parecido com o do Governo do Estado que agora vem anunciar o desassoreamento dos Rios Tietê e Pinheiros. Agora?

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

TELENOVELA -1

Crime é uma qualidade que certos tipos de sociedade atribuem a determinadas práticas,em momentos precisos de sua história. A qual supõe o estabelecimento de leis. Ilegal ou criminoso é o que se desvia do padrão ditado por normas legais.Não há m sem o outro.E,como as leis variam de sociedade para sociedade mudam radicalmente com o tempo,por razões as mais diversas, também o crime varia”.

São palavras do antropólogo e ex- secretário estadual da segurança do Rio,  Luiz Eduardo Soares, em entrevista ao LeMonde Diplomatique de agosto do ano passado.



O criminoso é sempre punido ao final das telenovelas (exceção feita à histórica ValeTudo). Parte de sua punição é a execração pública, como acontece com a personagem de Mariana Ximenes em Passione. Execração frente aos outros personagens e também ao público, que sente quue a justiça foi feita e a punição, aplicada.

Ao final da Segunda Guerra, a humilhação pública foi prática imposta às mulheres francesas que haviam tido algum tipo de relacionamento com homens alemães durante o período da ocupação alemã na França. Seus cabelos eram totalmente raspados.

Também (por séculos) mulheres acusadas de bruxaria foram marcadas de diversas formas para que todos soubessem de seu “crime”. Também o foram os judeus pelos alemães. E por aí vai.

O que é considerado crime muda com o tempo, mas algumas práticas sociais persistem.



sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

"THE ARCHERS" NO CCBB

Quem assistiu ao excelente Tetro, novo filme de Francis Ford Copolla, notou que ele mostra trechos de “Contos de Hoffmann” e um dos personagens cita “Sapatinhos Vermelhos”. São ambos filmes assinados pela versátil  dupla de diretores Michael  Powell e Emerich Pressburger e que integram a mostra retrospectiva CCBB São Paulo (depois vai para o Rio) dedicada a eles. É a chance de conferir o porquê da admiração do diretor de O Poderoso Chefão e de outros grandes cineastas,como MartinScorsese. "Contos de Hoffman"  passa hoje, às 19h30 e Sapatinhos Vermelhos, domingo e quarta, no mesmo horário. Powell, quem tiver a memória afiada, vai lembrar que é o diretor de Peeping Tom- A  Tortura do Medo (que também integra a mostra).O filme, que ele assinou sem a companhia de Pressburger, foi tido na época como doentil e enterrou a carreira de sucesso do diretor, que só viria a ser revisada anos depois pela geração de Coppola e Socorsese.

A mostra "The Archers- O Cinema de Michael  Powell e Emerich Pressburger" vai até 16 de janeiro. O CCBB fica na rua Álvares Penteado, 112. tel 3113-3651. Os ingressos custam R$ 4,00 (inteira).

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

CINEMA É ARTE, NÃO ACOMPANHAMENTO PARA A PIPOCA

É flagrante que a Ilustrada, caderno de cultura da Folha de São Paulo está fora dos eixos, principalmente no que diz respeito a cinema. Na busca por textos mais “acessíveis”, os editores preterem os críticos tradicionais em benefício de jornalistas,ou usam a idéia estapafúrdia de que, se um filme fala asobre o universo da moda,por exemplo, quem escreve o texto é o editor de moda do caderno. Tudo vai ao encontro da ideia de que o leitor hoje não gosta de textos longos, nem complicados.
É estranho, no caso da Folha, porque a cobertura de teatro e artes visuais é até satisfatória. Parece que a lógica dominante do mercado, de que cinema é passatempo de quem vai ao Shopping, dominou de vez o caderno.

Em face dessa situação é um verdadeiro bálsamo o lançamento pela imprensa Oficial do livro da coleção Apaluso, “Cinema de Boca em Boca- Críticas de Inácio Araújo” . No calhamaço de 678 páginas foram reunidos mais de 280 textos selecionados pelo jornalista e também crítico Juliano Tosi, além de uma preciosa entrevista de Araújo em 1992 ao então ombusdman da Folha, Mário Vitor Santos. Tudo isso por módicos R$ 7,50. Essencial a quem ama o cinema e o enxerga não como entretenimento e, sim,como arte.

PS. Inácio Araújo é o entrevistado do programa "Sala de Cinema" desta semana que vai ao ar nesta quinta-feira, dia 06, às 22h00 na TV Sesc (canal 137 da NET Digital).

JOGOS DE PODER

No dia da posse da presidente Dilma Roussef a Globo exibiu matéria no Jornal Nacional sobre a mobilização de milhares de evangélicos pedindo um ano-novo abençoado ao missionário Valdemiro, dono da Igreja Mundial do Poder de Deus. Valdemiro é ex-membro e maior rival da Igreja Universal do Reino de Deus (parece que “deus” é nome de  franquia) de quem tem tomado pastores e fiéis as montes.

A Globo é claramente católica, no entanto a matéria, mais do que tentar fazer as pazes com os evangélicos, buscava fincar bandeira, afinal Edir Macedo,dono daa Record e da Universal, esteve abraçando Dilma . Seu canal foi um dos meios de comunicação da linha de defesa de Lula, largamente malhado pelo resto da imprensa,majoritariamente tucana.
O abraço de Macedo em Dilma, a Folha de São Paulo noticiou ontem, foi estrategicamente cortado da transmissão da  Globo para dar lugar a um compacto do programa "Caldeirão do Huck".

De parte a parte, trata-se de jogos de poder.