sábado, 18 de dezembro de 2010

MACHETE É UM TROPA DE ELITE2 "MEXICANO"


Tanto lá como cá. Em Machete, de Robert Rodriguez, como em Tropa de Elite 2 de José  Padilha,  há  a relação entre tráfico, milícias e campanhas políticas. No meio disso tudo, gente comum, bucha de canhão. Nos dois casos não háa um vilão que, derrotado, coloque as  coisas em ordem.  Há conflito,pancadaria, sangue e,no final, mudam-se os atores, mas o cenário continua o mesmo. Há hipocrisia, mentiras dadas para seduzir a opiniãao pública e a resposabilização ao "sistema" (o termo é dito nos dois filmes) essa ordem de coisas abstrata, difusa em que pessoas, por mais poderosas que sejam, são meras peças do jogo. Nãao se trata de não dar nomes aos bois até porque eles são somente isso, bois. Morre um, vem outro.
O flerte com a comédia e o trash nesse sentido prejudicam Machete, porque meio que desviam o foco, ou melhor, faz com que boa  parte das pessoas não leve a sério o que ele tem a dizer quee  é tão grave quanto nosso Tropa. Entre outras coisas, há traficantes  financiando políticos de extrema direita que dizem lutar pela moralidade. Machete toca fundo na questão da imigração ilegal  dos EUA, num momento em que  se discute a criação de um muro separando a "terra das oportunidades" do México.
Alguém aí se lembra da idéia de construir um muro fechando as favelas cariocas, que ganhou a imprensa pouco tempo atrás?
Pois é...

***
Machete é sensacionaal e,de quebra, tem uma Michelle Rodriguez de enfartar qualquer marmanjo e fazer Lindsay Lohan tão sexy quanto a freira que ela interpreta...

***
O bar  fecha  as portas agora para um tiquinho de férias.
Meus sinceros agradecimento a todos que me acompanharam neste ano! Um feliz Natal e um ótimo 2011 para todos !

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

SOBRE TROPA DE ELITE2 E VERA FISCHER

O trecho a seguir foi retirado da entrevista dada pela atriz Vera Fischer à coluna da jornalista Mônica Bergamo, na Folha de São Paulo do dia 13 deste mês. Fischer estava anunciando o lançamento de uma coleção de nada menos que dez romances de sua autoria.

Vera F. - Meus personagens não são nunca pobres, são sempre ricos(gargalhadas).

Coluna-Por que?

Vera- Porque eu não gosto,eu não sei escrever pra gente pobre.Eu detesto.

C-Os que você chama de pobres podem comprar seus livros.

V- Podem.Porque eles não custam caro. Eles vão se identificar e adorar. Coisa bonita é sempre melhor.

Tropa de Elite 2 jogou luz de maneira única sobre o quanto é ilusória essa idéia de que a violência nasce no morro, na favela.
Porque sempre se tratou de,seja no jornalismo como na ficção, de identificar o inimigo, o culpado pelos males e dar a ele uma feição clara: o preto da favela. Devidamente identificado, era fácil descobrir uma solução para a tal da violência: prender e jogar a chave fora,pena de morte, fazer uma prisão no meio da Amazônia e outras bobagens que o povo repete a torto e a direito por aí. Era pra isso que os ricaços no auto do Cristo redentor rezavam durante a invasão no morro do alemão, era pra isso que esses mesmos ricaços se vestiam de branco e saíam em passeata pelas ruas de Copacabana uns anos atrás por causa de algum desses crimes que causam comoção popular. Quando fala-se em violência remete-se diretamente ao traficante, ao negrinho armado com fuzil mas violência é um conceito amplo demais. Vera Fisher por exemplo, é a mais acabada personificação da violência social, de uma elite (vamos esquecer o ranço sidicalista que essa palavra ganhou), de um grupo de poder aquisitivo muito alto, que quer apenas viver a parte do “populacho”, ainda que às custas dele o que é o caso dela, que construiu sua carreira tanto em filmes como novelas de alcance extremamente popular.

Ou seja, qualquer identificação com a relação da Casa Grande com a Senzala não é mera coicidência. E a polícia, para essa elite, não é muito mais do que um Capitão do Mato. Só que o Capitão da vez, o Nascimento, mira agora sua fúria para seus patrões.


***
Penso  que até hoje não se reconhece a violência social pelo pouco empenho da ficção em deter-se sobre ela. É sem dúvida muito mais fácil lidar com o inimigo que, posto na cadeia ou morto com um tiro, resolve os problemas. A violência social é difusa, não pode ser atribuída a este ou aquele vilão. As novelas muitas vezes trazem um rico arrogante e malvado, mas fica claro que é aquele indivíduo em si que é daquele jeito, que nãooo expressa todo um pensamento de uma camada social, uma maneira de ver o mundo. E,vida de regra, ao final  ele é punido, colocando as coisas na ais santa paz. Paz que não existe nesta sociedade camuflamente violenta.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

TROPA DE ELITE 2

Depois de ver Tropa de Elite2 ninguém mais pode dizer que é inocente. Está tudo ali, a corrpução policial, as ligações espúrias do crime com a política,os assassinatos mandados e a ação direta e indireta da imprensa em favor desse esquema todo. Páginas e mais páginas de artigos sobre violência e corrupção encontraram uma representação perfeita em duas horas de filme.

A profundidade do poço de lama em que o filme mergulha é tão grande que fica a sensação de que ele deveria ser mais longo,ter pelo menos uma hora a mais,  mas isso prejudicaria o desempenho nas bilheterias, arrumaria dor de cabeça com os distribuidores, os cinemas e tal. Enfim, não é o caso de elogiar o Tropa2, porque ele fala por si e porque gente muito melhor do que eu já escreveu sobre ele.

Mas uma palavrinha sobre os defeitos, vale a pena. O problema todo está na narração em primeira pessoa. É uma opção problemática, típica do film noir e que aqui repete suas manias, principalmente a de fazer do narrador personagem um narrador onisciente. Como se fosse um livro em terceira pessoa. Nascimento,agora coronel, sabe e narra coisas que ele não presenciou e que o filme não coloca em cheque. Nesse caso não dá pra atribuir subjetividade ao que ele diz (dizer que é o ponto de vista dele, não do filme-como era possível no primeiro “Tropa”), não dá pra julgar Nascimento um Bentinho que diz e “prova” por A+B que Capitu é adúltera mas o livro não nos dá prova alguma. E com isso vêm alguns furos no roteiro. Bráulio Mantovani,o roteirista, tem momentos de brilhantismo alternados com alguns erros meio primários.

A cena inicial é a de um atentado à vida de Nascimento. Crepúsculo dos Deuses, obra –prima de Billy Wilder começa um pouca assim, só que o narrador entrega logo de cara que é Brás Cubas, ou seja, está morto. Como não tem nada de fantástico no universo de Tropa de Elite, fica claro que é um truque meio safado pra enganar o público e que, claro, não engana, afinal,se ele está narrando é porque está bem vivo. E com isso nada de suspense na cena também. Isso remete ao Kill Bill também, mas lá sabemos que a Noiva era pra ter morrido e não morreu. E remete também ao Pânico nos Bastidores, de Hitchcock em que, pra surpreender o espectador, começa com um flashback falso. Hitch depois admitiu ter sido este o maior erro de sua carreira, pois não se deve mentir para o espectador.

O fato da narração de Nascimento não ser subjetiva não é o problema (a gravidade das coisas que o filme aponta pedem uma objetividade, uma firmeza de opinião que não se deve flexibilizar a nenhum custo) e sim os pequenos tropeços advindos dessa opção.

Nada que diminua a intensidade do,com o perdão da expressão, sonoro “puta que o pariu” que a gente solta ao final do filme.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O MAL NOSSO DE CADA DIA

Christoph Türcke é professor de filosofia de uma universidade de nome impronunciável em Leipzig,na Alemanha e autor do livro "Sociedade Excitada" (Unicamp). Em entrevista à revista Cult n 151(outubro 2010) ele falou sobre o foco de seu livro, a comunicação de massas. Vai bem ao encontro das últimas postagens nas  quais tratei  dos programas policiais. Mas  é bom atentar que não é exatamente deles que Türcke fala, seu especrto é mais amplo.
Vejamos:


Na mídia(...)os horrores do mal fazem o papel do entretenimento.Ocultam não apenas os agrados cotidianos, os progressos sociais, os modelos de responsabilidade e coragem civil; desviam,antes,a atenção daqueles problemas que chateiam o público cada vez mais,pois continuam tanto mais conhecidos quanto irresolvidos,como o desemprego, a fome, a força nuclear,a camada de ozônio,a Mata Atlântica. Tais problemas exigem paciência,concentração,repetição,insistência,resistência. Não cabem no esquema sensacionalista da indústria cultural,que atrai a atenção de um evento ao outro,enquanto esse evento é atendido perfeitamente pela apresentação disjunta de crimes,corrupções,acidentes.
Sugere-se que a realidade não consiste senão em horrores.Cobrem-se os problemas gerais,estruturais e sociais por uma multidão de horrores particulares.Transformam-se,finalmente,tais horrores em eventos de entretenimento”.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O FIM DA VIOLÊNCIA (?)

Palaras do  cientistra político e professor da PUCRS, Álvaro Oxley Rocha para a revista "Sociologia" nº 31 (Ed Escala) de outubro de 2010. A matéria, Desafios da Segurança Pública, citava os ataques do  PCC em 2006 e tratava da Polícia comunitária, projeto semelhante às UPPs de que tanto se fala agora:

A população precisa ser educada para conviver com os agentes do Estado,mas os agentes do Estado,no Brasil, também precisam ser educados para a realização do bem comum,a que se destina o dinheiro público. Se for abaandonada à própria sorte,com costuma ser entree nós,mesmo louváveis iniciativas como essa (Polícia Comunitária)serão tragadas pela corrupção,que resulta da falta das políticas de educação e de renda”.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

NOTÍCIAS DE UMA GUERRA PARTICULAR



Era uma operação militar, mas parecia final de Copa do Mundo. Sai que é sua, BOPE ! 
Para a Record, o  Rio de Janeiro voltava "a ser a cidade maravilhosa",para a Globo, era um "dia histórico" .Teve até  missa no Cristo Redentor.  Em ambos os canais (nem vou citar Datena por que ele não merece ser lembrado) anunciava-se algo como uma nova era, onde o "cidadão comum"(existe isso?) poderia voltar a andar tranquilo pelas ruas. Um dos "heróis do BOPE" chegou a dizer no Faantástico que os roubos de carros, sequestros e assaltos  a bancos terminariam, uma vez que os traficantes tinha sido vencidos. Podia até ter assoviado "Imagine" pra ficar mais  bonitinho...

A quem interessa esse tipo de abordagem? Sinceramente não sei, uma vez que isso acaba sendo triunfo capitalizado por Sérgio Cabral e pelo governo Federal, de quem a Globo não gosta nada. Talvez seja um tanto de ingenuidade, costume de enquadrar a realidade nos moldes da ficção, no caso Tropa de Elite com final de novela(só faltou casamento).
Um repórter do Fantástico fala que os traficantes haviam tentado fugir se passando por moradores, mas que a polícia os  pegara. E exibiu um rapaz preso  com a "prova" de sua ligação com o tráfico: no braço, uma tatuagem de uma índia (dessas genéricas) e a inscrição "Fernandinho Beira-Mar". Ora , prende-se alguém por uma tatuagem?

Ele poderia ter mencionado que não e que o rapaz em poucas horas provavelmente seria  liberado,caso não fosse constatada alguma prova de verdade.
Sim, foi um fato significativo e importante até porque no Rio o tráfico era dono de territórios onde a polícia não entrava a não ser aqueles que vendiam armas e munições aos traficantes. A Lei lá eraa a deles e ponto.  Mas agora, só agora, prende-se a mulher do bandido por que ela mora num condomínio de luxo sem ter renda para tal, o advogado do bandido porque levava ordens de dentro para fora da cadeia, os soldados do bandido por sei lá o que e por aí vai. Quer dizer, que diabos de serviço de inteligência é esse que por anos nunca funcionou e agora, de um estalido teve esse rampante de eficiência? A Globo não diz.

Ora, é sabido que o tráfico funconava bem por que rendia dinheiro para todos os setores da sociedade, inclusive para a classe média que só pede paz quando um branco rico morre assassinado  e que não vê problema na polícia corrupta,desde que ela relaxe flagrantes de quem dirige embriagado, atropela e mata, de que não jogue o filho de paai ruico numa cela comum, essas coisas. Lucrava a banda podre da polícia, o juiz , o advogado, o político e todo mundo que fazia vista grossa ao crime por dinheiro.
 Só que a  galera abusou, passou dos limites, tocou o terror, se sentiu não dona do morro, mas do asfalto também. E tem Copa e Olimpíada chegando então...a casa caiu  ! 
E tem as UPPs que, ao que dizem os jornalistas, parecem mais enviadas pelo próprio Cristo. Ora, vamos pensar: quantas toneladas de droga foram apreendidas? Quantas  refinarias desativadas?
E quantos  consumidores ficaram na mão? Os traficantes  que restaram vão ter um lucro absurdo porque,como o tráfico é a parte mais selvagem do sistema capitalista,  o preço da droga vai lá pra cima. Pode-se bem enriquecer fácil e rápido. Pode-se trazer droga, pessoal e equipamentos de São Paulo, ou tomaar uma grana emprestada com eles.  Ou podem vir eles mesmo. Vamos  dizer que a empresa que detinha o monopólio no Rio faliu e os concorrentes chegarão em breve. E, com dinheiro, faz-se o que sempre se fez, inclusive corromper a polícia que patrulha o morro.

O crime não acaba. Vai,certamente, ser menos ostensivo do que  era , talvez seja mesmo bem menor e mais fraco  (algo que já  aconteceu na Itália e em Nova Iorque, por exemplo) mas vai continuar existindo e lucrando muito.
Não acredidem nessa Era de Aquário da Globo, ela só existe em novela.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

ELES FAZEM JORNALISMO?

O propósito do jornalismo é a "difusão objetiva dos fatos através da informação e interpretação  dos acontecimentos  que são notícia".O jornalismo(ou as ações jornalísticas) deve ser guiado por um "princípio ético universal". Deve também assegurar a todo indivíduo o direito de ser informado.

propósito da publicidade é a "difusão de idéias pela via da sugestão emocional para coagir sobre o receptor".  Deve servir e ffazer valer os objetivos da organização a que representa. Por sugestão emocional entender apelo ao imaginário e ao inconsciente.

Ass citações são de um livro de teoria da comunicação e jornalismo cujo nome e autor  eu, desastrosamente, perdi.  Mas são literais,garanto.

Para quem não é familirizado com o termo, "receptor" é parte do jargão da linguística, da semiótica e das teorias da comnicação em geral que designa, grosso modo, aquele que recebe a mensagem, que  pode ser uma frase dita, um programa de tv, um filme e por aí vai. È aquele esquema : emissor-meio-mensagem-receptor.
Abro um parêntesis para retomar rapidamente as  postagens anteriores: a noção de receptor se aplicaria ás artes em geral, esta é a visão da semiótica, que se empenhou em desenvolver maneiras de se interpretar a arte.fecha parêntesis.

Pode-se critiocar o autor pela ênfase na idéia algo kantiana de "princípio ético universal" e da noção utópica de "objetividade" no jornalismo, todos conceitos de certa forma  ultrapassados, ou,pelo menos, relativizados.
No entanto chega a ser didático pegar essas definições e aplicá-las à descrição de duas reportagens exibidas pelo SP Record, de Reynaldo Gottino, que têm objetivos bem claros. Ou uma "intenção".

Mais definições do autor:
Inteção: execução de um fazer (ela controla conscientemente a ação)
Propósito: É a função que um fazer pode ter.

E  aí eu pergunto; é jornalismo o que eles fazem?

***

Como já  adiantara o Mario Cesar nos comentários da postagem anterior, é um verdadeiro show. Ou showrnalismo,pra usar um termo criad pelo jornalista José Arbex Jr e que deu nome a um livro de sua autoria  que tratava de boa parte da midia jornalística. Acrescento que,além de show, além de uma publicidade feita para endossar a idéia de um mudo em colapso onde o jornalista-justiceiro é necessário, nesse caso em particular é um show de grand guignol, o teatro popularesco do século 19 onde o público ia para assistir perfeitas encenações de corpos mutilados, violêncioa extrema e muito sangue.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

O GALHOFEIRO E A INDECÊNCIA DA IMAGEM



É corriqueiro nos programas policiais julgamento moral sobre o que é exibido. O apresentador se mostra indignado e faz o papel do justiceiro, como quem cobra uma providência “das autoridades” para que essa “barbaridade” tenha fim. Aí, antes de tudo está embutida uma mentalidade bem brasileira, de que um decreto, uma lei resolve tudo, típica de um país que viveu sempre ou sob o comando de uma monarquia (seja como colônia ou país independente) ou sob o jugo de governos autoritários, não eleitos pelo povo. O “tenho dito” do governante” é a solução final, feita, não raro, na base da pancada. Sociologismos à parte, o que interessa a esse texto é outra coisa: a mentira descarada desses programas. Que os produtores, diretores e apresentadores acreditam na “força” (no sentido mais amplo possível, do braço de ferro mesmo) da lei, é indiscutível, mas que eles pouco se lixam para a solução dos problemas apresentados, também.

Algumas postagens atrás tratei do significado das imagens usando como exemplo grandes cineastas. Resumindo: imagem tem um sentido conotativo(principalmente a jornalística);o que o cinema faz é, articulando-as, criar novos sentidos.

Agora, ao mau exemplo: O SP Record mostrou semana passada imagens da  batida de uma perua escolar, não me lembro se em outra perua ou um veículo de passeio. A chamada era “pessoas agridem motorista de perua escolar”. Uma menininha de uns quatro ou cinco anos saía da perua chorando, com a boca sangrando. Alguma pessoas partiam para cima do motorista. E a equipe de TV lá filmando(equipe ou câmera amadora, não sei).
Enfim, tudo não durou mais do que 30 segundos, mas, enquanto Gottino falava e falava, a imagem imagem da menina sangrando e do motorista apanhando ia e voltava, foi explorada ao limite. É quase um leit motiv, (recurso cinametográfico da repetição usado para enfatizar ou dar ritmo) que não tem outra intenção a não ser provocar no espectador a emoção indignada que o apresentador traz na voz, indignação essa que o material gravado, na duração original, não provocaria.

A destruição do sentido original daimagem para criar outra coisa e, a partir dela, construir todo um discurso adequado com o mundo cão, apocalíptico, que o programa explora e de que precisa para existir, para que o apresentador pareça necessário, alguém que ajuda as pessoas em perigo.

 

No mesmo dia outra "reportagem" (exibida originalmente pela versão carioca d programa apresenetada por Wagner Montes e onde o caráter de circo é  mais acentuado) falava sobre a "polêmica" em torno de uma professora que havia sido repreendida ou algo assim por usar roupas insinuantes demais em sala  de aula. O tom da matéria, lógico, era de condenação à postura da mulher, no entanto aparecia a professora enfiada num decote meio absurdo, ela provando as roupas que provocaram a tal “polêmica” e fazendo a  dança do ventre(?!).Eram duas ou três imagens só, mas que se repetiam indefinidamente.

 Ou seja, você condena, mas oferece aquilo como deleite ao espectador, explora e lucra com aquilo. Logo, fica claro que, para enriquecer, eles precisam disso que tanto condenam .
Pouca coisa pode ser tão indecente e imoral quanto a conduta desses moralistas.


PS. Pelo tempo cada vez mais escasso, este blog anda meio abandonado, pelo que peço desculpas ao leitor. Tentarei aumentar a frequência das postagens.


quinta-feira, 11 de novembro de 2010


Terminada a Mostra Internacional de Cinema, voltemos às artes visuais.  Retomo do ponto em que parei, quando falava sobre o quanto  a relação entre arte e linguagem sempre foi problemática.

Que a arte “comunica” algo niguém nunca duvidou. O problema era saber “ler” a obra de arte,ou, ainda, estabelecer uma “gramática”, buscando leis e unidades mínimas que, bem entendidas e respeitadas, poderiam permitir a “leitura” de qualquer obra. Ou, em outras palavras, traduzir o significado da imagem num discurso.

Um após outro os teóricos davam com os burros n`água. Suzanne Langer(a última teórica que citei) explicava essa dificulade dizedo que a arte tem um “modo peculiar de falar”- (notar como a palavra “falar’ remete ao discurso, a lingüística, à gramática). Para ela, a arte não funcionaria como linguagem por que lidaria com “sentimentos”(para ela, ambíguos, plurais) e não com “pensamento”(objetivo). Hoje sabemos que nem o pensamento é tão objetivo assim como a arte ´sim uma forma de pensamento, um discurso sobre a realidade.

Está achando isso tudo muito teórico? Então dê um pulo no CCBB-SP confira a exposição I In U (eu em Tu), retrospectiva de 40 da artista Laurie Anderson composta de instalações, desenhos, fotografias, vídeos , música, documentação de performaces e filmes.

Na obra de Anderson “algo que parecia ser objeto é discurso e o discurso é a essência de seu objeto” diz Marcello Dantas, no folder da exposição.
O nome original dá melhor dica  do que sua tradução, afinal são duas letras que,pela sonoridade, significam palavras (I, U, eu, você). Ou : as unidades mínimas da linguagem que, agrupadas formam palavras, estabelecendo uma comunicação. E você irá percber com ela articula palvras e imagens, embaralha-as, dança com elas, criando e recriando significados.

Uma das obras é um livro que conta a história de coisas que tinha sdo roubadas de sua casa num assalto. Folha branco, na próxima só um palavra de um objeto(que nos remete à imagem dele). Em seguida, uma reproduçãode uma gravura (se não me engano, de Rubens), com um objeto da cena destav=cado em vermelho. Temos em nossa cabeça o significado da imagem, mas ela entra em conlfito com a a palvra escrita antes. Significante e significado em rota de colisão e recriando um ao outro.

Outra caracaterística da artista é contar histórias, narrar,de uma maneira quase ancestral, tocando mais no mistério(aquele algo que não se consegue explicar em palavras) mais do que na narrativa bem contada.
Com as artes visuais, ela recria a literatura, a oratória. Anderson lida com palavras, com imagens, com lguagem e mbém com sentimentos e sensações.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

CATERPILLAR NA REPESCAGEM DA MOSTRA


Quem tiver disposição para estar neste sábado à meia noite no CINE LIVRARIA CULTURA 1(Conjunto Nacional) vai poder conferir o ótimo filme japonês CATERPILLAR, de Koji Wakamatsu. É daqueles filmes estranhos, soturnos, que fazem os 85 minutos de exibição parecerem bem mais, não por ser ruim ou chato, mas pelo clima pesado que impõe.

Trata-se da história passada na segunda grande guerra, quando um soldado que retorna completamente mutilado para casa. E não é qualquer mutilação não, faltam-lhe as pernas, os braços, a voz e a audição. Além disso, seu rosto está desfigurado. De sua esposa, espera-se um comportamento exemplar, dedicação integral ao homem que deu seu corpo à defesa do império japonês e é considerado por todos um “deus da guerra”. Ou seja, ela deve lhe satisfazer integralmente, sexualmente inclusive.

Aliás as cenas de sexo são constantes nesse filme escuro, como se a mulher estivesse mergulhada num tipo de inferno(que PE seu próprio lar) afinal a tantas horas se percebe que o sujeito perdeu tudo, menos seu comportamento repulsivo. Uma cena impressionante, vemos ele começar a penetrar a esposa, que faz cara de dor. Em seguida, o treinamento de defesa das camponesas, que fincam lanças num saco feito de palha(ou algo do tipo).

Cinema é a arte da imagem, por certo, mas as imagens ganham sentido através da montagem. É na sequência delas que o cineasta melhor transmite a idéia de dor, agressividade e violência na relação do casal.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

UM BOM FILME NÃO ACABA AO FINAL DA PROJEÇÃO

O interessante de se ver bons filmes é que eles ficam na cabeça por um bom tempo, criam vida nova, relações com seu próprio universo cultural. Foi assim com alguns exibidos na Mostra e que provavelmente entram em cartaz em breve(com exceção, creio, do filme de Lluis Miñarro).


StripTease Familiar- Lluis Miñarro

De cara antipatizei com o filme, afinal só o vi por não ter conseguido ingresso para as 5 horas e meia de “Carlos”, de Olivier Assayas. Ainda por cima a sinopse prometia um filme que “mostraria a Espanha Omo um país marcado pela guerra e pela religiosidade”. Quando dei por mim estava vendo um filme caseiro em que o diretor entrevista seus pais.Quer dizer, em termos, porque sua mãe idosa quase não dá espaço ao esposo, quando não lhe corrige e dispara umas broncas. Sim, através da conversa percebemos alguns traços da religiosidade e da guerra, no que elas marcaram a família. Mas não é o interesse central do filme. Não fosse pelo texto de Filipe Furtado na Cinética  http://www.revistacinetica.com.br/familystrip.htm
eu não teria entendido que ali se dá a transformação da pessoa , do real em outra coisa, em arte. Como, aliás, entrega um pintor que faz um retrato da família. “essa aí não sou eu” diz a velhinha. Aquela é arte, como também o filme.Apesar de muita genbte ainda acreditar no cinema como a arte da recriação do real e essas coisas(aqui a conversa vai longe). Aliás, no texto da Cinética voc~e vai entender que “familystrip”, o título original, não se refere ao striptease da nossa traduição, mas ‘a tiras de quadrinhos. Não acredita? Pesquise o termo na internet.

Memórias de Xangai – I Wish I Knew – Jia Zhang -ke

Esse filme de imagens maravilhosas, encantadoras, dialoga perfeitamente com StripTease Familiar. Aqui , de fato, trata-se de contar a história recente da China de forma fragmentária, através de depoimentos de pessoas escolhidas aparentemente ao acaso. Quer dizer, é(com no outro filme) a história pessoal delas marcada pelos fatos históricos (a revolução comunista, principalmente). E há, o tempo todo, referência ao cinema, seja como documento histórico, seja como memória pessoal. História,cinema e realidade. É a arte dialogando com a vida.

O Estranho Caso de Angélica – Manoel de Oliveira

É Manoel de Oliveira, portanto lento, silencioso. Sua contemplação joga luz para a inexorável decomposição da tradição de Portugal, logo este país em que a tradição sempre foi muito forte, enraizada. A história flerta com surrealismo, com outras obras do cinema(novamente um diálogo entre realidade (a a marcha da história no país, que dilui as tradições) e a arte (o cinema e nossas memórias pessoais destes filmes). E o filme é solene ao extremo, para melhor ironizar toda essa solenidade. Quem está familiarizado com Manoel de Oliveira vai entender melhor o quanto de humor e ironia tem nessa história de um fotógrafo que se apaixona por uma morta a quem vai retratar ao ponto de fantasiar estar voando com ela pela cidade.


terça-feira, 26 de outubro de 2010

O ATO CRIADOR,PARA MARCEL DUCHAMP

Marcel Duchamp é sem dúvida, junto de Jean Luc-Godard, o artista mais importante do século 20 pela maneira como abalou e restruturou a arte de seu tempo. A seu respeito, Giulio Carlo Argan ,no fundamental "A Arte Moderna"(Cia das Letras) afirmou que

transformou as estruturas da teoria e da operação estética, chegando a negar que a arte seja o processo em que se realiza a atividade estética”.

Não é pouca coisa, definitivamente, é provavelmente a maior guinada na arte desde a revolução da arte grega.
Inicialmente um pintor ligado ao cubismo e um pouco ao futurismo(ao qual nunca se prendeu), filiou-se ao grupo Dadaísta, criado por Tzara, para negar de forma completa a arte de seu tempo através do riso, do escracho, da anti-arte.
Mas não foi um mero “negador” da arte, ele a reconstruiu partindo de uma visão muito bem estruturada que daria origem a toda a arte contemporânea e destruturaria as tentativas dos teóricos da comunicação de encontrar o tal”sentido” ou a “significação” de uma obra de arte de uma maneira semelhante à operação da lingüística exatamente porque acreditava que o sentido da obra era exterior a ela, não se findava no objeto.

É mais ou menos assim até hoje e o principal motivo de muitas pessoas ficarem atônitas frente a uma obra da Bienal e dizerem “isso não quer dizer nada”. Quer sim, só que chama ao diálogo, pede a participação, seja mental(a instalação de Chantall Akerman), seja física mesmo (as obras de Yonamine e Hélio Oiticica, por exemplo).

Duchamp utilizava a noção de médium para dizer que o artista não é dono de sua obra, nem sequer a compreende completamente e que há muito mais de intuição do que de objetivo na criação. A obra, para ele, só ganha seu sentido com o reconhecimento do público, mesmo que este só venha com a posteridade, sendo que pouco ou nada importam as convicções ou intenções do autor acerca de seu trabalho:

o artista pode proclamar de todos os telhados que é um gênio;terá de esperar pelo veredicto do público para que sua declaração assuma um valor social e para que,finalmente, a posteridade o inclua entre as figuras primordiais da História da Arte.”

O primordial não estaria na esfera do racional (que é aquilo que o artista “proclama de todos os telhados”quando quer provar que é gênio) mas na do “inexpresso”.

A relação artista-público é, para Duchamp, uma forma de “osmose estética” que se dá do primeiro para o segundo e na qual “o papel do público é o de determinar qual o peso da obra de arte na balança estética” ao interpretar suasqualidades intrínsecas inacessíveis ao criador. E, mais do que isso, o público é quem completa o processo e, assim, “acrescenta sua contribuição ao ato criador” que “não é executado pelo artista sozinho”.



As citações foram tiradas doo ensaio "O ato criador",  de autoria do próprio Duchamp, contido no livro "A Nova Arte", de Gregory Battcock  (ed. Perspectiva) .

terça-feira, 19 de outubro de 2010

JEAN LUC-GODARD NA BIENAL DE ARTES

Esta Bienal é também dos cineastas, afinal hoje a arte não reconhece mais fronteiras. Além de Akerman, e Apichatpong Weerasethakul( o tailandês vencedor da Palma de Ouro de Cannes deste ano e também contemplado com uma mostra retrospectiva, esta no Cinesesc) há também Jean Luc-Godard que levou a arte cinematográfica ao limite(e a seu máximo)e agora o transcendeu.

 Sua obra é um vídeo, só vendo para entender, feito com uma única fotografia. Godard consegue dar movimento ao estático(e não é a técnica manjada do zoom e deslocar a câmera pela foto). Assim consegue fazer cinema e pintura numa só tacada, enquanto lê um texto poderoso, daqueles que são um soco no estômago e uma agulhada no coração. “Cultura é a regra, arte é a execessão”, ele diz em certo momento. “Todo mundo quer saber da regra, ninguém liga para a exceção”.
Pensemos a respeito.

Lisbeth Rebollo Gonçalves, organizadora e um das autoras de ‘Arte Brasileira no século XX (Imprensa Oficial), diz que o conceito de cultura “em amplo espectro” é composto, além da arte, da religião, das feitas e os rituais,  pelos "comportamentos sociais, os modos de produção econômica, as estruturas sociais, políticas, os sistemas de comunicação”. Para ela, “nesta definição, entrecruzam-se as esferas: socioeconômica, política, recnológica, cinetífica-teórica, estética,religiosa”. Godard é um revolucionário, portanto vê na prática uma cisão onde a professora da USP vê uma unidade teórica. O cineasta percebe hoje uma hipertrofia da comunicação, da publicidade, da esfera socioeconômica suplantando as demais. Cultura é a regra, arte é a execssão.

A arte cria dissonâncias, atritos que a publicidade, a TV e o cinema de Hollywood fazem tudo para evitar repetindo fórmulas conhecidas, entregando produtos facilmente digeríveis.

Nada na Bienal é muito fácil (e nem tudo é de tão alto nível) mas tudo é parte da exceção.
A regra você encontra na Globo ou no Cinemark mais próximo.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

29ª BIENAL DE ARTES DE SÃO PAULO- Primeira visita


Quem for visitar a 29ª Bienal de Artes vai precisar de fôlego e tempo além de disposição para voltar mais uma ou duas vezes.

Foram três horas de visita e um andar inteiro (o último)ficou por ver, além de várias obras e quase uma dezena de vídeos vistos apenas superficialmente (me detive na ação dos pixadores, mas deixei passar Lygia Clark, por exemplo).

Esse blog não é muito de usar o texto em primeira pessoa, mas vamos lá. Minha primeira indicação está no piso térreo, é  o impressionante trabalho de Ai Weiwei e suas esculturas dos animais do zodíaco chinês, trazendo algo da monumentalidade e da eternidade da cultura chinesa e seu estranhamento ao ocidente.

No primeiro andar o angolano Yonamine (que tem obras expostas também na galeria SOSO- Av. São João, 313, Centro) traz o caos visual, os frangalhos urbanos numa instalação que usa algumas técnicas da Pop Art (colagens, repetição de imagens da cultura de massas, reprodução de fotografias) numa chave completamente diferente para pensar a Angola contemporânea , o excesso de informação e imagens e o estado de favelização de suas cidades.

 

Também no segundo piso, a canadense Chantal Akerman tem uma instalação poderosíssima que é dos pontos altos desta Bienal algo irregular; começa(ou termina, depende de que porta você entra) com numa sala apertada, escura, claustrofóbica onde um aparelho de TV pequeno, no chão, reproduz um vídeo em VHS captada de uma câmera posta em cima de um veículo(não sabemos qual). Não há trilha sonora, apenas uma voz feminina que fala sobre uma cidade da Alemanha oriental, mas na realidade não vemos nada além do céu escuro sem estrelas, a não ser algum semáforo que por vezes está no caminho do veículo. Tudo o que temos é a emoção da voz a mexer com nossa imaginação. Em seguida (ou logo antes) mais de uma dezena de aparelhos de TV, cada um deles mostrando pessoas detsa cidade, andando, fazendo tarefas ordinárias.
Estamos rodeados, envoltos pela vida desta cidade que é, na verdade, parte da memória afetiva da cineasta (como a narração na outra sala já nos indicava). É o excesso em contraponto ao vazio, a presença ante a ausência da outra sala. Por fim um curta metragem não narrativo (Chantal é também cineasta, teve mostra retrospectiva exibida no CCBB de São Paulo este ano) onde viajamos por esta cidade e vemos com olhos de alguém familiarizado que retorna ao lar e contempla, apenas contempla.

E há Jean Luc-Godart. A ele, retorno.


29ª Bienal de Artes de São Paulo - 25 setembro - 12 dezembro 2010
                                        http://www.29bienal.org.br/

Horários de funcionamento :

De 2ª a 4ª feira: das 9 às 19h.
5ª e 6ª feira: das 9 às 22h.
Sábado e domingo: das 9 às 19h.
Entrada permitida até uma hora antes do fechamento - Grátis.
















sexta-feira, 8 de outubro de 2010

BIENAL DE ARTE - AI WEIWEI

Ai Weiwei ,que está nesta Bienal ,é um artista chinês de forte acento político. Tão forte que este ano levou uma surra da polícia chinesa e acabou hospitalizado. Recentemente em Tóquio ele expôs uma serpente toda feita com mochilas escolares que de tão grande e circundava todo o museu. A serpente, na cultura chinesa representa o perigo permanente.
Ai fazia ali um discurso em forma de arte, sobre um terremoto que vitimou mais de  cinco mil e quinhentas crianças, tudo indica, pela fragilidade das escolas construídas pelo governo(apelidadas de escolas de areia).tudo o que restara delas eram as mochilas. O governo abafou o caso e Ai encabeçou num movimento para dar nomes as vitimas. Daí levou uma surra e seu blog foi bloqueado. Mas em Tóquio ele mostrou tudo isso numa criação a um só tempo monstruosa e fantasmagórica, assustadora.


 


Numa performance na Documenta de Kassel ele levou 1001 chineses que nunca haviam saído de seu país. Com eles, 1001 cadeiras em estilo tradicional chinês.
Encontro, choque e curiosidade de parte a parte, ocidente e oriente e todo um pensamento sobre presença, ausência, uso, beleza, estranheza que ocuparia páginas e mais páginas mas que é expresso apenas com objetos ordinários e pessoas. Porque a arte é pensamento mas é também um diálogo com quem a vê(vivencia). Como pregava Marcel Duchamp, aliás, a quem voltaremos.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

A ARTE É UMA FORMA DE PENSAMENTO

A arte é um discurso sobre a realidade. Se esse discurso é político(mote da Bienal deste ano) ou não isso vai do artista, mas a Arte diz algo, senão é só exercício de perícia com o lápis, o pincel ou o buril. Mesmo as obras Renascentistas diziam algo além do tema (por tema entender deposição da cruz, mitologia, etc), sua obsessão pela ordem, pela composição triangular, até mesmo o uso da perspectiva eram parte das convicções dos 1400. Esvaziado esse sentido, vira maneirismo, exibicionismo de técnica.

A ciência fala sobre o mundo, seja a ciência exata ou a humana, ela discursa, aponta caminhos, explica, pensa. A arte também o faz, de outra maneira, assim como fazia (faz?) a mitologia ou mesmo a religião (quando não é mero balcão de negócios).
São maneiras de discursar, de entender e falar sobre o mundo. De pensar e fazer pensar. E para isso não é necessário que a obra seja complexa ou que tenha levado dez anos pra ficar pronta nem mesmo que seja agradável aos olhos.

O filósofo alemão Paul Cassirer acreditava que ciência, arte e mitologia eram formas de linguagem, ou melhor , tudo isso e mais a linguagem trabalhavam dentro do universo do simbólico. Entender a arte como linguagem causou um problema que se arrastou por décadas, mas isso não vem ao caso (pelo menos não agora). Vamos ficar com a idéia menos objetiva e mais livre de que a arte é um pensamento, uma forma de lidar com o mundo.

É com essa visão que prossigo analisando a arte contemporânea nas próximas postagens. 

VAMOS À BIENAL(PORQUE ELA NÃO VEM ATÉ NÓS)

No documentário “Jazz”,dirigido por Ken Burns, o trompetista diz que Charlie Parker, ícone máximo do bebop, é como Picasso, ele não vem até você, você é que tem de ir até ele. Com isso explicava a dificuldade dos contemporâneos de Parker(e mesmo das pessoas hoje) em apreciar sua arte “difícil”, que não tem melodias assoviáveis, nem se presta a passinhos de dança de salão(e jazz, na época, era sinõnimo de dança, de "fox").

Enfim, Picasso, no fim das contas, acabou vindo até nós por caminhos tortos, pela diluição do cubismo(ainda que ele fosse muito mais do que cubista), hoje até na embalagem do Toddy você vê figuras desenhadas a partir de mais de um único ponto de vista. Lógico, cubismo não era só isso, mas, de uma forma ou de outra, ele é “compreensível”à maioria das pessoas, que podem apreciar um quadro de Picasso sem grandes traumas.

Mas eis que retorna a Bienal de Artes de São Paulo, evento só superado em importância no mundo pela Documenta de Kassel, na Alemanha. Quem se aventurar não irá encontrar facilidade, não há um Romero Brito (aquele da embalagem do Omo ) de quem o curador Agnaldo Farias inclusive desdenhou em entrevista à revista Cult de setembro.

A arte contemporânea não se presta a uma interpretação fácil, logo aquele que vê não se agrada visualmente nem consegue se colocar na posição de diferenciar um bom artista de um picareta. Pra completar, ainda hoje persiste a idéia do “bem feito”, um quadro Renascentista , por exemplo, é bom porque é perfeito, quase real. Já as gravuras de Picasso (estão em exposição permanente na estação Pinacoteca, aqui em São Paulo), essas não são cubistas, parecem mais desenhos toscos feitos por uma criança, logo são uma porcaria.

Mudar a opinião de quem pensa assim dá trabalho porque requer um ensino de toda trajetória da História da Arte, das idéias de beleza, perfeição, etc.
Quem for à 29ª Bienal de Artes de São Paulo e não tiver lá muita familiaridade com arte contemporânea terá então de fazer algumas concessões.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Y- O ÚLTIMO HOMEM - nº 3

A sensação que se tem ao ler as primeiras 58 páginas de Y- O Último Homem(que correspondem aos números 11 e 12 da série original) é de que a série já sofre certo desgaste. Além do mistério que cercava a morte de todos os espécimes machos da face da terra, com exceção do artista de fugas Yorick Brown e seu mascote, o macaco Ampersand, o ponto forte era a crítica a uma sociedade na prática ainda machista; vários serviços vitais deixam de funcionar porque eram executados quase que exclusivamente por homens. Mas trezentas páginas já tinham deixado isso suficientemente claro, de modo que é necessário mudar um pouco o foco .

A edição passada já anunciava que Yorick poderia não ser, enfim, o último homem uma vez quel havia três astronautas a bordo de uma estação espacial, dois dos quais homens, rumando de volta para a Terra. Mas como a estrutura desta HQ segue as das séries dramáticas de TV com uma história central que não se resolvem e outras menores que, estas sim tem desfecho rápido,imaginamos logo como as coisas devem terminar- é característico também que as coisas mudem para, no fim, continuarem as mesmas. E, para completar, o protagonista cheio de tiradas engraçadinhas já começa a irritar, bem como as insistentes referências a cultura pop( todas devidamente explicadas pela edição brasileira). Aí fica claro o ponto mais frágil do roteirista Brian K.Vaughan, que é a construção de personagens. Deslumbrado com sua facilidade para bolar diálogos “à Peter Parker”ele faz com que todos falem pela mesma boca, da mesma maneira, como se tivessem a mesma formação cultural. Acontece que Vaughan não é qualquer um, longe disso, e resolve a trama dos astronautas da maneira mais previsível possível e, ainda assim, surpreende o leitor.

No entanto o que salva mesmo a edição é o arco composto por duas histórias sobre um grupo de teatro amador que, ao encontrar Ampersand, decide criar uma peça sobre “o último homem da terra” ( referência declarada ao livro homônimo de Mary Sheley, mas também, claro, à HQ) De quebra as moças querem que seu espetáculo seja revolucionário, capaz de tocar corações e mentes, mudar o mundo e mais um pouco, ainda que nenhuma delas tenha um pingo de talento. Metalinguagem complexa e humor afiado fazem deste um dos melhores momentos de toda a série.

Aí o desânimo já foi embora e nos faz esperar novamente pelo melhor.

Ah, sim, no meio de tantas notas explicativas, podia ter sido esclarecido também que, tanto lá como cá, “merda” é o que dizem os atores uns aos outros antes de entrar no palco, como forma de desejar boa performance.

***

texto produzido para o site HQManiacs

PS. Peço desculpas ao leitor. A absurda falta de tempo desta semana impediu a produção dos textos sobre a Bienal de Artes. Farei o possível para postá-los semana que vem.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Enfim, as imagens prometidas. Incluí também "A Morte de Marat" (últ.imagem), pintada por Jacques-Louis David em 1793 e talvez o caso mais célebre desse tipo de derivação na História da Arte. Derivação intencional, porque traz para a morte do revolucionário francês toda a carga dramática ,o ar de santidade, a significação da vítima inocente morta em sacrifício que estavam  contidas nas obras anteriores. 
Pode -se dizer exatamente o mesmo da opção pelo  desenhista George Perez para retratar a morte da Supergirl, na década de 1980, bem como fez Jim Aparo com a morte do Robin em 1989 que eu reproduzi na postagem anterior.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

ARTE SEM FRONTEIRAS

Obs. o blogger está com problemas e teima em não carregar as imagens selecionadas. Retorno semana que vem com textos sobre a Bienal de Arte de São Paulo.

Não existem fronteiras estanques na arte. Mesmo os absolutamente sem talento, os oportunistas ou as pinturas que são vendidas em shopping centers para um público que não conhece arte dialogam em certa medida com a tradição artística seja por imitação, influência de professores ou outra razão.


Entre ao grandes isso não é raro, pelo contrário. Diz Susan Woodford em “A Arte de ver a Arte”(Circulo do livro) :
“Os artistas não criam num vazio.Eles são constantemente estimulados por outrso artistas e pelas tradições artísticas do passado.Mesmo ao reagirem contra a tradição, os artistas mostram sua dependência dela.é o solo onde brotaram e no qual se desenvolveram, e é dele que extraem seu alimento.Eles sabem disso e admitem-no sem constrangimento;o próprio Lichtenstein(Roy)disse: ´ As coisas que tenho manifestamente parodiado, na verdade, eu as admiro”.

E cita como exemplo a revolucionária Almoço na Relva(1863) de Manet cujas figuras estão dispostas da mesmíssima maneira da gravura de Marcantonio Raimondi, “O julgamento de Páris”(1520), esta por sua vez baseado numa pintura contemporânea, de Rafael. A fiura feminina tem seu modelo em esculturas gregas.

Enfim , nada disso é muito diferente do que ocorre com a chamada “cultura de massas”, as HQs de super-heróis no caso. Aqui nós vemos o tema da Pietá de Michelângelo, “repetido” pela “deposição da cruz” de Caravaggio e volta e meia reproduzido quando querem representar a morte trágica de algum super herói.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O TERROR ETÉREO DE KIYOSHI KUROSAWA "INDIE 2010"


O “Indie –Mostra de Cinema Mundial” do Cinesesc é o tradicional “esquenta” dos cinéfilos para a maratona da Mostra de Cinema de São Paulo. Neste ano o festival, uqe vai de 16 a 30 de setembro, tem como destaque duas retrospectivas de diretores que não chegam ao circuito comercial, um deles é o tailandês de nome impronunciável, Apichatpong Weerasethakul, vencedor da palma de Ouro de Cannes deste ano,o outro é o japonês Kiyoshi Kurosawa que, é bom avisar, não tem nenhum parentesco com o célebre Akira.


Kurosawa é parte de uma geração chamada por Donald Richie (autor de “A Hundred Yars of Japanese Film”) de “os novos independentes”, jovens cineastas surgidos após o desmonte dos grandes estúdios tradicionais.
Sua obra pode ser encarada como uma lenta desconstrução do terror. Aliás, ele tem uma capacidade de usar o gênero para refletir as doenças da sociedade contemporânea de uma maneira que só encontra paralelo, talvez, em George Romero e seus zumbis.
Kurosawa começa sua carreira com os chamados “Pinku Wagan”, filmes ruins repletos de pornografia e violência mas que foram para ele aprendizado e laborátório. Faz, depois, “Doce Lar”, seu primeiro terror, mas cuja direção é atribuída a outro diretor.


O Vigia do Subsolo” (1992) história de um vigilante assassino que é também doente mental, é um filme ainda preso aos códigos de gênero mas que toca em pontos delicados que aprofundará mais tarde, como a doença contemporânea por excelência(e mais agda no Japão que em qualquer lugar do mundo), o isolamento.
Cure”, de 1997, já inicia a crítica mais aguda à sociedade ao retomar a tradição dos mentalistas tão cara ao cinema (Caligari e Mabuse) e mostrar um que entra na cabeça das pessoas e fazer com que elas cometam crimes. Fazer ou apenas permitir, liberar é a questão incômoda que fica (questão essa que o liga diretamente à obra de Fritz Lang).
Daí para diante seu terror evolui fazendo desaparecer a figura do “monstro”,aquela criatura causadora do mal. Esse mal torna-se difuso, indefinível, sem origem como em

Pulse”( 2001) em que uma espécie de vírus de computador faz com que as pessoas desapareçam e fantasmas surjam confinados em desesperada tentativa de estabelecer comunicação. É de novo o mal do isolamento, mas causado pela ausência de contato físico, pela existência meramente virtual e um diagnóstico severo da vida contemporânea.



Programação completa do Indie 2010 ,com os 23 filmes de 12 países e mais detalhes das retrospectivas em: http://www.indiefestival.com.br/indie2010/sp/

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

CASSAVETES GRÁTIS NO SESC SANTO ANDRÉ


O SESC Santo André exibe hoje e até dia 28 de setembro, uma vez por semana, o Ciclo Jonh Cassavetes, dedicado à obra do maior dos cineastas independentes norte-amercanos e um dos maiores nomes do cinema mundial. São ao todo 4 filmes (um já foi exibido) enfocando sua fase independente, marcada pela experimentação, pela ausência de trama rigorosa e pela liberdade dos atores em cena.

Talvez a maneira mais fácil de explicar a obra de Cassavetes seja aproximando-o de outras artes. Ele é o equivalente ao bebop jazz de Charlie Parker, à literatura beat de Jack Kerouac, ao expressionismo abstrato de Jackson Pollock. É o cinema da liberdade, do fluir, da verdade que nasce da gestualidade, do gozo da interpretação. Gozo este oriundo do trato que Cassavetes (ele mesmo ator em filmes de gente como Roman Polanski e Brian DePalma) tinha para com seus atores- era do ensaio extenuante que nascia a tão aclamada improvisação em cena. Dessa intimidade (trabalhava quase sempre com os mesmos atores) brotava a força de seu cinema.

Vejamos o que disse o ator Ben Gazarra em entrevista a Thierry Jousse para seu livro “John Cassavetes”:

John fugia dos diálogos convencionais e das histórias muito bem escritas.(...)Não buscava uma só qualidade [nos personagens],mas sim três,quatro,cinco, a fim de encontrar a complexidade dos seres-humanos.Era por isso que gostava de ensaiar.Para descobrir os personagens, torná-los mais vivos e carnais

Ou seja, se um personagem convencional tem uma ou duas características (o valetntão burro, o covarde inteligente, por exemplo), nos filmes de Cassavetes não se pode dizer nada a respeito deles logo de cara. Eles vão se revelando aos poucos, afinal não nascem de artimanhas de roteiro(e por isso não pagam tributo à coerência) mas sim do ator e sua complexidade se mostra nos gestos,que bem podiam ser mínimos, apenas um rosto em silêncio parado na tela.


Os filmes são exibidos em DVD e a entrada é gratuita. Hoje é apresentado "Faces", de 1968, quarto filme do diretor, segundo de sua fase independente.

PROGRAMAÇÃO


Faces
Dia(s) 15/09 Quarta, às 20h.


Noite de Estreia
Dia(s) 21/09 Terça, às 20h.

Uma Mulher Sob Influência
Dia(s) 28/09 terça, às 20h.



SESC SANTO ANDRÉ - rua Tamarutaca, 302 - Vila Guiomar

telefone: 11 4469-1200 / fax: 11 4469-1202 e-mail: email@santoandre.sescsp.org.br




quinta-feira, 9 de setembro de 2010

PARA COMPREENDER A QUESTÃO DA EDUCAÇÃO

Como prometido, links interessantíssimos que aprofundam bastante nossa discussão sobre Educação.
O filósofo, Doutor em Educação e professor da PUC Mario Sérgio Cortella fala aqui sobre o que ele considera os 3 gargalos que entravam a educação no estado. Cortella já foi secretário da educação na cidade de São Paulo (91-92)e é ligado a Mercadante, portanto parte interessada, mas ainda assim suas idéias devem ser ouvidas sem julgamentos partidários. Para ele é preciso que haja uma política educacional integrada (município, estado e governo federal)bem como valorização dos funcionários da educação( elevação salarial e formação permanente)e,por fim, o envolvimento das comunidades na gestão, integrando educação escolar, cultura e esporte.Veja em:


O programa Expressão Nacional, da TV Câmara, debateu a influência dos pais e alunos no rendimento dos estudos, técnicas inovadoras que tornem a escola mais atraente ao aluno e até que ponto o aumento do salário do professor é garantia de qualidade de ensino.
Disponível para download em dois blocos:

O Ministro da Ciência e Tecnologia Sergio Machado Rezende fala já bem no final da entrevista ao programa Cidadania, da TV Senado, que é preciso aproximar os alunos das ciências exatas- já falamos aqui sobre a carência de engenheiros . Para o ministro, o país precisa de cerca de 500 mil cientistas-pesquisadores e atualmente tem apenas 180 mil.
Sergio Rezende lembrou que as Olimpíadas de Matemática hoje chegam a 90% das escolas do país e que são um estímulo para o aluno. O Ministro é, ele próprio, professor-pesquisador( é formado em Engenharia e profDr do Instituto de Física da Unicamp). Você pode assistir ou fazer download aqui:
No mesmo canal, o programa Inclusão de 28/06 deste ano mostra de que forma a Contação de Histórias pode não só despertar o interesse da criança pela leitura como criar um vínculo quase inquebrável com os livros.
A Revista de História da Biblioteca Nacional traz matéria de Claudia Bojunga que fala do Portal do Professor, no site do MEC ferramenta útil para o profissional fazer sua parte na melhora do ensino. Lá há cerca de1.200 planos de aulas e e aproximadamente 3.500 ferramentas multi-midias que auxiliam o docente , como mapas, animações e jogos online. Num deles o aluno aprende história assumindo o papel de um filho de um senhor de terras da Idade Média, a medida que joga, absorve e retrabalha o conteúdo de uma disciplina que depende muito de um hábito raro entre muitos jovens, a leitura.
A matéria está disponível em

ou você pode ir direto em

Bem, termino por aqui esperando ter contribuído em alguma medida na discussão sobre Educação, neste momento tão oportuno.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

EDUCAÇÃO EM DEBATE-UMA ÚLTIMA REFLEXÃO

Eu paro por aqui de tratar de educação, mas deixo no ar algumas reflexões :

O movimento Todos pela Educação encabeçou uma “Carta-Compromisso pela Garantia do Direito à Educação de Qualidade”, de que participam uma série de entidades. O objetivo é que ela seja de conhecimento(e aceita) por todos os candidatos. Como eu já disse aqui, a população já se mobiliza, já cobra seus representantes. A carta resumidamente trata de estabelecer metas a serem cumpridas por quem seja eleito, como o alfabetizar todas as crianças até 8 anos de idade até 2014 ou estabelecimento de padrões mínimos de qualidade para todas as escolas brasileiras.
Para que isso se efetive é preciso investimento para além dos atuais 5% do PIB – Dilma disse em sua eventual gestão que serão de 7%, Marina, muito mais- falei disso na primeira postagem da série, Educação em Debate. De qualquer forma 5% já é uma evolução , em 2009 eram míseros 3,7 %.
A carta pede também a valorização do professor, tecla em que bati exaustivamente, lembrando sempre que arte-educador e professor de educação física são, eles também, educadores.
A íntegra da Carta e das Associações proponentes você encontra aqui:
http://www.todospelaeducacao.org.br/comunicacao-e-midia/noticias/10186/carta-compromisso-por-educacao-de-qualidade-e-lancada-em-brasilia

Sobre o vestibular :Em artigo na Folha de São Paulo de 30/08 Cibele Yahn de Andrade, pesquisadora do núcleo de políticas públicas da Unicamp questinou dizendo que eletende a fazer crer que o melhor aluno é aquele com a nota mais alta e isso confunde bom desempenho num exame com capacidade de desenvolvimento intelectual”. Para ela, a universidade deve ter o direito de procurar seus alunos e outras formas, inclusive através do sistema de cotas ou outras ações afirmatoivas (seja para alunos da rede pública, seja por questões de cor) porque o vestibular é uma forma de privilégio de poucos. Disse também que “desenvolver o ensino superior é estratégia essencial ao interesse público mais elevado”.


Atualmente quase todos os estados brasileiros utilizam algum tipo de avaliação do docente. Os melhores recebem aumento de salário, os piores, em alguns casos, podem ser punidos. Se há elogios, há críticas. Diz-se que é preciso antes, condições apropriadas de trabalho, recursos, caso contrário nem os alunos rendem e o professor acaba punido. O ideal, penso, é a conjugação das duas coisas. Com condições adequadas, pode-se exigir tanto nível intelectual do professor, quanto desempenho de seus alunos.


A seguir, encerrando definitivamente a série de postagens, links interessantes para quem quiser se aprofundar no tema .

sexta-feira, 3 de setembro de 2010


O TCM exibe a partir de hoje , às sextas-feiras, uma "mostra" em homenaem aos filmes Blaxplotation, aqueles feitos nos EUA nas décadas de 60 e 70, por e para negros(que eram maioria absoluta no elenco, claro). Uma caracetrística marcante eram as trilhas sonoras assinadas por bambas da soul music do quilate de James Brown, Aretha Franklin, Curtis Mayfield e Isaac Hayes .


Tão marcante quanto a música era o fato desses filmes recriarem gêneros e subgêneros do cinema (artes marciais, filmes de gângster, filme policial) sob uma ótica dos negros, em que eles eram alçados à categoria de protagonistas e não mais meros coadjuvantes. Para se ter um idéia do que isso significa, basta lembrar que em nossas telenovelas só recentemente tivemos uma protagonista negra (Taís Araújo) .


Os Blaxplotation eram parte de um movimento que nunca pegou de fato por aqui, o blackpower(que não foi além de meia dúzia de músicos e de um estilo excêntrico de se vestir), afinal aqui o racismo nunca foi declarado(portannto não havia conflito), mas era sim "cordial", como não podia deixar de ser numa terra de "democracia racial", como queria crer Gilberto Freyre.


Às 22h o TCM exibe "Baadasssss Cinema", documentário de 2002 dirigido por Isaac Julien que conta com entrevistas de gente ligado a esses filmes, como a atriz Pam Grier, o músico Isaac Hayes e até o diretor Quentin Tarantino, que fez ele próprio sua homenagem Jackie Brown, estrelado significativamente por Grier. Logo em seguida é exibido "O Chefão do Gueto", filme de gângster de Larry Cohen que,aliás, era branco.


ps. alguns dos filmes que serão exibidos passaram na mostra "A Saga Negra do Norte", do Museu Afro-Brasil. Falei dela algumas postagens atrás.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

FUTURO PROMISSOR ? -PERSPECTIVAS PARA A EDUCAÇÃO 2

Sigo na minha atual onda de otimismo pra concluir a série de textos sobre educação – o que deve acontecer amanhã, espero.

Eu fui escolarizado obrigado a ler Senhora, de José de Alencar quem,para um adolescente, é de uma chatice atroz pois as longas descrições do autor romântico me soavam cansativas- já se falou disso aqui nos comentários das postagens anteriores.
Hoje há as adaptações em quadrinhos. É discutível se isso estimula ou não a leitura do original, mas pelo menos faz um primeiro contato não traumático- “literatura é um saco”, eu pensava. Vai também do professor (sobre ele, ver as postagens anteriores) de ser criativo, ler um trecho do original e comparar. E por aí vai. O que importa é que a mentalidade hoje é outra. Já vai longe o tempo em que escolas só faziam excursões ao Playcenter e ao Jardim Zoológico. Hoje pode-se ver crianças e jovens no MAM, no MASP,no Museu da Língua Portuguesa...E se os leitores de hoje estimularem seus filhos, em algum tempo teremos números bem diferentes dos expostos acima que estão mudando.
O número de livrarias cresceu 10% nos últimos 3 anos, o antigo presídio do Carandiru hoje é uma belíssima biblioteca, a Flip foi um sucesso, a 21ª Bienal do Livro teve 110mil visitantes num único dia, recorde que tornou o evento um transtorno para quem estava lá. Do público total, estimado em 745 mil pessoas, 288 mil eram crianças. Se essas crianças se tornarem adultos leitores que lêem para seus filhos, em algum tempo teremos um panorama muito melhor.

Eu leio no Blog dos Quadrinhos, do jornalista e professor Paulo Ramos as seguintes notas:

Na escola 1
A Prefeitura de Belo Horizonte incluiu pela primeira vez obras em quadrinhos na relação de livros dados aos alunos da rede municipal. Foram selecionados quatro títulos: "O Mundo Mendelévio e o Planeta Telúria", "O Chinês Americano", "Negrinha", "Estórias Gerais".

Na escola 2
As obras serão distribuídas aos estudantes em 2011. Cada aluno recebe dois livros por ano. Os álbuns são para diferentes faixas etárias. "Estórias Gerais", por exemplo, é para jovens e adultos. O município comprou entre 4 mil e 5,1 mil exemplares de cada título.

Isso é muito bom, estimula os jovens, estes que lotam a Bienal, que no futuro podem estar na Flip. Mas tudo pode ir água abaixo se os governantes não prosseguirem aumenando as verbas destinadas à Educação. Sobre isso, a próxima e derradeira postagem da série.

PS. Devo aqui alguma retratação ao governo Lula por ter dito que ele não fez “nada de expressivo” na educação. O percentual do PIB investido subiu, há o Fundef, o PróUni,o aumento no valor das bolsas aos mestrandos e doutorandos(o valor ainda está aquém do que deveria), a Federal do ABC, a Universidade de Ouro Preto. Enfim, isso confirma a intenção deste blog, que é a de discutir e pesquisar ao invés de arrotar certezas .