sexta-feira, 13 de março de 2009

AGENDA CULTURAL- Eventos gratuitos no Grande ABC

  • Amanhã começa a mostra Pedro Almodóvar-o Homem que amava as mulheres no teatro Abílio Pereira de Almeida, em São Bernardo do Campo com o filme Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos, de 1988. Serão exibidos até o dia 4 de abril (sempre às 20h dos sábados) Tudo sobre Minha Mãe (1999), Fale com Ela (2002) e Volver (2006) . É bom dizer que, ao contrário do que sugere o nome da mostra, Almodóvar não morreu.
    No mesmo local, também as mostras Documentário recente no cinema nacional(domingos, 20h) e Clássicos Disney(domingos 16h).
    O teatro fica na Praça Cônego Lázaro Equini, 240 Baeta Neves; tel.: 4125-0582

    A Casa da Palavra (Pça do Carmo, S/N- Santo André) dá início à sua programação com o ciclo de Palestras"Racionalidade e Melancolia, o Pensamento Humano de Ulisses a Frankenstein" com o professor Leandro Gaffo todo sábado, até o dia 28, sempre das 15 às 18 h. O tema de amanhã é Ulisses e o Canto das Sereias: Desejo, Sacrifício e Auto-Interesse no confronto com a Natureza.
    Ainda este mês as palestras A mulher ideal e a mulher real no Brasil do Século XVII com a professora Clarisse Assalim, dia 17 das 19 às 21h e no dia seguinte no mesmo horário, A estética barroca e marcas do feminino,com o Professor Juarez Donizete.
    Informações pelo fone :4992-7218

  • O Cineclube Alpharrabio segue exibindo filmes do alemão Fritz Lang. Dia 18 às 14h30 é a vez de O Tigre de Bengala(1959)e dia 25, no mesmo horário, passa Sepulcro Indiano (1959).
    O Cineclube, que fica no Espaço Cultural Alpharrabio (R.Eduardo Monteiro 151, Santo André) exibe filmes em DVD com retroprojetor. Após a sessão, um bate-papo entre os presentes.
    Inf. em
    www.alpharrabio.com.br ou http://cineclubeemsantoandre.blogspot.com


Vale lembrar do texto escrito em 16 de janeiro pelo crítico Francis Vogner dos Reis exclusivamente para este blog, em que ele analisa a obra de Lang.

sexta-feira, 6 de março de 2009

WILL EISNER E A REVOLUÇÃO NOS QUADRINHOS 1- O BALZAC DAS HQS


Em 1978, Will Eisner vira de cabeça para baixo o mundo dos quadrinhos com o lançamento do primeiro romance gráfico (graphic novel) “Um Contrato com Deus- e outras histórias de cortiço” (Devir), que formaria uma trilogia com “Força da Vida”, de 1988 e “Avenida Dropsie em 1995”. Nunca antes havia ocorrido aos quadrinhos se aproximarem tanto do mundo real, dos pobres, dos vitimados pela Grande Depressão, dos moradores de cortiço, enfim.
A nova empreitada de Eisner, que já havia alcançado a consagração com as aventuras do detetive Spirit, era marcada pela ousadia.
Contrato com Deus era um livro composto por quatro contos, só que desenhados, o que embaralhava de vez as fronteiras entre literatura e quadrinhos, até então restritos ou às tiras para jornais ou às revistas. Os contos, aliás, eram histórias passadas numa vizinhança pobre do Bronx, mas especificamente na Avenida Dropsie. Até então os quadrinhos eram, de modo geral, histórias aventurescas, fantasiosas ou cômicas (daí seu nome em inglês, comics). Havia também algum tipo de crônica de costumes, mas nada que se aproximasse da abordagem direta, sem desvios ou fabulações de nenhum tipo feita por Eisner.
A reviravolta de Contrato com Deus é uma chegada tardia dos quadrinhos à maturidade na única forma possível, o rompimento com a tradição e busca de alguma forma de “realismo”, numa guinada bastante semelhante à que representou Balzac (e de certa forma Stendhal) para a literatura.
Em História Social da Arte e da Literatura (Martins Fontes), Arnold Hauser nota que
O naturalismo não tem por alvo a realidade como um todo, não a ‘natureza’ou a ‘vida’ em geral, mas aquela província de realidade que se tornou especificamente importante para essa geração. Stendhal e Balzac assumiram a tarefa de retratar a nova sociedade em mudança”.
Balzac, nos 80 romances que compõem a sua Comédia Humana ousa tratar do dinheiro, da ascensão social e das tórridas paixões, da realidade caótica da moderna Paris descrevendo, sem piedade ou maquiagem, ricos e pobres, exploradores e explorados.
Somente o operário morre no hospital no fim do seu esgotamento físico, enquanto o pequeno-burguês persiste em viver e vive, nem que seja aparvalhado; o rosto cheio de rugas, aplastado, velho, sem brilho nos olhos nem firmeza nas pernas, arrastando-se com expressão idiota pelos bulevares” diz em Fisionomias Parisienses.
É exatamente esse espírito que percebemos em Contrato com Deus quando lemos histórias como a do Cantor de Rua, onde o belo rosto e a bela voz que lhe rendem algumas moedas pelas ruas dos cortiços escondem um alcoólatra violento e explorador de mulheres. Ou na d’O Zelador, alemão solitário que bota medo nos inquilinos, a quem vê com desprezo, mas que também deseja ardentemente uma pré-adolescente moradora do prédio de que cuida. Ela, por sua vez, oferece sua nudez em troca de algumas moedas. Os desdobramentos levam ao suicídio do zelador encarado com indiferença pela garotinha.
Não é drama, não há superseres, nem mesmo pode ser chamado de comics. É uma coisa nova, o romance gráfico e daí para diante os quadrinhos conhecem um novo rumo.

WILL EISNER E A REVOLUÇÃO NOS QUADRINHOS -2 AS MODERNIDADES NAS ARTES







A primeira fase da modernidade, em qualquer forma de arte, é uma revolução caracterizada por algum tipo de rompimento com a tradição em direção a uma aproximação da realidade, em detrimento de qualquer tipo de convenção ou idealização. Essa Realidade natural (por isso chamada de naturalismo) e quase sempre oposta à Verdade, expressão de uma verdade superior e inquestionável. Seria assim tanto na pintura como no cinema quando há rompimento com os temas e os gêneros e com as convenções próprias de cada arte. No entanto o que se quer fazer aqui é encontrar paralelismos, coincidências, precedentes, não uma relação direta do tipo a pintura que influenciou o cinema que influenciou os quadrinhos o que seria algo extremamente ingênuo.

Na Pintura
Na pintura há um rompimento com os Grandes Temas (Histórico, Alegoria, Sacro, Retrato, Paisagem , Natureza Morta) que eram hierarquizados (Histórico e Sacro tinham mais valor do que uma natureza morta, por exemplo) desde Aristóteles para seguir rumo a uma arte visual, sem embasamento filosófico.
Segue-se uma busca por retratar, com todo suor e rugas, as pessoas do povo, como fariam, por exemplo, Honoré de Daumier (1808-1879) e Goustave Courbet (1818-1877) que para Gombrich “não queria formosura, queria verdade”(A História da Arte- LTC)- verdade aqui no sentido de realismo. Giulio Carlo Argan diz que “Courbet quer viver realidade como ela é, nem bela nem feia”(Arte Moderna- Companhia das Letras).
Não há mais lugar, para estes artistas, para pose, linhas fluentes ou cores impressionantes. Tampouco para a grandiloqüência de herdeiros de Rafael, como Jean Domimique Ingres (1780-1867).
Baudelaire dizia, ao defender a pintura do aquarelista Constantine Guys (1805-1892 ) que “os planejamentos de Rubens ou Véronèse não nos ensinarão a fazer chamalote, cetim à rainha ou qualquer outro tecido de nossas fábricas(...)o tecido e a textura não são os mesmos que os da antiga Veneza”(Sobre a Modernidade - Paz e Terra), exaltando que os modelos acadêmicos era apenas convenções que, apesar da beleza do trabalho em que resultariam, eram incapazes de dar conta do mundo moderno,só acessível a esta nova geração de artistas que rompiam com a tradição.

No Cinema
No cinema dos anos 1950 foi o neo-realismo que co filmes como “Roma Cidade Aberta” (1945) ou “Alemanha Ano Zero”(1948), ambos de Roberto Rosselini, buscava através do uso do plano-sequência (cena sem cortes ou edição) restaurar a ambigüidade da imagem, uma vez que no cinema clássico o que era mostrado correspondia ao que era de fato, sem margem para dúvidas (por exemplo quanto ao caráter de um personagem, que era ou bom, ou mau). Nessa busca pelo Real, recusava-se a filmagem em estúdio, a iluminação artificial e as grandes narrativas (feitos grandiosos, por exemplo). Mais próximo do trabalho de Eisner, no entanto, está o moderno cinema norte-americano, de "Uma Rua Chamada Pecado" (1951) versão da peça Um Bonde Chamado Desejo, de Tenessee Willians dirigido por Elia Kazan ou "Juventude Transviada"(1955), de Nicholas Ray . Um Bonde... mostra também este universo de cortiços, de imigrantes, de paixões incontroláveis, violência e personagens humanos, demasiado humanos bem distante da classe-média harmoniosa até então reinante nas telas. Em Juventude... a imagem da família tal como retratada normalmente no cinema (como refúgio de paz e moralidade e espelho do Sonho Americano) é demolida e o abismo violento entre pais e filhos é escancarado.
Nestes filmes a tradicional oposição entre bem e mal desaparece junto da idéia de que existe um caminho desejável para todos (que era sempre apresentado sem questionamentos pelo cinema) para dar lugar à pluralidade de tipos humanos, de aspirações, de necessidades. Não há mais lugar para uma única Verdade aqui.
Aqui os personagens não são mais os do repertório cinematográfico clássico, não são mais “tipos” e sim pessoas.

Nos Quadrinhos
Will Eisner se tornou parte desta revolução ao romper com as convenções de gênero dos quadrinhos, ao adicionar complexidade e humanidade aos seus personagens e a despejá-los no mundo real, com problemas e dilemas reais ao mesmo tempo que abandona as grandes aventuras fantasiosas ou as histórias cômicas para se interessar pequenas histórias de pessoas anônimas, às quais alça ao patamar dos grandes dramas humanos.
Apesar de trazer para as HQs a pobreza, solidão e finais muitas vezes infelizes, Eisner guarda também alguma (contraditória?) semelhança com o cineasta Frank Capra (de "A Felicidade não se Compra" e "Aconteceu Naquela Noite" -1934) na medida em que tem uma fé inabalável na bondade humana, na possibilidade da redenção e vê o mundo com olhar não cruel, mas piedoso.

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Imagens :
Marlon Brando e Vivian Leight em "Uma Rua Chamada Pecado"; "Vagão de terceira classe", de Daumier; "O quebra-pedras", de Courbet.
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Usei o termo “modernidades”por que o conceito de modernidade é originalmente referido às artes plásticas e só pode ser tansposto para as outras artes(principalmente o cinema) de maneira problemática. Voltarei a este tema quando falar de Pós-modernidade e o cinema de Quentin Tarantino e Robert Rodrigues.

WILL EISNER 3- ATORES DE PAPEL




Will Eisner já foi elogiado por vários escritores, entre eles John Updike que disse que ele “não estava apenas a frente de seu tempo; os dias de hoje ainda estão tentando alcançá-lo”. Também o nome dado à sua obra a partir de 1978, romance gráfico (graphic novel) pode levar a crer que ele buscou uma associação com a literatura, que haveria de lhe emprestar alguma credibilidade inexistente nos quadrinhos.
A arte de Eisner é tão particular que fica difícil crer numa associação com qualquer outra forma de arte.

Em seu livro teórico “Narrativas Gráficas” (Devir) ele conta que usava uma associação com animais para desenhar seus personagens. Uma pessoa com feições leoninas seria entendida como perigosa, um com “cara de rato”(rosto miúdo, nariz fino, dentes proeminentes) como covarde , etc. Para ele, as pessoas associariam rapidamente (e inconscientemente) as características animais e as integrariam ao caráter do personagem, numa técnica que visava suprir uma deficiência inerente aos quadrinhos, a escassez de tempo e espaço (abundantes no cinema e na literatura).
No entanto ele mesmo ressalta que quando a ambientação sustenta o personagem, essa técnica pode ser até mesmo abolida.
Fazendo uso dessa técnica ou não Eisner teve uma capacidade única de criar personagens pois pensava com a mente de um ator, não de um desenhista. O desenhista de quadrinhos busca colocar o personagem numa posição que seja interessante visualmente e que exprima perfeitamente a ação; por isso nas histórias de super-heróis existem tantas cenas de luta idênticas, elas até fazem parte de um a espécie de ‘manual” de como se desenhar. Se Eisner, por outro lado, faz seus personagens se expressarem por gestos um tanto exagerados é por que eles “agem” como um ator de cinema mudo (que buscava que seus gestos fossem claros o suficiente na ausência de som) ou de teatro (que com técnica semelhante pode superar a distância entre o palco e o espectador). Os gestos são facilmente reconhecíveis, mas nunca uma mera reprodução de convenções. Ele conhece bem as particularidades dos corpos e mentes de seus personagens e usa isso na hora de coloca-los em movimento. Dois de seus personagens frente a uma mesma situação (perigo, por exemplo) nunca reagirão da mesma maneira, ainda que ambos estejam com medo.
E a caracterização dos rostos aliada à movimentação particular de cada um nos conta muito sobre a vida de cada personagem, coisas que nem são ditas nas histórias.
A primeira cena, de Pequenos Milagres (Devir) mostra A Sra Grepps, uma mulher sofrida, mas que luta para sustentar o casamento de Reba, a filha surda-muda. Já a segunda traz a Sra Fegel, mãe do rapaz sem uma perna casado com Reba. Duas mães de filhos deficientes, duas histórias de vida diferentes, duas pessoas completamente diversas.

WILL EISNER 4- A POESIA DAS ÁGUAS


Will Eisner é famoso por desenhar cenas de chuva como ninguém. Como já ressaltei ao tratar da peça Avenida Dropsie, este é o grande momento de suas HQs e está muito além da banalidade corrente na Tv ou no cinema, quando a chuva vem quase sempre endossar a tristeza de um personagem ou ainda adicionar alguma dificuldade à provação por que passa.
Eisner é um poeta nestes momentos.
Em O Edifício (Abril Jovem) Monroe Mensh fracassa ao se esquivar de uma bala num assalto vê uma criança ser atingida e morta. Desprezando a si mesmo, abandona o emprego e vai trabalhar de graça num orfanato. A caminhada para fora da loja onde era o principal vendedor rumo ao futuro incerto é feita debaixo de um temporal. Em Pequenos Milagres, Melba encontra nas ruas do cortiço um adolescente que age de maneira estranha e não sabe falar. É abraçada a ele que ela corre debaixo de chuva para casa, onde irá esconder o garoto e ensinar-lhe a ler, escrever e falar . Há exultação, ao contrário da resignação de Mensh, pois ficará nas entrelinhas uma atração sexual desta mulher madura e solteira que ao final da história, ‘fica para tia”trabalhando numa livraria. Em Contrato com Deus (imagem acima), a chuva cai pesadamente no dia em que o judeu praticante Frimme Hersh enterra sua pequena filha. Mais do que tristeza, a chuva é o cenário de uma batalha deflagrada assim que Hersh entra em casa e grita furioso contra Deus.
Seria tolo buscar um significado único que pudesse explicar todas essas cenas. É o grande Mistério da Vida, só acessível pela linguagem poética.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

IMPRENSA ALTERNATIVA EM REGISTRO DESCONTRAÍDO E DIVERTIDO


Imprensa alternativa no ABC – a história contada pelos independentes”, nome do livro da jornalista Olga Defavari pode sugerir uma obra sisuda, um pesado catálogo de publicações que só interessam a pesquisadores e jornalistas ou ainda um registro de alcance limitado e regional. Nada disso.
Qualquer um pode ler e se divertir (isso mesmo, divertir!) com as entrevistas, depoimentos e trechos das publicações colhidos em extenuante catalogação de praticamente todas as manifestações qualificadas como imprensa alternativa , ou seja ,revistas e jornais publicados de maneira amadora e/ou independente na região do Grande ABC . Ficam de fora do campo de estudo os jornais sindicais ou ligados a partidos políticos.
A autora propositalmente assume o menos possível a postura de pesquisadora e mais a de uma contadora de histórias. Se o recurso por um lado torna o livro carente de certa dose de densidade desejável num trabalho desse tipo (são apenas 10 páginas de embasamento teórico e duas de conclusão), por outro faz da leitura uma experiência extremamente agradável .
Há desde fanzines chatérrimos como o Yellow Peppers, típica publicação roqueira, ou seja, que acredita no rock como a mais maravilhosa criação humana, capaz de tocar corações e mentes, mudar o mundo e mais um bocado de coisas, mas que chama seus desafetos de “morféticos”(!!) , às publicações pretensiosas, como o feminista Mulher ABC, que em seu único número pagou o mico de entrevistar a cantora Ângela Maria e ouvi-la defender abertamente o machismo. Não faltam também esquisitices, como um fanzine ainda em atividade e que conta com absurdos 18 anos de existência, mas apenas 23 exemplares.
Mas a melhor história fica por conta do inacreditável A Tripa, “publicação” que é uma exceção a tudo no livro, desde a datação (é da década de 1950 e o período estudado começa nos 70) ao próprio conceito de imprensa, afinal nunca foi publicado, muito menos lido por ninguém, mesmo assim foi produzido artesanalmente (datilografado e colorido à mão) por incríveis oito anos. Tão estranho quanto é o fato de dois dos três editores citados simplesmente negarem ter participado da empreitada e , pior, jurarem jamais terem sequer posto os olhos em seus ‘textos” que eram provavelmente obra de um único sujeito, Alcindo Fanzolim, já morto.
Claro, não há só bizarrices, mas também publicações sérias em que atuaram vários talentos legítimos, como o cartunista Marcio Baraldi, o escritor Claudio Feldman e os poetas Zhô Bertholini e Dalila Teles Veras.
Ao final, a conclusão aponta para o iminente desaparecimento da imprensa alternativa e sua transmutação na forma dos blogs. E cá estamos nós.

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O livro de 144 páginas pode ser adquirido com a própria autora pelo valor de R$ 13,00 (já inclusa postagem) através do e-mail olgadefavari@yahoo.com.br ou nas seguintes lojas:
Livraria da USCS (São Caetano do Sul-ex-IMES)
Alpharrabio - R. Eduardo Monteiro,151 em Santo André
Metal CDs /Sebo Pacobello - R. Dona Elisa Flaquer, 184 - Centro
Sebo Poesia & Arte - R. Monte Casseros, 11 - Centro - Santo André

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Desde o momento em que fiz a "arte" da capa até quando recebi um exemplar com dedicatória, mantive inalterada minha intenção de não falar sobre o livro. Mas ao terminar de lê-lo achei que deveria fazer isso de uma maneira imparcial e diferente das várias resenhas já realizadas e que se limitaram a explicar o assunto e citar a origem do trabalho no núcleo de pesquisa Memórias do ABC, em que a autora trabalhou por dois anos.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

TEATRO- AVENIDA DROPSIE


Ninguém está preparado para o que irá ver quando as luzes do palco do teatro do SESI se acenderem e for revelada a cenografia de Daniela Thomas, com seu gigantesco edifício em cujas janelas e calçada se desenrolarão dramas urbanos tocantes, tristes, engraçados, melancólicos. Muito menos quando balões de pensamento aparecerem sobre os atores, exatamente como numa história em quadrinhos ou ainda quando um verdadeiro temporal tomar conta do palco.
Mas se tanta atenção é dispensada à chuva e ao edifício é por que há bons motivos para isso.
A chuva é o grande momento das histórias de Will Eisner. Diferente da banalidade corrente, em que um temporal é mostrado como uma espécie de “lágrimas do céu” fazendo coro à tristeza dos personagens, em Eisner o tratamento é bem outro; é poesia, e uma imagem poética não se traduz num único significado. Não é só um elemento libertador, nem triste, nem alegre. É tudo isso. Os personagens estão alheios à chuva ou porque pouco se importam com ela ou porque nada mais lhes importa na vida. É exatamente isso que vemos no palco, um desfile dos tipos de Eisner, uns sorrindo, outros chorando, uns comemorando, outros lamentando. Um só elemento, a chuva, na peça adquire todos os sentidos(até contraditórios ) ao mesmo tempo.
Já no edifício é que está o tema mais caro ao universo do quadrinista : a convivência humana, os conflitos da vida nas grandes cidades. Judeus praticantes vizinhos de negros e seu Hip Hop barulhento, homossexuais ,mulheres reprimidas, crimes passionais,solidão.
É esse microcosmo urbano que a Sutil Companhia de Teatro extrai das várias obras que compõem a fase madura de Will Eisner, uma das quais dá nome à peça e que dá vida pulsante à pirotecnia e ao cenário grandioso.
Afinal, como diz a Sra Rowena, personagem que está na graphic novel Avenida Dropsie, mas não na peça, “Prédios são apenas prédios. São as pessoas que fazem uma vizinhança”.

As próximas apresentações de Avenida Dropsie ocorrem nos dias 22, 25, 26 de fevereiro, 1, 11,15, 20 de março a 05 de abril, sempre às 20h. Às quartas-feiras, as sessões são gratuitas e nos demais dias os ingressos custam R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia). O Teatro Popular do SESI fica no prédio da Fiesp, na Avenida Paulista, 1313, próximo ao Metrô Trianon- Masp.
A peça não é recomendada para menores de 14 anos. Informações: tels. (11) 3146-7405 / 7406 ou pelo site www.sesisp.org.br

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

A SOCIEDADE EM REDE


Para melhor estudarmos a sociedade globalizada (sobre a qual já discorri brevemente ao tratar da música e fotografia digital em janeiro deste ano), trago 3 filmes:Kairo, de Kiyoshi Kurosawa ( Sonata de Tóquio), terror de 2003 que permanece inédito no Brasil, mas que nos EUA é também conhecido como Pulse, mesmo nome da refilmagem ( essa sim saiu por aqui) que traz o selo “Wes Craven apresenta” e tem a gracinha Kristen Bell, das séries "Heroes" e "Verônica Mars". O outro é o suspense de 2007, Fim dos Tempos, de M.Night Shyamalan, diretor que conseguiu escapar do rótulo de criador de filmes com final surpresa e que fez aquele que é a maior crítica à política do medo e à obsessão pelo isolamento norte-americanas, A Vila.
Por fim a animação que está com as duas mãos mecânicas na estatueta da categoria no Oscar deste ano, Wall-E, de Andrew Stanton (do bacana Procurando Nemo).
Estes três filmes apresentam, cada um à sua maneira, uma visão crítica da sociedade ocidental contemporânea que ao mesmo tempo em que conecta virtualmente todos os indivíduos através da Rede, promove o isolamento destes mesmos indivíduos.


A SOCIEDADE DO ISOLAMENTO
Manuel Castells, em seu livro A Sociedade em Rede assinala que o início desta sociedade está nos anos 1980 – é o início da sociedade globalizada, quando o maior bem não é mais o dinheiro, como fora no séc XX ou o produto, como até então- e cita um relatório elaborado pela Fundação Européia para a Melhoria de Vida e Ambiente do Trabalho, em que se destaca uma tendência crescente rumo a um individualismo cada vez mais acentuado. Há uma nova (naquele momento) tendência, que é a diminuição dos núcleos familiares, que contam com cada vez menos indivíduos, em virtude da alta no custo de vida e que passam a residir na chamada “casa eletrônica”, caracterizada pelo grande número de aparelho eletrônicos e também pelo maior espaço disponível por pessoa. Os aparelhos eletrônicos são portáteis (e parece bobagem explicar isso hoje!) e possibilitam que cada indivíduo organize seu tempo e espaço como melhor lhe convier o que acarreta num enfraquecimento de laços sociais. Exemplificando: comidas congeladas e forno de microondas permitem que que cada um faça as refeições no momento que lhe for mais conveniente assim como o barateamento dos aparelho de TV permitem que cada membro da família assista a seu programa preferido em um cômodo diferente da casa. O MP3 player (que não é senão outra versão do walkman dos anos 1980) faz da experiência de se ouvir música algo tão individual quanto os jogos eletrônicos, que num primeiro momento com o videogame e depois com os jogos em rede, fazem com que a experiência de se disputar uma partida seja partilhada por, no máximo mais uma pessoa. Os laços familiares tendem a ser mais rarefeitos do que aqueles nas casas em que ainda existe o ritual de se almoçar e jantar todos juntos, de assistir ao mesmo programa de tv ou disputar partidas de jogos de tabuleiro.
Um passatempo tradicionalmente coletivo, o Karaokê (que em 1991 estava presente em 100 % dos hotéis japoneses), deixa de ser o compartilhamento do canto desengonçado de uma pessoa , com participação de um coro igualmente sem talento (e provavelmente alcoolizado), para uma diversão individual cujo objetivo é seguir certos padrões cujos pontos “avaliam’o nível de talento do cantor amador.
Também nos 1980 o videocassete, que permitia pela primeira vez com que as pessoas gravassem os programas e os vissem no momento apropriado foi o primeiro golpe no horário nobre das tvs e um antecessor do fenômeno de se baixar séries televisivas potencializa a experiência de se ver tv (hoje na tela de um computador pessoal) numa experiência individual compartilhada apenas virtualmente com outras pessoas através de fóruns de discussão pela internet.
A sociedade da comunicação, ironicamente, isolou seus indivíduos e é a partir deste ponto de vista que analisaremos os filmes.

PULSE
Kiyoshi Kurosawa (nenhum parentesco com Akira Kurosawa, de "Os Sete Samurais") nos traz a história de pessoas mortas que começam a se comunicar com os vivos através de computadores conectados à internet. As pessoas que estabelecem contato com esses fantasmas morrem, desaparecem ou apenas desmancham-se como poeira até que o mundo começa a ficar completamente desabitado.
Kurosawa vê com maus olhos o mundo contemporâneo em que cada vez mais pessoas se tornam seres imateriais, cuja existência só se dá em rede, através da internet.

WALL-E
“Relacionamento? O último encontro holográfico que tive foi um desastre virtual !
Esta é a frase dita por uma mulher enorme, tão gorda quanto todos os humanos que habitam a nave espacial onde o robozinho Wall-E vai parar em busca de sua amada, a também robótica EVA. Além de uma violenta crítica do consumismo, aspecto que mais chamou atenção da crítica, Wall-E toca fundo na questão do isolamento humano. Todos, ainda que sentados lado-a-lado em suas poltronas flutuantes, se comunicam através de sites de relacionamento. As conversas e amizades são mediadas pelo computador. Só num momento crítico, quando o vilão, espécie de Hall-9000(o computador de 2001-Uma odisséia no Espaço) cria uma turbulência na nave e as poltronas tombam é que as pessoas passam a enxergar umas às outras (e não mais suas fotos na internet) e, num gesto significativo, dão as mãos débeis uns aos outros, o que lhes resgata a humanidade que estava deformada e salva-lhes as vidas.

FIM DOS TEMPOS

Suicídios em massa misteriosamente se propagam como uma epidemia pelos EUA. Entre o pânico generalizado, algumas percebem que o causador de tudo isso é a própria natureza, que através das plantas libera toxinas que induzem as pessoas a tirarem suas próprias vidas. A ameaça leva as pessoas a se reunirem em grupos cada vez menores (fica provado que grupos grandes são atacados primeiro). Se o ataque é uma retaliação da natureza pelas agressões sofridas (isso propositalmente não será explicado) ele o faz destruindo o que de mais forte há entre os homens, seus laços sociais -e fica claro que uma sociedade que mina estes laços é uma sociedade que se destrói- até que só restem (no perímetro do ataque) duas pessoas isoladas uma da outra, significativamente um casal que estava à beira do divórcio. Numa construção antiga, cuja curiosa acústica permite a propagação do som (e a comunicação) entre casa principal e uma menor, bem próxima, o casal se põe a conversar amigavelmente, acreditando ser aquele seu último dia de vida. A comunicação à distância, mediada por um mecanismo difusor de som (no caso de WALL-E são os computadores) lhes parece patética e é então que decidem desafiar a morte e sair a campo aberto e se encontrarem pela última vez. Um gesto idêntico ao de WALL-E, o de dar as mãos vem apenas no momento mais crítico, quando tudo que importa é afirmar a humanidade, tão debilitada pelo isolamento.
Mal decorrente da globalização, o isolamento, tal qual a praga verde se propaga então, do centro econômico do mundo (Central Park) para outras fronteiras.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

TEATRO


Duas dicas rápidas de teatro : O Quarto e Não Sobre o Amor. Ambas as peças flertam inteligentemente com outras artes; poesia, artes plásticas e videoarte, no caso de O Quarto, cinema e literatura em Não Sobre o Amor.

O QUARTO

O Quarto, do dramaturgo inglês e Nobel de Literatura Harold Pinter foi a obra escolhida pelo diretor Roberto Alvin para estrear em novembro do ano passado na sede de sua companhia de teatro, a Club Noir.
O texto de Pinter conta a história de Rose, uma mulher que vive trancada com seu marido em um quarto úmido e escuro, defendendo-se do mundo da única maneira que sabe: escondendo-se.
É de não-existência, portanto que trata a peça (mais do que a história de uma pessoa em particular) e nada mais adequado que tudo lá seja bicromático, do cenário de paredes brancas e portas negras aos atores, vestidos totalmente de preto e cujos rostos mal podem ser vistos, salvo em momentos poderosos como um em que Rose grita em agonia com uma luz que ilumina unicamente seu rosto, criando uma distorção “expressionista”que lembra em muito o Fausto (1926), filme de F.W.Murnau, onde as trevas absorvem tudo que não sejam as faces dos atores. Aliás, o posicionamento destes no cenário, com o uso do contra-luz, faz com que eles pareçam mais elementos decorativos do que outra coisa, peças negras num cenário branco, criando no público uma impressão de se estar diante de uma enorme obra de arte , o que desloca toda a atenção para o texto denso, literário, cheio de ‘disse ele’e ‘disse eu”.
Chegará o momento em que pessoas visitarão Rose e que um homem cego a conclamará a voltar para seu antigo lar, ou seja, a vencer o isolamento.Veremos então uma carta em forma de poema projetada freneticamente no palco, acompanhada do som estridente de uma máquina de escrever.
O som e a fúria da vida desafia Rose. E também a todos nós.

O teatro Club Noir, que fica na rua augusta n 331, possui apenas 50 lugares e por isso é recomendável reservar lugar por telefone e chegar meia hora antes. O espaço dispõe também de café e livraria.
A peça tem duração de 60 min e fica em cartaz até 29/03 às sextas e sábados às 21h. e aos domingos às 20h.
Informações pelo telefone 3257-8129


NÃO SOBRE O AMOR

Não Sobre o Amor , prêmio Bravo! de melhor espetáculo em 2008, é uma das três peças dos curitibanos da Sutil Companhia que voltam a São Paulo na Mostra Sutil 15 anos . As outras duas são “Tom Pain/ Lady Grey” e “Avenida Dropsie”.
Dirigida por Felipe Hirsch e Murilo Hauser a peça é a encenação das cartas trocadas entre o formalista russo Victor Shklovski (interpretado por Leonardo Medeiros) e Elsa Triolet (Simone Spoladore), por quem é apaixonado e a quem chama de Alya.
Não sobre o Amor tem um elemento poderoso; a cenografia, que possibilita um inusitado flerte com o cinema. Quando Medeiros se deita por sobre a cama que está fixada na parede, temos um efeito equivalente ao de uma câmera posicionada no alto, filmando de cima para baixo, recurso comum no cinema, mas de execução complicada no teatro. A estratégia permite que outras ações (sejam na forma de um filme projetado ou do som da voz de Elsa ou ainda da presença de Spoladore) tomem lugar e assim experimentamos de uma só vez a solidão e melancolia de Shklovski e a determinação frívola de Elsa, que pede seguidas vezes para que ele não lhe escreva sobre o amor. À proximidade dos dois no palco opõem-se a uma distância intransponível entre o amor do escritor e a indiferença de Alya, entre a saudade da Rússia para a qual não pode voltar e a Alemanha, entre os sonhos e a realidade.
Outro recurso interessante é a projeção em forma de texto das observações do ator às cartas dele e de Elsa.
O único inconveniente é que, em virtude da construção do cenário não ocupar toda a extensão do palco do Teatro Sesi-Paulista, quem sentar nos setores laterais terá sua visão bastante prejudicada e não só não verá o que acontece nas laterais do palco como também não conseguirá ler o início ou final dos textos projetados.

O teatro SESI fica na Av Paulista 1313, no prédio do centro Cultural FIESP e possui 453 lugares. A peça está em cartaz de 06/02 a 28/02 ( às sex e sáb.); 18 e 19/03. O ingresso custa 10 reais. Mais informações pelo telefone: 3146-7405


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Recado para os leitores do blog Balaio Baio e deste Bar: semana que vem texto sobre a peça Avenida Dropsie e a obra de Will Eisner.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

POP10 !

No último dos Pop10, o leitor Daniel Luppi lista dez músicas que para ele melhor representam a cidade de São Paulo. Claro que a lista foi pensada uma semana atrás, mas a atualização extremamente atabalhoada deste blog bagunçou as coisas. Vale ressaltar que esta é uma versão enxugada da original, que vocês podem conferir no blog dele http://www.balaiobaio.blogspot.com/ e conferir também clipes de algumas das músias listadas.


1. “SÃO SÃO PAULO, MEU AMOR”, de Tom Zé (1968). Começando com polêmica. Sendo uma lista pessoal, reservo-me o direito de colocar esta música, vencedora do Festival da Record de 1968 na cabeça da lista, até para fugir um pouco das obviedades (que virão a seguir). Tom Zé é genial, gostos a parte e é inegável o quanto a letra de “São São Paulo” é representativa dessa metrópole: “São oito milhões de habitantes [em 68]/ Aglomerada solidão/ Por mil chaminés e carros/ Caseados à prestação /Porém com todo defeito/ Te carrego no meu peito /São, São Paulo/ Meu amor.”

2. “SAMPA”, de Caetano Veloso (1978). Dispensa maiores comentários. Óbvia, mas imprescindível em qualquer lista do gênero. Ok, é mais representativa que a de Tom Zé. E também mais bela, mas lá eu apenas quis fugir das obviedades.

3. “TREM DAS ONZE”, de Adoniran Barbosa (1965). Outra escolha evidente. Adoniran e Demônios da Garoa. Uma das mais bem sucedidas parcerias na música brasileira, tornou conhecidos por todo o país o bairros Bixiga. Se não me engano, essa música até já ganhou um “concurso”, patrocinado por uma rede de televisão, como sendo a “cara de São Paulo”. Nesse sentido, acho que “Sampa”, é mais completa. Mas nem por isso dá para ignorar a força que tem “Trem das Onze”.

4. “SÃO PAULO, SÃO PAULO”, de Oswaldo, Biafra, Claus, Marcelo e Wandy Doratiotto (Premeditanto o Breque) (1984). Grande Premê!! Grande Vanguarda Paulistana!!!! A divertida música, em alusão a “New York, New York”, retrata muito bem a maior cidade da América do Sul, terra de “japonesas louras”, de “nordestinas mouras”, de “gatinhas punks” e do “jeito yankee”. Cidade onde o “clima engana” e a “vida é grana”, mas sem esquecer que, “na periferia, a fábrica escurece o dia”. Por fim, em ritmo de CPTM, uma pequena listagem de bairros paulistanos. Uma feliz composição do Premê, sem dúvida.

5. “RONDA”, de Paulo Vanzolini (1945). O samba-canção, verdadeiro canto de amor homicida que retrata a mulher em busca de seu amante, de bar em bar, provavelmente é a canção mais conhecida (e cantada) entre os boêmios paulistanos das décadas passadas. A data citada é a da criação pelo zoólogo compositor. Gravação mesmo só pintou em 1953, meio que por acaso, quando Inezita Barroso gravou seu primeiro disco e precisava de outra canção pra compor o lado B do compacto. Vanzolini estava acompanhando Inezita ao estúdio e, somente por isso, “Ronda” constou do mesmo disco em que a rainha caipira despontou com “Moda da Pinga”. Mas sucesso mesmo só apareceu em 1967, quando interpretada pela cantora Cláudia Morena e, em 1977, o estouro na voz de Márcia. Bethânia a regravou no ano seguinte, mesmo ano em que seu irmão Caetano se utilizava da melodia final de Vanzolini para arrematar “Sampa”. (bibliografia: “A Canção no Tempo, Vol. 2”, de Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello, Ed. 34, 5ª Ed., 2006, pp. 115/116)

6. “ESBOÇO”, de Luiz Tatit (2000), e a Vanguarda Paulistana. Aqui farei menção não a uma única música, mas a todo um movimento. Luiz Tatit é compositor egresso do movimento da Vanguarda Paulistana, cabeça do Grupo Rumo e um dos principais nomes do movimento, que incluiu também o já citado Premê. Além de tipicamente paulistano, Luiz Tatit nos brinda nessa deliciosa canção com uma colagem de bairros e algumas de suas características, de forma sucinta: “E ele passeia, passeia/Passeia como se fosse um turista/E cumprimenta todo mundo/Que freqüenta a Bela Vista/E mesmo que ele esteja sem dinheiro/Dá uma passadinha nos botecos de Pinheiros/Chega com uma cara que dá pena/Mas é gente muito boa/Lá da Vila Madalena/Sempre sobra um copo de cerveja/Fica tão contente/Mas não quer que ninguém veja/Então procura o centro da cidade/Na Liberdade/Lá ele aparece algumas vezes/Lá os seus amigos são chineses/Canta umas canções em pot-pourri/E o pessoal morre de rir"

7. “UM LUGAR DO CARALHO”, de Júpiter Maçã (1997). Outro forasteiro da lista. E provavelmente outro ponto de discórdia entre os eventuais leitores dessa lista. Mas em minha humilde opinião, a música é perfeita para se ouvir em alto e bom som no carro, a caminho das baladas de sampa. Rock gaúcho do bom, com letra no mínimo interessante: Sozinho pelas ruas de São Paulo/ eu quero achar alguém pra mim/ um alguém tipo assim:/ Que goste de beber e falar/Lsd queira tomar e curta/Syd Barrett e os Beatles/Um lugar e um alguém/Que tornarão-me mais feliz/Um lugar onde as pessoas/Sejam loucas/E super chapadas/Um Lugar do Caralho!/Um Lugar do Caralho!”
Esta cidade acolhedora tem vários lugares que fazem jus ao título, ainda que com outras descrições e outras tribos, principalmente os lugares ainda não descobertos pelos modismos.

8. “EH! SÃO PAULO”, de Murilo Alvarenga (1934). Mais um compositor de outro Estado fazendo sua homenagem a Sampa. Aqui, Alvarenga, da dupla caipira-mineira Alvarenga e Ranchinho, que eternizou a cidade da garoa: “Eh! São Paulo/ Eh São Paulo/ São Paulo da garoa, / São Paulo que terra boa!/São Paulo da noite fria/Ao cair da madrugada/Das campinas verdejantes/cobertas pela geada/São Paulo do céu anil/Da noite enluarada/Da linda manhã de Sol/No raiar da madrugada”. Como se vê, muita coisa mudou da década de trinta pra cá. Campinas verdejantes, hoje, apenas no interior. Céu anil?!?!? Nem digo nada! Mas vale o registro de que há muito tempo essa cidade é amada e cantada.

9. MUTANTES. Qualquer uma dos Mutantes. É Rock Zona Oeste, Bicho!!! É Pompéia, meu!!! Pelo menos até onde sei, foi desse bairro que saíram os irmãos Sérgio Dias e Arnaldo Batista. Queria inserir o grupo aqui, mas não pensei em uma música específica. Talvez porque o som transcenda as fronteiras da cidade. Não é apenas de São Paulo, com certeza.

10. KARNAK. Qualquer uma do Karnak. Acho que eu jamais teria conhecido essa banda de loucos, excelentes músicos capitaneados pelo genial André Abujamra, se eu não tivesse vindo pra cá no já longínquo ano de 1997 (como também não teria conhecido Funk Como Le Gusta e a ótima cena musical de São Paulo). Banda com som tipicamente paulistano, mistura de sons e sotaques! E “Juvenar”, de André Abujamra e Carneiro Sândalo, é um bom retrato do stress que vez ou outra aflora nos paulistanos, presos no trânsito ou respirando o ar poluído da cidade, que não demoram pra praguejar e desejar fugir pro campo: “Tá frio aqui/Tá muito poluído/Eu tô triste eu tô aborrecido/Ta feio aqui/Ta muita poluição/Tá fedido/ Fumaça de Caminhão"
É. Nem tudo são flores mesmo. Mas aqui volto à primeira música da lista: “Porém com tanto defeito, te carrego no meu peito, São São Paulo, meu amor!”.




"pseudo-crítico, leitor do Bar1211!, ex-aluno do curso de 'historia e linguagem do cinema' ministrado pelo crítico Inácio Araújo, cinéfilo, amante de todos os sons, Daniel Luppi é graduado em Direito, ganha a vida como Assistente Jurídico do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e escreve cada vez menos no blog 'Balaio Baio' ".

PAPO DE BALCÃO !

* É com muita honra que este blog registra a visita(com direito a comentário !) do demolidor "rockartunista" Marcio Baraldi (por obra e graça da onipresente Olga Defavari). E um enorme "obrigado" pelo elogio.
*Devido ao meu comparecimento assíduo à mostra Retrospectiva do Cinema Paulista (que vai até domingo), alguns textos sofrerão atraso na postagem. Ficam para a próxima semana os estudos dos filmes Wall-E e Fim dos Tempos, bem como a análise do "super heroísmo" na Era Bush.
*Em debate realizado ontem no CCBB (por ocasião da mesma mostra) com presença dos críticos Inácio Araújo e Francis Vogner dos Reis e do cineasta Andrea Tonacci foi lembrada a morte "do ritual" de se ir ao cinema (o apagar das luzes, o riso coletivoo sonho de olhos abertos), que cada vez mais cede espaço ao DVD em virtude do alto preço dos ingressos, da presença de salas de cinema somente em shoppings e também daquela praticidade que nos fez prefereir optar pela fotografia e a música digital, como já foi discutido aqui.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009


O álbum Vale-Tudo (Opera Graphica) de Marcio Baraldi dispara para todos os lados: são ridicularizados os serviços de telemarketing, as reuniões familiares e até o culto à maconha. Os melhores momentos, no entanto, ficam por conta de histórias de inversão de papéis. Em Vingança Total contra a Humanidade, uma espécie de versão pirada de O Planeta dos Macacos, os animais tomam conta do mundo, deixando aos humanos o papel ou de alimento ou de atração de zoológico. É engraçado e horroroso (por que nos faz pensar) ver uma galinha despreocupada dirigindo um caminhão com gaiolas lotadas de pessoas, que serão levadas ao matadouro ou um homem pendurado num açougue, sendo fatiado por um boi. Já em O dia em que as mulheres dominaram o mundo, Baraldi esculhamba com certos estereótipos de masculinidade, como a cantada sem-noção, o assédio sexual e os crimes passionais.
É interessante comparar esta história com o anúncio da cerveja Kaiser vinculado atualmente na TV. Lá há também a inversão de papéis entre homens e mulheres, no entanto tudo caminha para um mundo de sonhos do machismo. Tamanho é o ridículo que o anúncio acaba por evidenciar o delírio absurdo dos comerciais de cerveja, onde tudo está sempre invertido. Ou quem bebe todo dia por acaso consegue se manter atlético e saudável ?

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Mais um TOP10 musical. O leitor Anderson “Mandio” Roberto enviou uma lista daquilo que ele considera o melhor do mundo da música em 2008.


10) Flaming Lips – Christmas On Mars

Em 2008 o Flaming Lips, banda de Oklahoma, surpreendeu de novo. Não veio apenas com um disco de inéditas mas também com um filme (!). Na verdade, o disco é a trilha sonora do filme que demorou 7 anos para ser realizado. Christmas On Mars saiu da cabeça do amalucado vocalista Wayne Coyne, que dirige e também atua no filme. A história se passa em marte, em plena colonização do planeta vermelho por humanos na época de natal. Nem tudo sai bem nessa empreitada e é aí que o filme ganha toda sua graça com as alucinações do pessoal da tripulação. Já foi lançado no Brasil, mas assim como na versão americana, me parece que com legendas em russo. Russo?! Isso é Flaming Lips...

09) Mercury Rev – Strange Attractor

O Mercury Rev é da mesma linhagem psicodélica da turma aí de cima, aliás, as bandas já compartilharam seus integrantes em tempos passados. Em 2008 o Mercury Rev lançou dois discos simultaneamente, um “oficial” (Snowflake Midnight) e um disponível gratuitamente no site da banda (http://www.mercuryrev.com/) chamado Strange Attractor. Curiosamente este álbum “secundário” foi o que me chamou mais atenção. As músicas utilizam quase que unicamente recursos eletrônicos e não possuem vocal. Apesar da banda nunca ter feito nada igual, o que poderia causar um certo estranhamento por parte dos fãs, não há surpresas pois as belas melodias que só o Mercury Rev sabe fazer estão por lá.

08) Nick Cave & The Bad Seeds – Dig, Lazarus, Dig!!!

O velho Nick nunca decepciona! Ele, que em 2007 já havia lançado um discaço com seu projeto Grinderman, em 2008 retornou em plena forma com sua banda das antigas e cometeu um álbum pra lá de conciso. O lance aqui é rockão vigoroso, com letras ácidas e a performance sempre incomparável de Nick cave.

07) Cut Copy – In Ghost Colours

Esse trio australiano sabe como fazer uma festa! Sério, músicas como Lights and Music ou Hearts On Fire em 2008 foram (e ainda são) obrigatórias em qualquer pista de dança. Emulação de poperô dos anos 90 com baixões a la New Order, mas sem ser, como o nome da banda poderia sugerir, uma mera cópia. É pra arrastar os móveis da sala e fazer a festa.

06) The Breeders – Mountain Battles

Entre uma apresentação dos Pixies ali e outra aqui, Kim Deal se reunia com a irmã Kelley Deal para dar continuidade ao que seria o novo disco das Breeders. Em 2008 lançaram este Montain Battles, que depois de Last Splash, álbum clássico das Breeders dos anos 90, é o disco mais bacana das irmãs. Não há um hit como cannonball no disco, mas músicas como Bang On ou It’s The Love valem o álbum. As Breeders fizeram talvez o melhor show do festival Planeta Terra em 2008.

05) Macaco Bong – Artista Igual Pedreiro

Imagina o seguinte: Trio de Cuiabá, que faz um disco com 10 músicas, cada uma com +/- 10min., todas elas instrumentais e que são uma mistura de Jimi Hendrix com metal pesado com jazz e com música brasileira. A chance de dar merda é grande né? Não é o caso. Apesar de um certo exagero na virtuose em algumas faixas o Macaco Bong soube como poucos utilizar estas referências tão díspares e fazer um álbum tão coeso. É preciso ter estomago, mas confie em mim, após devidamente digerido dá o maior barato. Destaque para as apresentações ao vivo do trio que são sempre uma destruição total.

04) Black Kids – Partie Traumatic

Cuidado para não confundir o Black Kids com tantas outras bandas que utilizam “Black” no nome hoje em dia, como Black Lips, Black Mountain etc. Apesar dessa fixação com a cor negra pela nova geração pelo menos o som do Black Kids é bem ensolarado. Eles vêm da Florida e duas músicas do disco, Hurricane Jane e I’m Not Gonna Teach Your Boyfriend How To Dance With You, refletem bastante isso. São hits instantâneos que tocariam em qualquer rádio que tivesse uma programação minimamente descente. Mas isso, com raríssimas exceções em SP, é um sonho. O Black Kids fez o melhor show que eu vi em 2008.

03) Renato Cohen – Mágica

Em vez de um álbum, pode ser um 12”? A música eletrônica brasileira vem entregando ano após ano produções cada vez mais interessantes. Um dos responsáveis por este amadurecimento é, sem dúvida, o DJ paulista Renato Cohen. Em 2002 ele ficou mundialmente conhecido com o single “Pontapé”, que foi tocado em toda e qualquer pista de música eletrônica pelo mundo, inclusive pelas mãos de DJs da estirpe de Felix da Housecat, por exemplo. Ele está pra lançar um álbum de inéditas e em 2008 lançou o single “Mágica”. É um techno pesadão, de batidas quebradas, mas com uma linha de baixo funk super dançante e com um vocal mantra que repete ad eternum magic, magic, magic...

02) Hercules & Love Affair – Hercules & Love Affair

Andrew Butler é o cara por trás do projeto Hercules & Love Affair. O produtor se cercou de uma rapaziada classe A pra fazer um álbum calcado em Disco Music. A grande sacada foi que ele revitalizou de maneira interessantíssima o estilo do fim dos anos 70 e ainda por cima fez algo inusitado: Botou pra cantar em cima de bases dançantes Antony Hegarty, mas conhecido por seu projeto Antony & The Johnsons. O mundo estava acostumado a ver Antony cantando coisas mais intimistas, mais soul, mas sua voz a la Nina Simone caiu como uma luva neste álbum.

01) Portishead – Third

Em 2008 o Portishead lançou enfim seu aguardado 3° álbum de estúdio. Foram 11 anos de espera desde o álbum homônimo de 1997. Aqui o clima fica bem pesado. E não poderia deixar de ser diferente, pra quem já conhece o trabalho da banda. O que mudou (pra melhor) foi o jeito de cantar de Beth Gibbons que parece que descobriu as sutilezas de sua voz doce e interpreta músicas como Nylon Smile ou The Rip de maneira maravilhosa. Mas a melhor música do disco é Machine Gun que com seu arranjo absolutamente perturbador promove quase 5 minutos do que poderia ser pura agressão sonora se não fosse a linda voz de Gibbons colocando tudo no seu devido lugar. Trilha sonora perfeita para um ano bicudo, com crises financeiras e guerras idiotas.

"Sou analista de sistemas, mas nas minhas horas vagas ataco de DJ. Na verdade sou obcecado por música. Ultimamente levo um projeto com mais quatro camaradas que se chama "Vira 5 Acaba 10" e o objetivo do coletivo é levar música boa para as pessoas onde o que menos importa são rótulos."

PAPO DE BALCÃO !

*Gostaria de enviar um abraço especial ao pessoal do site Bigorna http://www.bigorna.net/ pela menção feita a este blog.

*Um abraço vai também para duas leitoras ocasionais mas sempre bem vindas, as queridas Leila Almeida e Letícia Macedo !

*Hoje tem Vira5Acaba10! O rapaz do post acima lista 10 músicas sensacionais que irão rolar por lá :
Cut Copy – Lights And Music
Stooges – No fun
De La Soul – Verbal Clap
Lil' Wayne – A Milli
Chemical Brothers – The Salmon Dance
Peter Bjorn and John – Young Folks
James Brown – Hot Pants
Santogold – L.E.S. Artistes
Black Kids – I'm Not gonna Teach Your Boyfriend How to Dance With you
The Smiths – Cemetery Gates


O endereço é Cantina La Dolce VitaAv. Capitão João, 1548 – Vila Vitória – Mauá – SP - Fone: (11) 4555-0954. A entada custa R$ 7,00 http://www.vira5acaba10.com.br/

*Sobre os comentários a respeito do MP3- Na ilustrada desta quarta-feira, Marco Aurélio
Canônico comentou que o novo Cd do Sepultura, além de ruim, está deslocado no tempo, afinal um álbum conceitual não faz o menor sentido em tempos de baixar música pela internet.

*Ainda sobre a imagem digital: como explica Arlindo Machado,a característica da imagem no momento pós-fotográfico é a não-existência. Pensemos que após desconectar-se do álbum virtual ou desligar a TV a fotografia deixa de existir, pois é virtual, não tem materialidade.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

MÚSICA E FOTOGRAFIA NA ERA DIGITAL


Há muito a elogiar no advento do MP3; ele permitiu um acesso à música sem precedentes e por isso mesmo abalou a indústria fonográfica, que vivia de nos fazer acreditar que certas músicas eram sucessos (quando na verdade eles pagavam pelos primeiros lugares nas “mais pedidas”das rádios e por aparições em programas de TV) e de cobrar preços absurdos pelos CDs o que elitizava o consumo. No entanto o MP3 é só a decorrência de uma cultura digital que começou com o fim do suporte analógico, ou seja o disco do vinil, no caso da música, e do filme, no caso da fotografia e do cinema.
Com o vinil havia (e ainda há, para os colecionadores) uma relação completamente diferente com a música do que há, por exemplo, com o CD. É uma relação afetiva por envolver contato, toque. Pode parecer bobagem, mas o ritual de retirar o disco da capa de papelão, decidir qual dos lados pôr para tocar e, em seguida, aproximar a agulha cuidadosamente da faixa escolhida é infinitamente mais afetivo do que colocar um CD para tocar. Este, é claro, é mais prático, pode ser levado no carro (dispensando as cópias em fitas K7) e permite a reprodução em qualquer computador portátil com a mesma qualidade do original.
A opção pela praticidade logo de cara vitimou o impacto da arte das capas dos discos, que em virtude do formato pequeno dos CDs perderam em valor. Quem quer que já tenha visto o “Sgt. Pepper’s ”, dos Beatles em vinil e em CD sabe bem do que estou falando. No disquinho, as inúmeras personalidades que rodeiam o Fab Four vestido em trajes vitorianos não são mais que um borrão. Que as pessoas pouco se importem com o fato de, ao copiarem um CD, não tenham a capa original, mas apenas um disco num saquinho de papel, não é de se estranhar. Alguém pode lembrar que a capa nunca impediu ninguém de gravar fitas K7, mas estas raramente substituíam um disco, eram sempre uma última opção.
Era significativo o hábito (aliás, abominado pelos colecionadores) de escrever nas capas dos discos de vinil, fosse o próprio nome, fosse uma mensagem a quem ele fosse dado de presente. Quase sempre colocava-se uma data. Isso deve ser entendido hoje menos como desleixo e mais como relação afetiva, de declaração de posse, uma marca.Alguém se lembra de ter visto muitos CDs com declarações, datas de compra ou mesmo nomes?
O impensável se fez real com o MP3, que é virtual, portanto não tem existência real. E é impossível qualquer relação afetiva com algo meramente virtual, que pode ser descartado a fim de se liberar espaço no tocador. Transfere-se um arquivo do computador para o celular ou para um tocador e dele para o aparelho de som do automóvel sem sequer tocar nele. Seu melhor destino é “queimar”uma mídia. O termo queimar é significativo do pouco apreço pelo meio físico sem cara definida.

A Fotografia
Talvez o caso mais interessante (pela naturalidade com que foi aceito) é o da fotografia.
Assim como houve uma perda gradual de qualidade sonora do vinil em direção ao MP3 sem que ninguém se importasse com isso, com a fotografia aconteceu o mesmo.
E mais uma vez o ritual cede lugar ao prático. Antes havia o processo de colocação do filme e a posterior revelação, que levava de um a dois dias. Mas o principal era o fator limitador do número de fotos contidas no filme (12,24 ou 36) que, em virtude do preço da revelação, fazia com que só fossem batidas as fotos consideradas de certa forma importantes ou interessantes. Ou seja, o momento retratado (mesmo que banal) era aquele que tinha alguma relevância emocional para quem fotografava . Não surpreende ninguém dizer que,com a quantidade gigantesca de fotos tirada num só dia numa máquina digital, todas elas tenham seu valor diluído.
As fotos são “assistidas”, seja lado a lado (minúsculas) nos álbuns virtuais ou passadas em velocidade na telada TV.
Assim que passaram pela tela elas deixam de existir. Nossas memórias são, por assim dizer, apenas fantasmas, afinal não se toca mais nelas tanto quanto não se toca mais nos discos.
Essa “desmaterialização” é parte de uma cultura radicalmente individualista sobre a qual eu vou me deter mais cuidadosamente quando tratar dos filmes Wall-E, Pulse e Fim dos Dias.
Já o pouco valor sentimental que damos às fotos e músicas virtuais pode ser entendido como decorrência de uma sociedade imediatista, de satisfação imediata das necessidades, o que implica numa aceleração geral (e no individualismo). Toda atividade contemplativa é ferida de morte nesta sociedade, que tem pouco tempo para “jogar fora”. Indico um texto Alpharrabio é também livraria postado no blog do Espaço Cultural Alpharrabio, escrito pela poeta e livreira Dalila Teles Veras , disponível em http://blog.alpharrabio.com.br/
Veras fala sobre a necessidade da contemplação, de se perder tempo dentro de um sebo e se deixar levar pelos livros, de deixar que eles o seduzam ao invés de ir a uma livraria buscar algo que se precise, simplesmente.
É este perder-se (com a experiência musical, fotográfica, literária) que nossa sociedade precisa reencontrar.

MOSTRA DE CINEMA NO CCBB

Para que servem mostras de Cinema? Não apenas para se assistir a filmes. Isto você pode fazer em DVD. As mostras são pensadas para instigar a reflexão acerca de algum tema e por isso existem os debates, onde é possível conhecer as opiniões dos críticos e cineastas (que muitas vezes são discordantes) e,com isso, desfrutar da variedades de filmes oferecidos. É um pacote que se compra completo e não faz sentido servir-se aos pedaços.
A mostra Retrospectiva do Cinema Paulista, que acontece no Centro Cultural Banco do Brasil entre os dias 27 de janeiro e 8 de fevereiro e conta com 3 sessões diárias e dois debates, busca entender os rumos tomados desde os tempos da Vera Cruz , com seu cinema pretenciosamente de “qualidade”(e cujo representante aqui é O Cangaceiro, de Lima Barreto, 1953) até 2008, quando Christian Saghaard fez O Fim da Picada, que terá na mostra sua primeira exibição além de expor a pluralidade do cinema paulista.
Hoje, às 19h um debate com os críticos Sérgio Alpendre e Luis Carlos Oliveira Jr e o diretor Cláudio Cunha discute o atual momento do cinema paulista . A seguir, alguns destaques para esta semana:

Sexta-feira,dia 3015h São Paulo S/A , de Luis Sérgio Person (1965)
17h Bandido da Luz Vermelha, de Roberto Sganzerla (1968)
19h Noite Vazia, de Walter Hugo Khouri (1964)

Sábado, dia 3115h Floradas na Serra, de Luciano Salce (1954)
17h Alma corsária, de Carlos Reichembach (1994)

Domingo, dia 01 - 15h O Grande Momento, de Roberto Santos (1958)
19h As Bellas da Billings, de Ozualdo Candeias (1987)

A programação completa da mostra, que tem produção de Francis Vogner dos Reis e curadoria de Sérgio Alpendre, pode ser vista em
Para fevereiro tem ainda Esta Noite Encarnarei no teu Cadáver, de José Mojica Marins e A Hora da Estrela, de Suzana Amaral bem como outro debate e filmes raros.
O CCBB fica na rua Álvares Penteado, 112, próximo à praça da Sé.