sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

IMPRENSA ALTERNATIVA EM REGISTRO DESCONTRAÍDO E DIVERTIDO


Imprensa alternativa no ABC – a história contada pelos independentes”, nome do livro da jornalista Olga Defavari pode sugerir uma obra sisuda, um pesado catálogo de publicações que só interessam a pesquisadores e jornalistas ou ainda um registro de alcance limitado e regional. Nada disso.
Qualquer um pode ler e se divertir (isso mesmo, divertir!) com as entrevistas, depoimentos e trechos das publicações colhidos em extenuante catalogação de praticamente todas as manifestações qualificadas como imprensa alternativa , ou seja ,revistas e jornais publicados de maneira amadora e/ou independente na região do Grande ABC . Ficam de fora do campo de estudo os jornais sindicais ou ligados a partidos políticos.
A autora propositalmente assume o menos possível a postura de pesquisadora e mais a de uma contadora de histórias. Se o recurso por um lado torna o livro carente de certa dose de densidade desejável num trabalho desse tipo (são apenas 10 páginas de embasamento teórico e duas de conclusão), por outro faz da leitura uma experiência extremamente agradável .
Há desde fanzines chatérrimos como o Yellow Peppers, típica publicação roqueira, ou seja, que acredita no rock como a mais maravilhosa criação humana, capaz de tocar corações e mentes, mudar o mundo e mais um bocado de coisas, mas que chama seus desafetos de “morféticos”(!!) , às publicações pretensiosas, como o feminista Mulher ABC, que em seu único número pagou o mico de entrevistar a cantora Ângela Maria e ouvi-la defender abertamente o machismo. Não faltam também esquisitices, como um fanzine ainda em atividade e que conta com absurdos 18 anos de existência, mas apenas 23 exemplares.
Mas a melhor história fica por conta do inacreditável A Tripa, “publicação” que é uma exceção a tudo no livro, desde a datação (é da década de 1950 e o período estudado começa nos 70) ao próprio conceito de imprensa, afinal nunca foi publicado, muito menos lido por ninguém, mesmo assim foi produzido artesanalmente (datilografado e colorido à mão) por incríveis oito anos. Tão estranho quanto é o fato de dois dos três editores citados simplesmente negarem ter participado da empreitada e , pior, jurarem jamais terem sequer posto os olhos em seus ‘textos” que eram provavelmente obra de um único sujeito, Alcindo Fanzolim, já morto.
Claro, não há só bizarrices, mas também publicações sérias em que atuaram vários talentos legítimos, como o cartunista Marcio Baraldi, o escritor Claudio Feldman e os poetas Zhô Bertholini e Dalila Teles Veras.
Ao final, a conclusão aponta para o iminente desaparecimento da imprensa alternativa e sua transmutação na forma dos blogs. E cá estamos nós.

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O livro de 144 páginas pode ser adquirido com a própria autora pelo valor de R$ 13,00 (já inclusa postagem) através do e-mail olgadefavari@yahoo.com.br ou nas seguintes lojas:
Livraria da USCS (São Caetano do Sul-ex-IMES)
Alpharrabio - R. Eduardo Monteiro,151 em Santo André
Metal CDs /Sebo Pacobello - R. Dona Elisa Flaquer, 184 - Centro
Sebo Poesia & Arte - R. Monte Casseros, 11 - Centro - Santo André

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Desde o momento em que fiz a "arte" da capa até quando recebi um exemplar com dedicatória, mantive inalterada minha intenção de não falar sobre o livro. Mas ao terminar de lê-lo achei que deveria fazer isso de uma maneira imparcial e diferente das várias resenhas já realizadas e que se limitaram a explicar o assunto e citar a origem do trabalho no núcleo de pesquisa Memórias do ABC, em que a autora trabalhou por dois anos.

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