Duas dicas rápidas de teatro : O Quarto e Não Sobre o Amor. Ambas as peças flertam inteligentemente com outras artes; poesia, artes plásticas e videoarte, no caso de O Quarto, cinema e literatura em Não Sobre o Amor.
O QUARTO
O QUARTO
O Quarto, do dramaturgo inglês e Nobel de Literatura Harold Pinter foi a obra escolhida pelo diretor Roberto Alvin para estrear em novembro do ano passado na sede de sua companhia de teatro, a Club Noir.
O texto de Pinter conta a história de Rose, uma mulher que vive trancada com seu marido em um quarto úmido e escuro, defendendo-se do mundo da única maneira que sabe: escondendo-se.
É de não-existência, portanto que trata a peça (mais do que a história de uma pessoa em particular) e nada mais adequado que tudo lá seja bicromático, do cenário de paredes brancas e portas negras aos atores, vestidos totalmente de preto e cujos rostos mal podem ser vistos, salvo em momentos poderosos como um em que Rose grita em agonia com uma luz que ilumina unicamente seu rosto, criando uma distorção “expressionista”que lembra em muito o Fausto (1926), filme de F.W.Murnau, onde as trevas absorvem tudo que não sejam as faces dos atores. Aliás, o posicionamento destes no cenário, com o uso do contra-luz, faz com que eles pareçam mais elementos decorativos do que outra coisa, peças negras num cenário branco, criando no público uma impressão de se estar diante de uma enorme obra de arte , o que desloca toda a atenção para o texto denso, literário, cheio de ‘disse ele’e ‘disse eu”.
Chegará o momento em que pessoas visitarão Rose e que um homem cego a conclamará a voltar para seu antigo lar, ou seja, a vencer o isolamento.Veremos então uma carta em forma de poema projetada freneticamente no palco, acompanhada do som estridente de uma máquina de escrever.
O som e a fúria da vida desafia Rose. E também a todos nós.
O teatro Club Noir, que fica na rua augusta n 331, possui apenas 50 lugares e por isso é recomendável reservar lugar por telefone e chegar meia hora antes. O espaço dispõe também de café e livraria.
A peça tem duração de 60 min e fica em cartaz até 29/03 às sextas e sábados às 21h. e aos domingos às 20h.
Informações pelo telefone 3257-8129
NÃO SOBRE O AMOR
Não Sobre o Amor , prêmio Bravo! de melhor espetáculo em 2008, é uma das três peças dos curitibanos da Sutil Companhia que voltam a São Paulo na Mostra Sutil 15 anos . As outras duas são “Tom Pain/ Lady Grey” e “Avenida Dropsie”.
Dirigida por Felipe Hirsch e Murilo Hauser a peça é a encenação das cartas trocadas entre o formalista russo Victor Shklovski (interpretado por Leonardo Medeiros) e Elsa Triolet (Simone Spoladore), por quem é apaixonado e a quem chama de Alya.
Não sobre o Amor tem um elemento poderoso; a cenografia, que possibilita um inusitado flerte com o cinema. Quando Medeiros se deita por sobre a cama que está fixada na parede, temos um efeito equivalente ao de uma câmera posicionada no alto, filmando de cima para baixo, recurso comum no cinema, mas de execução complicada no teatro. A estratégia permite que outras ações (sejam na forma de um filme projetado ou do som da voz de Elsa ou ainda da presença de Spoladore) tomem lugar e assim experimentamos de uma só vez a solidão e melancolia de Shklovski e a determinação frívola de Elsa, que pede seguidas vezes para que ele não lhe escreva sobre o amor. À proximidade dos dois no palco opõem-se a uma distância intransponível entre o amor do escritor e a indiferença de Alya, entre a saudade da Rússia para a qual não pode voltar e a Alemanha, entre os sonhos e a realidade.
Outro recurso interessante é a projeção em forma de texto das observações do ator às cartas dele e de Elsa.
O único inconveniente é que, em virtude da construção do cenário não ocupar toda a extensão do palco do Teatro Sesi-Paulista, quem sentar nos setores laterais terá sua visão bastante prejudicada e não só não verá o que acontece nas laterais do palco como também não conseguirá ler o início ou final dos textos projetados.
O teatro SESI fica na Av Paulista 1313, no prédio do centro Cultural FIESP e possui 453 lugares. A peça está em cartaz de 06/02 a 28/02 ( às sex e sáb.); 18 e 19/03. O ingresso custa 10 reais. Mais informações pelo telefone: 3146-7405
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Recado para os leitores do blog Balaio Baio e deste Bar: semana que vem texto sobre a peça Avenida Dropsie e a obra de Will Eisner.
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