sexta-feira, 6 de março de 2009

WILL EISNER 3- ATORES DE PAPEL




Will Eisner já foi elogiado por vários escritores, entre eles John Updike que disse que ele “não estava apenas a frente de seu tempo; os dias de hoje ainda estão tentando alcançá-lo”. Também o nome dado à sua obra a partir de 1978, romance gráfico (graphic novel) pode levar a crer que ele buscou uma associação com a literatura, que haveria de lhe emprestar alguma credibilidade inexistente nos quadrinhos.
A arte de Eisner é tão particular que fica difícil crer numa associação com qualquer outra forma de arte.

Em seu livro teórico “Narrativas Gráficas” (Devir) ele conta que usava uma associação com animais para desenhar seus personagens. Uma pessoa com feições leoninas seria entendida como perigosa, um com “cara de rato”(rosto miúdo, nariz fino, dentes proeminentes) como covarde , etc. Para ele, as pessoas associariam rapidamente (e inconscientemente) as características animais e as integrariam ao caráter do personagem, numa técnica que visava suprir uma deficiência inerente aos quadrinhos, a escassez de tempo e espaço (abundantes no cinema e na literatura).
No entanto ele mesmo ressalta que quando a ambientação sustenta o personagem, essa técnica pode ser até mesmo abolida.
Fazendo uso dessa técnica ou não Eisner teve uma capacidade única de criar personagens pois pensava com a mente de um ator, não de um desenhista. O desenhista de quadrinhos busca colocar o personagem numa posição que seja interessante visualmente e que exprima perfeitamente a ação; por isso nas histórias de super-heróis existem tantas cenas de luta idênticas, elas até fazem parte de um a espécie de ‘manual” de como se desenhar. Se Eisner, por outro lado, faz seus personagens se expressarem por gestos um tanto exagerados é por que eles “agem” como um ator de cinema mudo (que buscava que seus gestos fossem claros o suficiente na ausência de som) ou de teatro (que com técnica semelhante pode superar a distância entre o palco e o espectador). Os gestos são facilmente reconhecíveis, mas nunca uma mera reprodução de convenções. Ele conhece bem as particularidades dos corpos e mentes de seus personagens e usa isso na hora de coloca-los em movimento. Dois de seus personagens frente a uma mesma situação (perigo, por exemplo) nunca reagirão da mesma maneira, ainda que ambos estejam com medo.
E a caracterização dos rostos aliada à movimentação particular de cada um nos conta muito sobre a vida de cada personagem, coisas que nem são ditas nas histórias.
A primeira cena, de Pequenos Milagres (Devir) mostra A Sra Grepps, uma mulher sofrida, mas que luta para sustentar o casamento de Reba, a filha surda-muda. Já a segunda traz a Sra Fegel, mãe do rapaz sem uma perna casado com Reba. Duas mães de filhos deficientes, duas histórias de vida diferentes, duas pessoas completamente diversas.

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