Nossa querida leitora Rosana Banharoli, que é membro do Conselho Municipal de Cultura (literatura) de Santo André e da ONG literária EntrePalavras, enviou este video, que é uma animação produzida pelo Marcelo RedMojo, amigo dela. Aproveito para adiantar que ainda esta semana tem TOP10, a programação de cinema do CCBB(Centro Cultural Banco do Brasil) e texto sobre fotografia e música na era digital.
segunda-feira, 26 de janeiro de 2009
sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
CORREÇÕES
* Iludido pelo lançamento do álbum do Márcio Baraldi, "Vale Tudo" (de já falei aqui e voltarei a falar em breve) informei, alguns posts atrás, que a editora Opera Graphica estava "viva e forte"(ou outra expressão idiota qualquer). Nem viva nem forte, ela encerrou as atividades em dezembro, como fiquei sabendo pelo blog do jornalista Pedro de Luna www.jblog.com.br/quadrinhos.php , do Jornal do Brasil.
Vou tentar ser um pouco mais atencioso da próxima vez.
* Hoje deveria entrar no ar o Top10 enviado elo DjMandio, a quem eu peço todas as desculpas do mundo . Deveria, por que eu consegui apagá-lo do meu computador, de forma que haverá algum atraso na postagem.
Vou tentar ser um pouco mai atencioso da próxima vez.
Vou tentar ser um pouco mais atencioso da próxima vez.
* Hoje deveria entrar no ar o Top10 enviado elo DjMandio, a quem eu peço todas as desculpas do mundo . Deveria, por que eu consegui apagá-lo do meu computador, de forma que haverá algum atraso na postagem.
Vou tentar ser um pouco mai atencioso da próxima vez.
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
POP10 !
Segunda e sexta é dia dos Top 10 enviados pelos leitores. Aqui vai o primeiro deles, exclusivamente musical:
1) Beach Boys – Pet Sounds: Já disse um cara muito bacana certa feita que se Deus tivesse humor musical, provavelmente comporia este disco. Mas como diz o ditado, Deus age de maneira estranha, e desta vez escolheu um esquizofrênico de pai e mãe pra compor simplesmente o maior disco de rock and roll da historia. Ouça uma vez por semana como espécie de agradecimento aos seus dias, este é pra levantar a fé de qualquer ateu.
2) Beatles – White Álbum : Amo qualquer coisa que os Beatles fizeram na vida a ponto de ter escrito uma monografia sobre os mancebos. Mas pra dizer que eu sou um cara mala, ando preferindo mais o White Álbum do que Sgt.Peppers. Enquanto Lennon andava com Yoko, George compunha meia dúzia de gemas maravilhosas pra calar a boca de todo mundo , Ringo continuava o cara cool e desencanado de sempre, o Sr. James Paul McCartney cismou que era Mozart e esculpiu algumas musiquinhas pra fazer qualquer um questionar o que era a musica de verdade, como uma canção pode entrar na sua vida e te acompanhar por anos como um grande amigo, ou seja, explicava o mundo com uma singela canção tal qual Blackbird. Ah, o Lennon pôs Yer Blues nesse ai. Será que eu preciso recomendar?
3) Ramones – Ramones (1976) : Rock and Roll sem nada além de culhoes, vísceras e diversão. Fundamental pra qualquer um que pensa que sabe alguma coisa sobre a vida.
4) The Clash – London Calling: Resumidamente, o belo dia no qual o punk decidiu sair do seu próprio umbigo, e se juntou com outras minorias. Caldeirão étnico, caos social, fúria imensamente embasada , política feita por gente séria e sem medo de meter pipoco na cara de qualquer gordo trilhardario. Porra, fundamental.
5) Tom Jobim – Qualquer coisa : Tinha me prometido guardar a bossa nova pra depois, mas cuzaozice a parte, a efeméride dos 50 anos no ano passado me fez ir atrás das coisas. Sou do tipo que adora ser do contra pela chinfra , e parafraseando tio Nelson Rodrigues ; sempre penso que toda unanimidade é burra. Mas sabe que tudo que dizem do Sr Antonio Brasileiro é verdade verdadeira? È dos dez maiores compositores do século XX, é um poeta dum refinamento raro , é um músico de extrema técnica e delicadeza. Bom, esse anda pelas águas e solta raio pelos olhos, não é possível alguém ser tão magnífico assim.
6) Marvin Gaye – What’s Going On: Talvez o disco perfeito pra ilustrar uma época que ainda se mata pela cor da pele, credo religioso ou por petróleo ( mesmo sabendo que vai acabar e que é nocivo pra mãe natureza)
7) Cartola – Qualquer coisa também: Qualquer letra fala mais e melhor de amor, do que qualquer relacionamento que tivermos na vida. Simples assim.
8) Frank Sinatra – My Way /the very best of : A fase é ja na gravadora Reprise, e sabemos que ele era realmente o malvado comedor nos tempos de Capitol. Mas ainda assim que classe, que swing, que atitude mais rocker do que qualquer roqueiro desde os anos 80. E funciona que é uma beleza pras manhãs de domingos ressacados.
9) Carpenters – greatest hits : guilty pleasure total, mas é até divertido vislumbrar um romance no qual passarinhos aparecem quando se está perto da pessoa amada.
Pra encerrar a lista , um disco pra ser queimado como exemplo de coisa feia mandada por satã pra celebrar a confusão entre os homens:
10) Ana & Jorge : Ana Carolina e Seu Jorge : Não tenho o problema com o fato da primeira pessoa desta lista ter pego mais mulher do que eu , tampouco tenho problema com o fato da segunda pessoa desta lista ter uma postura que mais se assemelha a de um mico dançarino de realejo. Quer saber? Tenho problema sim. Não fosse a musica um lixo, os dois ainda dão nojo..... pra mim isso basta.
2) Beatles – White Álbum : Amo qualquer coisa que os Beatles fizeram na vida a ponto de ter escrito uma monografia sobre os mancebos. Mas pra dizer que eu sou um cara mala, ando preferindo mais o White Álbum do que Sgt.Peppers. Enquanto Lennon andava com Yoko, George compunha meia dúzia de gemas maravilhosas pra calar a boca de todo mundo , Ringo continuava o cara cool e desencanado de sempre, o Sr. James Paul McCartney cismou que era Mozart e esculpiu algumas musiquinhas pra fazer qualquer um questionar o que era a musica de verdade, como uma canção pode entrar na sua vida e te acompanhar por anos como um grande amigo, ou seja, explicava o mundo com uma singela canção tal qual Blackbird. Ah, o Lennon pôs Yer Blues nesse ai. Será que eu preciso recomendar?
3) Ramones – Ramones (1976) : Rock and Roll sem nada além de culhoes, vísceras e diversão. Fundamental pra qualquer um que pensa que sabe alguma coisa sobre a vida.
4) The Clash – London Calling: Resumidamente, o belo dia no qual o punk decidiu sair do seu próprio umbigo, e se juntou com outras minorias. Caldeirão étnico, caos social, fúria imensamente embasada , política feita por gente séria e sem medo de meter pipoco na cara de qualquer gordo trilhardario. Porra, fundamental.
5) Tom Jobim – Qualquer coisa : Tinha me prometido guardar a bossa nova pra depois, mas cuzaozice a parte, a efeméride dos 50 anos no ano passado me fez ir atrás das coisas. Sou do tipo que adora ser do contra pela chinfra , e parafraseando tio Nelson Rodrigues ; sempre penso que toda unanimidade é burra. Mas sabe que tudo que dizem do Sr Antonio Brasileiro é verdade verdadeira? È dos dez maiores compositores do século XX, é um poeta dum refinamento raro , é um músico de extrema técnica e delicadeza. Bom, esse anda pelas águas e solta raio pelos olhos, não é possível alguém ser tão magnífico assim.
6) Marvin Gaye – What’s Going On: Talvez o disco perfeito pra ilustrar uma época que ainda se mata pela cor da pele, credo religioso ou por petróleo ( mesmo sabendo que vai acabar e que é nocivo pra mãe natureza)
7) Cartola – Qualquer coisa também: Qualquer letra fala mais e melhor de amor, do que qualquer relacionamento que tivermos na vida. Simples assim.
8) Frank Sinatra – My Way /the very best of : A fase é ja na gravadora Reprise, e sabemos que ele era realmente o malvado comedor nos tempos de Capitol. Mas ainda assim que classe, que swing, que atitude mais rocker do que qualquer roqueiro desde os anos 80. E funciona que é uma beleza pras manhãs de domingos ressacados.
9) Carpenters – greatest hits : guilty pleasure total, mas é até divertido vislumbrar um romance no qual passarinhos aparecem quando se está perto da pessoa amada.
Pra encerrar a lista , um disco pra ser queimado como exemplo de coisa feia mandada por satã pra celebrar a confusão entre os homens:
10) Ana & Jorge : Ana Carolina e Seu Jorge : Não tenho o problema com o fato da primeira pessoa desta lista ter pego mais mulher do que eu , tampouco tenho problema com o fato da segunda pessoa desta lista ter uma postura que mais se assemelha a de um mico dançarino de realejo. Quer saber? Tenho problema sim. Não fosse a musica um lixo, os dois ainda dão nojo..... pra mim isso basta.
Mário César Cruz Pereira : é historiador, tinha um fanzine de humor quando era vagabundo, e salvo por uma filha que é uma bonequinha , não se lembra de muitas coisas uteis ou relevantes que tenha feito.
sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Sempre preferi os filmes que Fritz Lang fez nos EUA. Claro que em sua primeira fase, na Alemanha, temos um gênio que fez os Nibelungos, os Mabuse, M e Liliom, só que parece que geralmente ele é (somente) o cineasta de Metrópolis, um artista que perscruta o nazismo e um diretor que dialoga diretamente com a idéia de vanguarda, sobretudo nesse que é seu mais famoso filme. Nele, aliás, é possível fazer qualquer tipo de leitura histórica ou "historicista", alegórica ou metafórica, ou simplesmente tratar da estilização, que em absoluto não é coisa central em seus filmes.
O exercício do cinema americano obrigou-o a condensar seus interesses - no que diz respeito aos seus conceitos - no que tanje ao cinema, à história e à natureza do homem. Os Estados Unidos tornaram-o local (ele faz westerns, noirs, logo virou um cineasta americano), e também universal, característica fascinante e por vezes famigerada, do cinema americano.
Fritz Lang teve de administrar a infra-estrutura de Hollywood, as regras do jogo, os gêneros e as estrelas e contribuir na década de 40 para que o que chamamos de cinema clássico não fosse só "fotografia de gente falando". Se para um diretor irregular como William Wyler um traveling era um apuro técnico que, junto com a montagem, auxiliava objetivamente a dramaticidade de uma cena, para Fritz Lang o traveling tornava tudo direto, abolindo por vezes uma montagem (uma junção de planos e distâncias, distinções e analogias) que pareceria óbvia a partir de um roteiro (veja a abertura de Scarlet Street) e fazia do percurso e dos elementos dramáticos do filme de gênero um princípio obscurecedor e cruel. Samuel Fuller, Orson Welles, Willian Friedkin, John Carpenter (de "Eles Vivem", sobretudo) e Brian DePalma descendem deste cineasta que a partir da clareza e da coloquialidade próprias do cinema americano, afirmou um olhar sobre a mentira, o ódio, a violência, a fabricação de párias e carrascos e a difamação. Investigações de Lang sobre o homem de qualquer época, mas especificamente inflamadas no século XX (e XXI), porque transformadas em representação, política e propaganda, tanto pelo nazismo quanto pelo cinema de Hollywood.
No cinema americano Lang não precisou de um personagem ficcional para urdir tudo isso, ele olhava para o escândalo do cotidiano, que esconde o sórdido e o horror: Fúria, Scarlet Street, O Segredo Atrás da Porta, While the City Sleeps, Desejo Humano, The Big Heat, A Gardênia Azul, Os Carrascos Devem Morrer, Suplício de uma Alma, Vive-se só uma Vez, O Retorno de Frank James, Western Union...
O exercício do cinema americano obrigou-o a condensar seus interesses - no que diz respeito aos seus conceitos - no que tanje ao cinema, à história e à natureza do homem. Os Estados Unidos tornaram-o local (ele faz westerns, noirs, logo virou um cineasta americano), e também universal, característica fascinante e por vezes famigerada, do cinema americano.
Fritz Lang teve de administrar a infra-estrutura de Hollywood, as regras do jogo, os gêneros e as estrelas e contribuir na década de 40 para que o que chamamos de cinema clássico não fosse só "fotografia de gente falando". Se para um diretor irregular como William Wyler um traveling era um apuro técnico que, junto com a montagem, auxiliava objetivamente a dramaticidade de uma cena, para Fritz Lang o traveling tornava tudo direto, abolindo por vezes uma montagem (uma junção de planos e distâncias, distinções e analogias) que pareceria óbvia a partir de um roteiro (veja a abertura de Scarlet Street) e fazia do percurso e dos elementos dramáticos do filme de gênero um princípio obscurecedor e cruel. Samuel Fuller, Orson Welles, Willian Friedkin, John Carpenter (de "Eles Vivem", sobretudo) e Brian DePalma descendem deste cineasta que a partir da clareza e da coloquialidade próprias do cinema americano, afirmou um olhar sobre a mentira, o ódio, a violência, a fabricação de párias e carrascos e a difamação. Investigações de Lang sobre o homem de qualquer época, mas especificamente inflamadas no século XX (e XXI), porque transformadas em representação, política e propaganda, tanto pelo nazismo quanto pelo cinema de Hollywood.
No cinema americano Lang não precisou de um personagem ficcional para urdir tudo isso, ele olhava para o escândalo do cotidiano, que esconde o sórdido e o horror: Fúria, Scarlet Street, O Segredo Atrás da Porta, While the City Sleeps, Desejo Humano, The Big Heat, A Gardênia Azul, Os Carrascos Devem Morrer, Suplício de uma Alma, Vive-se só uma Vez, O Retorno de Frank James, Western Union...
- Francis Vogner dos Reis é crítico da revista Cinética e está organizando a mostra Retrospectiva do Cinema Paulista, que estréia em breve no CCBB-
terça-feira, 13 de janeiro de 2009
É HORA DE RELER PALESTINA- NA FAIXA DE GAZA

De 1991-1992 quando Joe Sacco esteve na Palestina (e colheu material para as duas graphic novels lançadas pela Conrad) para cá, muito mudou; houve acordo de paz, retirada dos assentamentos judaicos, cessar fogo, morte de Iasser Arafat , queda do Fatah e eleições democráticas (com vitória do Hamas). De 1991-1992 para cá, nada mudou.
!!!
Na guerra nós sabemos das grandes tragédias, dos números (oficiais) de mortos, da destruição da infra-estrutura dos países e dos absurdos como bombardear um escola infantil ou um carregamento de alimentos e ajuda humanitária. Mas as pequenas tragédias, aquelas que antecedem e sucedem as guerras, estas não sabemos por que, ao jornalismo o “trivial”não interessa. As pequenas coisas, aquelas corriqueiras, os sofrimentos do dia a dia (dia a dia tem hífen?), ou seja, aqueles que temos por “normais” não valem o tempo de um correspondente internacional ou mesmo o trabalho de uma agência de notícias. Mas valeu o tempo de Joe Sacco que captou a essência da questão: aparte os interesses do hizbollah, do Hamas, de Israel, do Líbano e do Irã, há um sujeito desempregado. E por tudo isto e mais um pouco ele não consegue emprego. Não conseguia em 1992 e não consegue agora. Ele é só um palestino, a periferia da periferia do mundo. Quem se importa?
!!!
Nesta cena há material para um livro. Em apenas dois quadrinhos Sacco não só faz o que os jornalistas do mundo todo não fazem(pois se interessam pelos Grandes Temas) como também incorpora a utilização de um meio tradicionalmente ficcional e a subjetividade da narração herdadas pela geração de Gay Talese, Truman Capote , Norman Mailer e Tom Wolfe, a do “new journalism” bem como o questionamento da objetividade do documentário e do valor da imagem como documento. Sacco coloca a si mesmo em foco e não esconde o quanto a presença dele altera emocionalmente o entrevistado(e seu relato) nem o quanto ele se sente deslocado/impotente e embaraçado com a situação. Um “e o que é que eu tenho a ver com isso” envergonhado e cheio de culpa escorre espremido destes dois quadrinhos.
!!!
Dizer “a população palestina sofre com a falta de empregos e alimentos. Há protestos por toda parte”e, em seguida mostrar uma mulher chorando tem efeito narcotizante sobre nós, que somos em grande parte insensíveis a imagens televisivas. Vermos um sujeito chorando e fazendo um pedido humilhante e ridículo de emprego ao entrevistador é outra coisa. Não é jornalismo,não é ficção,não é documentário. É Joe Sacco.
!!!
Escrevi em agosto do ano passado neste blog um quadro com um breve histórico do conflito na região da Palestina. Breve por que sucinto, afinal relacionei os conflitos (se bem me lembro) ,em forma de tópicos, desde a tomada de Jerusalém pelo Sultão Omar.
Ingenuidade minha achar que aquilo dava conta de explicar as tensões políticas na região.
As seguintes declarações publicadas na Folha de São Paulo do dia 8 deste mês mostram o quão pantanoso um deserto pode ser.
!!!
Na guerra nós sabemos das grandes tragédias, dos números (oficiais) de mortos, da destruição da infra-estrutura dos países e dos absurdos como bombardear um escola infantil ou um carregamento de alimentos e ajuda humanitária. Mas as pequenas tragédias, aquelas que antecedem e sucedem as guerras, estas não sabemos por que, ao jornalismo o “trivial”não interessa. As pequenas coisas, aquelas corriqueiras, os sofrimentos do dia a dia (dia a dia tem hífen?), ou seja, aqueles que temos por “normais” não valem o tempo de um correspondente internacional ou mesmo o trabalho de uma agência de notícias. Mas valeu o tempo de Joe Sacco que captou a essência da questão: aparte os interesses do hizbollah, do Hamas, de Israel, do Líbano e do Irã, há um sujeito desempregado. E por tudo isto e mais um pouco ele não consegue emprego. Não conseguia em 1992 e não consegue agora. Ele é só um palestino, a periferia da periferia do mundo. Quem se importa?
!!!
Nesta cena há material para um livro. Em apenas dois quadrinhos Sacco não só faz o que os jornalistas do mundo todo não fazem(pois se interessam pelos Grandes Temas) como também incorpora a utilização de um meio tradicionalmente ficcional e a subjetividade da narração herdadas pela geração de Gay Talese, Truman Capote , Norman Mailer e Tom Wolfe, a do “new journalism” bem como o questionamento da objetividade do documentário e do valor da imagem como documento. Sacco coloca a si mesmo em foco e não esconde o quanto a presença dele altera emocionalmente o entrevistado(e seu relato) nem o quanto ele se sente deslocado/impotente e embaraçado com a situação. Um “e o que é que eu tenho a ver com isso” envergonhado e cheio de culpa escorre espremido destes dois quadrinhos.
!!!
Dizer “a população palestina sofre com a falta de empregos e alimentos. Há protestos por toda parte”e, em seguida mostrar uma mulher chorando tem efeito narcotizante sobre nós, que somos em grande parte insensíveis a imagens televisivas. Vermos um sujeito chorando e fazendo um pedido humilhante e ridículo de emprego ao entrevistador é outra coisa. Não é jornalismo,não é ficção,não é documentário. É Joe Sacco.
!!!
Escrevi em agosto do ano passado neste blog um quadro com um breve histórico do conflito na região da Palestina. Breve por que sucinto, afinal relacionei os conflitos (se bem me lembro) ,em forma de tópicos, desde a tomada de Jerusalém pelo Sultão Omar.
Ingenuidade minha achar que aquilo dava conta de explicar as tensões políticas na região.
As seguintes declarações publicadas na Folha de São Paulo do dia 8 deste mês mostram o quão pantanoso um deserto pode ser.
" Os regimes árabes, receosos com a própria estabilidade,se cuidam para não ferir os interesses americanos na região.Esses mesmos regimes estão divididos entre,de um lado,pressões populares(pró-palestinas) e ,do outro, o medo da expansão da influência do Irã por meio do Hamas" - Richard Falk , relator da ONU para assuntos humanitários na Palestina
"Se para você, a única solução estável é uma que envolva dois Estados,com os palestinos ficando com toda a Cisjordânia,a faixa de Gaza e os setores árabes de Jerusalém Oriental,você só pode torcer pelo enfraquecimento do Hamas. Por quê? Porque nada tem prejudicado mais os palestinos do que a estratégia de culto à morte do Hamas de converter jovens em homens-bomba. Pois nada seria um revés maior a um acordo de paz do que se o chamado do Hamas pela substituição de Israel por um Estado Islâmico se tornasse a posição palestina nas negociações.E porque os ataques do Hamas ao sul de Israel estão destruindo a solução de dois Estados,mais do que os insensatos assentamentos de Israel na Cisjordânia" - Thomas L.Friedman, do New York Times
"O cessar-fogo que existia antes do conflito não era perfeito;longe disso.Israel sofria ataques intermitentes de foguetes e estava ciente que o inimigo aproveitava a trégua para reforçar seu arsenal. O Hamas vem sofrendo um embargo econômico severo,o que prejudicou sua esperança de governar Gaza."- Robert Malley foi conselheiro do presidente Bill Clinton para assuntos árabe-israelenses(artigo originalmente publicado pelo "Monde"
"Os moradores de Gaza e do sul de Israel não terão calma enquanto o mundo se reusar a dialogar com o movimento islâmico e enquanto este ignorar suas obrigações internacionais" - idem
"A história dos dois últimos anos em Gaza representa a bancarrota coletiva:de parte do Hamas,qu perdeu a ocasião de agir como protagonista político responsável;de Israel, que se apegou a uma política cujo objetivo era isolar e enfraquecer o movimento e produziu o efeito oposto(...)e por fim da comunidade intenacional,que exigiu que o Hamas se transforme em partido político sem incentivá-lo a isso(...)os únicos a pagar o preço(...)são os civis dos dois lados"- Idem
quarta-feira, 7 de janeiro de 2009
MAIS BÓRGIA

Mais uma cena da impressionante graphic novel da Conrad "Bórgia-Sangue para o Papa". Desta vez é uma vítima de olhos vazados de Rodrigo Bórgia, pouco antes deste se tornar o papa Alexandre VI.
Recomendo voltar ao post e ler o comentário do Mario Cesar.
Mera curiosidade- Nicolau de Maquiavel, em “O Príncipe”, acerca da execução do Ministro Ramiro de Lorqua mandada por César Bórgia (num período posterior aos narrados nos dois volumes até agora publicados pela Conrad) :
“E aproveitando a oportunidade,mandou colocá-lo uma manhã,cortado em pedaços,na praça pública de Cesena,com um pedaço de madeira e uma faca ensanguentada ao lado. A ferocidade desse espetáculo fez com que toda população ficasse ao mesmo tempo satisfeita e estupefata”.
Recomendo voltar ao post e ler o comentário do Mario Cesar.
Mera curiosidade- Nicolau de Maquiavel, em “O Príncipe”, acerca da execução do Ministro Ramiro de Lorqua mandada por César Bórgia (num período posterior aos narrados nos dois volumes até agora publicados pela Conrad) :
“E aproveitando a oportunidade,mandou colocá-lo uma manhã,cortado em pedaços,na praça pública de Cesena,com um pedaço de madeira e uma faca ensanguentada ao lado. A ferocidade desse espetáculo fez com que toda população ficasse ao mesmo tempo satisfeita e estupefata”.
terça-feira, 6 de janeiro de 2009
PAPO DE BALCÃO !
Bem, no primeiro Papo de Balcão deste ano, vou responder aos comentários (antes tarde do que nunca), anunciar o que está por vir e fazer uma convocação ! Simbora !
- POP 10 ! Todos leitores estão intimados a enviar seu Top10 ao Bar 1211. É o seguinte: escolha seus 10 Mais (pode ser disco,filme,livro, música,HQ ou tudo junto) -com justificativa- e mande para
blogbar1211@yahoo.com.br
inclua seu nome e uma breve auto descrição. Caso queira, mande também uma imagem para ilustrar a lista.
Vamos lá, quem se habilita a ser o primeiro?
- POP 10 ! Todos leitores estão intimados a enviar seu Top10 ao Bar 1211. É o seguinte: escolha seus 10 Mais (pode ser disco,filme,livro, música,HQ ou tudo junto) -com justificativa- e mande para
blogbar1211@yahoo.com.br
inclua seu nome e uma breve auto descrição. Caso queira, mande também uma imagem para ilustrar a lista.
Vamos lá, quem se habilita a ser o primeiro?
- O professor, crítico da Revista Cinética e grande amigo Francis Vogner afirmou neste blog preferir a fase americana de Fritz Lang, diretor que abandonou a Alemanha sem nem sequer fazer as malas( após uma proposta de Hitler para que fosse o cineasta do governo nazista) rumo à França- onde filmou Liliom (1934)- e daí para os EUA. Conheço tão miseravelmente pouco este período que não posso dizer nada . Sérgio Alpendre, colega (de profissão e pessoal) de Francis escreveu no Guia da Folha : “Talvez estejam certos os críticos que preferem a fase ameriana do diretor alemão Fritz Lang. Entre Fúria(1936) e Súplício de uma alma(1956) ele realizou uma porção de obras essenciais. Mas essas já existiam antes, durante a fase alemã”.
- Sérgio, aliás, será entrevistado por este blog para falar sobre um dos filmes mais comentados por aqui, Crepúsculo dos Deuses, de Billy Wilder.
- A Opera Graphica, que o superpai Mario César perguntou (muuito tempo atrás) se ainda existia e eu não soube responder, continua viva e forte, como prova o livro do Baraldi sobre o qual eu postei no último dia do ano. Aliás, a idéia do Pop10 é do Mário.
- O caríssimo Daniel Luppi é um leitor atento e participante e questionou sobre teoria das cores. Assim é que é bão !Mas vamos lá: tanto o preto quanto o branco não são propriamente cores. O preto é incapaz de refletir a luz.Se misturarmos todas as cores, o que se obtém é o preto(ausência total de luz). O branco é reflexo total, a luz pura, ou seja, a ausência das cores. Por isso é que há um sentido metafórico muito forte no fato de The Originals começar com duas páginas negras, sem desenho algum e terminar com uma completamente branca, espécie de “fiat lux”. Mas Daniel (e o google)têm razão. Há diferença entre cor-pigmento e cor -luz. Assim que eu tive uma pesquisa sólida, volto ao tema.
- Sérgio, aliás, será entrevistado por este blog para falar sobre um dos filmes mais comentados por aqui, Crepúsculo dos Deuses, de Billy Wilder.
- A Opera Graphica, que o superpai Mario César perguntou (muuito tempo atrás) se ainda existia e eu não soube responder, continua viva e forte, como prova o livro do Baraldi sobre o qual eu postei no último dia do ano. Aliás, a idéia do Pop10 é do Mário.
- O caríssimo Daniel Luppi é um leitor atento e participante e questionou sobre teoria das cores. Assim é que é bão !Mas vamos lá: tanto o preto quanto o branco não são propriamente cores. O preto é incapaz de refletir a luz.Se misturarmos todas as cores, o que se obtém é o preto(ausência total de luz). O branco é reflexo total, a luz pura, ou seja, a ausência das cores. Por isso é que há um sentido metafórico muito forte no fato de The Originals começar com duas páginas negras, sem desenho algum e terminar com uma completamente branca, espécie de “fiat lux”. Mas Daniel (e o google)têm razão. Há diferença entre cor-pigmento e cor -luz. Assim que eu tive uma pesquisa sólida, volto ao tema.
segunda-feira, 5 de janeiro de 2009
O LADO GROTESCO DA HISTÓRIA



Se em The Originals o que interessava era ou o impacto da cena (conseguida com o isolamento do quadrinho na página negra) ou o conjunto dos desenhos, em Bórgia o que interessa são os detalhes e tudo corre para eles mais do que para a história do dramaturgo, escritor e roteirista de cinema chileno Alejandro Jodorovski. Não é só a cena principal que interessa ao leitor, mas sim todo o conjunto. Se vemos Lucrécia Bórgia num convento, vemos também no mesmo quadrinho a reação das freiras, com gestos e expressões perfeitamente realistas. E isso é algo extremamente complexo e raro em se tratando de quadrinhos quando o corriqueiro(mesmo para o personagem principal) é usar um modelo para expressões (uma pessoa assustada tem a boca aberta e as mãos espalmadas no rosto, por exemplo)ao invés de um estudo de como tal pessoa se portaria em tal cena.Qualquer semelhança com as pinturas Renascentistas não é mera coincidência.
Lemos “Bórgia”como quem vê uma pintura, não como quem vê um filme. Podemos nos deter por vários minutos num único quadrinho, olhando o cenário com os pequenos animais que correm ao fundo os beberrões indiferentes a tudo, crianças e tantas outras coisas. O cinema controla o tempo em que vemos uma cena, a pintura, não e pouquíssimos quadrinistas fazem uso desta possibilidade.
Não haveria outro desenhista que não o italiano Milo Manara para trazer à vida a saga do Papa Alexandre VI e seu filho César Bórgia em sua busca ensandecida por poder. Primeiro por que Manara é mestre do traço naturalista, capaz de definir músculos, dobras de pele, rugas com perfeição, o que reflete perfeitamente o momento da história da arte em que se passa a trama, o Renascimento, quando , além de se alcançar o domínio pleno do uso da perspectiva na pintura, artistas como Leonardo e Michelangelo se aplicam em estudos de anatomia a fim de obter uma representação mais perfeita possível do corpo humano(na verdade a coisa é bem mais complexa do que isso, mas não cabe aqui um aprofundamento).
Em segundo lugar, tudo nesta graphic novel é um delírio libidinoso, com cenas absurdas (uma orgia gigantesca nas ruas de Roma, perfeitamente vista através da janela do palácio papal), erotismo e violência desmedidas, tudo muito mais próximo do grotesco do que do real. Quem conhece o trabalho Manara saber que ninguém é capaz de desenhar mulheres como ele, muito menos de fazer explodir tanta sexualidade (e ,por conseguinte, violência) nas páginas de uma HQ.
Por isso mesmo, e apesar da presença de personagens reais como o monge beneditino Girolamo Sforza e o pensador Nicolau de Maquiavel (que dedicaria o cap. 7 de “O Príncipe” a analisar César Bórgia para elucidar seus conceitos de Fortuna e Virtu), o leitor deve encarar Bórgia mais como um teatro do grotesco, ou como uma pintura de Hieronymous Bosch (pintor holandês do século XV) do que como um retrato histórico.
Lemos “Bórgia”como quem vê uma pintura, não como quem vê um filme. Podemos nos deter por vários minutos num único quadrinho, olhando o cenário com os pequenos animais que correm ao fundo os beberrões indiferentes a tudo, crianças e tantas outras coisas. O cinema controla o tempo em que vemos uma cena, a pintura, não e pouquíssimos quadrinistas fazem uso desta possibilidade.
Não haveria outro desenhista que não o italiano Milo Manara para trazer à vida a saga do Papa Alexandre VI e seu filho César Bórgia em sua busca ensandecida por poder. Primeiro por que Manara é mestre do traço naturalista, capaz de definir músculos, dobras de pele, rugas com perfeição, o que reflete perfeitamente o momento da história da arte em que se passa a trama, o Renascimento, quando , além de se alcançar o domínio pleno do uso da perspectiva na pintura, artistas como Leonardo e Michelangelo se aplicam em estudos de anatomia a fim de obter uma representação mais perfeita possível do corpo humano(na verdade a coisa é bem mais complexa do que isso, mas não cabe aqui um aprofundamento).
Em segundo lugar, tudo nesta graphic novel é um delírio libidinoso, com cenas absurdas (uma orgia gigantesca nas ruas de Roma, perfeitamente vista através da janela do palácio papal), erotismo e violência desmedidas, tudo muito mais próximo do grotesco do que do real. Quem conhece o trabalho Manara saber que ninguém é capaz de desenhar mulheres como ele, muito menos de fazer explodir tanta sexualidade (e ,por conseguinte, violência) nas páginas de uma HQ.
Por isso mesmo, e apesar da presença de personagens reais como o monge beneditino Girolamo Sforza e o pensador Nicolau de Maquiavel (que dedicaria o cap. 7 de “O Príncipe” a analisar César Bórgia para elucidar seus conceitos de Fortuna e Virtu), o leitor deve encarar Bórgia mais como um teatro do grotesco, ou como uma pintura de Hieronymous Bosch (pintor holandês do século XV) do que como um retrato histórico.
RETRATO EM BRANCO E PRETO DA ADOLESCÊNCIA


The Originals tem pedigree. É de Dave Gibbons, desenhista e co-autor com Alan Moore de Watchmen, simplesmente uma das maiores obras já feitas em quadrinhos.Isso dispensa maiores apresentações.
A Graphic Novel de Gibbons (que aqui cuida sozinho de desenhos e roteiro) é toda em preto e branco, com desenhos pouco simples epouquíssimos detalhes a fim de melhor contar a história de dois adolescentes que entram para uma gangue de motoqueiros numa Inglaterra retrô-futurista embalada a rock and roll e soul music. A estranheza do visual dos topetudos vestidos de jaquetas de couro montados em motocicletas voadoras é perfeita para refletir esse momento de transição (da adolescência à idade adulta) em que estão os personagens. Tudo é surpreendente, novo e empolgante e o leitor participa disso sem em nenhum momento se ater a um momento histórico. Isso não é a vida de um jovem dos anos 60 ou 70 ou 2000. É a vida dos jovens desde sempre. E a dualidade é onipresente, seja nas cores (preto e branco), na divisão radical entre gangues (os Dirts e os Originals) e no momento (jovens e adultos). É nesse mundo de pares de opostos ilusórios (e fugazes, que terão fim na última página ) que os jovens Lel e Bok tentarão encontrar seu lugar, primeiramente entrando para um gangue dos Originals ,e depois fazendo uso daquilo que têm à mão,ou seja, seu status no grupo, suas motos, as roupas da moda e as drogas.
Visualmente, Originals faz uso da própria página que, ao contrário do normal, é, sempre negra.
Isso incorre numa valorização da voz do narrador (o jovem Lel) que ficam na página, fora dos quadrinhos, portanto não concorrem com os desenhos pela atenção do leitor, mas também numa maior dramaticidade das cenas que por vezes são desenhadas num único quadrinho solto no meio da página negra, sem que outro esteja colado a ele para estabelecer uma seqüência.
A única página branca é a última, sem desenho algum, apenas uma frase do narrador. Seu impacto é poderosíssimo pois nos mostra que o grande vazio do branco é o da vida adulta, do abrir os olhos, da grande indefinição(o branco é a ausência de todas as cores), da primeira luz ofuscante no momento do nascimento. Se até aquele momento a história se passava durante à noite, com suas festas e brigas (uma única cena diurna mostra os pais de Lel), agora amanhece.
Lel fez dezoito anos . E agora?
A Graphic Novel de Gibbons (que aqui cuida sozinho de desenhos e roteiro) é toda em preto e branco, com desenhos pouco simples epouquíssimos detalhes a fim de melhor contar a história de dois adolescentes que entram para uma gangue de motoqueiros numa Inglaterra retrô-futurista embalada a rock and roll e soul music. A estranheza do visual dos topetudos vestidos de jaquetas de couro montados em motocicletas voadoras é perfeita para refletir esse momento de transição (da adolescência à idade adulta) em que estão os personagens. Tudo é surpreendente, novo e empolgante e o leitor participa disso sem em nenhum momento se ater a um momento histórico. Isso não é a vida de um jovem dos anos 60 ou 70 ou 2000. É a vida dos jovens desde sempre. E a dualidade é onipresente, seja nas cores (preto e branco), na divisão radical entre gangues (os Dirts e os Originals) e no momento (jovens e adultos). É nesse mundo de pares de opostos ilusórios (e fugazes, que terão fim na última página ) que os jovens Lel e Bok tentarão encontrar seu lugar, primeiramente entrando para um gangue dos Originals ,e depois fazendo uso daquilo que têm à mão,ou seja, seu status no grupo, suas motos, as roupas da moda e as drogas.
Visualmente, Originals faz uso da própria página que, ao contrário do normal, é, sempre negra.
Isso incorre numa valorização da voz do narrador (o jovem Lel) que ficam na página, fora dos quadrinhos, portanto não concorrem com os desenhos pela atenção do leitor, mas também numa maior dramaticidade das cenas que por vezes são desenhadas num único quadrinho solto no meio da página negra, sem que outro esteja colado a ele para estabelecer uma seqüência.
A única página branca é a última, sem desenho algum, apenas uma frase do narrador. Seu impacto é poderosíssimo pois nos mostra que o grande vazio do branco é o da vida adulta, do abrir os olhos, da grande indefinição(o branco é a ausência de todas as cores), da primeira luz ofuscante no momento do nascimento. Se até aquele momento a história se passava durante à noite, com suas festas e brigas (uma única cena diurna mostra os pais de Lel), agora amanhece.
Lel fez dezoito anos . E agora?
quarta-feira, 31 de dezembro de 2008
FESTA DE FAMÍLIA

Para finalizar o ano e dar as boas vindas a 2009, escolhi para vocês este recorte da história pós-natalina “Família Sagrada” do álbum “Vale Tudo- os quadrinhos mais revoltados do mundo” (Opera Graphica) a mais recente publicação do cartunista rocker e morador do grande ABC Marcio Baraldi.
Meus sincero agradecimentos a todos vocês que acompanharam este blog durante este ano,deixando comentários, comentando por e-mail ou apenas lendo. E um abraço especial à minha adorada salve-salve Olga Defavari, que fez surgir este blog e faz com que ele prossiga existindo.
Para todos então um
Feliz Ano Novo !!!
Feliz Ano Novo !!!
RETROSPECTIVA
O ano novo inicia terrivelmente velho na faixa de Gaza. Em três dias morreram 60 civis palestinos, vitimados pela resposta israelense motivada pelos insistentes bombardeios do Hamas em direção à cidade de Sderot, a mais próxima de Gaza. Antes, porém, em junho, tanto Israel quanto o Hamas romperam o cessa-fogo. Como há dois meses não entram jornalistas em Gaza, vale voltar a “Palestina – Cidade Sitiada” e “Palestina- na Faixa de Gaza” obras do jornalista e quadrinista Joe Sacco. Postei texto sobre ambas HQs em agosto deste ano (Os Dois Lados da questão).
Com 2008 termina a Era Bush, período dos mais esquecíveis da história dos Estados Unidos, cujo momento mais emblemático foi a sapatada levada pelo Comandante em Chefe no Iraque, reveladora da completa desmoralização de sua administração. Com ele, perdem força os heróis truculentos que espelhavam com perfeição seu governo belicoso. A seguir, texto que escrevi sobre o seriado 24 Horas, num longínquo 2007 mas que mantém certa atualidade, não pelo que o liga ao moribundo governo George W. Bush, mas pelo Eterno Retorno da questão Palestina.
Com 2008 termina a Era Bush, período dos mais esquecíveis da história dos Estados Unidos, cujo momento mais emblemático foi a sapatada levada pelo Comandante em Chefe no Iraque, reveladora da completa desmoralização de sua administração. Com ele, perdem força os heróis truculentos que espelhavam com perfeição seu governo belicoso. A seguir, texto que escrevi sobre o seriado 24 Horas, num longínquo 2007 mas que mantém certa atualidade, não pelo que o liga ao moribundo governo George W. Bush, mas pelo Eterno Retorno da questão Palestina.
A QUESTÃO PALESTINA NÃO CABE NO MANIQUEÍSMO DE JACK BAUER
Nesta sexta temporada, 24 Horas não se preocupou em fazer de vilões aqueles que defenderam a “política do medo” de George W. Bush após os atentados de 11 de setembro. Mostrou os absurdos das prisões arbitrárias de cidadãos de descendência árabe e criticou o ataque militar a nações islâmicas como resposta a ações terroristas. “Nem todos nesses países estão a favor dos terroristas” nos lembra o assessor da presidência Tom Lennox.
Tudo muito elogiável. Elogiável até demais, afinal se trata de uma série de ação que reprisa a manjada oposição entre os EUA e o resto do mundo, sendo os EUA, claro, os mocinhos. Enxergar e desvelar a sujeira e os erros de seus governantes, então, não é pouca coisa.
No entanto, toda a complexidade utilizada no retrato da chamada “doutrina Bush” (reacionarismo de direita, tendência à supressão de direitos civis e belicismo histérico) desaparece quando se trata de compreender os terroristas islâmicos bem como as motivações desses grupos.
De início nos é mostrado que quem explodiu uma bomba nuclear em solo norte americano (ponto de partida da atual temporada) e ainda ameaça detonar mais quatro é o terrorista islâmico Abu Fayed. Dez anos atrás o vilão da série seria provavelmente um narcotraficante colombiano e, vinte, algum russo maluco vestindo um casaco cafona e um chapéu de pele de urso. Mas os tempos são outros.
Em oposição a Fayed está um ex-terrorista, Hamri Al Assad, que abdicou da luta armada e quer um acordo de paz com os EUA. Para isso ele se aliará a Jack Bauer na busca por Fayed, que não aceita o cessar fogo proposto por Assad e se põe a sabotá-lo. A simplificação é de assustar. Ao colocar Assad no lado dos mocinhos, entendemos que o terrorista “bom”é o que, unilateralmente, abandonou a luta armada, numa mensagem de que é pela via da negociação que as coisas devem ser feitas, não pela luta suja e assassina de Fayed (que é apenas uma alegoria para Osama Bin Laden). Dito assim, ninguém há de discordar. Mas e Jack Bauer, por acaso ele não mata e tortura também? Apenas quando não há outra alternativa , nos diz a série, quando há um “bom motivo”. Já os terroristas só usam de agressão por que são incapazes de enxergar a tal outra alternativa, a da negociação pacífica. Curioso, não? Pois então, Assad acaba morto por radicais de direita norte-americanos , golpistas que querem o poder por vias outras que não a da democracia(algo impensável para qualquer norte americano), o que põe ainda mais em risco o processo de paz.
Mesmo sendo Fayed uma representação de Bin Laden, também podemos identificar em sua luta com Assad os dois lados claramente distinto da Palestina atual, na qual os EUA de Jack Bauer estão diretamente envolvidos. O “Fayed”de lá é o grupo islâmico que não abdica da luta armada, o Hamas. Já o Fatah é partido árabe que não age em nome da religião e que busca diálogo com o ocidente, ou seja o “Assad” da questão . Os EUA e Israel nunca economizaram armas nem dólares para fortalecer o Fatah na Palestina, mas mesmo assim, talvez pelas várias acusações de corrupção e de submissão a interesses estrangeiros, o Fatah foi perdendo prestígio até que a maioria do Parlamento acabou ficando com o Hamas. Recentemente o governo de coalizão entre os dois acabou de vez, quando o Hamas expulsou o Fatah da faixa de Gaza. EUA e Israel entraram em polvorosa e, sob o argumento de que o único líder legítimo eleito democraticamente era Mahmoud Abas, do Fatah,deram início a um embargo econômico a Gaza.
E ai temos a seguinte situação: um partido que tem maioria num Parlamento eleito democraticamente pelo povo palestino não só não é reconhecido pelos EUA como legítimo, como sofre sanções econômicas e repressão militar. Onde está, então, a opção pelo diálogo? Cadê a deposição das armas que eles tanto pedem aos “terroristas”? Parece que, no fim das contas, virar a cara para a via da negociação pacífica não é privilégio de extremistas islâmicos...
Mas façamos justiça à série. Alguns episódios mais tarde, ficamos sabendo que na verdade quem arquitetou o plano de explodir a bomba nuclear na terra do Tio Sam fora, na verdade, um russo maluco vestido num casco cafona, Vladmir Gredenko. Seu motivo? Ele se ressentia da vitória dos EUA na Guerra Fria... Esse sim merece levar uns tapas de Jack Bauer !
Nesta sexta temporada, 24 Horas não se preocupou em fazer de vilões aqueles que defenderam a “política do medo” de George W. Bush após os atentados de 11 de setembro. Mostrou os absurdos das prisões arbitrárias de cidadãos de descendência árabe e criticou o ataque militar a nações islâmicas como resposta a ações terroristas. “Nem todos nesses países estão a favor dos terroristas” nos lembra o assessor da presidência Tom Lennox.
Tudo muito elogiável. Elogiável até demais, afinal se trata de uma série de ação que reprisa a manjada oposição entre os EUA e o resto do mundo, sendo os EUA, claro, os mocinhos. Enxergar e desvelar a sujeira e os erros de seus governantes, então, não é pouca coisa.
No entanto, toda a complexidade utilizada no retrato da chamada “doutrina Bush” (reacionarismo de direita, tendência à supressão de direitos civis e belicismo histérico) desaparece quando se trata de compreender os terroristas islâmicos bem como as motivações desses grupos.
De início nos é mostrado que quem explodiu uma bomba nuclear em solo norte americano (ponto de partida da atual temporada) e ainda ameaça detonar mais quatro é o terrorista islâmico Abu Fayed. Dez anos atrás o vilão da série seria provavelmente um narcotraficante colombiano e, vinte, algum russo maluco vestindo um casaco cafona e um chapéu de pele de urso. Mas os tempos são outros.
Em oposição a Fayed está um ex-terrorista, Hamri Al Assad, que abdicou da luta armada e quer um acordo de paz com os EUA. Para isso ele se aliará a Jack Bauer na busca por Fayed, que não aceita o cessar fogo proposto por Assad e se põe a sabotá-lo. A simplificação é de assustar. Ao colocar Assad no lado dos mocinhos, entendemos que o terrorista “bom”é o que, unilateralmente, abandonou a luta armada, numa mensagem de que é pela via da negociação que as coisas devem ser feitas, não pela luta suja e assassina de Fayed (que é apenas uma alegoria para Osama Bin Laden). Dito assim, ninguém há de discordar. Mas e Jack Bauer, por acaso ele não mata e tortura também? Apenas quando não há outra alternativa , nos diz a série, quando há um “bom motivo”. Já os terroristas só usam de agressão por que são incapazes de enxergar a tal outra alternativa, a da negociação pacífica. Curioso, não? Pois então, Assad acaba morto por radicais de direita norte-americanos , golpistas que querem o poder por vias outras que não a da democracia(algo impensável para qualquer norte americano), o que põe ainda mais em risco o processo de paz.
Mesmo sendo Fayed uma representação de Bin Laden, também podemos identificar em sua luta com Assad os dois lados claramente distinto da Palestina atual, na qual os EUA de Jack Bauer estão diretamente envolvidos. O “Fayed”de lá é o grupo islâmico que não abdica da luta armada, o Hamas. Já o Fatah é partido árabe que não age em nome da religião e que busca diálogo com o ocidente, ou seja o “Assad” da questão . Os EUA e Israel nunca economizaram armas nem dólares para fortalecer o Fatah na Palestina, mas mesmo assim, talvez pelas várias acusações de corrupção e de submissão a interesses estrangeiros, o Fatah foi perdendo prestígio até que a maioria do Parlamento acabou ficando com o Hamas. Recentemente o governo de coalizão entre os dois acabou de vez, quando o Hamas expulsou o Fatah da faixa de Gaza. EUA e Israel entraram em polvorosa e, sob o argumento de que o único líder legítimo eleito democraticamente era Mahmoud Abas, do Fatah,deram início a um embargo econômico a Gaza.
E ai temos a seguinte situação: um partido que tem maioria num Parlamento eleito democraticamente pelo povo palestino não só não é reconhecido pelos EUA como legítimo, como sofre sanções econômicas e repressão militar. Onde está, então, a opção pelo diálogo? Cadê a deposição das armas que eles tanto pedem aos “terroristas”? Parece que, no fim das contas, virar a cara para a via da negociação pacífica não é privilégio de extremistas islâmicos...
Mas façamos justiça à série. Alguns episódios mais tarde, ficamos sabendo que na verdade quem arquitetou o plano de explodir a bomba nuclear na terra do Tio Sam fora, na verdade, um russo maluco vestido num casco cafona, Vladmir Gredenko. Seu motivo? Ele se ressentia da vitória dos EUA na Guerra Fria... Esse sim merece levar uns tapas de Jack Bauer !
quinta-feira, 25 de dezembro de 2008
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
CANAL TCM INCONTORNÁVEL ESTA SEMANA
o TCM traz um filme simplesmente imperdível. Confira:
A semana começa endemoniada hoje, às 17 h55 com Fritz Lang e seu “Fúria”, filme de 1936, primeiro filme de sua fase americana. Lang cometeu jóias raras do cinema como Metrópolis (1926) ,Dr.Mabuse(1922) e M.,o Vampiro de Dusseldorf (1931).
Daí em diante,sempre às 22h.:
terça-feira, dia 9, tem Todos os Homens do Presidente (1976), de Alan J. Pakula, que, todo mundo sabe, é sobre o caso Watergate e todo aspirante a jornalista deveria assistir.
quarta-feira tem o suspense Pacto de Sangue (Double Indemnity), de 1944. Ainda não assisti, mas é Billy Wilder , portanto teremos um olhar irônico, quase europeu do cinema (e do mundo) do sujeito que fez coisas como Crepúsculo dos Deuses(1950) e Quanto mais Quente Melhor (1959),talvez o melhor filme de Marylin Monroe. De quebra Pacto de Sangue traz a mais fatal das mulheres, Barbara Stanwick.
quinta-feira vem com o imperdível terror O Enigma de Outro Mundo do incomparável (porém subestimado) John Carpenter . É a história de cientistas presos no Ártico às voltas com uma criatura alienígena.
sexta-feira uma raridade absoluta: “Agonia e Glória” de Samuel Fuller (!!), diretor que na década de 60 dividiu a França em duas metades: a de seus admiradores (a geração revolucionária da Nouvelle Vage) e seus detratores (todos os outros).
A semana começa endemoniada hoje, às 17 h55 com Fritz Lang e seu “Fúria”, filme de 1936, primeiro filme de sua fase americana. Lang cometeu jóias raras do cinema como Metrópolis (1926) ,Dr.Mabuse(1922) e M.,o Vampiro de Dusseldorf (1931).
Daí em diante,sempre às 22h.:
terça-feira, dia 9, tem Todos os Homens do Presidente (1976), de Alan J. Pakula, que, todo mundo sabe, é sobre o caso Watergate e todo aspirante a jornalista deveria assistir.
quarta-feira tem o suspense Pacto de Sangue (Double Indemnity), de 1944. Ainda não assisti, mas é Billy Wilder , portanto teremos um olhar irônico, quase europeu do cinema (e do mundo) do sujeito que fez coisas como Crepúsculo dos Deuses(1950) e Quanto mais Quente Melhor (1959),talvez o melhor filme de Marylin Monroe. De quebra Pacto de Sangue traz a mais fatal das mulheres, Barbara Stanwick.
quinta-feira vem com o imperdível terror O Enigma de Outro Mundo do incomparável (porém subestimado) John Carpenter . É a história de cientistas presos no Ártico às voltas com uma criatura alienígena.
sexta-feira uma raridade absoluta: “Agonia e Glória” de Samuel Fuller (!!), diretor que na década de 60 dividiu a França em duas metades: a de seus admiradores (a geração revolucionária da Nouvelle Vage) e seus detratores (todos os outros).
QUANDO OS QUADRINHOS TENTAM SER CINEMA



Entre o Homem de Ferro de 2007 (a primeira imagem de baixo para cima, ) e o de 1979 há grandes diferenças.
Na cena extraída de Guerra Civil nº 7, publicada pela Panini ano passado e que tem desenhos de Steve McNiven, vemos claramente uma daquelas tentativas dos quadrinhos de super-heróis de se aproximarem do cinema em mais de um aspecto . Em primeiro lugar, a busca por um certo realismo dos desenhos (com as proporções dos corpos correspondendo às humanas, o uso correto da perspectiva,etc) que é parte de uma tendência de se tornar as histórias “sérias” de dar a elas “complexidade” inserindo tramas mais complicadas e longas , muitas vezes com intrigas governamentais. Às vezes tem-se resultados muito bons, noutras vezes , constrangedores, o que não é o caso aqui. A seqüência é um exemplo de decupagem cinematográfica, com o uso correto de plano e contraplano (mostra-se o rosto do Capitão,depois o do Homem de Ferro, então volta ao Capitão) numa seqüência lógica que poderia muito bem ser um storyboard (os desenhos feitos a partir do roteiro e que orientam o diretor) de um filme.
Já o de 79(extraída de Os Grandes lássios do Homem de Ferro nº1,com traço de John Romita Jr), tem à sua disposição muito mais elementos que são próprios à linguagem dos quadrinhos e só a ela. Se isso lhe custa em “realismo”,em desenhos detalhados, lhe dá em expressividade e riqueza de significado. Um simples fundo azul, ali é entendido como um céu, linhas brancas tanto como vento ou velocidade. Um fundo amarelo (absolutamente irrealista, sem cenário ou figura de fundo),por exemplo, amplia o impacto visual e dramático de um desenho.
Lembremos que o cinema, em seus momentos expressionistas (na Alemanha dos anos 1920) a fim de conseguir estes mesmos efeitos(com objetivos outros,claro), trabalhava arduamente para extrapolar as sombras, explodir a iluminação e distorcer cenários, maquiagem e cenografia.
****
Extraídas de seus contextos, o resultado é desigual. O desenho de McNiven se enfraquece sem a seqüência que o sustenta, que é impactante, com belos desenhos, mas não mais do que isso. Já o de Romita Jr poderia muito bem ser transposto para uma tela e pedurado numa parede de Galeria de Arte que ganharia significado próprio, dialogando com a linguagem da pintura (a tela, as cores, a tinta) e sua tradição visual bem como com o público, que participaria da interpretação da obra a partir de seus elementos mais abstratos (as linhas, as cores puras).
****
Quanto às histórias, a mais recente é claro, é mais madura,complexa e melhor construída (ainda que a primeira traga o interessante lado alcoólatra do Homem de Ferro), com noções de clímax e depuração de roteiro superiores. Mas isso está ao alcance do cinema.
Na cena extraída de Guerra Civil nº 7, publicada pela Panini ano passado e que tem desenhos de Steve McNiven, vemos claramente uma daquelas tentativas dos quadrinhos de super-heróis de se aproximarem do cinema em mais de um aspecto . Em primeiro lugar, a busca por um certo realismo dos desenhos (com as proporções dos corpos correspondendo às humanas, o uso correto da perspectiva,etc) que é parte de uma tendência de se tornar as histórias “sérias” de dar a elas “complexidade” inserindo tramas mais complicadas e longas , muitas vezes com intrigas governamentais. Às vezes tem-se resultados muito bons, noutras vezes , constrangedores, o que não é o caso aqui. A seqüência é um exemplo de decupagem cinematográfica, com o uso correto de plano e contraplano (mostra-se o rosto do Capitão,depois o do Homem de Ferro, então volta ao Capitão) numa seqüência lógica que poderia muito bem ser um storyboard (os desenhos feitos a partir do roteiro e que orientam o diretor) de um filme.
Já o de 79(extraída de Os Grandes lássios do Homem de Ferro nº1,com traço de John Romita Jr), tem à sua disposição muito mais elementos que são próprios à linguagem dos quadrinhos e só a ela. Se isso lhe custa em “realismo”,em desenhos detalhados, lhe dá em expressividade e riqueza de significado. Um simples fundo azul, ali é entendido como um céu, linhas brancas tanto como vento ou velocidade. Um fundo amarelo (absolutamente irrealista, sem cenário ou figura de fundo),por exemplo, amplia o impacto visual e dramático de um desenho.
Lembremos que o cinema, em seus momentos expressionistas (na Alemanha dos anos 1920) a fim de conseguir estes mesmos efeitos(com objetivos outros,claro), trabalhava arduamente para extrapolar as sombras, explodir a iluminação e distorcer cenários, maquiagem e cenografia.
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Extraídas de seus contextos, o resultado é desigual. O desenho de McNiven se enfraquece sem a seqüência que o sustenta, que é impactante, com belos desenhos, mas não mais do que isso. Já o de Romita Jr poderia muito bem ser transposto para uma tela e pedurado numa parede de Galeria de Arte que ganharia significado próprio, dialogando com a linguagem da pintura (a tela, as cores, a tinta) e sua tradição visual bem como com o público, que participaria da interpretação da obra a partir de seus elementos mais abstratos (as linhas, as cores puras).
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Quanto às histórias, a mais recente é claro, é mais madura,complexa e melhor construída (ainda que a primeira traga o interessante lado alcoólatra do Homem de Ferro), com noções de clímax e depuração de roteiro superiores. Mas isso está ao alcance do cinema.
DIA DE CÃO, DIA A DIA
É assistindo a Um Dia de Cão, que Sidney Lumet dirigiu em 1975 que percebe-se como grandes filmes (e grandes romances,contos,peças) não envelhecem e ainda ganham constantemente novos significados.
Baseado num caso real, conta a história de Sonny (Al Pacino nos bons tempos) e seu parceiro, que invadem um banco, mas acabam encurralados pela polícia, dividindo-se entre as exigências absurdas (um helicóptero e um jato para a fuga) e a simpatia do população (que cerca o local) e do reféns, que se divertem com o fato de não estarem trabalhando.
A presença das câmeras de TV no local, os entrevistadores falando ao vivo por telefone com Sony , tudo isso faz dele uma celebridade instantânea . Um momento iluminado é o que mostra um entregador de pizzas (negro com o melhor visual black power)na porta do banco e que, após receber o dinheiro de Sony, faz alguns passos de dança e grita: “sou uma estrela”.
Impossível não relacionar com a estupidez de apresentadores-animadores como Brito Jr, Geraldo Luís e outros tantos na condução de casos policiais, o mais recente deles o de Lindemberg Alves que terminou com assassinato de Eloá Pimentel em Santo André.
E numa outra análise, com os bancos sendo parte da roda de ganância que atirou os EUA e o mudo numa recessão quase sem precedentes, ver o povo aplaudindo alguém que ataca uma instituição bancária (mas não seus funcionários) e atira notas em direção à multidão tem um outro significado, atualíssimo.
Duas coisas:
1- De lá pra cá boa parte da imprensa não aprendeu nada.
2-Fosse dirigido por um Michael Bay (Transformers, Armaggedon) da vida esse filme já teria sido esquecido. Mas não, é obra de quem entende do riscado, e por isso permanece.
Baseado num caso real, conta a história de Sonny (Al Pacino nos bons tempos) e seu parceiro, que invadem um banco, mas acabam encurralados pela polícia, dividindo-se entre as exigências absurdas (um helicóptero e um jato para a fuga) e a simpatia do população (que cerca o local) e do reféns, que se divertem com o fato de não estarem trabalhando.
A presença das câmeras de TV no local, os entrevistadores falando ao vivo por telefone com Sony , tudo isso faz dele uma celebridade instantânea . Um momento iluminado é o que mostra um entregador de pizzas (negro com o melhor visual black power)na porta do banco e que, após receber o dinheiro de Sony, faz alguns passos de dança e grita: “sou uma estrela”.
Impossível não relacionar com a estupidez de apresentadores-animadores como Brito Jr, Geraldo Luís e outros tantos na condução de casos policiais, o mais recente deles o de Lindemberg Alves que terminou com assassinato de Eloá Pimentel em Santo André.
E numa outra análise, com os bancos sendo parte da roda de ganância que atirou os EUA e o mudo numa recessão quase sem precedentes, ver o povo aplaudindo alguém que ataca uma instituição bancária (mas não seus funcionários) e atira notas em direção à multidão tem um outro significado, atualíssimo.
Duas coisas:
1- De lá pra cá boa parte da imprensa não aprendeu nada.
2-Fosse dirigido por um Michael Bay (Transformers, Armaggedon) da vida esse filme já teria sido esquecido. Mas não, é obra de quem entende do riscado, e por isso permanece.
DE VOLTA AO BALCÃO
Bem, primeiramente peço desculpas ao leitores como o Dj Mandio e o caríssimo Daniel Luppi, que perguntaram o motivo das férias prolongadas deste blog. Concluídos(ou quase) os compromissos acadêmicos, já posso voltar a escrever.
E a primeira dose é por conta da casa!
E a primeira dose é por conta da casa!
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