segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

QUANDO OS QUADRINHOS TENTAM SER CINEMA











Entre o Homem de Ferro de 2007 (a primeira imagem de baixo para cima, ) e o de 1979 há grandes diferenças.
Na cena extraída de Guerra Civil nº 7, publicada pela Panini ano passado e que tem desenhos de Steve McNiven, vemos claramente uma daquelas tentativas dos quadrinhos de super-heróis de se aproximarem do cinema em mais de um aspecto . Em primeiro lugar, a busca por um certo realismo dos desenhos (com as proporções dos corpos correspondendo às humanas, o uso correto da perspectiva,etc) que é parte de uma tendência de se tornar as histórias “sérias” de dar a elas “complexidade” inserindo tramas mais complicadas e longas , muitas vezes com intrigas governamentais. Às vezes tem-se resultados muito bons, noutras vezes , constrangedores, o que não é o caso aqui. A seqüência é um exemplo de decupagem cinematográfica, com o uso correto de plano e contraplano (mostra-se o rosto do Capitão,depois o do Homem de Ferro, então volta ao Capitão) numa seqüência lógica que poderia muito bem ser um storyboard (os desenhos feitos a partir do roteiro e que orientam o diretor) de um filme.
Já o de 79(extraída de Os Grandes lássios do Homem de Ferro nº1,com traço de John Romita Jr), tem à sua disposição muito mais elementos que são próprios à linguagem dos quadrinhos e só a ela. Se isso lhe custa em “realismo”,em desenhos detalhados, lhe dá em expressividade e riqueza de significado. Um simples fundo azul, ali é entendido como um céu, linhas brancas tanto como vento ou velocidade. Um fundo amarelo (absolutamente irrealista, sem cenário ou figura de fundo),por exemplo, amplia o impacto visual e dramático de um desenho.
Lembremos que o cinema, em seus momentos expressionistas (na Alemanha dos anos 1920) a fim de conseguir estes mesmos efeitos(com objetivos outros,claro), trabalhava arduamente para extrapolar as sombras, explodir a iluminação e distorcer cenários, maquiagem e cenografia.
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Extraídas de seus contextos, o resultado é desigual. O desenho de McNiven se enfraquece sem a seqüência que o sustenta, que é impactante, com belos desenhos, mas não mais do que isso. Já o de Romita Jr poderia muito bem ser transposto para uma tela e pedurado numa parede de Galeria de Arte que ganharia significado próprio, dialogando com a linguagem da pintura (a tela, as cores, a tinta) e sua tradição visual bem como com o público, que participaria da interpretação da obra a partir de seus elementos mais abstratos (as linhas, as cores puras).
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Quanto às histórias, a mais recente é claro, é mais madura,complexa e melhor construída (ainda que a primeira traga o interessante lado alcoólatra do Homem de Ferro), com noções de clímax e depuração de roteiro superiores. Mas isso está ao alcance do cinema.