terça-feira, 30 de março de 2010

REFLEXÕES SOBRE A CRISE DO DRAMA

Reportagem da Ilustrada de ontem trouxe o tema “A crisedo drama” para falar da influência cada vez maior da cenografia no teatro que estaria, assim, se aproximando das artes plásticas. A cenografia (e o figurino)deixaria,assim, de se constituir apenas como apoio para fazer parte da peça.
E é fato, essa fronteira estanque entre as artes não faz mais sentido. As peças da Sutil Companhia atravessam as fronteiras. Ou esse H.A.M.L.E.T, que está em cartaz no Club Noir (R.Augusta, 331 tel 3257-8129) onde a cenografia chega ao status de arte visual. O cubo branco em que os atores encenam, vestidos de preto tem (e traz) significado- podemos pensar no cubo branco por excelência, o museu, instituição em crise quando confrontado com a arte contemporânea- como “catalogar, preservar e expor”(função dos museus) obras só duram o tempo de sua exibição, ou que existem só no registro fotográfico, ou que se desintegram num tempo breve?
Retornando ao teatro, nesta peça em que tudo tente à dualidade(e a pensar esta dualidade, que é a natureza do confronto e,portanto,do drama) talvez nem seja intencional (embora eu ache improvável) que o palco seja um cubo branco numa peça que radicaliza trazendo a arte visual para transformar a tradição do teatro, o drama, representado alio pela tradição máxima, Sheakspeare. O que há ainda para alcançar representando Sheakspeare alcem de conseguir financiamento fácil de empresas de telefonia? A modernidade aboliu a representação nas artes visuais não era preciso mais que você olhasse um quadro e visse ali algo que você pudesse reconhecer (uma árvore, um animal, um santo, o que seja).Num passo adiante, Marcel Duchamp deu o maior de todos os pontapés da História da Arte e colocou lá coisas que voc~e podia sim reconhecer, mas não tinham mais o significado que você estava acostumado a atribuir a elas. O significado original era apenas parte do significado real da obra, o qua quem daria, por fim não era mais o artista(antes o idealizador e dono da obra), mas o espectador, transformado daí em diante em fruidor (pense nos parangolés de Oiticia, pense não , viva-os no Itaú Cultural). Ora, a representação de uma história (o drama) ficou para trás da mesma maneira netse H.A.M.L.E.T que eu não me envergonho de dizer que não entendi de todo, até mesmo porque muitas das questões postas ali parecem dizer respeito à tradição de uma arte de que eu entendo pouco, o teatro. Mas trata-se menos de atualizar Sheakspeare(outra maneira de se conseguir abrir o bolso das empresas de telefonia) e mais de trazer o hamlet para outros cantos, outras artes, outras experiências de vida, que podem ser a minha e a sua.
Falei bastante sobre o fim do drama no cinema quando tratei de Alan Resnais. No cinema esta é uma questão muito forte porque a crença na imagem é quase a razão de sua existência como arte. E hoje, David Lynch ou Quentin Tarantino lidam com esse “fim do cinema”, com reaproveitar os escombros de uma arte que Alan Resnais , Goddard E Cia destruíram. Tarantino lida não mais com personagens próprios (a autoria também não lhe interessa) mais com criaturas clichês saídas da tradição de um cinema tornado ultrapassado. Seus gânsters, lutadores de kung fu são cópias descaradas de outros que já vimos várias vezes por aí.
É da reconstrução da arte que vive o cenário artístico atual.

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