segunda-feira, 8 de março de 2010

O CORTIÇO DE SÉRGIO BIANCHI , O IRAQUE DE KATHRYN BIGELOW E O MUNDO IMAGINÁRIO DE JAMES CAMERON


Esse amontoado de certezas que Sérgio Bianchi exprimiu em seu Os Inquilinos (espécie de O Cortiço do século 21, mas sem o rigor documental nem a grandeza artística deste) se assemelham bastante com o grande vencedor do Oscar deste ano, “Guerra ao Terror”, que deu as estatuetas de melhor filme e melhor diretor a Kathryn Bigelow. “Guerra ao Terror” é um mea-culpa pela invasão do Iraque, mas bem a gosto daquele cidadão norte-americano que votou duas vezes em George W.Bush para então expiar suas culpas apostando em Obama. O longa retrata o dia a dia penoso dos soldados aompanhando principalmente um espeialista em desarmar bombas o personagem “viciado em guerra”, que abandona a família para viver permanentemente na adrenalina do combate. O problema é que no Iraque do filme todo mundo é suspeito(como disse o crítico Inácio Araújo em seu blog), desde uma velhinha de andar trôpego aos homens de cara fechada, sendo que o único pecado norte americano foi de ter libertado essa gente estranha, capaz de assassinar criancinhas de seu próprio país em prol de seus intentos terroristas. Em alguns momentos o filme entrega suas convicções nos levando a torcer para que os soldados abatam iraquianos como em um game de tiro(não é conclusão minha, a semelhança é explicitada pela boca de um dos personagens). O filme finge uma complexidade psicológica de seu protagonista para apenas repisar aquilo que conhecemos desde O Nascimento de uma Nação (1915) quando D.W.Griffth fez uso de todos os recursos do cinema para retratar os negros como bandidos e no levar a cavalgar junto dos homens da Klu Klux Klan e torcer para que eles conseguissem salvar a mocinha branca em perigo. Os apressados e os simplistas que condenaram Avatar como apenas mais um blockbuster, cheios de dedos por causa de sua exuberância tecnológica, certamente não torceram o nariz para “Os Inquilinos” ou “Guerra ao Terror”. Mas Avatar não só é uma condenação real à política externa norte-americana (os militares invasores não são vítimas e sim os vilões!) como faz explicitamente aquilo que nem um desses outros filmes fez, colocar o espectador na pele do “Outro” - os avatares são isso, corpos artificiais por meio dos quais humanos podem penetrar sem gerar suspeitas dentro de um povo estrangeiro. Não é a toa que foi ignorado pela Academia de Artes cinematografias de Hollywood, que concedeu prêmios Oscar apenas em categorias técnicas.
E acertou quem lembrou neste momento de Tropa de Elite, longa de José Padilha que está prestes a ganhar uma continuação. Lá a favela carioca é retratada como um lugar hostil, perigoso e ruim (como o Iraque de Bigelow ou a periferia paulistana de Bianchi), no entanto a visão não é a do diretor convicto de suas certezas, mas a do Capitão Nascimento (portanto subjetiva e sujeita a seus preconceitos de policial), o que fica claro na cena final, quando seu discípulo aponta uma arma para a câmera (e,portanto para o espectador).Nesse momento ele nos coloca dentro do problema e instiga nossas convicções. “Guerra ao Terror” e “Os Inquilinos”, pelo contrário, nos oferecem problemas e suas conclusões claras e simples. Como se o mundo fosse simples assim...
PS. Essa postagem bem como a anterior forma escritas originalmente para o blog ContemporArtes

Nenhum comentário: