segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

LUTO POR SÃO LUIZ DO PARAITINGA




Difícil saber o que dizer sobre a tragédia em São Luis do Paraitinga. Quem acompanha este blog vai lembrar que eu postei algumas fotos de lá sob pretexto nenhum. Não uso este espaço para assuntos pessoais, mas meio que abri uma exceção naquele caso, exceção que abro novamente agora que sei que a cidade deve perder 80 % de seu patrimônio histórico (70 dos 90 imóveis tombados pelo Condephaat) e que 9 mil de seus 10.500 habitantes estavam desabrigados (pelo menos até ontem).
Fico pensando nas pessoas com quem conversei, bebi, dei risada. No genial Afonso Pinto, no barulhento e divertido Totó, nos músicos do Estrambelhados, nas moças todas (algumas de olhar inocente, outras nem um pouco), nos garotos vestidos como se estivessem na cidade de são Paulo, mas sem disfarçar o sotaque “caipira”. Que é deles todos exatamente agora?
Penso também em tudo que se perde de memória. Não só a coletiva, do Patrimônio Histórico,que é uma perda irremediável, mas também aquela dentro das casas das pessoas, as fotos, os documentos, o brinquedo preferido da infância, a roupa de criança de um filho que já se casou. Me lembro de um café que ficava bem próximo ao coreto, aquele em frente à Igreja Matriz, que desabou. Lá havia fotografias do passado recente e distante, da cidade. As fotos estavam enquadradas, junto de mapas e outros documentos e reportagens de jornal que faziam valer o nome ao local de “Café Cultural”. Você sentava, pedia o café e ficava lá vendo aquilo tudo que agora se perdeu definitivamente. Lembro também de um antiquário. A dona do local mantinha no mesmo endereço um espaço cultural, na verdade um porto seguro para os estudantes de humanas da Unicamp beberem e curtir sua MPB mal tocada. Tinha algumas tranqueiras, mas também coisas lindas, muitos oratórios, um deles lindo, imponente e caríssimo, vendido como sendo francês do século 19. Podia ser ou não, mas agora nunca vou saber.
Sempre pensei como forma de conforto que quando alguém muito querido morre, o que fica é a memória, ela vive naqueles que o amavam. O que me angustia bem agora é pensar que em São Luís do Paraitinga, algo dessa memória morreu também.


PS. A Polícia Militar está recebendo donativos e encaminhando para as cidades de Cunha e Paraitinga. Basta ir a qualquer batalhão ou posto policial e entregar alimentos não perecíveis, principalmente leite longa-vida e água mineral.

3 comentários:

Unknown disse...

Oi Adilson! Você me fez lembrar de pontos de São Luis que não lembrava mais, o café e o barzinho de MPB. Me diverti muito naquela cidade. Fiquei bastante triste pela cidade e os moradores.

Um abraço!

Adilson Thieghi disse...

Oi Tauana ! Muito obrigado pelo comentário. Vi hoje a foto de um dos prédios destruídos e lá era um bar que parecia parado no tempo, com baleiro e balão de madeira e foi de lá que eu vi a fanfarra passar...
Grande abraço !

Mário disse...

Puta pena....