sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

ALAN RESNAIS 2 – O QUE É CERTO NO CINEMA?


O Espaço Unibanco de Cinema (Augusta) exibe amanhã em sua Sessão Cinéfila (12h- ingresso a R$5) o filme "Ano Passado em Marienbad"(foto) como parte o ciclo Alan Resnais. "Marienbad" é, junto de "Hiroshima Mon Amour" o filme mais importante de Resnais. Seu foco, no entanto, está no tempo e na forma de representação; quem for ver poderá notar omo ele faz uso do som, que não serve para completar uma cena, mas sim para colocar uma narrativa dentro da outra. Diálogos e sons pertendentes a outro tempo da história narrada, por exemplo.

Bom, semana que vem prossigo com a análise da obra de Resnais focando outro filme seu em cartaz, "Medos Privados em Lugares Públicos". Hoje, no entanto, me dedico a destacar a diferença entre sua maneira de narrar e a dos filmes hollywoodianos.


Como se constrói um filme? Digo, não todo filme, mas sim aqueles que tomam conta das salas dos Cinemark ou da programação dos canais a cabo. Ou mesmo uma novela. Dou uma dica que vem do livro "Como aprimorar um bom roteiro", de Linda Seger (ed. Bossa Nova):

“O objetivo é parte essencial do drama.É comum ouvir a pergunta´mas, afinal, oque esse personagem quer?´ Sem um objetivo claro em mente, a história fica vaga e se torna extremamente confusa”

“Também já vimos filmes em que o personagem parece irritado, perde a cabeça ou se apaixona, sem que haja alguma razão aparente que justifique esses estados de espírito. O que acontece nesses casos é que a motivação do personagem não está clara ou não é forte o suficiente.E se não sabemos por que um personagem está tomando determinadas atitudes, fia difícil nos envolvermos com a história”

Pois bem, são essas convenções que dão o espectador a noção daquilo que é “certo”num filme. O que fugir dessas convenções imediatamente causará estranheza e aí o espectador dirá que “não faz sentido” porque entende que o mundo no filme é perfeitamente ordenado e coerente,mas forçado que é a esquecer da ligação possível entre cinema e a vida, que Resnais explora como poucos. Relação que não precisa ser nem de imitação, nem de redução(caso da maioria dos filmes). Ou seja, já esperamos algo acontecer dentro de cada gênero cinematográfico (falei dos gêneros lá atrás, ao tratar de Abraços Partidos, de Pedro Almodóvar). Há que se entender que quem coloca centenas de milhares de dólares do seu bolso na produção de um filme espera receber uma quantia bem maior de volta. Para que isso ocorra com a maior certeza possível, o filme é submetido de maneira rigorosa ao maior ao maior número possível de fórmulas capazes de gerar empatia com o público, afinal aquilo que é familiar não cria estranheza nem desconforto. E é isso o que querem também as grandes redes exibidoras instaladas nos shopping centers, que o sujeito entre lá para ver o blockbuster da semana e, caso não consiga por causa do horário(o que é difícil dado o número de salas em que passa um mesmo filme-evento) veja um outro que não o desagrade, não lhe cause desconforto. A experiência cinematográfica então passa a ser algo que exige pouco ou nada do espectador que, por conseqüência, fica mal acostumado, pois só vê o que lhe é familiar, fato agravado pela mania de se medir o sucesso de um filme pela bilheteria no primeiro final de semana que praticamente elimina qualquer possibilidade do sucesso boca-a-boca, de se dar a chance para que um filme sem verba para aportar em centenas de salas de uma só vez consiga fazer seu público aos poucos. Mau desempenho inicial é sinônimo de morte certa para o filme. Não deveria, afinal Atividade Paranormal provou que é possível o contrário(se bem que contou com um eficiente marketing pela internet).
Bom, o resultado disso é a criação de um público que só vê(por que é só isso o que passa) filmes simples e de estrutura acomodada que, ao menor contato com algo que quebre a regra, rejeita o filme, dizendo que ele é ruim ou “mal-feito”(a expressão diz muito sobre o que se pensa ser fazer um filme). Por isso não vemos nem nunca veremos um filme de Alan Resnais num cinema de shopping center e por isso também que o público em geral não gosta de seus filmes. É triste porque, para escapar ileso desse moedor de carne que é a máquina Hollywoodiana, é preciso muita personalidade, muita precisão e talento, para fazer o jogo dos gigantes sem entregar algo rarefeito. Estatura para tanto, pouquíssimo tem. Há Clint Eastwood, Tim Burton,Sam Raimi e James Cameron, claro. Mas para cada um deles há dezenas de Michael Bays por aí.


PS. Só depois de yer escrito isso oi que fiquei sabendo que Sam Raimi pulou fora da franquia Homem Aranha, por discordar das imposições do estúdio. A série prossegue, com data de lançamento adiada e novo diretor, certamente alguém bem subserviente.

5 comentários:

Mario disse...

vem ai spiderman reboot com o viadinho do crepusculo , e um pau no cu de souza como diretor

Daniel Luppi disse...

Vá ver Xuxa no Shopping!

Adilson Thieghi disse...

Sessão de "Ano Passado em Marienbad", um dos filmes mais enigmáticos da história, que exige muito do público.Um casal desata a cochichar. Um sujeito berra um palavrão e, em seguida diz"vá ver Xuxa no shoping"!

Adilson Thieghi disse...

O problema do cinema hoje é que ele não tem somente que vender ingressos, mas gerar toda uma rede de produtos que quem sustenta são os adolescentes. Por isso é neles que os estúdios pensam na hora de produzir o novo Homem Aranha. Não interessa se os outros 3 foram ótimos, se o dirteor é de alto nível. Importa que daqui pra diante ele vai atrapalhar os planos dos donos da grana.

Mário disse...

o que eu nao entendo é que o raimi fez dois baita filmes, um bonzinho e todas essas quinquilharias venderam do msm jeito. a columbia tá é moscando...
mas eu sou só um velho chato