sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

AS ENCHENTES E SUAS IMAGENS

Esqueça o chavão “uma imagem vale mais do que mil palavras”. Vemos o tempo todo, na TV, imagens de [pessoas chorando, de casas inundadas , de pessoas que morrem soterradas. Isso tudo sempre acompanhado da descrição redundante “as famílias perderam tudo”ou algo do tipo. Transcrevo um trecho da reportagem de Mariana Barros e Afonso Benites, publicada pela Folha de São Paulo ontem (quinta feira, 21) e que falava do protesto de moradores da Cidade Dutra após terem suas casas invadidas pelo esgoto.

“Encheu de cocô aqui dentro”diz Luciemeire, abrindo o armário onde guarda as
roupinhas da filha Rayane,1,que iria passar a noite de ontem na casa de
vizinhos.”Quando a água entrou , pus minha filhaminha filha em cima da mesa. Mas
começou a boiar”,conta Lucimeire, qe entrou em desespero quando viu a filha cair
na água suja. Ela foi salva pelo irmão, que subiu em uma cadeira e a colocou em
cima da geladeira”.

O impacto destas linhas supera o de todas as reportagens de todos os telejornais juntos. É buscar o íntimo ao invés do geral, é se ater aos detalhes, ao invés do genérico.
A primeira equipe a entrar na pousada destruída pelo desabamemnto em Angra dos Reis foi da GloboNews. O repórter ficava só descrevendo aquilo que víamos, como se não confiasse na imagem. Domar a imagem, dar a ela um rumo, um sentido, é para aquele grupo seleto familiarizado com o cinema, com a arte de um Alan Resnais, por exemplo. Tinha lá uma pedra gigante, impressionante e o repórter : “essa é a pedra que caiu na pousada”. Mas é claro que ninguém a colocou lá. Dez segudos de silêncio e somos automaticamente levados e imaginar a violência daquela pedra sobre as coisas e as pessoas que lá estavam. Mas esse tempo o repórter nos sonegou, empobrecendo a informação. E, bem, tolice dizer que imaginação não cabe no jonalismo, tolice desde os anos 1960. Já vi casos bem engraçados, como um que o extinto programa do Reynaldo Gottino falva contra a práica de soltar balões. O apresentador gritava com aquele estilo que mesclava pânico e bronca de chefe de departamento. Não adiantou, as imagens do balão voando eram tão encantadoras que ninguém conseguia dar bola para o falatório histérico. E, quando o balão caiu e queimou, já era tarde demais.
O telejornalismo domina mal a imagem e, não raro, é dominado por ela.
PS. Agora, se a Glória Vanique estiver na frente das câmeras, tudo o mais é perdoável.

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