segunda-feira, 1 de junho de 2009

CINEMA- DESEJO E PERIGO


No momento em que Ang Lee disputava a palma de ouro em Cannes com Taking Woodstock é que chegava aqui ,com inexplicável atraso, Desejo e Perigo, filme de 2007 que levou o Leão de Ouro em Veneza.
A história é simples e já vista várias outras vezes no cinema, até mesmo com grandeza, como no caso de A Espiã, de Paul Verhoeven ; em tempo de guerra mulher se infiltra no covil do inimigo para obter informações privilegiadas a um grupo guerrilheiro . Antes de cumprir a missão, no entanto, apaixona-se pelo inimigo.
Pois bem, a Ang Lee não interessa tanto o local da ação (como interessava,por exemplo, a Verhoeven) ou mesmo sua importância política. A história passa-se em Hong Kong durante o período da ocupação japonesa na China(final da Segunda Guerra,portanto), mas bem poderia ser qualquer outro lugar, qualquer outra guerra, afinal a questão central aqui é a relação “xipófaga” e pulsional entre desejo e morte, essa força misteriosa e incontrolável que é o EROS, contra a qual o indivíduo pouco pode. O sexo,no filme, traz a marca da dor, da agressividade cujo reflexo está na violência visual das cenas quase explícitas. Refúgio de um mundo hostil, esconderijo precário da desgraça inevitável ele não poderia ser sereno, nem plasticamente “belo”.

Há importância fundamental dos vários níveis de interpretação: Wang Jiazhi (Wei Tang) é uma atriz universitária que faz peças de conteúdo político e que, dado seu talento, é escolhida para se tornar amante do Sr. Yee(Tony Leung Chiu Wai) , chefe de polícia do governo colaboracionista chinês, submisso aos japoneses.
O sexo como morte também é fortemente marcado. É em sua primeira relação sexual (quando ela perde a virgindade com um dos guerrilheiros para aprender a se portar como uma boa amante na cama) que morre sua personalidade ( estudante ingênua e carente da figura paterna) para dar a luz à espiã de dupla identidade. Durante o sexo com Yee a espiã também morrerá, para trazer à tona uma mulher desesperada por saber da iminência de seu destino (e de ser incapaz de escapar a ele).
Vale atentar também para a importância dos elementos de cena: a mancha vermelha do batom no copo, que antecipa o sangue porvir, mesma cor e relação existe na pedra do anel que celebra o auge e também a derrocada da escalada cega e vertiginosa dos amantes. Ou a vela que se acende no primeiro encontro dos dois e que remete tanto ao óbvio fogo da paixão que se acende quanto a seu caráter destrutivo, incontrolável e causador de dor.
A primeira cena de Desejo e Perigo é a de um cão pastor alemão. Um cão policial, portanto, que nos diz muito sobre o estado de vigilância em que todos os lados (colaboracionista e guerrilheiro) se encontram e sobre a violência de que são capazes. Mas, como o próprio Sr Yee nos lembra em determinado momento do filme, é também o animal que canta sua tristeza e solidão ao uivar para a lua.
!!!
É um filme que repete alguns temas caros a Ang Lee, principalmente esse descontrole sexual que não se consegue frear nem ante a destruição iminente. Os cowboys de Brokeback Mountain podem estar casados e bem estabelecidos, mas, ante um encontro casual, são incapazes de se conterem, ainda que saibam que tal relacionamento homossexual num oeste moralista e conservador é impossível de ter um final que não seja trágico. Até mesmo em Hulk vemos essa pulsão incontida, do homem que se torna monstro e é caçado por isso. Melhor dizendo, ele não se torna mostro(como versão mais recente), ele apenas liberta o monstro que já havia nele. No meio disso tudo,claro, uma mulher encantadora, Betty Ross.

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