segunda-feira, 22 de junho de 2009

APENAS O FIM


É um caso tão raro, tão de exceção o de Apenas o Fim, filme do diretor estreante Matheus Souza, que chega a assustar. Primeiro: o filme foi feito com pouquíssimo dinheiro(R$ 8.000,00), sem verba vinda de leis de incentivo. Dinheiro via ANCINE (Agência nacional de cinema) só veio depois, na forma de verba extra e quando o filme já estava pronto e premiado(Menção Honrosa no Festival do Rio de 2008).Uma câmera digital ,um punhado de amigos , alguma improvisação e em quinze dos 30 dias de férias da faculdade de cinema já estava tudo filmado.
Segundo: conseguiu chegar aos cinemas, ainda que com poucas cópias(apenas duas salas exibem o filme em São Paulo),coisa que um diretor veterano como Ivan Cardoso tenta sem sucesso já ha dois filmes (“A Marca do Terrir” e “O Lobisomem da Amazônia”).
Terceiro: é feito por jovens e para jovens. O diretor de apenas 19 anos entupiu o longa de referências à cultura pop (quadrinhos, cinema de ação, games, ast food), o que fez com que fosse considerado um filme da “geração Orkut”. A história é simples : a menina decide terminar o namoro e ir embora, mas não diz o por quê nem para onde. A ele resta uma hora de conversa com ela, a qual gastam lavando uma roupa suja (só de leve),relembrando bons momentos e pensando sobre a vida com uma “filosofia” calcada em Star Wars e MacDonalds, enquanto caminham pelo campus da PUC do Rio. Acertou quem se lembrou de Antes do Amanhecer (1995) e Antes do Pôr-do Sol(2004), filmes de Richard Linklater cuja única ação constitui no diálogo quase em tempo real entre dois namorados (ex-namorados no segundo filme).
Os diálogos de Apenas o Fim são de um frescor, de uma vitalidade rara no cinema nacional e quase ausente na TV. Aliás, na tela pequena os jovens vêem a si mesmos através do retrato idiotizado de Malhação.
Curiosamente o filme não foi bem compreendido onde deveria ser, nos sites de cultura pop, que reclamaram da falta de ação ou de reviravolta do filme, mau acostumados que estão com o esquema engessado das superproduções que aportam toda semana no Cinemark. Tempos longos e diálogos soam cansativos aos jovens acostumados à edição frenética de filmes como Transformers.
Por último, vale dizer que no meio de tantas referências ainda há espaço para sensibilidade,no que a ótima dupla de atores Gregório Duvivier e Érica Mader colaboram muito. Ainda que você não seja um nerd que conhece de trás para frente a trilogia Senhor dos Anéis, não vai ficar insensível quando o garoto diz “eu não queria ser como o Tom Bombadill , que tinha a maior importância para os Hobbits mas ficou fora do filme. Eu não queria ser cortado se fizessem um filme da sua vida”.
Se houvesse vida inteligente nos escritórios das redes de TV, a esta hora algum executivo estaria conversando com Matheus Souza e quem sabe teríamos algo como um novo “Confissões de Adolescente”. Mas aí já seria exceção demais à regra; os jovens continuarão com "Mutantes" e "Malhação"
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!!!
Apenas o fim não é um filme perfeito,claro. Apesar de curto (80 min.), parece longo demais para o que tem a dizer;o final ensaia chegar várias vezes, mas o filme se prolonga, perdendo a chance de acabar de maneira mais inspirada. A divisão da tela (já quase no final), com dois acontecimentos distintos mostrados simultaneamente, destoa do tom adotado até então e parece despropositada, fora do lugar. Já a direção dá atenção demais ao texto e de menos à imagem; sobram palavras, faltam momentos de silêncio. Para o bem e para o mal, acaba por vezes parecendo um espiódio sério da série de TV Seinfeld- e nesse caso 80 minutos é muito tempo. Mas nada disso compromete o prazer enorme que se tem ao assistir a esse filme,muito menos seu caráter de excessão. Filme jovem no Brasil não existe desde a chamada geração BRock, nos anos 1980. Naquela época filmava-se namoros, praia, "azaração" como se dizia então, em tramas despretenciosas estreladas por astros juvenis e com trilha sonora afinada ao gosto jovem da época. "Menino do Rio", "Rádio Pirata" e tantos outros são bons exemplos dessa época.
Vale só como exemplo e comparação, até por que nenhum deles valia grande coisa (nem se sustenta quando visto hoje)o que não é o caso de "Apenas o Fim".
Até quinta feira (25) o filme estará em cartaz na sala 3 do Espaço Unibanco às 14h50, 16h40, 20h20 e 22h10. Na sala Cândido Portinari ,do HSBC Belas Artes, passa às 16h10,18h e 19h50.

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