Podem preparar os trocadilhos : Piada cultural, Zicada Cultural, Vira-Vira Cultural e etc. Mas o caso é que diante da absurda demonstração de incivilidade dos frequentadores da Virada Cultural, algumas questões se apresentam e muitos comentários se fazem necessários.
- A prefeitura promove este evento sob a bandeira da recuperação do centro paulisano, da retomada dele pela população que, durante a noite, fugia dele em busca de locais mais seguros e menos insalubres. E sempre pareceu consenso de que um dos grandes problemas eram os moradores de rua, que transformavam as calçadas e os prédios históricos em latrinas a céu aberto. Pois bem, o que foi que a população, esta a quem a prefeitura "devolveu" o centro, fez ? Exatamente o mesmo. Ainda que o número de banheiros químicos tenha quase triplicado (350 no ano passado contra 900 este ano) e não se esperasse mais do que 2 ou 3 minutos para fazwer uso de algum deles, o que se viu foram pessoas vomitando e urinando nas ruas.
- Nèstor Garcia Canclini, sociólogo argentino radicado no México(espero que não esteja gripado a essa hora) é quem diz que nós, Latino-Americanos não vemos no Estado um protetor(como os europeus) nem um protegido (como os norte-americanos) mas sim uma espécie de hotel, de quem exigimos um bom serviço, mas não nos preocupamos em deixar em ordem aquilo que desarrumamos. Ao hotel cabe limpar nossa sujeira sem reclamar. Isso seria herança tanto do comportamento das tribos nômades como da colonização hispânica, que retirava o que preisava, destruía o que estivesse em seu aminho e retornava à metrópole onde, aí sim, cuidavasse com zelo. As pessoas trataram o entro da cidade como a um hotel vagabundo, sem o menor respeito e não dispensaram a ele nem uma parcela do cuidado que têm para com suas casas.
Falta ao povo(de qualquer classe, e bom que se diga) a compreensão do que é Bem Público.
- Em momentos como este vemos o tamanho da demagogia que é falar mal da classe política. De onde vêm os políticos, afinal ? De outro planeta ? O que eles fazem com tanta frequência não difere em essência da atitude predatórias de muitos dos frequentadores da Viarada Cultural. Ou seja, ignora-se por completo duas noções: a de coisa pública e a de Cidadão, sujeito dotado tanto de direitos (que ele exige) quanto de deveres(que ele finge que não existem). A Cultura é um direito do cidadão, mas tratar a cidade e seu patrimônio (histórico ou não) com respeito é um dever que foi violentamente ignorado.
- A cultura é privilégio da civilização. O poder público ofereceu cultura, mas não reebeu atitude civilizada em troca.
- A justa indignação de alguns cidadãos já começa a se manifestar na forma de um protesto que sugere, ou extinguir de vez o evento, ou diminuí-lo. Não cabe a mim dar sugestões mas, otimista incorrigível que sou, acho que é preciso tempo para que um comportamento minimamente mais educado se instaure. Talvez este seja um evento jovem demais para que a essa parte da população (de todas as classes sociais é bom repetir) aprenda a lidar com ele.
Essas pessoas todas têm acesso à educação - o que não ocorre, por exemplo, com muitos moradores de rua- o que nos faz pensar no papel das escolas que talvez seja dedicado demais a ensinar fórmulas e normas e faça muito pouco para ormar cidadãos.
- No entanto é preciso levar em conta fatores como a ausência de lixeiras e o número insuficiente de varredores (mas ninguém parece disposto a segurar um pedaço de papel sequer). O gigantesco número de pessoas (estimado em 4 milhões) potencializa o efeito dos maus cidadãos. Ou seja, ainda que apenas 5 % das pessoas seja autênticos porcalhões o efeito é a copleta imundície. E, ao ver que a sujeira se espalhar, quem não pensava em sujar acaba pouco se importando.
Outros pontos como a proximidade entre os palcos precisam ser revistos também.
- O evento serve como aula de civilidade, pois estimula o debate sobre todas essas questões e possibilita aos frequentadores a repensar seu status de cidadãos. Que os desconentes se façam ouvir.
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