segunda-feira, 11 de maio de 2009

VALSA COM BASHIR E AS MUITAS VERDADES POSSÍVEIS


O Papa Bento 16 se manifestou publicamente ontem ,durante visita a Israel, contrário ao anti-semitismo.
Que a logo a Igreja Católica se diga contrária ao anti-semitismo soa tristemente engraçado. Da crucificação de Cristo à Peste Negra, para Roma tudo sempre foi culpa dos judeus. Os chamados cristão-novos , judeus convertidos, eram sempre punidos por quaisquer motivos. Tamanho espírito de irmandade nasce de uma fé inabalável na atual geopolítica e na fundamental oposição ao mundo islâmico.
Bento 16 bem poderia assistir a Valsa com Bashir, animação israelense vencedora do Globo de Ouro e indicada ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2009 e aproveitar para condenar o tratamento de Israel aos palestinos.

!!!
O filme de Ari Folman (que também existe em formato de HQ, lançada pela LP&M) parte dos lapsos de memória do diretor sobre sua participação na Guerra do Líbano em 1982, mais especificamente no massacre de milhares de civis palestinos levado a cabo por milícias cristãs e pelo exército israelense em retaliação à morte do presidente Libanês Bashir ,vítima de terroristas islâmicos. Se seve para conhecermos aquilo que Bento 16 não se interessa por ver (ou mostrar), Valsa com Bashir é também útil para questionar o documentário, esse veículo que,nas mãos de sujeitos como Michael Moore ou de qualquer repórter da Globo, é capaz de nos trazer certezas as mais absolutas e um mundo cuja ordem é facilmente compreensível.
A animação, por outro lado, envereda por outro caminho, mais escuro, sinuoso e cheio de ciladas: o, da memória duvidosa. Para isso Folman entrevista pessoas que também estiveram presentes noc onflito, seja como soldados, seja como jornalistas.
Muito importante foi a técnica usada; a subjetividade do documentarista que não confia nem na própria memória se reflete na opção pelo desenho, (algumas vezes é ultra detalhado, outras vezes bastante sintético)que pela própria natureza se recusa a apreender a realidade, tentação difícil (mas não impossível) de contornar no cinema. Um documentário típico traria além das entrevistas, dados técnicos (números de mortos, eventos que levaram ao conflito, etc) e uma conclusão, disfarçada na fala de um entrevistado, geralmente o último e embalada por uma música que desse o clima adequado à reflexão do espectador. Mas não, nada disso lhe interessa. A Verdade da guerra é grande demais, violenta demais para ser domesticada por números ou por uma dramatização, ou ainda por entrevistas e fotos. Ao assumir a maior das subjetividades (desconfiar de si mesmo) e lançar-se muitas vezes no delírio dos pesadelos surgidos anos depois do conflito, Folman nos traga para esse turbilhão de violência que, ao final (aí sim com imagens jornalísticas, que ganham corpo que não teriam numa reportagem comum) vira nosso estômago e nos faz perguntar: para quê toda essa violência ?


Valsa com Bashir ainda está em cartaz no cinema HSBC Bleas Artes , Sala Aleijadinho apenas às 18h50.O ingresso inteiro custa de R$ 16,00 à R$ 8,00(quartas-feiras). Às segundas-feiras quem apresentar carteira de trabalho ou outro comprovante também paga R$ 8,00.

Um comentário:

Daniel Luppi disse...

mais um dos vários que perdi nesse ano de pouca arte para mim... Paciência!