segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

100 BALAS, VOL.7

Acaba de chegar às bancas o Vol.8 de 100 Balas. este texto,claro, trata do volume anterior, publicado em outubro do ano passado, mas cujas histórias prosseguem no volume atual.


Escrita. Boa.Pra. Caralho”. É desta maneira, enfática e praticamente impublicável, que o premiado roteirista americano Greg Rucka, autor de Whiteout e Gothan City contra o Crime,define, na introdução do sétimo volume da série 100 Balas, o trabalho da dupla Brian Azzarello e Eduardo Risso.Para Rucka, trata-se de literatura o que Azzarello e Risso fazem, dada a incapacidade dos rótulos e gêneros (pós-noir, policial, ação) darem conta de 100 Balas. É claro que é uma bobagem(são artes diferentes, ora bolas) mas dá pista da empolgação que toma o leitor, mesmo quando ele é um artista experimentado como o americano.

O que Greg Rucka diz de mais interessante é que o desenhista argentino Eduardo Risso é também autor da série, o que é quase inédito numa arte em que o desenhista é muitas vezes mero artesão das idéias do roteirista. E ele está certíssimo em afirmar isso.

O que são aqueles rostos, aqueles corpos e aquelas expressões? Ligue a Tv e você verá que nem dez por centos dos atores hoje em dia são capazes as nuances, da profundidade de alma que o traço de Risso é capaz de trazer à superfície do papel.

Seus cenários são pulsantes como eram os do cinema americano dos anos 1970. Personagens meramente coadjuvantes tem vida (no sentido mais amplo)e personalidade, não estão ali meramente para compor uma cena. Flagramos trivialidades o tempo todo que são insights , relances de vidas que nunca conheceremos .

Risso é , em si, um uma equipe inteira de cinema(direção, figurino, fotografia, direção de atores) tamanha a complexidade de seu trabalho, simples só na aparência. Mas ele é ainda mais.

Em dado momento, em um clube de jazz, a figura (estática,porque desenhada)de um saxofonista serve para separar os quadros,criar uma atmosfera e demonstrar a passagem do tempo. Isso demonstra o calibre de seu talento como quadrinista.

Sobre a arte de Azzarello em construir tramas e personagens é melhor não dizer nada aqui, afinal Rucka fala muito,e bem, em seu texto.

Pouco importa se a esta altura (que corresponde aos números 37 a 42 da série original) se você não sabe nada sobre os tais Minutemen ou o misterioso cartel ou o que fez o agente Graves. 100 Balas é quadrinhos em estado de glória e deve ser visto,lido e experimentado como a grande arte que é.


















quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

ADEUS A WANDO E ETTA JAMES


Morreu Wando, que não foi o cantor das multidões, nem popstar, mas cantor de multidões, muitas delas não confessas. Dizer que alguém é  "meu iá iá,meu io io" não é pra qualquer um. Wando era a cara do Brasil, mas não essa cara que quer entrar pela porta da frente no tal primeiro mundo, com cabelo alisado de chapinha e corpo contruído em laboratório. Era beiçudo,"cabelo-ruim", miscigenado. Brasileiro,enfim. E de xaveco sem vergonha, terno barato, "macho jurubeba", pra usar uma expressão do Xico Sá. Wando morre numa época que o renega (mais do que sua música, seu biotipo e tudo que ele significa) e que recentemente só o acolhia no confortável gueto dos "cantores bregas".Seja lá o que isso signifique.


Morreu Etta James. A primeira vez que soube de sua existência, se não me engano, foi num programa de jazz na Bandeirantes apresentado pelo Nelson Motta, lá na década de 1990. Era um Montreux Festival onde uma figura gorducha esparramava sobre o público mais sexualidade do que Beyoncé,Rihanna e outras malhadas jamais serão capazes.

Seu rebolado não era calculado pela coreografia milimétrica, mas pela empolgação genuína. Virava o traseiro para a platéia enquanto  apoiava as mão sobre um piano. Era, como dizia muita gente nos EUA, indecente. A típica dona de bordel à beira da estrada(ou pelo menos como é no imaginário coletivo), figura renegada pelo puritanismo obscurantista em que  mergulhou os EUA e também por esse culto obssessivo pela forma física em detrimento da arte, pela embalagem que fere de morte o conteúdo.
Etta começou na Chess records boazinha, cantando músicas em que uma moça sofre porque vê o amado casar com outra("Stop the Wedding", 1962e "All I do was cry",1960), mas logo foi ficando peralta, falando em striptease(You can leave your hat on,1973) afirmação sexual (Tell Mama,1967) e coisas bem mais barra-pesadas,como racismo(Lets Burn down the cornfield,1974) e niilismo (God´s Song, 1973).

 
 Seu vozeirão poderoso, quase masculino, era, para mim, comparável ao de Aretha Franklin no panteão da soul music. Aliás, eu( e,acredito, só eu) via nas duas algo comparável à rivalidade "Beatles vs Rolling Stones". Aretha de certa forma comportadada , mas cujo ponto de virada foi tornar sua canções mais complexas musicalmente(quando flertou com o funk e o jazz ao lado de Quincy Jones)  e Etta, aquela que se aperfeiçoou em ser uma besta-fera,uma pedra que rola morro abaixo(rolling stones gather no moss!). Fera que o perfeccionimo "artístico" (mercadológico)fez questão de domesticar e transformar nessas atletas de microfone que pulam nos palcos mundo afora.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

CINECLUBE GAMBALAIA- 27/01


Quando éramos Reis (When we were Kings), 1996- 89 min.. Dir. Leon Gast



"Dane-se a América e oque a América pensa. Eu moro na América,mas a África é a casa do homem negro.Eu era escravo quatrocentos anos atrás e estou voltando para casa para lutar com meus irmãos"

- Muhammad Ali



Sexta-feira, dia 27, às 21h, o Cineclube Gambalaia faz uma homenagem ao boxeador Muhammad Ali, que recentemente completou 70 anos e é considerado o maior atleta do século 20 pela Sports Illustrade.
Oscar de melhor documentário em 1997, "Quando éramos Reis" permanece absurdamente inédito em DVD no Brasil.

É sua oportunidade de assitir um raro momento na História em que esporte ,arte, política e mobilização social andavam juntos.


Em 1974 Muhammad Ali, símbolo da luta pelos direito civis e ícone do orgulho negro, buscava reconquistar o cinturão que lhe havia sido tomado quando se recusou a combater no Vietnã, trêas anos antes."Nenhum vietcongue jamais me chamou de preto", afirmou na época.


Para isso ele vai a Kinshasa, no Zaire, enfrentar o jovem e invencível George Foreman, adorado pela américa branca, ao mesmo tempo em que busca por suas origens e por seu povo.


Como complemento exibiremos cenas do documentário "Soul Power", que mostra as apresentaçãos de James Brown, B.B King e outros ídolos da soul music e do blues no festival de Kinshasa, realizado como parte das comemorações em torno do combate.


Haverá também leitura de trechos de uma das mais célebres obras do new journalism, "A Luta", de Norman Mailer, que acompanhou tudo ao lado de Ali.

E quem chegar mais cedo vai curtir muita soul music no nosso tocacedês.

É isso.

Esperamos por vocês !


Espaço Cultural Gambalaia

R das Monções, 1018, Centro, Santo André- SP
gambalaia@hotmail.com

(11)4316-1726

http://www.gambalaia.com.br/









terça-feira, 24 de janeiro de 2012

A MEGA CENA E A LUIZA (QUE VOLTOU DO CANADÁ)

Dois mil e doze mal começou e já temos um forte candidato a mico do ano, a (falsa) história da mega grávida. Ano passado um comediante (na falta de outra atribuição) Amin Khader, pregou uma peça no jornalismo de fofoca, plantando a informação de que tinha morrido. Entre os que tiveram a reputação chamuscada ninguém deve ter sentido mais que Celso Zuccatelli, outrora apresentador do respeitado Jornal da Cultura, hoje apresentador de programa de variedades. Se de Sônia Abrão e seus comparsas não se pode esperar grande coisa, pelo menos de Zucatelli se imaginaria aquilo que po professor ensina na primeira aula de introdução ao jornalismo em qualquer faculdade(boa ou ruim): cheque a veracidade da informação.

E não é que agora o trote pegou todo mundo, de cabo a rabo, na imprensa brasileira? Não houve quem,antes de 16 de janeiro, duvidasse que a professora de barriga descomunal estivesse mentindo. Mesmo que seu corpo mostrasse não ter inchado na mesma proporçõ da barriga,mesmo que ela andasse sem esforço e sem inclinar o tronco para trás(como pede a Lei da Gravidade),mesmo que sua barriga começasse na altura dos seios(qe não eram os de ma grávida).

Não digo nada disso só agora depois que a farsa foi descoberta, apenas repito o que já dizia minha mãe, logo que a mega-grávida de Taubaté apareceu na TV.

Agora aparecem vizinhos que já desconfiavam de tudo, um médico que revelou a mentira e o testemunho que poderia dar boa pista: ela se mudara recentemente. Ora , por que ninguém disse nada antes? Simples:porque ninguém perguntou.

O que me parece claro é que a necessidade de entreter, de entregar um show, um espetáculo(showrnalismo, pra usar a expressão de José Arbex Jr)  suplantou de vez o rigor da notícia. Todo mundo agora é NP(Notícias Populares) saudoso jornal que  não tinha pudor em noticiar o nascimento de um bebê diabo.


Carlos Nascimento ralhou ao vivo, mas isso não suficiente  pra tirar o brilho da bonitinha Luiza(aquela que estava no Canadá), única criatura capaz de ofuscar outro fogo fatuo da internet, Michel Teló. Agora volta e meia aparece um especialista em alguma coisa tentando entender o fenômeno. Não sou especialista em coisa alguma, mas ouço constantemente que as noções de privacidade mudaram(ou se extiguiram, dependendo da abordagem), que as fotos, antes restritas ao ambiente doméstico, reservadas a membros da família, agora só se realizam na esfera pública, ao estarem aos olhos de todos.
Não me parece outra coisa essa mania pela Luiza. Sabe quando algum primo fala uma bobagem numa festa, ou um amigo mistura ditados("isso vai dar farinha pra manga") e aí todo mundo começa a repetir? Pois é, na minha opinião é apenas a transposição daquilo que é da espera privada para a pública, praticaente sem limite de alcance, até porque afora tudo é uma coisa só(o primo falando bobagem pode parar no youtube,coitado).
Agora quando um telejornal,no melhor estilo Big Brother, mobiliza sua redação para receber uma garota alçada involuntariamente à fama
por um propaganda desastrada feita por seu pai, aí a gente entede o motivo da mega grávida ter enganado a todos. O que importa é fazer parte da cena. The show must go on !

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

ALI


"Dane-se  América e o que a America pensa. Eu moro na América,mas a África é a casa do homem negro. Eu era escravo quatrocentos anos atrás e estou voltando para lutar com  meus irmãos"

"Você olha para a miss america ou para o mister america e vê branco. Olha para a miss mundo e vê branco.Olha parao Tarzan,que é o rei das selvas e vê branco".

"Por que me pedem que eu vista uma farda e vá a um local a 15 mil Km de distância atirar bombas e balas no povo pardo o Vietnã enquanto os chamados negros do de Loiusville são tratados como cães e lhes negam os direitos humanos? Não,não vou a um local a 15 mil Km de distãncia para ajudar a matar e queimar outra pobr nação só para continuar o domínio dos senhores brancos de escravos sobre as pessoas mais escuras do mundo. Chegou o dia em que tais maldades tem de acabar"

"As pessoas dizem que eu sou arrogante, algumas dizem que preciso de uma boa surra.Mas eu vou chegar onde tiver de chegar."

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

TAL FILHO,TAL PAI



Ontem estava lá no programa Metrópolis, da TV Cultura, Daniela Mercury, dando entrevista e cantando ao vivo acompanhada de três músicos.
Daniela  perdeu faz tempo o estigma de cantora de multidões(hoje com Ivete Sangalo e Cláudia Leite) e vira e mexe busca novas identidades, como foi o caso do polêmico Trio Eletrônico, em que colocou música eletrônica em seu trio eleétrico  alguns canavais atrás.

Dessa vez ela flerta abertamente com a tal da "seriedade"  e  com a  "profundidade". Lançou um disco com três capas diferentes, casa um deles contendo as mesmas músicas,porém em ordens diversas.
Juro que não entendi a justificativa dela e,creio,nem Cadão Volpato, o entrevistador,entendeu chongas. Mas era algo como mostrar ao público as difersas facetas dela, músicas de diversos tipos, mais lentas, com , sei lá, diferentes interpretações. Enfim, depois de "explicar" a coisa toda,ela anunciou, toda pimpona, que havia neste disco, uma versão de "Como nossos pais", do Belchior(?!?!?),eternizada na voz de Elis Regina . Daniela explicou, de um jeito que eu também não entendi(não foi culpa dela, eu é que estava mastigando sucrilhos na hora), a atualidade da música. Atualidade ou importância, ou algo por aí.

O diabo é que essa é certamente a música mais desatualizada, ultrapassada  e atualmente sem sentido do Brasil. Depois,talvez, de Eu te Amo,meu Brasil,"hino" involuntário da ditadura militar feita pela dupla   Don e Ravel. Porque Como nossos Pais fala de um mundo que nascia, o dos jovens e que buscava,não sem conflito, o direito de existir. E hoje, não tem o menor cabimento cantar que

Ainda somos os mesmos

E vivemos

Como os nossos pais...

Uma ova! Hoje,acho que ninguém se surpreende quando  eu digo, são nossos pais que vivem como nós, a "gente jovem reunida". São eles que, não sem conflito, buscam espaço no "nosso"mundo da revolução tecnológica, das redes sociais  e até dos "amores líquidos"(pra usar uma expressão do filósofo Zygmunt Bauman).
No artigo"Como se relacionam as gerações na sociedade Contemporânea" escrito para a Revista E, de novembro de 2010(nº5-ano17)a professora Vera Lucia Valsecchi de Almeida citou trecho do livro "Tempo da Memória: De Senectude e outros escritos biográficos", de Norberto Bobbio (Editora  Campus,1997):

"(...) as transformações cada vez mais  rápidas, quer dos costumes,quer das artes,viraram de cabeça para baixo o relacionamento entre quem sabbe e quem não sabe.Cada vez mais,o velho passa a ser aquele que não sabe em relação aos jovens que sabem".

Mas para alguém que, em tempos de itunes, lança três versõs do mesmo disco em que o diferencial é a capa e a sequência das músicas (sequência????) Como nossos Pais ainda deve fazer todo sentido do mundo.



Não quero lhe falar,



Meu grande amor,


Das coisas que aprendi


Nos discos...






Quero lhe contar como eu vivi


E tudo o que aconteceu comigo


Viver é melhor que sonhar


Eu sei que o amor


É uma coisa boa


Mas também sei


Que qualquer canto


É menor do que a vida


De qualquer pessoa...






Por isso cuidado meu bem


Há perigo na esquina


Eles venceram e o sinal


Está fechado prá nós


Que somos jovens...






Para abraçar seu irmão


E beijar sua menina na rua


É que se fez o seu braço,


O seu lábio e a sua voz...






Você me pergunta


Pela minha paixão


Digo que estou encantada


Como uma nova invenção


Eu vou ficar nesta cidade


Não vou voltar pro sertão


Pois vejo vir vindo no vento


Cheiro de nova estação


Eu sei de tudo na ferida viva


Do meu coração...






Já faz tempo


Eu vi você na rua


Cabelo ao vento


Gente jovem reunida


Na parede da memória


Essa lembrança


É o quadro que dói mais...






Minha dor é perceber


Que apesar de termos


Feito tudo o que fizemos


Ainda somos os mesmos


E vivemos


Ainda somos os mesmos


E vivemos


Como os nossos pais...






Nossos ídolos


Ainda são os mesmos


E as aparências


Não enganam não


Você diz que depois deles


Não apareceu mais ninguém


Você pode até dizer


Que eu tô por fora


Ou então


Que eu tô inventando...






Mas é você


Que ama o passado


E que não vê


É você


Que ama o passado


E que não vê


Que o novo sempre vem...






Hoje eu sei


Que quem me deu a idéia


De uma nova consciência


E juventude


Tá em casa


Guardado por Deus


Contando vil metal...






Minha dor é perceber


Que apesar de termos


Feito tudo, tudo,


Tudo o que fizemos


Nós ainda somos


Os mesmos e vivemos


Ainda somos


Os mesmos e vivemos


Ainda somos


Os mesmos e vivemos


Como os nossos pais...

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A ARTE CENSURADA PELO MARKETING


Em matéria de Silas Martí, no caderno Ilustrada da Folha de São Paulo de 29/11 , ficamos sabendo que o Centro Cultural Oi Futuro, “bancado” pela empresa de telefonia Oi ,vetou a exposição de fotografias e vídeos da norte-americana Nan Goldin que estava marcada para estrear em janeiro no espaço carioca. Vetou porque considerou de mau gosto e ofensivo o material que continha fotos de adultos fazendo sexo ao lado de crianças ou uso de drogas e nudez. Segundo o comunicado, as obras vão contra os “os programas educacionais” apoiados por eles e que seguem “os preceitos do Estatuto da Criança e do Adolescente”.

O palavrório é só mais uma prova da profunda anemia intelectual dessa gente que detém o dinheiro e que “banca” o que você e eu temos o direito de ver exposto, seja numa galeria, museu, cinema ou teatro. Digo “banca” porque eles não fazem muito mais do que direcionar o dinheiro que deveria ir para os impostos através de leis de incentivo e lucrar muito com isso. Quase nada sai realmente dos bolsos deles. E,no fim das contas, é tudo uma questão de Imagem(Santo Baudrillard, rogai por nós!). Manter um espaço cultural agrega inteligência, vanguarda, modernidade,beleza e outras abstrações que os consumidores associam a arte e que transferem diretamente à imagem da marca. Programas educacionais mostram que eles não estão só interessados em esfolar os clientes mas estão preocupados, veja só, com nosso “futuro”. Sacou? E o mesmo bla bla bla vale para a tal da “sustentabilidade”.

Hoje a coisa é mais ou menos regulada, porque o Estado é quem aprova quais projetos culturais estão aptos a serem s beneficiados pela Lei Rouanet (a que permite a destinação de parcela do Imposto de Renda)e assim financiados pela iniciativa privada que pode escolher entre eles. Como quem decide o que é, ou não,  art,e é um engravatado com gel no cabelo que não entende nada do assunto, mas sim de marketing,  temos essa daltonismo mental que não diferencia uma coisa de outra e que permite, quando lhe convir, largar a arte às traças (com o HSBC fez com o Cine BelasArtes) para ir fazer propaganda com outra coisa qualquer. E dá-lhe todo mundo querendo financiar o Chico Buarque, a Maria Bethania e o Cirque Du Solei, porque,afinal, que não quer sua marca colada à imagem deles.

É uma pena, porque quem viu The Ballad of Love Dependency , de Nan Goudin, na última Bienal sabe que a nudez ali não tem essa conotação pornográfica que os engravatados retrógrados lhe atribuem. Sua obra tem a força de um soco no estômago, mas dado com toda ternura.

Lucidez absurda teve Hemingway quando, no autobiográfico Paris é uma Festa, escreveu a propósito de seus primeiros anos como escritor em contato com os muito ricos:

Quando exclamavam: “está ótimo, heim! Excelente!Você nem calcula a força que ele tem!”, eu me punha a abanar o rabo,de tanta felicidade,e me entregava àquela vida de prazeres,como se fosse apanhar uma vara que tivessem atirado para seu cachorro buscar,em vez de refletir:”Se esses cretinos gostaram do que escrevi,devo ter cometido um erro qualquer”.

***
Existe atualmente uma proposta para mudar a Lei Rouanet e, de uma tacada, tirar o poder de decisão que hoje fica nas mãos da iniciativa privada e corrigir a distorção  absurda que permite a concentração de 80  % dos recursos no eixo  rio-São Paulo. É o ProCultura, projeto de Lei o qual a iniciativa privada,como é de se imaginar, não vê com bons olhos.
A íntegra do projeto,que é de fevereiro de 2010,  está aqui:
http://www.cultura.gov.br/site/2010/02/03/74194/


sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O QUE QUEREM OS BADERNEIROS DA USP? -2


A excelente publicação Le  Monde Diplomatic Brasil, em sua edição de número 50(setembro) trouxe excelente artigo do escritor Owen Jones, A Moral Britânica contra a  "Escória"  que trata do modo como  foi retratada , na midia britânica, a revolta juvenil que tomou as ruas de inglesas em agosto deste ano ,bem como as reais causas dos ataques. É um texto  que serve para compararmos com a repercussão  que teve a revolta dos alunos da FFLCH na opinião pública brasileira.

A destruição de lojas e outras depredações quase aleatórias tornou os  jovens ingleses antipáticos à opinião pública mundo afora, que viu nos atos  nada além de vandalismo, causados "pelo uso excessivo de drogas" pela decadência  moral e a perda de valores familiares, sem jamais buscar entendê-los de outra forma. E,claro, saudou-se a repressão policial violenta ao  "bando de animais ferozes"(termo que ficou comum no Twitter). O jornalista Richard Littlejohn, do DailyMail , um pouco menos comedido que os os colegas brasileiros, sugeriu "matá-los a pancadas como filhotes de foca" . 

Não vou tratar o leitor por tonto e  ficar estabelecendo comparações e paralelos (são situações bastante diferentes) apenas digo que lá,como cá, havia muito mais do que era dito nos meios de comunicação. Transcrevo trechos deste, e também de outro artigo, publicado na mesma edição e intitulado Geração sem Futuro, de autoria de  Ignacio Ramonet, jornalista, sociólogo e diretor da versão espanhola do Diplomatic.

"Em Tottenhan,onde começaram os levantes, há 34 candidatos para cada posto de trabalho. A imensa maioria dos postulantes possui menos  de 24 anos e está desempregada.Parece tão surpreendente que justamente essa população sem emprego,carreira ou auto-estima- e não a dos bairros abastados-tenha se envolvido nos levantes de agosto?     Certamente pobreza e desemprego não conduzem à pilhagem e à violência, mas basta alguns  poucos manifestantes para detonar a bomba-relógio de um bairro pobre"
                                                                                                                                 - Owen Jones


Hoje é diferente (de 1968 - Nota de transcrição).  O mundo está pior  e as esperanças esmoeceram. Pela primeira vez em um século,na Europa,  as  novas gerações têm um nível de vida inferior  ao de seus pais. O processo globalizador neoliberal brutaliza os povos,humilha os cidadãos e despoja os jovens de um futuro.
E  a crise financeira,  com suas ´soluções´de austeride contra a classe média e os mais humildes,piora o mal-estar geral.Os Estados democráticos estão renegando os  próprio valores.em tais circunstâncias, a  submissão e o aacatamento da ordem são absurdos.(...) 

A impetuosa explosão inglesa se diferencia dos outros  protestos juvenis-em geral pacíficos embora com enfrentamentos pontuais em Atenas, Santiago e outras capitais-pelo grau de violência utilizado. (...)os amotinados ingleses, talvez pelo pertencimento de classe, não verbalizaram seu descontentamento. Nem colocaram seu furor a serviço de uma causa política ou da denúncia da desigualdade concreta.Nessa guerrilha urbana, nem sequer saquearam os  bancos com ira sistemática. Deram a (lamentável)impressão de que a raiva pela condição de despossuídos e frustrados tinha como único foco as vitrines repletas de benesses do mundo do consumo.  De qualquer forma,como taantos outros  ´indignado´esses esquecidos pelo sisttema-que já não pode oferecer-lhes um lugar na sociedade,um futuro-  expressavam o desespero".
                                                                                                                                 - Ignacio Ramonet

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O QUE QUEREM OS BADERNEIROS DA USP? -1 (atualizado)


 

O título da postagem, explico logo, é uma provocação . Vamos tratar de reconhecer quem é quem na artilharia.

Será que é a imprensa que informa pouco e mal quando se trata de casos em que um julgamento se forma rápido e facilmente(nesse caso o tal julgamento parece até óbvio)?
 Os fatos(base da matéria jornalística) não parecem permitir ambiguidade e nos empurram ao julgamento fácil ; dois ou três  jovens são detidos no campus fumando maconha e encaminhados para a delegacia, onde assinam um termo circunstancial e são liberados. Não houve , que se saiba,  queixa alguma de excesso por parte da polícia naquele momento. Os alunos tomam uma posição num primeiro momento claramente indefensável (porque por motivo fútil- o desejo de fumar maconha no campus sem serem incomodados) ao invadir a reitoria em protesto à prisão dos colegas.  Uma assembléia estudantil determina o fim da invasão  mas a minoria derrotada se recusa a sair  até que chega a polícia e todo seu aparato espetaculoso para retirá-los de lá.

No Bom Dia Brasil, Chico Pinheiro lamenta a ação da polícia para retirar os alunos  da reitoria,  mas apenas porque "os policiais poderiam estar em outro lugar, fazendo um trabalho mais necessário"(cito de memória)Entenda-se: ao invés de dar umas palmadas em moleque mimado . Não muito diferente da opinião de Vinicius Mota e Luiz Felipe Pondé, ambos da Folha de São Paulo.

O primeiro chama os jovens de "grupelhos semialfabetizados e violentos" que querem estar "livre para o uso de drogas na Ciddade Universitária" o que "significa liberá-la para o tráfico, sem o qual não há consumo- e o tráfico não existe sem crimes conexos,como homicídios".  A polícia, para ele, é "a força legítima que mantém a ordem na democracia"( Os Bebês da USP- Opinião, 07/11/11).

O segundo acredita que "a diferença entre eles" , os "os baderneiros que invadiram a Faculdade de Filosofia da Usp" e a "última geração revolucionária de fato (Fidel Castro e Che Guevara) é  que enquanto los hermanos de Cuba enfrentaram inimigos à bala,essa moçadinha que  acha que ´todas as diferenças podem conviver lado a lado´ (até a primeira briga de ciúme entre dois caras pela menina mais gostosa do grupo,aliás,coisa rara nesse meio),ao primeiro tiro correria para casa para brincar com o seu iPad"(Geração Capitão Planeta- Ilustrada, 08/11/11).

Via Twitter, a âncora da rádio Estadão-ESPN, jornalista Mia Bruscato, disse que "E, se eu escrevesse tudo o que penso desse episódio todo na USP... quem ia presa era eu, provavelmente. Deixa pra lá".

Parece fácil atipatizar com os estudantes. Fácil demais para não se desconfiar de que falta uma ou mesmo várias peças nessa história. Só quem nunca pisou na USP não sabe que as pichações "Fora PM do Campus" não são de hoje. Fora por quê?  Não nos dizem. Ou melhor, demoraram a dizer. A Estadão  ESPN entrevistou, só ontem, representantes dos sindicatos dos funcionários da USP. Mas, peraí... funcionários? Então tem mais coisa aí nessa história, não é mesmo?- é bom dizer, antes que pedras voem na  janela da minha casa, que entender os motivos da revolta dos alunos  não significa de modo algum concordar com eles. É apenas pedir pela informação completa ao invés de opiniões de  boteco.E aí,sim, formular uma opinião.

A coisa toda tem a ver com uma postura de oposição ao reitor da USP, a acusações de corrupção deste feitas pelos alunos, à reivindicação para que se crie uma polícia universitária(que faria o patrulhamento no lugar da PM e sua postura truculenta e opressora) , ao fato de a USP ser uma autarquia ,e muitas outras coisas. Não é só para fumar maconha sem ser incomodados. Que se repudie a depredação, a invasão após derrota demcrática na assembléia  e mesmo o discurso esquerdista caduco, ok. Que se ache que todas as reivindicações são idiotas, afinal polícia universitária não existe em lugar nenhum do mundo(o que não quer dizer que não possa existir, mas pouco poderia frente a bandidos armados), é justo. Que se considere pertinente a presença da PM no Capus, em face do crescente número de assaltos, estupros e até assassinatos, é bem compreensível também.

Mas antes de se falar em iPad e semianalfabetismo, é bom  saber o que ocorre de fato.

Um vácuo de informação ocorreu também em casos quase idênticos, os protestos estudantis do Chile e os recentes atos de vandalismo na Inglaterra, onde jovens da periferia  londrina incendiavam carros e destruíam lojas sem motivo aparente.
Mas isso fica pra próxima postagem.

***
atualização
É minha querida Olga Defavari quem avisa que, antes da rádio Estadão, a GloboNews(sempre um exemplo de bom jornalismo) já havia dado voz (que não ecoou na TV aberta) ao  outro lado da questão. Falou-se,entre outras coisas, que a  PM revista alunos na entrada da biblioteca e reprime namoros homossexuais. E que outro pnto do prootesto foi a imposição à revelia, pelo  governador do Estado,de um reitor que orna sua sala com tapetes que custariam R$ 35 mil .

terça-feira, 8 de novembro de 2011

A PELE QUE HABITO



Algumas postagens atrás  , para tratar da falsa polêmica do #sandyfazanal, escrevi mal e porcamente sobre Jean Baudrillard e sua concepção de hiper-real, de sociedade da imagem e etc.
Baudrillard foi cantado como a inspiração maior para a concepção dos três filmes da série  Matrix pelos próprios diretores, os irmãos Wachowski, bobagem comprada por jornalistas e  professores de filosofia de meia-pataca mundo afora e que o próprio Baudrillard fez questão de desmentir.

Pode não ter a ver diretamente com as teorias do filósofo francês, mas as questões que envolvem identidade e imagem e o conflito contemporâneo entre elas (existe,afinal de contas, a tal identidade?) estão muito mais presentes no novo filme de Pedro Almodóvar, A Pele que Habito, do que na trilogia norte-americana.  Almodóvar trata essa problemática à sua maneira sanguínea, nos apresentando a tranformação do interno (a identidade)  pela tranfiguração do externo(a pele), via transsexualismo.

E,além disso tudo, é um grande e assustador Almodóvar, com um Antonio Banderas pairando acima de tudo.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

OSCARITO+GRANDE OTELO=ARTE


Sexta-feira,21h, descobri, tem Sessão Cinemateca na TV Justiça. E o melhor, domingo, 18h30,reprisa. Assisti Aviso aos Navegantes, de Watson Macedo, com os gênios Oscarito e Grande Otelo.

Que vitalidade, que diferença do humor pré programado,a narrativa mastigada e as piadas telegrafadas das comédias da Globofilmes hoje em dia. Há em Aviso aos Navegantes inteligência nas imagens.

Oscarito é um clandestino no navio em que Otelo é cozinheiro. A cena em que este o descobre é sensacional; a câmera passeia por Otelo checando grandes caixas de alimentos. Na tampa de cada uma, a descrição, “arroz”,feijão”, etc. Na última,Giló”. Otelo pensa um pouco, abre a tampa e vê Oscarito lá escondido. Não precisa explicar nada e se entende tudo. Ali naquela caixa devia haver algo de primeira necessidade que ele jogou fora para poder se esconder e resolver dizer que havia jiló que,claro, ninguém no restaurante iria pedir. Só que,atrapalhado como é, escreveu com “g”.

É puro cinema, a arte de dizer com as imagens.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

JUSTIN BIEATLE

Essa semana a imprensa só fala no Justin Biber. E quase todo mundo que não seja uma menina pré-adolescente parece odiá-lo. Taí uma coisa recorrente.

 Quando eu era moleque o fenômeno teen da vez(nem existie esse termo, "teen") eram os Menudos. Tudo igual. Quer outra coisa recorrente? O  pessoal  fã da"boa  música" ou os de cabelo começando a  embranquecer resmungando que "tudo hoje em dia é um lixo, o povo só ouve porcaria".  E nã são pouco os que evocam os mágicos anos 1960 e as fãs berrando pelos Beatles.

Siim, ali foi um raro é  feliz encontro entre fenômeno de massa e qualidade musical(se bem que naquela época os  Beatles ainda não eram nem de  longe o que havia de melhor na música americana).
Mas  aí eu pergunto ao caro colega grisalho: e as(os) fãs,meu caro,por acaso  estavam lá  ligando pra qualidade  musical do fab four? Não responda, deixa isso pra Sir Paul Mac Cartney. Ele falou sobre isso no monumnetal documentário de 13 horas The Beatles Anthology.  Lá ele deixa claro que o comportamento delas em tudo lembrava o dos homens com copos gigantes de cerveja nos jogos de futebol americano. "era uma espécie de transe, não tinha nada de sexual naquilo"(cito de memória). E somos lembrados, ao longo do documentário, que os gritos dos fãs impeediam que a banda tocasse, pois os  membros não conseguiam ouvir os próprios instrumentos!(não havia retorno naquela época). Então chegou a ao ponto de tocarem qualquer coisa, de qualquer jeito, porque não fazia muita diferença. Depois, todo mundo sabe, a banda abandonou definitivamente as apresentações ao vivo.

Enfim, o que eu quero dizer é que é a mesma coisa desde Elvis, desde que emergiu a cultura jovem, e isso não tem nada a ver com  a qualiddade musical.
E  parem de pegar no pé das meninocas, please,please me.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

CINECLUBE GAMBALAIA -06/10



No mês das bruxas,não poderia ser diferente, o CINECLUBE GAMBALAIA 
exibe o icônico Halloween, na versão original do diretor John Carpenter.

Mas não é só isso! Uma mini-palestra mostrará como a guerra do Vietnã varreu pra longe a ingenuidade e abriu as portas para a ultra violência nos filmes de terror dos anos 70. Exibiremos cenas de Drácula,O Príncipe das Trevas, de Terence Fisher, A Noite dos Mortos Vivos, de George Romero, O Exorcista, de Willian Friedkin e Massacre da Serra Elétrica, de Tobe Hooper além de material jornalístico e músicas inspiradas pela guerra.



Assista aqui ao trailer do filme:

http://www.imdb.com/video/screenplay/vi330039577/



PROGRAMAÇÃO






19h30 – Exibição do curta metragem “O posto de Gasolina” (EUA, 1982- 20min. Dir. John Carpenter)



19h50 - Palestra “De Drácula a LeatherFace- Como o Vietnã mudou a cara do cinema de horror norte-americano”



20h20- Intervalo



20h40 – Exibição de Halloween (EUA,1978 - 96 min. Dir. John Carpenter)



** Ajude a divulgar o Cineclube **


Espaço Cultural Gambalaia

R.das Monções,1018. Santo André. fone.4316-1726



www.gambalaia.com.br


 

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

X-MEN, ÚLTIMA CLASSE

Que há com certos filmes? Ou melhor, que há com quase todos os filmes feitos em Hollywood?
 Assisti a X-Men-Primeira classe. O nome parece propaganda de companhia aérea, mas é filme de super herói. Eu tenho uma tremenda boa vontade. Sou dos poucos que gostaram até do terceiro filme da série. Mas esse já é demais.



Teve um crítico, acho que foi o Cássio Starling, que escreveu que estes filmes de heróis jogam pros fãs, então não se dão o trabalho de construir personagens, motivações,nada. Aqui então a coisa chegou no limite. Tem uma moça com poderes. Ela é dos mocinhos. Chegam os mutantes do mal, trucidam os soldados que a protegem, trucidam um dos colegas dela e, com duas ou três frases o vilão consegue convencê-la a lutar a seu lado, contra seus amigos. Tudo por que algum humano normal bem do xereta os tinha espiado pela janela um dia antes e dito que não gostava de mutantes. E é assim o filme todo. Incomoda, vc não consgue engolir nada do que está ali. Tudo acontece pra ser como aquilo que os fãs sabem que é nos gibis e pronto.

Meu amigo Mario Cesar insiste em dizer que as melhores cabeças dos EUA foram pra TV. Não só ele, um bocado de gente diz isso. O Inácio Araújo, por exemplo. Eu ja começo a achar que os atores também estão debandando pra lá, porque os papéis, os roteiros, os diretores, tudo está aquém de qualquer pessoa com um pingo de talento. Que fiquem no cinema caras como o James Franco, que não tem nada a oferecer.

E a nós, graças a Deus, resta Breaking Bad, Mad Men, Sons of Anarchy ,Bórgias e tantas outras maravilhas na Tv a cabo. Porque a aberta...

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O QUE O MACACO TEM A NOS DIZER? – PARTE 2


Filmes estrelados por chimpanzés estão certamente entre os mais chatos da história do cinema. Filmes de cadeia,por sua vez, são os mais cheios de clichês. Dizer que este Planeta dos Macacos- A Origem é uma somatória dos dois(afinal a segunda metade é um filme de cadeia) é um tanto de verdade e outro tanto de maldade.


Agora enxergar paralelos entre o Julio Cesar de Sheakspeare e este filme,por causa das citações, já é caso de miopia intelectual. E por falar em citação, à feita ao “Ran” de Akira Kurosawa ,na cena com os gravetos, é na verdade é um caso de apropriação indébita que beira o ridículo.*

Dizer que ele está acima da média Hollywoodiana ,como disseram por aí,não é a priori nenhum elogio dado o abismo em que lançaram a qualidade do cinema americano nos últimos vinte anos. Planeta dos Macacos- A Origem, sejamos sinceros, tem seus momentos, mas não é grande coisa.

O que impressiona,claro, é a perfeição de recriação por computador dos macacos,cortesia da Weta Digital, empresa de Peter Jackson, diretor dos mastodontes digitais Senhor dos Anéis e King Kong . Mas isso,convenhamos, é como que obrigação dos filmes dos grandes estúdios desde os dinossauros de Jurassic Park, de Steven Spielberg . Cada filme que chega é mais realista que o que aquele que o antecede, como Cesar é mais perfeito que o Kong.

De fato, o filme amontoa clichês, sobretudo na segunda metade, quando vira um filme de cadeia. Tudo ali foi preguiçosamente reproduzido de outros filmes na base do Control C-Control V. Isso sem contar o arsenal de frases de efeito como “o que aconteceu com você? Você costumava ser o melhor”. Os personagens humanos então, nem se fale. Destaque negativo para Tom Felton, que reprisa o papel de Draco Malfoy na série Harry Potter no domínio da autocaricatura (o que já eera ruim fica pior).
Macacos me mordam...

Mesmo assim o filme foi um sucesso estrondoso. E não se pode negar suas qualidades. O despertar de Cesar, quando grita “não” a plenos pulmões é poderoso e emocionante. O combate na Golden Gate é bacana ,tirando,claro, o momento “sentimental” estrelado por um gorila e com direito a câmera lenta. E a primeira parte tem lá seu interesse.


Mas o que esse macaco tem a dizer que tanto cativou o público? O que salta aos olhos logo de cara é que ele não é mais uma metáfora do excluído socialmente, como fora em dado momento da série original. E com isso perde-se a oportunidade de criar um diálogo com uma questão importante e fundamental tanto nos EUA quanto na Europa, a do imigrante, aquele ser estranho, diferente, até assustador com quem aqueles que se consideram superiores são obrigados a conviver. Visto assim o filme parece só um desfile de efeitos especiais de primeira (pelo menos até que chegue ás telas o próximo arrasa-quarteirão).

Mas o “não” de Cesar é intrigante. César,aliás, é um nome inapropriado, afinal ele pouco tem em comum com o legislador romano. Tem mais a ver, na verdade, com Moisés, pela maneira com que guia seu povo para uma terra prometida livre da sujeição do opressor que se recusa a recohecer sua superioridade. É essa postura que,penso, remete diretamente ao “Yes,we can” de Obama, mais por negação do que outra  coisa.
O slogan do presidente era tão somente a verbalização das histórias de superação tão comuns no cinema (cujo exemplo mais bem acabado é o do boxeador Rocky Balboa) e que agora parecem tão deslocadas da realidade, quando os EUA se mostram incapazes de curar as próprias feridas e que dirá as do resto do mundo(no que eles sempre acreditaram).E logo o mundo, que lhe atravanca o desenvolvimento.Era melhor que não existisse.

Parece que o “não” dito por Cesar significa um “já basta” de pensar no mundo globalizado, uma necessidade de voltar à terra prometida onde o homem não dependia tanto dos outros e podia fazer sua vida por si só.

Porque hoje o a globalização enterrou o american way de uma maneira que nem a guerra do Vietnã foi capaz. E os americanos, eles próprios (os banqueiros, as seguradoras, Wall-Street)  oprimem seus pares impondo a eles penúria quase sem precedentes.
É melhor os americanos buscar outra terra que emana  leite e mel porque esta já era.


quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O QUE O MACACO TEM A NOS DIZER? – PARTE 1


Planeta dos Macacos- A Origem, fez um barulho enorme nos EUA e seu desempenho nas bilheterias surpreendeu até mesmo 20th Century Fox, estúdio que produziu o longa.

Planejado como refilmagem e ao mesmo tempo reboot da série iniciada em 1968, esta versão tem diversas homenagens aos outros filmes espalhadas pelos 105 minutos de duração. O mais contemplado com as referências, é claro, é o quarto filme da série, Conquista do Planeta dos Macacos, de 1972, que também mostrava o macaco Cesar sofrendo o pão que o diabo amassou nas mãos dos humanos e depois organizando a rebelião dos símios. Os testes de inteligência , o laboratório, a prisão para macacos ,o cientista malvado e até a batalha nas ruas de Washington, está tudo lá. E há também referências aos outros filmes, como a versão de Tim Burton, logo na abertura ou o “tire suas patas sujas de cima de mim, seu macaco imundo” dita por Charlton Heston no primeiro filme . 


 
Este A Origem tem algo mais interessante em comum aos outros filmes da série (com exceção, talvez,ao de Burton);como todos eles enfraquece e esvazia o sentido do filme original. A última e chocante cena (se você não conhece, me perdoe, mas vive em outro planeta) mostrava a Estátua da Liberdade destruída e os urros de desespero de  Heston dizendo “vocês finalmente fizeram isso, seus bastardos”. Era um clamor anti-violência em tempos de Guerra Fria , Guerra do Vietnã ,movimento pelos direitos civis nos EUA e estudantes marchando pela Europa e que mostrava qu,e em virtude da auto destruição do homem pelo homem, os macacos tomaram-lhe o lugar como donos do mundo, metáfora irônica para a selvageria do homem dito civilizado.

O que se seguiu foram tentativas de mostrar como os macacos ficaram inteligentes e pelo menos nisso o terceiro filme, Fuga do Planeta dos Macacos, de 1971, se mostra instigante, porque cria um paradoxo temporal. Cornelius e Zira, os macacos bonzinhos do primeiro filme, voltam no tempo e lá (ou aqui) tem um filho, Cesar, que é quem desencadeará os fatos que deram origem ao primeiro filme (que,é bom lembrar, se passa no ano 3 mil lá vai fumaça). Então é uma guerra nuclear (?) entre macacos e homens (???) e não mais entre os humanos, que leva ao fim do nosso mundo.

A continuação desse A Origem é tão certa enchente em São Paulo  no verão.  É provável que ela seja  uma espécie de recriação do obscuro A Conquista do Planeta dos Macacos, de 1973, último filme antes da ótima refilmagem do primeiro episódio por Tim Burton, em 2001, que fracassou nas bilheterias e havia enterrado, até agora, a idéia de ressuscitar uma franquia que já teve até série de TV e desenho animado .

Falei,falei e não disse nada sobre o filme mais recente. Isso fica pra próxima postagem.