sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O QUE O MACACO TEM A NOS DIZER? – PARTE 2


Filmes estrelados por chimpanzés estão certamente entre os mais chatos da história do cinema. Filmes de cadeia,por sua vez, são os mais cheios de clichês. Dizer que este Planeta dos Macacos- A Origem é uma somatória dos dois(afinal a segunda metade é um filme de cadeia) é um tanto de verdade e outro tanto de maldade.


Agora enxergar paralelos entre o Julio Cesar de Sheakspeare e este filme,por causa das citações, já é caso de miopia intelectual. E por falar em citação, à feita ao “Ran” de Akira Kurosawa ,na cena com os gravetos, é na verdade é um caso de apropriação indébita que beira o ridículo.*

Dizer que ele está acima da média Hollywoodiana ,como disseram por aí,não é a priori nenhum elogio dado o abismo em que lançaram a qualidade do cinema americano nos últimos vinte anos. Planeta dos Macacos- A Origem, sejamos sinceros, tem seus momentos, mas não é grande coisa.

O que impressiona,claro, é a perfeição de recriação por computador dos macacos,cortesia da Weta Digital, empresa de Peter Jackson, diretor dos mastodontes digitais Senhor dos Anéis e King Kong . Mas isso,convenhamos, é como que obrigação dos filmes dos grandes estúdios desde os dinossauros de Jurassic Park, de Steven Spielberg . Cada filme que chega é mais realista que o que aquele que o antecede, como Cesar é mais perfeito que o Kong.

De fato, o filme amontoa clichês, sobretudo na segunda metade, quando vira um filme de cadeia. Tudo ali foi preguiçosamente reproduzido de outros filmes na base do Control C-Control V. Isso sem contar o arsenal de frases de efeito como “o que aconteceu com você? Você costumava ser o melhor”. Os personagens humanos então, nem se fale. Destaque negativo para Tom Felton, que reprisa o papel de Draco Malfoy na série Harry Potter no domínio da autocaricatura (o que já eera ruim fica pior).
Macacos me mordam...

Mesmo assim o filme foi um sucesso estrondoso. E não se pode negar suas qualidades. O despertar de Cesar, quando grita “não” a plenos pulmões é poderoso e emocionante. O combate na Golden Gate é bacana ,tirando,claro, o momento “sentimental” estrelado por um gorila e com direito a câmera lenta. E a primeira parte tem lá seu interesse.


Mas o que esse macaco tem a dizer que tanto cativou o público? O que salta aos olhos logo de cara é que ele não é mais uma metáfora do excluído socialmente, como fora em dado momento da série original. E com isso perde-se a oportunidade de criar um diálogo com uma questão importante e fundamental tanto nos EUA quanto na Europa, a do imigrante, aquele ser estranho, diferente, até assustador com quem aqueles que se consideram superiores são obrigados a conviver. Visto assim o filme parece só um desfile de efeitos especiais de primeira (pelo menos até que chegue ás telas o próximo arrasa-quarteirão).

Mas o “não” de Cesar é intrigante. César,aliás, é um nome inapropriado, afinal ele pouco tem em comum com o legislador romano. Tem mais a ver, na verdade, com Moisés, pela maneira com que guia seu povo para uma terra prometida livre da sujeição do opressor que se recusa a recohecer sua superioridade. É essa postura que,penso, remete diretamente ao “Yes,we can” de Obama, mais por negação do que outra  coisa.
O slogan do presidente era tão somente a verbalização das histórias de superação tão comuns no cinema (cujo exemplo mais bem acabado é o do boxeador Rocky Balboa) e que agora parecem tão deslocadas da realidade, quando os EUA se mostram incapazes de curar as próprias feridas e que dirá as do resto do mundo(no que eles sempre acreditaram).E logo o mundo, que lhe atravanca o desenvolvimento.Era melhor que não existisse.

Parece que o “não” dito por Cesar significa um “já basta” de pensar no mundo globalizado, uma necessidade de voltar à terra prometida onde o homem não dependia tanto dos outros e podia fazer sua vida por si só.

Porque hoje o a globalização enterrou o american way de uma maneira que nem a guerra do Vietnã foi capaz. E os americanos, eles próprios (os banqueiros, as seguradoras, Wall-Street)  oprimem seus pares impondo a eles penúria quase sem precedentes.
É melhor os americanos buscar outra terra que emana  leite e mel porque esta já era.


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