sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

A IMAGEM E O PRÊMIO QUE A LOTERIA NÃO PAGOU

Já escrevi inúmeras vezes neste blog sobre a relação imagem-realidade. E não me canso de repetir o exemplo (que eu aprendi com o crítico Inácio Araújo) dos programas de mesa-redonda; tem uma imagem de um pênalti e os caras fiam discutindo por horas se foi ou não. Ou acontece de, numa imagem estar clara a penalidade máxima e daí surge a frase “não tem como ir contra a imagem”, só que no outro dia aparece uma outra, feita de um ângulo diferente, e tudo muda. A imagem é imprecisão completa, é morada da ambigüidade, só que engana muito bem – prometo voltar a isso semana que vem. Pois bem, a bola da vez é outro jogo, o da loteria, dos supostos ganhadores que não poderiam receber seu prêmio porque a lotérica não registrou o jogo. Primeiro houve a acusação de que a casa agiria sempre de má fé, não encaminhando as apostas para a Caixa Econômica. Agora diz-se que foi tudo culpa da funcionária, que cometeu o maior erro de sua vida. A prova disso é a imagem do circuito interno que mostra a garota conferindo o jogo e pondo as mãos na cabeça, desesperada ao perceber seu erro. Só que a imagem em si não prova isso, nela cabem muitas outras interpretações, inclusive a de que ela teria sido enviada pelo patrão para conferir se a lotérica tinha tido o azar de receber a aposta premiada, o que escancararia o trambique usual da casa.
Quem quiser pode voltar ao texto do filme Blow-Up ou assistir “Meu Tio Matou um Cara”, onde em determinado momento, as fotos que comprovam a traição da personagem de Débora Secco são postas em outra ordem(cinema=fotografias em sequência) mudando todo o entendimento do filme até então. “Blow-Up” e” Meu Tio...” são filhotes diretos da obra-prima Janela Indiscreta, de Alfred Hitchcock.

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