quarta-feira, 27 de agosto de 2008

OS DOIS LADOS DA QUESTÃO – A PALESTINA VISTA PELO CINEMA E PELA HQ


Primeiro de tudo, alguns dados históricos:
- 1850 aC – é o ano que alguns pesquisadores estimam que os fatos atribuídos ao patriarca Abraão tenham ocorrido.
- 70 – Tito toma Jerusalém e destrói o Templo, expulsando os sacerdotes e autoridades judias. Ob domínio romano, passa a ser Aelia Capitolina e a Judéia , a Palestina.
- Desde 638, quando o sultão Omar tomou Jerusalém do Império Bizantino, os árabes estão instalados na região da Palestina (que inclui a cidade santa). Entre 1099 e 1187 Jerusalém fica sob domínio dos cruzados, até que Saladino a devolva aos muçulmanos.
- 1917 é o ano em que cai o Império Otomano e os Ingleses tomam toda a região.
- Em 1947 havia resolução da ONU aprovando a criação de um Estado Árabe e um Estado Judeu na região da Palestina.
- Em 14 de maio de 1948 foi instituído o Estado de Israel como forma de compensação pelos horrorres nazistas ao povo judeu. O movimento sionista, marcadamente anti-árabe, teve preponderância no processo. Logo em seguida, inicia-se o primeiro conflito entre árabes e judeus.
- Na Gerra dos Seis Dias, conflito em 1967 contra a frente árabe(Egito Jordânia e Síria) Israel (armado pelos EUA) antecipa-se à guerra e ataca primeiro ficando com territórios que esses países haviam conquistado m 1948 ( incluindo a Cisjordânia ). Incicia-se a colonização judia das áreas ocupadas.

Tudo isso serviu para duas coisas, mostrar o quão complexa é a questão palestina e o quanto qualquer recuo na História (com vistas a justificar a “razão’de um ou do outro lado) não só não resolve nada como pode tocar o terreno da mitologia.
Dito isso, fica mais fácil dizer o quanto o noticiário é falho, quando não burro, na hora de tocar a questão. Tanto na mídia impressa, com sua sanha de dizer tudo ocupando cada vez menos espaço e tomando menos tempo do leitor, quanto na televisiva com a superficialidade que lhe é peculiar, o que temos é meramente a notícia (homem bomba explode e mata sei-lá quantos). E a parcialidade é tamanha que só sabemos dos atos de violência dos terroristas palestinos, quase nunca dos do exército israelense muito menos há a comparação de dados dessa violência (o número de mortes causados pelo exército israelense contra o número de mortes causadas por terroristas ) não é exposto tampouco nos é mostrado toda a violência e arbitrariedade destes.
Sendo-nos inútil o jornalismo, vejamos o que a Arte nos oferece:
Palestina (Conrad), escrita e desenhada por Joe Sacco é uma HQ em duas partes (“Uma Nação Ocupada” e “Na Faixa de Gaza”) fruto do período entre 1991 e 1992 em que o artista-jornalista esteve na região. Foi na forma de uma história em quadrinhos que Sacco encontrou o meio ideal para fazer seu documentário que percorre ruas, entra em casas e mostra de muito perto toda a violência e sofrimento causados pelo exército israelense, o que incluía desde prisões arbitrárias e tortura de “suspeitos” a ações repressoras como impedir os palestinos de cavarem poços, o que engessa boa parte de sua economia,como o plantio de tomates(convenientemente eliminando a concorrência). Também nos é mostrada a ação das milícias que atacam casas de palestinos a esmo.
O grande triunfo do formato dos quadrinhos é que ele não trata com a imagem fotográfica (como o cinema) que clama para si o estatuto de “verdade”. Uma pintura é só a visão de um artista sobre um fato (sabemos bem do falseamento da realidade em O Grito do Ipiranga, de Pedro Américo), mas um filme não, afinal as imagens são captadas mecanicamente. O filme parece incontestável, o que é um problema maior ainda quando se trata de um documentário (Eduardo Coutinho é um dos que encaram o desafio de provar a subjetividade do meio). A HQ não nos obriga a ter fé nela mesma, pelo contrário, exige descrença. E Sacco não crê nem por um instante na objetividade; não nos esconde o fato de que sua presença altera os rumos (e o conteúdo) das conversas com os entrevistados, desconfia deles e de suas convicções. Seu traço irônico e escrachado, herdado do estilo da revista MAD, por contraditório que possa parecer, nos dá todo o peso da existência sofrida dessas pessoas, ao captar suas feições, sua individualidade.
Lemon Tree, filme de Eran Riklis que está em cartaz nos cinemas da Paulista e arredores, foi significativamente filmado nos dois lados (palestino e israelense) para nos contar a história real da viúva Salma Zidane que se opõe ao Ministro da Defesa israelense quando este decide derrubar suas oliveiras com a justificativa de que elas podem servir de esconderijo a terroristas que pretendam atacar sua casa (eles são vizinhos separados por uma enorme cerca metálica e torres de guardas). É uma metáfora perfeita (involuntária, dado que é história real) da situação de pessoas que moram no mesmo território mas não conseguem superar o muro que as divide. O filme se chama Lemon Tree pelo fato do diretor ter optado por trocar as oliveiras (cujo significado emotivo para os palestinos podemos ver no primeiro volume da HQ de Sacco) por pés de limão, talvez pelo fato de os frutos renderem suco refrescante (vemos o tempo todo pessoas bebendo limonada), tão vital num local árido como aquele. E sendo a água fonte da vida, sua necessidade nos faz todos iguais. É uma opção pela poesia, o que faz deste um filme universal, não fechado no contexto da Palestina, muito embora vejamos vez por outra as arbitrariedades israelenses. “Lemon Tree” fala a todos nós desta universalidade trataremos semana que vem.

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A situação mudou muito desde que Sacco escreveu Palestina. Ele mesmo avisa isso no prefácio, que é de 1995: “Os habitantes de Gaza têm agora algum grau de liberdade pessoal. Por exemplo, eles não encontram mais patrulhas israelenses nas suas vizinhanças nem são submetidos ao toque de recolher noturno(...)mas o panorama atual de Gaza está longe do ideal”. De lá para cá houve a retirada dos assentamentos judeus nos territórios ocupados e, anteontem, Israel libertou sem contrapartida 198 prisioneiros palestinos. No entanto três coisas não mudam: as negociações de paz são cheias de indas e vindas, ainda não foi criado um Estado Palestino e ainda muito pouco sabemos do dia-a-dia dessas pessoas.

Um comentário:

Mário disse...

Mais ou menos, Israel não é nada mais ou nada menos que um mea culpa da ONU pelo Holocausto... Tudo bem, não cabe aqui nenhum antisemitismo, mas como promover a volta a terra prometida ( coloque aqui quantos aspas quiser) de um povo que nao morava por lá há bem uns 19 séculos? Tendo se espalhado por diversos cantos do mundo, e até mesmo aqui , aonde eu Pereira ; não deixo de ser um cristão novo ( leia-se judeu de raiz)... ou seja, criar o estado de Israel, sempre foi e sempre será procurar Sarna pra se coçar...