terça-feira, 21 de julho de 2009

CÂNDIDA - Correção

Prontos para mais uma paspalhice deste blogueiro? Então vamos lá.
Eu disse que se tratava da "história da esposa de um pastor anglicano que se envolve com um poeta"(de onde surgiria um triângulo amoroso) ecoando o que diziam os guias de cultura dos jornais , que provavelmente repetiam o que lhes havia sido passado pela assessoria de imprensa. Errei e já lhes digo o porquê. Também adiantei que, em se tratando de George Bernard Shaw ,nada transcorreria de acordo com o previsto e não teríamos um melodrama.Nesse caso,enfim, um acerto.
Pra começar, Cândida não “se envolve” com o jovem poeta de origem nobre,mas sim passa a ser assediada por ele. Logo de início existe uma tensão sexual (apenas de início, por que depois é muito mais do que isso), mas não um triângulo amoroso. Mas interessa falar mais das virtudes da peça do que das limitações deste blog (uma pesquisa decente sobre o texto da peça teria evitado o erro).
O pastor, grande orador, é o homem da doutrina, do discurso. O poeta é pura exacerbação (e afetação) dos sentimentos ; tudo então parece se encaminhar para que a figura do jovem diabrete leve desassossego à vida pacata e monótona de dona de casa levada por Cândida, que se veria obrigada a optar entre segurança e aventura, amor e paixão, ou seja, entre a prosa e a poesia. Mas só parece(e eu fiz você,leitor, crer que era de fato isso o centro da peça)
É,na realidade, a figura de Cândida que,ao invés de ser passivo objeto de desejo masculino, joga luz sobre a fragilidade dos discursos(sejam eles oratória ou poesia) e das figuras humanas,sobretudo a tolice do orgulho masculino.
Não digo mais (e haveria muito a se dizer) sobre o risco de estragar o prazer de quem for assistir à peça. Para estes, aliás, um recado: atenção especial o significado que envolve o quadro “Assunção da Virgem” de Ticiano (pintor do Renascimento veneziano) .

!!!

Merecedora de atenção também é a atuação de corpo inteiro dos atores. Bourbonnais, por exemplo, interpreta o pai de Cândida, sujeito autoritário, orgulhoso, arrogante e oportunista. O modo como o ator se move, a passos largos e pés que parecem ir cada um numa direção diz muito sobre o personagem. É um espetáculo a parte o modo como ele cumprimenta as pessoas, com a mão retesada e os dedos tão abertos quanto lhe fisicamente é possível. Seu genro, o pastor, é nesse sentido, seu oposto;retesado rijo, em tudo exprime firmeza.

Um comentário:

João Bourbonnais disse...

Que palavras legais, Adilson! Muito bem observado. Mais uma vez obrigado pela presença e pela divulgação. Grande abraço.