quinta-feira, 19 de março de 2009

TEATRO- NEKRÓPOLIS


Nekrópolis, espetáculo de formação do Núcleo do Ator da Escola Livre de Teatro de Santo André conta a história de uma organização terrorista,a Estirpe ,cujos atos subversivos consistem em desenterrar corpos e expô-los em locais como Shopping Centers e parques freqüentados pela classe média alta.
A narração se dá em dois tempos diferentes, intercalados por números musicais; no presente assistimos ao julgamento dos membros da Estirpe(estamos aqui nos domínios do suspense, portanto); no passado, aos atos necrófilos e sua repercussão junto à imprensa e a população(muitas delas bem engraçadas).
O corpos desenterrados pelos terroristas são de pessoas pobres, mortas em circunstâncias em que o Estado se fez ausente(seja na forma de segurança, seja na da saúde).
Com isso eles pretendem esfregar o “verdadeiro Brasil” , com todo seu odor desagradável,na cara dos que se escondem em prédios de luxo e condomínios e de bacharéis que acreditam que o país finalmente entrou nos eixos ao consolidar o processo democrático e permitir a chegada de um legítimo representante do povo ao poder.
E é para implicar de vez o espectador na questão que os atores iniciam o espetáculo na platéia, para onde voltarão algumas vezes, durante os números musicais.
Pode-se argumentar que premissa da peça seja de certa forma questionável. Não há por que crer que o choque pelo horror de nossas mazelas faria as classes altas se compadecerem de um Brasil pobre e violento, ou pelo menos olharem para ele.Ou que isso seja “subversivo” para além do ato criminoso. Vivemos numa sociedade em que essas imagens estão diariamente na TVs e na internet.E a mídia,ou parte dela, exibe cadáveres com estardalhaço,sob a justificativa hipócrita de denúncia das injustiças (quando o que quer é apenas garantir uns pontos no IBOBE).Tal superexposição da violência tem como resultado não mais a indignação (até as passeatas de ricaços em Copacabana desapareceram), mas apenas entorpecimento.Todos nós, ricos ou pobres, vemos com certa naturalidade e indiferença essa desdita nacional que governo após governo diz estar a um passo de resolver.
No entanto, se apenas levantasse essas questões a peça já estaria fazendo mais do que boa parte de nossos cineastas(esforçados que estão em não desagradar as empresas que lhes financiam). Por fazer isso de maneira tão corajosa e divertida é que esta peça vale ser vista e revista.
Quando morre, todo mundo fede igual”, diz um verso de uma das músicas. Que o dissesse(se fosse possível) Sérgio Naya !
!!!
E fica aí um apelo: trasnformem essa peça num filme a altura dela. Será que temos um David Fincher por aí?


Nekrópolis está em cartaz todo sábado e domingo até dia 31 de maio no Teatro Conchita de Moraes, Praça Rui Barbosa, s/nº - Santa Terezinha , Santo André - Telefone: 4996-2164

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