quinta-feira, 18 de setembro de 2008

NELSON RODRIGUES EM HQ- O GRANDE DILEMA

Na hora de se fazer uma adaptação de Nelson Rodrigues, uma HQ sai em larga desvantagem em relação ao cinema e o teatro. Nestes, os diálogos perfeitos de Nelson podem ser reproduzidos com pouca ou nenhuma alteração. Já numa história em quadrinhos eles têm obrigatoriamente de ser mutilados e espremidos para caberem dentro dos balões, o que é uma agressão e tanto à obra do dramaturgo. Agrava ainda o fato das palavras disputarem a atenção do leitor com a força da imagem . Sendo assim, talvez (o grifo aqui é importante) uma adaptação ideal de Nelson devesse ter os diálogos deslocados do quadro onde estão inseridos os desenhos, ou, como na obras de Will Eisner, os desenhos ficariam melhor soltos na página, livres dos quadros, com mais espaço para o texto. Mas essa versão de Beijo no Asfalto graphic novel da dupla Arnaldo Branco e Gabriel Góes publicada pela Via Lettera tem seus triunfos: o desenhos “relaxado”, ajuda a compor a caráter dos personagens. Arandir, que está na desconfortável posição de ser acusado por um jornalista de homossexualismo (que é tratado como um crime- voltamos aqui ao post anterior) tem o corpo pequeno em proporção à enorme cabeça, que o fragiliza. O delegado boçal e violento por vezes tem o rosto deformado em relação aos desenhos anteriores, o que mostra bem sua mutação perigosa de personalidade. Isso sem falar nos violentos jogos de preto e branco das imagens, que têm tudo a ver com essa história onde se opõem obscurantismo retrógrado e ingenuidade,certo e errado, inocência e culpa acusadores e acusados, discurso proferido e os desejos inconfessáveis.

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