segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

uma elegia tardia a um filme muito bom













Se você vive no planeta terra a mais de 20 anos, provavelmente deve ter ouvido falar da Trilogia Poderoso Chefão. A estupenda saga de uma família de Mafiosos , que traça um panorama da América, dos anos 00, ate o fim dos anos 70 do século XX. Filmes mais do que reconhecidos com Oscars e todo o tipo de prêmio cabível a um filme desta magnitude.  Se você não viu a interpretação ainda de Marlon Brando, como o patriarca da família Corleone ; Don Vito, pare tudo o que você esta fazendo e entre no Youtube e veja – o filme está completo e por meios legais para todo infiel que ainda não tenha visto esta verdadeira pedra preciosa.
As primeiras partes são – e merecidamente – classificadas entre os melhores filmes da historia do cinema. Tudo o que é necessário saber sobre o andamento de um bom filme esta la. Suspense, violência, ação, grandes conflitos familiares, atores no melhor de sua forma jogando seu melhor futebol, musica inesquecível, reconstituição de época magnifica , roteiro que é incapaz de ofender a inteligência do espectador. Coisas de uma Hollywood que não mais existe, no qual o dinheiro parece ser a única e exclusiva motivação para se produzir cinema, em detrimento a arte pura e simples, mas este é um assunto que eu tratarei num próximo momento por aqui.
A terceira parte é injustamente mal falada, como uma conclusão aquém do que a saga mereceria. O que é uma tremenda falácia pra começo de conversa. Vale uma pequena reconstituição do estagio que estavam tanto a carreira de Francis Copolla quanto a de Mario Puzo e Al Pacino ( a estrela da trilogia e um dos heróis da casa sem duvida)
Copolla vinha de uma série de fracassos na carreira, tinha se afundado em dívidas para concluir seu Apocalypse Now , e alternando entre filmes grandiosos como Do Fundo do Coração , e coisas menores como Tucker tinha perdido sua verve de diretor influente e garantia de bilheteria. Ou seja, não poderia impor seus projetos aos grandes estúdios , não podia contar mais com os grandes nomes para estrelar suas obras. Tinha se tornado um mero diretor operário padrão.  Mario Puzo vinha de romances problemáticos e fracos em venda, experiências mal sucedidas no cinema , e também não tinha o vigor de outrora.
Al Pacino vinha dum hiato de alguns anos sem filmar, graças a vicio em drogas e álcool. E do grande ator que era tinha se tornado um ator problema, mais conhecido pelas constantes manchetes em tabloides sensacionalistas.
Junte-se esta formula, e se tem um filme niilista ao extremo. Copolla talvez se vendo na persona de Michael Corleone, não tem pudores em entregar o personagem as situações mais extremas de fragilidade emocional. Do leão austero e violento do segundo filme, capaz de mandar matar até mesmo o próprio irmão, vemos um gato acuado, com temores e doenças da idade, com a voz enfraquecida e corroendo-se pela culpa das suas decisões passadas, por mais certas que possam ter soado num primeiro momento
A melhor maneira de se entender a saga , é como uma Opera baseada na ascensão e queda da persona de Michael Corleone. O jovem inseguro que almejava trilhar um caminho pessoal no primeiro filme, mas que por fatos alheios a sua vontade se torna um gangster pior ainda do que o seu pai foi no segundo filme, se torna um velho triste no terceiro. Colhendo os frutos de tudo que errado que fez na vida. As traições a mulher, a culpa pela morte do irmão, a distância dos filhos, a associação com pessoas de moral duvidosa que o tornaram poderoso como era. Enfim esta terceira parte é duma tristeza , que chega a ser dilacerante.
O filme não era sequer para ser chamado de O Poderoso Chefão, e sim “A Morte de Michael Corleone”. O que talvez explicaria um pouco mais do que deveríamos entender da personagem de Al Pacino. O Michael Corleone deste filme não era a mesma coisa, ele tinha morrido da maneira de que era O que tinha sobrado era somente um farrapo. Um filme do tempo que Hollywood era inteligente, sem duvidas



Obs 1: fica mais do que recomendada a edição da série em bluray. Meticulosamente restaurada , com a fotografia no auge da sua beleza conforme deveria ter sido sempre. Realmente é outro filme, se comparado com a edição em dvd.
Obs2; assista com os comentários ligados, garanto que vale cada minuto das 9 hrs que os três filmes tem. 



Um comentário:

Adilson Thieghi disse...

Essa cena do Chefão3 é das coisas mais fortes do cinema.De memória,logo agora, não consigo lembrar de algo mais forte. Sei lá, talvez o final de ladrões de bicicletas tenha força semelhante, mas é de outra ordem. E é mesmo uma injustiça o quanto esse filme foi e é injustiçado.