quarta-feira, 18 de agosto de 2010

ESTAMOS PAGANDO O PREÇO DE NOSSO ATRASO- 2

Retornando à postagem sobre a má formação universitária, deixei em aberto um ponto importante da discussão(que foi inteligentemente notada nos comentários) : a má formação dos universitários tem origem muito antes, no ensino fundamental. Nas escolas públicas o ensino é terrível, mas não da para dizer que as particulares sejam dignas de inveja. Canso de ler e-mails de pessoas com formação universitária que simplesmente não sabem diferenciar um ponto de exclamação de uma interrogação, uma vírgula de um ponto final.
Eu falava (citando a reportagem da Folha) da falta de professores das chamadas ciências pesadas, física e matemática. Mas o problema é geral e é particularmente grave no caso do ensino da língua portuguesa. Como alguém que desconhece os fundamentos da língua (a pontuação) pode interpretar um texto, seja ele qual for? E, se é incapaz de interpretar texto, é também um mau profissional em qualquer carreira que siga (com exceção,talvez, das meramente práticas).

Mas voltemos: porque não há professores? Simples, baixos salários. Porque o ensino é tão ruim? Em parte:baixos salários. Um professor da rede pública de ensino do Estado de São Paulo ganha R$ 1.500,00 por 30 horas de trabalho. Quer dizer, isso no papel, porque o trabalho de um professor nunca fica restrito ao horário de expediente, ele precisa criar e corrigir trabalhos e provas, planejar aulas e (utopia)se aprimorar estudando. Isso tudo “recebendo” um vale-alimentação de R$ 4,00 (apelidado de “vale coxinha”)que seria só uma piada de mau gosto se não estivesse atrasado desde fevereiro – daí as aspas.
Quem, na possibilidade de ter um salário razoável como, sei lá, bancário, vai querer ser professor e enfrentar a falta de estrutura do ensino e alunos desinteressados e desmotivados(o interesse vem da motivação que o país não oferece e do estímulo, que a escola não dá) e, ainda mais, o cotidiano violento de muitas escolas? Só mesmo os profissionais sem muita opção ou preparo e que não recebem estímulo para aperfeiçoamento porque um professor para ser bom depende dele mesmo estar em constante aprendizado o que depende de que ? Tempo e salário. Se o salário é pouco o professor tem de se sobrecarregar de trabalho para ter um rendimento decente, logo, não irá se aperfeiçoar. Se o Estado tivesse uma política educacional decente, com bons salários, teríamos profissionais cada vez melhores e alunos também e profissionais também. Sem contar que salário alto no ensino público forçaria uma alta nos salários das escolas particulares. E não se pode ignorar o efeito psicológico sobre o aluno que veria no professor um exemplo de sucesso e não o contrário- logo ele teria mais interesse no estudo. E “sucesso” não se entenda apenas dinheiro, mas benefícios , facilidades que denotem uma posição de prestígio na sociedade e não o contrário, como ocorre agora.

A Educação é de responsabilidade de Estados e municípios, mas não sei de nada substancial feito pelo governo Lula para melhorar o panorama. Serra, por outro lado, criou uma política demagógica que dá prêmios em dinheiro às escolas que melhorarem seus indicadores(notas dos alunos, índice de aprovação). O que ocorre? A direção força professores a não reprovar e você tem crianças em fase de alfabetização que não sabem sequer escrever o próprio nome.

A série de postagens sobre Educação continua amanhã.

3 comentários:

Mário disse...

a grosso modo uns pitacos pra melhorar essa bagaça que se chama educação:

1) escola integral : manha normal, tarde : profissionalizante/idioma/esporte

2)se nao anistia, quebra de pelo menos 80% dos impostos dos livros, dvds, cds ( pq isso tudo é conhecimento), e partindo do principio que as empresas pagariam menos imposto, pegariam mais gente e o imposto perdido dum lado seria ressarcido do outro.

3)uso de programa bolsa universidade. pagamos sua universidade, desde que vc se comprometa a trabalhar nas salas de aula por pelo menos cinco anos. Tem por ai e funciona.

4) Salário decente. Pra começo de conversa no minimo uns R$ 4 mil pra um professor começo de carreira

5) Programas de aperfeiçoamento de carreira : pós, mestrado, doutorado... pagos pelo estado com o compromisso de serem utilizados no estado por um prazo.

6) Programas de controle , melhor dizendo , concientização familiar : uma familia ter 3,4 filhos hj em dia é inviavel.... e a educação superlotada com 50 alunos por sala nao vai funcionar mesmo...

7) posso continuar?

Adilson Thieghi disse...

Deve !
A idéia da escola em período interal é excelente. Esporte, artes.
Não entra na minha cabeça porque ainda não se faz isso. É o descaso completo...Um segundo período complementar, enriquecedor.
Eu só discordo um pouco da questão do controle de natalidade porque a taxa já vem caindo faz tempo tal ponto de se projetar um "paós de velhos" pro futuro. Menos aqui do que na Europa, mas ainda assim.

Mário disse...

no que eu disse sobre o controle, é conscientização o melhor termo. Por mais que tem gente que precise de verdade e comprovadamente, conheço casos de gente que faz filhos pelo bolsa familia. ai eu nao acho uma coisa legal nao.
ter 4 filhos pra um pais que ja tem sei la 180 milhoes de pessoas, é um belo tiro no pé. Li por ai, que o crescimento da China só se deu, mesmo com as medidas facistas deles, a partir do momento que teve um certo controle da população. Ha espaço pra todo mundo, evidentemente.... mas recurso e o mecanismo do estado ja sao outros 500 é é isso que tem que se ver