segunda-feira, 12 de julho de 2010

ACABOU A COPA. É HORA DE PENSAR EM 2014


A Copa acabou, o Brasil perdeu (ou melhor, a seleção brasileira perdeu) e é hora de pensarmos nos interesses políticos por detrás do esporte, que nada têm a ver com as ingênuas e infantis teorias conspiratórias (a recorrente história deque “o Brasil entregou o jogo”). O jogo agora é outro, é a Copa 2014, com que Ricardo Teixeira estava tão preocupado a ponto de delegar plenos poderes a Dunga, tão plenos que este acabou por expôr as entranhas da relação Rede Globo-CBF. Tem também a história do Morumbi, preterido em lugar da construção do tal Piritubão e a decisão ainda por vir da cidade que será sede da abertura dos jogos, decisão que não caberá à FIFA(como não coube o veto ao Morumbi), mas sim à vitória ou não do candidato de Aécio Neves em Minas ou à vitória ou não de Alckmin em São Paulo.

O Programa Ver TV, exibido pela TV Câmara em 09 de junho deste ano, teve como tema “O Poder mágico do futebol sobre a audiência” e tratou longamente sobre o monopólio de um canal de TV sobre transmissões esportivas(e no que isso influencia na qualidade da informação,como eu já apontei aqui) mas também tocou num tema mais contundente: a ausência completa de política esportiva no Brasil .
São dados internacionais: para cada dólar investido em esporte, retornam U$ 3,4 ao Estado na forma, por exemplo, de jovens mais sadios(que utilizam menos o sistema público de saúde). No Brasil, o problema não é exatamente a falta de dinheiro (vêm recursos, por exemplo, das loterias) mas sim a ausência absoluta de uma política esportiva, que seria capaz, por exemplo, de articular esse dinheiro junto a comunidades carentes. Para se ter uma idéia do absurdo atraso do Brasil, inexistem aqui cursos de Educação Física com viés comunitário. Pesa aí também o fato de no Brasil ainda se discutir se professor de Educação Física é de fato um educador, logo não utilizamos o potencial do esporte nem como ferramenta de educação nem como promotor de saúde.


Tem uma Copa batendo à nossa porta, os tubarões de sempre estão famintos pela construção de Estádios, mas pouco se fala no legado do evento(que será feito desses estádios todos?). É o momento oportuno para se discutir também, a criação de uma política esportiva que acabe com os criadouros que são,por exemplo, as categorias de base, com jovens amontoados em acomodações precárias, sem estudo e um empresário a espera que um deles desponte para um clube grande, fazendo valer seu investimento(que é mínimo, para lucro máximo).
Hoje , em comunidades carentes, quando muito se constrói uma quadra esportiva, sem estrutura nenhuma e nenhum educador, nenhum programa.



Existem ações isoladas, empreendidas principalmente por ex-atletas, como a Gol de Letra
http://www.goldeletra.org.br/ , de Raí e Leonardo, ou a Fundação Cafú http://www.fundacaocafu.org.br/. Devia servir de exemplo para o Estado mas até agora, que eu saiba,nem Dilma nem Serra tocaram no assunto.
O programa Ver TV está disponível para Download em 3 blocos:



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Caderno especial da Folha de São Paulo Copa 2010 de hoje traz uma série de questões sobre 2014, entre elas quem serão os responsáveis por administrar os 33 bilhões a serem gastos com o evento , se todas as obras necessárias estarão concluídas até lá(tudo leva a crer que não) e anunciado caos aéreo. Dado interessante exposto lá é da consultoria Crowe Howarth de que pelo menos cinco dos nove estádios públicos(Brasília,Recife,Manaus,Natal e Cuiabá) não serão sustentáveis após a Copa. Outro ponto é o conselho do ex-ministro da economia de Portugal (1996-97) e atualmente professor da Universidade Técnica de Lisboa, Augusto Mateus. Com base na experiência de Portugal em sediar uma Eurocopa, ele defende que é melhor reformar estádios do que construir novos.

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Assisti a reportagem no Fantástico(03/07) que mostrou uma adolescente que,a exemplo de outros jovens, se ofereceu aos traficantes para infiltrar celulares em presídios."Eu tinha o sonho de conhecer a cadeia", ela explicou.

Enquanto o governo não focar numa política cultural e numa política esportiva,enquanto não se apresentar ao jovem carente uma alternativa viável acessível e valorizada de vida vamos continuar reféns do mata-e-esfola dos Datenas da vida e a coisa vai continuar do jeito que está e os que pedem voto prometendo colocar a Rota na rua, pena de morte, “cadeia neles” e etc vão continuar felizes da vida, sempre conseguindo novos mandatos ou índices crescentes de audiência.

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