terça-feira, 29 de junho de 2010

O PAPEL DO JORNAL

A Folha de São Paulo se anuncia agora como o “jornal do futuro”. É um slogan batido, que já foi usado pelos mais diversos produtos principalmente nos anos 1980 ( tudo então era “do ano 2000”). Enfim, o “do futuro” no caso se refere na verdade à sempre propalada morte do papel, coisa que se anuncia também repetidamente, desde pelo menos a década de 1970 (houve então uma crise real do papel, econômica mesmo) e que,no entanto, é sempre prorrogada. Me lembro de um ridículo “jornal do fax” que teve vida curta e tumultuada aqui mesmo, no Brasil, antes da popularização do e-mail.
O tal futuro ao qual a Folha se anuncia é o do jornal pós-notícia que é, no fim das contas, o panorama atual. E a culpa (pelo manos a maior parte dela) não é do jornalismo pela internet, que tiraria o interesse pela compra do jornal, mas sim das redes sociais que estão cada vez mais ágeis, principalmente o Twitter e da comunicação instantânea via celulares e outros aparelhos móveis . Em termos de velocidade da notícia a internet nunca foi substancialmente mais rápida do que,por exemplo, o rádio. O jornal sempre ficou para trás, mas ainda assim era a fonte de informação quase indispesável – foi decaindo o interesse por ele na medida em que decaía o interesse pela leitura de forma geral, mas isso é outra coisa. Os donos de jornais até demoraram a perceber que uma notícia de capa como “Terremoto devasta Chile” chega hoje envelhecida demais, não só devido à velocidade com que se recebe informação hoje, mas à saturação dela. O diferencial da informação escrita (que permitia reflexão e podia ser feita não na hora da exibição pela TV ou rádio, mas na hora do leitor) como privilégio do jornal acabou, uma vez que o acesso a internet é cada vez mais rápido e fácil. Mas não é só isso.
A notícia de que uma cineasta brasileira estava no navio da missão humanitária atacado pelos soldado israelenses chegou primeiro a uma professora da USP, que ficou sabendo via Twitter. Foi assim também com a repressão violenta do governo iraniano aos protestos durante as eleições no Irã e ocorre com frequência no mundo esportivo, onde os jornalistas, todos eles, já foram alguma vez furados pelas próprias fontes.
Qual o papel do jornal, hoje? Para a Folha, é interpretar a notícia, por isso o batalhão de colunistas contratados. E também seguir na onda da internet, trazendo textos exageradamente mais enxutos e objetivos.
Se é isso mesmo, só o futuro dirá.

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O Estadão passou também por uma reforma gráfica recentemente mas não reduziu o texto como a Folha. As mesmas matérias (especialmente no Caderno 2 deles, em comparação coma Ilustrada) tem abordagem mais aprofundada, exatamente porque a fonte do texto é menor e a quantidade de caracteres, menor. Pode parecer mais “chato”, menos “clean” do que a Folha, mas é mais jornal.

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