sexta-feira, 29 de julho de 2011

#SANDYFAZANAL



Diz o filósofo Jean  Baudrillard (1929-2007- foto ) no fundamental "Simulacros e Similação" (1988):


Estamos num universo em que existe cada vez mais informação e  cada vez menos sentido(...)A perda de sentido está directamente ligada à acção dissolvente,dissuasiva,da informação,dos media e dos mass media(...)Pois onde pensamos  que a informação produz sentido,é o  posto do que  se verifica.A informação devora seus próprios conteúdos.Devora a comunicação e o social(...)Em vez de comunicar,esgota-se na encenação da comunicação. Em vez de produzir sentido, esgota-se na encenação do sentido.Gigantesco processo de simulação que é bem nosso conhecido.Hiper-realidade da comunicação e  do sentido.Mais real do que o real,  é assim que se anula o real
 O texto,deu pra perceber, foi tirado da edição portuguesa do livro.Os grifos  são do autor.
Dirreto ao ponto. No princípio, Sandy era cantora-mirim. Até anteontem era a namoradinha do Brasil, ou seja, a moça pra casar(virgem)comportada ao ponto de ser retrógrada. A caretice sonhada por 99% das mães para suas filhas. Casou com um bom-moço.
Meses atrás Sandy foi vista na platéia do UFC, torneio de MMA(artes marcias mistas, o antigo vale-tudo). Semanas  depois ela é  anunciada como  a nova garota propaganda  da cerveja Devassa, substituindo Paris Hylton. Mas Sandy, logo ela...devassa? A justificativa do marketeiro(cito de memória)"ela tem um lado que  as pessoas desconhecem, gosta de artes marciais, por exemplo".
Hoje, exatamente hoje, bomba na internet  frase dita por ela em entrevista  e que estampará  a capa da Playboy agosto: "É possível ter prazer anal". O trend topic, reproduzido no título dessa postagem, lidera no twitter.
Como se vê, trata-se da construção da imagem, da encenação do real. Não há informação alguma na frase, não há sentido , há somente simulação.  Qual é o conteúdo da embalagem Sandy?(afinal ela é um produto).  Nenhum. A rigor, ela se constrói (ou é construída) ao oportunismo do momento.  Esgotada a criança vem a boa-moça, esgotada esta, vem a devassa. E a reboque dos produtos que se pode vender com isso. Alguma dúvida de que as ações foram calculadas para moldar a cantora à imagem e  semelhança da cerveja? 

É como o caso da marca de chinelos Havaianas, que nunca mudou nada em sua substância(tem o mesmo modelo, é feita do mesmo material, serve para a mesma coisa)mas passou de produto "de feira" a produto "descolado" em um ou dois anos através de uma eficiente campanha de marketing. Que é a havaiana afinal?
Ok, Sandy agora faz anal. Mas que Sandy?

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É sinal  dos tempos uma   cerveja manipular sua imagem quando o fundamental é seu conteúdo   (sabor). Que importa se o nome é Devassa, Engenheira ou Madre Tereza? Que diferença faz? Por que diabos alguém deveria escolher uma bebida por que ela associa sua   imagem a um conceito sem real significado? Mas é assim que funciona. A Devassa apenas deu um passo além nas estúpidas propágandas com gente malhada e de pouca roupa dançando, cantando e namorando na praia.
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Não da para pensar esse século sem tentar entender Lady Gaga, a própria imagem sem substância, personagem sem ator que a preceda, crítica e ao mesmo tempo representação dessa sociedade do simulacro. Mas isso é outra história.

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