segunda-feira, 30 de maio de 2011

DARIO ARGENTO- 3

Suspiria

Um conto de fadas de horror


Para este filme Argento fez questão de trabalhar com o Technicolor, sistema já ultrapassado que tinha o inconveniente de empobrecer as nuances de cor. Para ele isso não era problema, pelo contrário, por que realçava as cores puras (tornando o vermelho ainda mais gritante) numa tentativa de mimetizar a paleta de cores do desenho animado da Disney, Branca de Neve. Por bom motivo: o sobrenatural, que ganhava espaço sobre o racional filme a filme, aqui toma conta e Suspiria, com a história de uma jovem bailarina que desce num aeroporto rumo à um prédio antigo e assutador no meio da floresta, não é outra coisa que não um conto de fadas, como aliás entrega o narrador em off logo antes dos créditos, como alguém que diz “era uma vez...”.


De fato há ainda a persistência do racional na presença de especialistas que “explicam” a bruxaria, no entanto não é a lógica que sustenta o filme, pelo contrário, desaba diante dele. Coisas acontecem sem explicação alguma ,como um braço que assassina um das jovens do internato. De onde vem? De quem é? Não se sabe.

Ocorre de início em Suspiria a cisão entre espaços, o moderno (civilizado) e o antigo (domínio do sobrenatural). A chuva torrencial com que a bailarina Susan Baynion é recebida no aeroporto é ao mesmo tempo a barreira a ser rompida entre os dois mundos mas também presságio do mal que virá. Sua volta, ao final do filme, induz mais ao mal-estar do que ao alívio,com seria comum. Ela não é um banho na alma, metáfora de purificação ou liberdade. Dado sua primeira aparição sinistra, indica uma permanência do mal , sua mutação, de fogo em água. Nisso Argento parece nos levar de volta à chuva que impede a fogueira de matar Asa, a princesa-bruxa de Máscara do Demônio, monstro ressurreto tal qual a Helena Markus de Suspiria.


De fato há ainda a persistência do racional na presença de especialistas que “explicam” a bruxaria, no entanto não é a lógica que sustenta o filme, pelo contrário, desaba diante dele. Coisas acontecem sem explicação alguma ,como um braço que assassina um das jovens do internato. De onde vem? De quem é? Não se sabe.

Ocorre de início em Suspiria a cisão entre espaços, o moderno (civilizado) e o antigo (domínio do sobrenatural). A chuva torrencial com que a bailarina Susan Baynion é recebida no aeroporto é ao mesmo tempo a barreira a ser rompida entre os dois mundos mas também presságio do mal que virá. Sua volta, ao final do filme, induz mais ao mal-estar do que ao alívio,com seria comum. Ela não é um banho na alma, metáfora de purificação ou liberdade. Dado sua primeira aparição sinistra, indica uma permanência do mal , sua mutação, de fogo em água. Nisso Argento parece nos levar de volta à chuva que impede a fogueira de matar Asa, a princesa-bruxa de Máscara do Demônio, demônio ressurreto tal qual a Helena Markus de Suspiria.

Os sons e o olhar

Se há um sentido profundamente enganoso em Suspiria, este é o olhar. É por meio dele que se comete todos os equívocos, é ele quem induz a julgamentos errados. Não à toa o personagem do pianista cego, antes de todos (e mesmo antes de nós, espectadores guiados pela visão) é que sabe o que realmente ocorre na mansão. “Eu sou cego, não surdo” ele sai dizendo ao ser expulso. A morte chega também para a garota que contempla sua imagem refletida na janela, durante uma noite chuvosa.


De fato, se o olhar é enganoso, a audição é indício constante da presença do mal.A trilha sonora composta pela banda de rock progressivo Goblins incorpora sons diversos, gemidos, sussurros que conferem vida ao inanimado e indicam essa presença fantasma, esse mal que percorre os domínios da mansão mas que em momento aalgum tem forma definida. Pelo contrário, ele(ou ela) é a indefinição completa, expressa somente pelos sons e por “imagens” que nada mostram. Como diz Jean Baptiste-Thoret:

“Quando o personagem penetra no lugar, o espaço subitamente se anima: gemidos e ruídos estridentes surgem na trilha sonora, sombras e manchas luminosas desfilam nas fachadas, até que um movimento de câmera- encarregado de reproduzir o ponto de vista ( ou o espírito?) de uma gárgula- fende o ar até o centro da praça. Tudo concorre aqui a movimentar o espaço, a transmitir a sensação de uma atividade espiritual ou orgânica, como se no coração destas estruturas imóveis palpitassem forças vivas e desconhecidas"

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