segunda-feira, 14 de março de 2011

RENOIR PAI, RENOIR FILHO


  Alguns dizem que Jean Renoir (1894-1979) foi parte do chamado “realismo poético” francês, rótulo paradoxal que pode servir para uni-lo a um cineasta bastante diferente dele, como Jean Vigo ,de “O Atalante”, mas também a toda uma geração do cinema falado de seu país o que é bem impreciso.

É provável que o “poético” que lhe atribuem se deva à leveza de sua obra, que lhe coloca em oposição a um cinema extremamente cerebral e ligado à literatura, que existia na França no anos 1930, justamente a primeira geração do cinema sonoro e que havia buscado justamente na literatura uma espécie de “legitimação” ou “status de arte” agora que os personagens podiam de fato falar e o uso das palavras,antes restritas às plaquinhas de texto, encontrava sua plenitude.

Nisso podemos ligá-lo à obra de seu pai, o pintor impressionista Pierre-Auguste Renoir (1841-1919), parte da geração que libertara definitivamente a pintura da literatura. Até então a importância do tema, da mensagem que a obra passava, era mais levada em conta do que a plástica em si. É neste momento que “tema” perde importância para o “motivo”.


           O almoço dos remadores, Pierre-Auguste Renoir

Jean Renoir se destaca na geração que produz filmes após a vitória dos socialistas e que começa a colocar a classe operária em cena. Como um Émile Zòla ou um Baudelaire, dá ao proletário o caráter de herói romântico, trágico até, influência de suas convicções socialistas.

Quando lhe chamam “realista”(palavrinha traiçoeira, que pode mudar de significado de arte para arte e até de acordo com a circunstância) podemos concordar ao notar o modo como ele escala seus atores menos pelas convenções (os estereótipos) e mais por sua adequação ao papel. Quem poderia dizer que Anna Magnani é tão linda ao ponto de deixar um vice-rei, um toreador e um soldado em conflito por seu coração, no filme “A Carruagem de Ouro”. No entanto qualquer um que assista ao longa sente que ela é perfeita para o papel da impetuosa atriz Camilla.

Há uma convicção muito forte aí, afinal o cinema lida não com o real e sim com a verossimilhança e o verossimilhante é aquilo que nos convence como real. Não há melhor exemplo do que a cena de “Cantando na Chuva”(1952) em que numa cena de briga de bar(estão filmando um western) o ator leva um soco e desmaia. O diretor esbraveja e chama outro ator(Gene Kelly) que refaz a cena, saltando ao levar o soco e rolando por cima do balcão, para alegria do diretor. Ou seja, aquilo que convém ao gênero do filme não é o soco real, mas o verossimilhante.

Outro dado que liga Jean Renoir à obra de seu pai : há um gosto pelos pormenores, pelas trivialidades, pela gestualidade dos personagens que se parece muito com a “captura do instante” , a retenção do momento fugaz que vemos nas pinturas impressionistas em que não há gestos ou ações grandiosas, não há heróis, santos ou reis, mas gente comum como em O Almoço dos remadores (1880) ou Le Moulin de la Galette
(1876).

 
                   Le Moulin de la Gallete


 
Na verdade a representação de “gente de verdade” é uma conquista de uma geração imediatamente anterior justamente a chamada “realista’, cujo maior representante é Gustave Courbet (1819-1877) . E é este pintor que (como os  escritores citados) transforma em imagens  essa idéia  do trabalhador,do homem do povo,como herói romântico e trágico, ante as agruras da vida. 

                                                                                            Os  Quebra-pedras , Gustave Courbet
No entanto a maneira com que nos prostramos diante de um Courbet é bem diferente da que temos diante de um Renoir e tudo tem a ver com a mesma “leveza” que encontramos no cinema de seu filho. Renoir dizia: “nos meus quadros não se pensa” ,evidenciando que eram obras para se sentir ao invés de traduzir em conceitos.

Para encerrar ficamos com uma frase do crítico Inácio Araújo sobre a obra de Jean Renoir:

Ele pode falar mil vezes sobre a simplicidade da vida.Cada vez,o espectador sentirá com se estivesse pisando na lua pela primeira vez”.




                           A Regra do Jogo


Indicação de filmes:


A Regra do Jogo (1939) – Um dos melhores filmes de todos os tempos. A aristocracia francesa vista pelo olhar de Renoir em tom farsesco que evidencia todo o conflito de classes que se faz de tudo para esconder.

A Grande Ilusão (1937) -  Libelo anti-bélico, mostra prisioneiros de guerra e sua relação com seus captores, cada qual afetados de maneira diferente pelo conflito e até onde a pressão da guerra pode levar as pessoas.

A Marselhesa(1937) -   A Revolução Francesa vista pelo olhar dos camponeses que,  engajados na luta contra a monarquia, permanecem meio alheios ao outro conflito que ocorre em esferas sociais mais altas. Outra vez Renoir evidencia um cenário de aparente igualdade para, nas situações mais triviais, explicitar o conflito de classes.



PS. A quem esteve presente no Cineclube:  a próxima  postagem deste blog será sobre arte rococó e a sociedade retratada em A Carruagem de Ouro.

7 comentários:

Anônimo disse...

UAU! adorei saber sobre os filmes! muito 10. só achei ridículo o q escreveram sobre Renoir. estava errado e perdi meu tempo lendo aquilo.

Anônimo disse...

Nao seja grosso Anônimo, nao estava tao ruim, só nao estava...é...tao bom. quer dizer, a maioria do que estava escrito (só sobre Pierre Auguste Renoir) estava errado. mas isso nao é causa de grosseria. :))

Anônimo disse...

Cala boca véi.

Anônimo disse...

Creio que isso é pura falta de respeito e muita baixaria. Reflita os seus conceitos.

Anônimo disse...

vá p inferno mano! fica ai escrevendo essas m*****!

Anônimo disse...

Agora chega. É hora da criança ir deitar.

Anônimo disse...

Man, eu to falano.... para de me zoar!