sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Y- O ÚLTIMO HOMEM - nº 3

A sensação que se tem ao ler as primeiras 58 páginas de Y- O Último Homem(que correspondem aos números 11 e 12 da série original) é de que a série já sofre certo desgaste. Além do mistério que cercava a morte de todos os espécimes machos da face da terra, com exceção do artista de fugas Yorick Brown e seu mascote, o macaco Ampersand, o ponto forte era a crítica a uma sociedade na prática ainda machista; vários serviços vitais deixam de funcionar porque eram executados quase que exclusivamente por homens. Mas trezentas páginas já tinham deixado isso suficientemente claro, de modo que é necessário mudar um pouco o foco .

A edição passada já anunciava que Yorick poderia não ser, enfim, o último homem uma vez quel havia três astronautas a bordo de uma estação espacial, dois dos quais homens, rumando de volta para a Terra. Mas como a estrutura desta HQ segue as das séries dramáticas de TV com uma história central que não se resolvem e outras menores que, estas sim tem desfecho rápido,imaginamos logo como as coisas devem terminar- é característico também que as coisas mudem para, no fim, continuarem as mesmas. E, para completar, o protagonista cheio de tiradas engraçadinhas já começa a irritar, bem como as insistentes referências a cultura pop( todas devidamente explicadas pela edição brasileira). Aí fica claro o ponto mais frágil do roteirista Brian K.Vaughan, que é a construção de personagens. Deslumbrado com sua facilidade para bolar diálogos “à Peter Parker”ele faz com que todos falem pela mesma boca, da mesma maneira, como se tivessem a mesma formação cultural. Acontece que Vaughan não é qualquer um, longe disso, e resolve a trama dos astronautas da maneira mais previsível possível e, ainda assim, surpreende o leitor.

No entanto o que salva mesmo a edição é o arco composto por duas histórias sobre um grupo de teatro amador que, ao encontrar Ampersand, decide criar uma peça sobre “o último homem da terra” ( referência declarada ao livro homônimo de Mary Sheley, mas também, claro, à HQ) De quebra as moças querem que seu espetáculo seja revolucionário, capaz de tocar corações e mentes, mudar o mundo e mais um pouco, ainda que nenhuma delas tenha um pingo de talento. Metalinguagem complexa e humor afiado fazem deste um dos melhores momentos de toda a série.

Aí o desânimo já foi embora e nos faz esperar novamente pelo melhor.

Ah, sim, no meio de tantas notas explicativas, podia ter sido esclarecido também que, tanto lá como cá, “merda” é o que dizem os atores uns aos outros antes de entrar no palco, como forma de desejar boa performance.

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texto produzido para o site HQManiacs

PS. Peço desculpas ao leitor. A absurda falta de tempo desta semana impediu a produção dos textos sobre a Bienal de Artes. Farei o possível para postá-los semana que vem.

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